Carlos
Bernardo González Pecotche, nascido na Argentina, no começo do século XX criou
a LOGOSOFIA, ciência que leva o estudante dela à busca do conhecimento de si
mesmo. Pensei, então, ser oportuno trazer o belo texto abaixo, especialmente
adequado para o momento inóspito que vivemos, tanto no ambiente onde estamos
inseridos, quanto no nosso interior, em razão das pressões causadas por aquele.
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A
pressa como negação do tempo
Por Carlos Bernardo González Pecotche
(Raumsol)
A
pressa, fruto da impaciência umas vezes e outras, da ausência de controle na
distribuição do tempo, torna o homem intolerante, violento, irascível e
insensato. Esse febril afã de pretender que tudo se faça na hora ou se encurtem
as distâncias por obra de magia, é tendência generalizada; observando uns e
outros, comprova-se que nenhuma pressa tem razão de ser, salvo, naturalmente os
casos excepcionais.
Oferece
um típico exemplo quem lança seu automóvel a toda velocidade para chegar o
quanto antes ao lugar escolhido para seu veraneio, e na metade do caminho se
detém para lanchar, despreocupadamente, demorando-se às vezes em excesso, para
lançar-se de novo em desenfreada corrida, bramando de ira em cada passagem de
nível, detido ante o cruzamento de algum tranquilo comboio ferroviário;
oferece-o, também, aquele que, ao ser atendido em qualquer solicitação,
manifesta como advertência que está muito apressado, ou protesta iradamente,
ante a menor demora, para passar depois, longas horas num bar ou entretido
entre amigos. Poderia citar-se, igualmente, o caso daquele que, tendo concebido
um projeto, queira vê-lo realizado no momento, deprimindo-se por toda
dificuldade que encontrar em sua execução, e abandonando-o, finalmente, por
parecer-lhe que sua realização demorará muito. Em singular contraste, aparece
um fato, repetido com certa frequência, que é que as pessoas que atendem aos
apressados nem sempre se apressam, parecendo a estes que aqueles demoram
deliberadamente; entre ambas as partes produzem-se assim conflitos de
apreciação do tempo, que raramente chegam a se conciliar.
Que
frutos pode obter de seu tempo o apressado,
se depois o perde inutilmente, por viver em um constante estado de ofuscação? |
Não
há dúvida alguma de que a reflexão e a paciência inteligente são as que levam o
homem a serenar seu ânimo e a equilibrar seus estados psicológicos.
Se, encontrando-nos em um pomar e desejando comer uma fruta, reparamos que está
verde, apesar da pressa deveremos aguardar seu natural amadurecimento. Muitos,
arrancando-a antes do tempo, encontram um sabor desagradável ao prová-la,
desprezando um manjar que, saboreado oportunamente, teria sido delicioso.
Com os propósitos ocorre algo similar; já se tem visto quantos seres os
formulam sem ter a paciência de esperar que eles se convertam em realidades,
por querer saboreá-los, como no caso da fruta, antes de seu amadurecimento. Propicia-se,
ao contrário, o advento da realidade, seja esta o amadurecimento da fruta ou a
culminação de um propósito, quando, no primeiro caso se rega a planta com
frequência, buscando livrá-la das pragas que costumam afetá-la e, no segundo,
quando se cultiva o propósito, esforçando-se na conquista de sua realização,
enquanto o livra das dificuldades que, à semelhança das pragas, costumam
entorpecer seu desenvolvimento e até malográ-lo.