CIDADÃO, ASSUME. EU, ESTADO, NÃO FAÇO MAIS!


Dias desses, soubemos que na Bahia, há orientações oficiais para separar um dinheirinho para os assaltantes. Logo depois, também soubemos que foram divulgadas orientações de como conversar com os criminosos. Agora, a Segurança pública da Paraíba, orienta como forçar rictus faciais frente a esses mesmos fascínoras. Ontem, soubemos que, no Piauí, foram permitidas regalias aos presidiários para que estes não promovessem desordens públicas (incrível!, presidiários promovendo desordem pública). Periodicamente, presidiários são transferidos de cidade para que não atraiam seus comparsas para a região onde estão, mostrando com isso sinais de falência do sistema público de segurança. Bem!, o que resta para o cidadão correto? Com as responsabilidades migrando dos governos incapazes para os cidadãos em luta pela sobrevivência, só resta valorizar o "çábio" conselho de Maluf ao criminosos, dito há mais de uma década: "...ESTUPRA, mas não mata!". Afinal, hoje, como ontem, os governos fazem que governam; desenvolvem campanhas políticas em torno de três bases, sendo uma delas a Segurança e, depois, nada fazem; destinam recursos orçamentários que não utilizam; e, finalmente, descobre-se agora, fazem o jogo do crime.


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Contra assaltos, governo da Paraíba pede que mulheres façam “cara de brava”

20 de março de 2013
Autor: Comunicação Millenium

Dica consta no site de Secretaria de Segurança, que também diz que mulheres devem levar bolsa reserva “com quinquilharias” para entregar aos ladrões
Como evitar ser assaltado? Se você for uma mulher paraibana que tem medo de andar à noite ou que acabou de sair do banco, talvez seja o caso de fazer “cara de brava”, “franzir as sobrancelhas” e “falar alto consigo mesma”. Pelo menos é o que recomenda em seu site a Secretaria de Segurança e Defesa Social da Paraíba, apasta responsável pelo policiamento do sexto estado mais violento do país.
Numa seção de dicas de segurança, a maior parte delas composta por conselhos para evitar assaltos, a secretaria mantém uma seção especial de “segurança para mulheres”. Nela, quem acessar o site vai encontrar o item onde se lê “se você se sente insegura ao andar à noite numa rua deserta, ou ao sair do banco com o dinheiro na bolsa, faça cara de brava, franza as sobrancelhas, fale alto consigo mesma”.
O site recomenda ainda, entre outras curiosidades, que as mulheres mantenham no carro “uma bolsa à vista, com quinquilharias e algum dinheiro, para que um eventual ladrão possa levá-la sem lhe trazer muito prejuízo”.
Com essas dicas, a secretaria paraibana segue o exemplo das polícias Militar e Civil da Bahia, que nos sites das corporações mantinham seções de dicas que recomendavam, entre outras coisas, que os cidadãos andassem com “um pouco de dinheiro para satisfazer o ladrão”. Após a informação ser divulgada pela imprensa, as listas de dicas foram retiradas do ar.
MacGyver
Algumas das dicas da secretaria da Paraíba são quase idênticas àquelas recomendadas pela polícia baiana. Uma delas sugere que a população incorpore o espírito inventivo e audacioso do personagem MacGyver, da série televisa “Profissão: Perigo”, em caso de sequestro. “Treine como sair de um porta-malas, para o caso de ser aprisionado. Em caso de tranca mecânica, treine com um grampo, arame ou canivete o levantamento da trava. Em caso de trava elétrica, identifique o caminho da fiação para poder cortá-la”, recomenda a secretaria de Segurança.
A maior parte das dicas, divididas em seções como “andando na rua” e “segurança no trânsito”, é formada por conselhos úteis, apesar de serem bastante óbvios, como “ao fazer um saque, nunca coloque o dinheiro ou a carteira no bolso de trás”.
Outras dicas soam especialmente datadas. Um exemplo: “quando estiver na rua, não escute walkman ou discman. Para estar a salvo, é preciso ficar atenta ao que acontece em volta” ou “antes de sair de um bar com algum desconhecido, ligue para um amigo, ou para sua própria secretária eletrônica, avisando a hora em que está saindo, para onde pretende ir e com quem está”.
Há também recomendações que soam geograficamente curiosas, já que o estado em questão é a Paraíba. “Não exibir ‘currículo’ no carro. Adesivos como: ‘Eu amo Campos do Jordão’ (…) levam à deduções sobre a rotina das pessoas”, diz uma das dicas.
Fonte – Logo abaixo de algumas das seções de dicas, a secretaria paraibana afirma que a fonte para uma parte delas foi o site da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. E de fato algumas das dicas constam no site da Polícia Civil paulista, porém as dicas mais “curiosas” não fazem parte das recomendações do site de São Paulo.
Ninguém foi encontrado na Secretaria de Segurança Pública na noite desta terça-feira para comentar as dicas publicadas no site.
Na edição 2012 do Mapa da Violência, elaborado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, a Paraíba apareceu como o quinto estado com o maior número de homicídios do país. Segundo dados de 2010, a taxa de homicídios por 100.000 habitantes na Paraíba é de 38,6, enquanto a média brasileira é de 26,2. João Pessoa é a segunda capital mais violenta do país, logo depois de Maceió, com média de 80,3 assassinatos por 100.000 habitantes.

"ELES"



Não sou um concordante 100% do Reinaldo Azevedo, chego aí, pelos 70%! Agora, com este texto concordo plenamente, pois ele expõe as vísceras da relação espúria que tomou conta do elo público/privado. Ah!, mas LULLA não representa mais o público! Representa, sim, pois todos sabemos como ele se comporta nos bastidores (nem tão bastidores assim), para comandar as ações da Dilma nos rumos do governo e na indicação de pelegos para cargos.

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22/03/2013
 às 6:59
Decidi manter este texto no alto na homepage por mais algum tempo.
Há muitos anos invoco com um certo sujeito frequentemente atacado nos discursos logorreicos de Lula. Trata-se de um sujeito simples, mas oculto; presente, mas indeterminado, reconhecível, mas ausente. Vindo do Apedeuta, haveria de ser uma revolução da sintaxe. Não tem nome, mas pronome: “Eles” — eventualmente, há a variante “as elites”, mas o Babalorixá de Banânia tem recorrido menos a essa palavra. Ele gosta mesmo é de atacar um certo “eles”, caso em que temos, então, o objeto oculto, o objeto indeterminado, o objeto reconhecível, mas ausente.
Esse “eles” é capaz das maiores maldades. O “eles” está sempre conspirando contra o Brasil. O “eles” tem sempre as piores intenções. O “eles” atua em nome de uma agenda secreta. O “eles” é contra os benefícios aos mais pobres…
Assim, ao longo desses anos, tenho indagado: “Mas, afinal de contas, quem forma esse ‘eles’?”. Quais são os nomes designados por esses pronomes? Onde estão os “quens” que lhe conferem substância política? Como transformar esse pronome do caso reto em pronome interrogativo, em pronome relativo? Impossível!
Já lhes falei aqui, em 2010, sobre um livrinho chamado “Mitos e Mitologias Políticas”, do francês Raoul Girardet. É de fácil leitura e não traz nada de especialmente fabuloso. Sua virtude principal é sistematizar com muita clareza as características do discurso da manipulação política autoritária. Leiam abaixo as suas características e depois me digam se vocês não reconhecem aí tipos como Chávez (agora Maduro), Cristina Kirchner, Rafael Correa, Evo Morales — e, é evidente, Lula! Notem como todos os tiranos do século passado também seguiram rigorosamente o roteiro. Segundo Girardet, os assassinos da razão política investem nos seguintes mitos:
– prometem a Idade de Ouro;
– apresentam-se como salvadores da pátria;
– apontam uma permanente conspiração de inimigos;
– sempre alertam para o risco representado pelos estrangeiros;
– demonstram que a luta contra os inimigos implica sacrifício pessoal;
– o que deu errado é sempre culpa desses inimigos.
Todos são assim?
Aí dirá alguém: “Ah, Reinaldo, todos são assim! Isso é próprio da política!”. Bem, meus caros, o Brasil mesmo demonstra que isso não é verdade. Pegue-se o caso do político que chegou ao topo sem exercitar nenhuma dessas vigarices: FHC. Apontem uma só dessas pilantragens no discurso do ex-presidente, dentro ou fora do poder. Ao contrário até: o tucano é uma espécie de fanático da racionalidade, enxergando sempre conexões lógicas e necessárias entre passado, presente e futuro; entre o antes e o depois. Já ocorreu de ser generoso demais na leitura do tal “processo”, de sorte que já chegou a ver no próprio Lula o desdobramento da era tucana. Acho isso falso. Mas fica para outra hora.
Lula, ao contrário, cumpriu à risca o roteiro (os “estrangeiros” em sua fala, são os americanos; os “brancos de olhos azuis”), com ênfase na suposta e permanente conspiração dos inimigos — aquele “eles” sujeito, aquele “eles” objeto de demonização.
Quem paga a conta?
Pois é… Nesta quarta, o Globo informou que três empreiteiras arcam com os custos da viagem de Lula à África. Reproduzo trecho de texto publicado nesta quinta na VEJA.com (em vermelho). Volto em seguida:
Três construtoras com histórico de doações eleitorais para as campanhas presidenciais petistas e de execução de obras do governo federal custearam a viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a África, encerrada na terça-feira. Lula ficou seis dias no continente e passou por Gana, Benin, Guiné Equatorial e Nigéria.
Durante a viagem, fez duas palestras custeadas por empreiteiras. A primeira, em Gana, foi paga em conjunto pela Odebrecht e pela Queiroz Galvão, além de uma empresa de seguros local chamada SIC. A segunda foi bancada pela construtora Andrade Gutierrez, que doou mais de 2 milhões de reais a Lula quando ele concorreu à reeleição, em 2006. Naquele ano, a Odebrecht injetou cerca de 200 000 reais na campanha do petista. A Queiroz Galvão não fez doações.
Em 2010, a campanha da presidente Dilma Rousseff recebeu 9,38 milhões de reais da Queiroz Galvão, 15,7 milhões da Andrade Gutierrez e 2,4 milhões da Odebrecht. A informação de que a viagem fora paga pelas empreiteiras foi publicada nesta quarta-feira pelo jornal O Globo e confirmada pelo Instituto Lula, que, no entanto, não informou os valores pagos sob a alegação de que são dados “reservados”.
(…)
Voltei
Refaço a pergunta: que nomes, afinal de contas, se escondem no pronome “eles”? Lula, por certo, não considera que os trabalhadores sejam os inimigos. Ao contrário: ele se quer seu porta-voz. As empreiteiras, ainda as maiores financiadoras de campanhas eleitorais, também são amigas de Lula. Os grandes industriais, hoje dependentes do BNDES e das bondades “desonerantes” de Guido Mantega, não perfilam com o tal “eles”. O setor financeiro… Bem, esse não mesmo! Quem é esse “eles”? Onde está esse “eles”?
A prática não é nova. No dia 30 de agosto de 2011, Sérgio Roxo, no mesmo Globo, informava (em vermelho):
Depois de uma semana dedicada a articulações políticas para a eleição do ano que vem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retoma, a partir de hoje, a vida de palestrante internacional. Contratado pelas empreiteiras OAS e Queiroz Galvão, o petista irá à Bolívia, à Costa Rica e a El Salvador. Nos três países, o ex-presidente também terá atividades políticas e se encontrará com os presidentes locais.
O tema de todas as palestras será o mesmo: integração regional e o desenvolvimento social e econômico dos países da América Latina. Lula viaja em jatos particulares bancados pelas empreiteiras e acompanhado de assessores. Ele recebe cerca de US$ 300 mil por palestra no exterior.
O giro do ex-presidente começou ontem, em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, onde participaria à noite, com o presidente boliviano Evo Morales, de uma reunião com movimentos sociais no estádio da cidade. Hoje de manhã, pago pela OAS, Lula falará a empresários, industriais, produtores rurais e integrantes da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos. A empreiteira brasileira é responsável pela construção no país de uma estrada de US$ 415 milhões (cerca de R$ 660 milhões), que enfrenta protestos por cortar uma área indígena.
Encerro
As viagens de Lula e quem lhe paga as contas não teriam a menor importância se o PT não fizesse do estado uma extensão do partido (e também o contrário). Isso tudo seria irrelevante se ele não se colocasse — e não fosse de fato — um condestável da República. Que se virasse lá com seus financiadores! Seria mesmo irrelevante se o Apedeuta fosse hoje, com efeito, apenas um homem privado, que não se imiscui nos assuntos de estado nem dá as cartas no partido que está no poder; se não houvesse uma fatia enorme do governo que obedece mais a seu comando do que ao de Dilma.
Ocorre que nada disso é verdade. O Apedeuta se transformou num misto de chefe de estado informal e lobista — com a graça de que nem tem o ônus da governança.
Lula está no topo da cadeia alimentar da política. Não tem predadores naturais. Mesmo assim, vive apontando a conspiração dos gnus, das zebras, dos cervos… Sempre deixando claro que pode resolver tudo com uma patada na espinha ou uma mordida na jugular. E toda a savana lhe presta reverência.
Onde, afinal de contas, se esconde o tal “eles”?
Texto publicado originalmente às 20h39 desta quinta
Por Reinaldo Azevedo

VISÃO DE FUTURO, DIFERENTE DE PREVISÃO


Efetuo a postagem deste artigo do Kanitz, por vê-lo como importante para nosso futuro como Nação e como pessoas. Mas, não só! Sua leitura é fundamental para entendermos o nosso papel no presente, tempo onde devemos construir o futuro, pois nossas ações desenvolvidas hoje, e se bem desenvolvidas, darão a boa estrutura para que a sociedade brasileira se consolide, já que recursos naturais os temos em quantidade necessária. Parece-me faltar a internação do pensamento, com ideias e propostas simétricas, projetando a nacionalidade de amanhã. Não é o que ocorre!

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A Importância de Uma Visão do Futuro

por Stephen Kanitz

Nos últimos 30 anos, nossos filhos têm sido bombardeados pelos nossos intelectuais, imprensa e professores universitários que nosso país não tem futuro.
Nosso maior problema como prisioneiros de guerra“, diz Viktor Frankl no seu livro “O Significado da Vida”, “era não ter uma visão de futuro“.
Ao contrário de presos comuns, não havia para o prisioneiro de guerra uma data certa para a liberdade.
Isto gerava consequências trágicas.
Muitos prisioneiros de guerra achavam que seriam libertados antes do Natal de 1944, porque as Forças Inglesas e Americanas já haviam desembarcado na Normândia.
Mas o Natal passou e a guerra somente acabaria em Junho de 1945.
Decepcionados e desiludidos, centenas de prisioneiros morreram logo depois do Natal, sem explicação, numa frequência duas vezes o estatisticamente normal.
Simplesmente desistiram de viver por acharem que não tinham mais futuro. Erraram por alguns meses.
Nos últimos 30 anos, nossos filhos têm sido bombardeados pelos nossos intelectuais, imprensa e professores universitários que nosso país não tem futuro.
Nos inúmeros textos escritos por intelectuais para as comemorações dos 500 anos do Descobrimento em vez de olharmos para um futuro a fazer, usaram a ocasião para mostrar que nem passado tínhamos.
Intelectuais nos lembraram que somos um país de corruptos por termos sido colonizados por desterrados e criminosos, mas nunca revelam que nossas Universidades Públicas contratam mais professores de Sociologia e Política do que professores de Auditoria e Fiscalização.
A USP tem um único professor de Auditoria e dezenas de professores de Filosofia e Sociologia, um que virou até Presidente do Brasil.
Perdemos a nossa Visão de Futuro em 1964, quando imperava que a visão de futuro era a do administrador, do advogado, do engenheiro, do empresário, do empreendedor.
Para estes, o futuro é para ser feito, com suor, lágrimas e trabalho, não simplesmente previsto com “modelos estatísticos”.
O futuro é nosso para ser criado da forma que desejamos, não “esperado” num Deus que o dará pela bola de cristal.
Mas a Revolução de 1964 colocou no poder mais de 600 acadêmicos especializados em previsões, que controlam o país até hoje.
O Japão e a Alemanha do pós guerra não pautaram sua reconstrução em previsões econométricas  porque sequer tinham mais uma economia para ser prevista.
Decidiram construir seu novo futuro ao ponto que suplantaram seus vencedores, a Inglaterra e os Estados Unidos, tal o poder desta postura perante o futuro.
Precisamos resgatar a visão de futuro dos engenheiros, dos carpinteiros, empreendedores, advogados e administradores e rejeitar de vez a visão niilista dos previsores do futuro, que preveem o futuro da volatilidade, do câmbio, do juro para poder especular, e das previsões de curto prazo que levam a nada.
Ficamos tão preocupados com as marolas que esquecemos de ver as ilhas do horizonte.
Administradores muitas vezes quebram a cara não conseguindo fazer o que pretendiam, nem sempre criam empresas de sucesso como gostariam.
Afinal, o futuro é para ser feito não para ser previsto.
Mas a favor dos administradores, eles têm o mérito de ter pelo menos tentado.
Tentado fazer, em vez de simplesmente tentado prever, sentados em cátedras acadêmicas com suas redomas de vidro.
Única forma de devolver aos nossos filhos um sentido para suas vidas é mostrar que existe uma outra visão de mundo, de ação construtiva e não de especulação que gerou a enorme crise de 2008.
Afinal, o futuro é para ser feito não para ser previsto.


"DESINVESTINDO"


Não gosto de exageros ao caracterizar situações. Mas, agora, devo fazê-lo, pois vejo como apavorante o que faz o regime que nos governa. Tudo indica que nosso País deixa de ser uma República, uma Democracia, e se torna um bolicho, uma bodega de beira de estrada, onde, nas bordas de um "liso" babado pela pior das cachaças, passando de boca em boca, qualquer conversa irresponsável pode ser desenvolvida, onde qualquer negociata pode ser fechada, construída e desconstruída, investida e, agora, vê só!, desinvestida. Pode uma coisa dessas e da forma como é feita? Às escondidas? Qual o fundamento econômico-financeiro para tanto? Que compromissos e descompromissos ficam implicados? Cadê as respostas, as explicações? Onde estão os meus representantes que não reclamam? Aonde foram parar, em qual encruzilhada da vida e da retórica ideológica de ontem, se esconderam os argumentos desse grupo incompetente e irresponsável que destroi o meu Brasil?
A reportagem da revista ÉPOCA, abaixo, é terrificante.

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O FEIRÃO DA PETROBRAS

Documentos da estatal revelam os bastidores da venda de patrimônio no exterior – como a sociedade secreta na Argentina com um amigo da presidente Cristina Kirchner.

DIEGO ESCOSTEGUY, COM MURILO RAMOS, LEANDRO LOYOLA, MARCELO ROCHA E FLÁVIA TAVARES, para a revista Época
 

 

 
Na quarta-feira, dia 27 de março, o executivo Carlos Fabián, do grupo argentino Indalo, esteve no 22o andar da sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, para fechar o negócio de sua vida. É lá que funciona a Gerência de Novos Negócios da Petrobras, a unidade que promove o maior feirão da história da estatal – e talvez do país. Sem dinheiro em caixa, a Petrobras resolveu vender grande parte de seu patrimônio no exterior, que inclui de tudo: refinarias, poços de petróleo, equipamentos, participações em empresas, postos de combustível. Com o feirão, chamado no jargão da empresa de “plano de desinvestimentos”, a Petrobras espera arrecadar cerca de US$ 10 bilhões. De tão estratégica, a Gerência de Novos Negócios reporta-se diretamente à presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster. Ela acompanha detidamente cada oferta do feirão. Nenhuma causou tanta polêmica dentro da Petrobras quanto a que o executivo Fabián viria a fechar em sua visita sigilosa ao Rio: a venda de metade do que a estatal tem na Petrobras Argentina, a Pesa. ÉPOCA teve acesso, com exclusividade, ao acordo confidencial fechado entre as duas partes, há um mês. Nele, prevê-se que a Indalo pagará US$ 900 milhões por 50% das ações que a Petrobras detém na Pesa. Apesar do nome, a Petrobras não é a única dona da Pesa: 33% das ações dela são públicas, negociadas nas Bolsas de Buenos Aires e de Nova York. A Indalo se tornará dona de 33% da Pesa, será sócia da Petrobras no negócio e, segundo o acordo, ainda comprará, por US$ 238 milhões, todas as refinarias, distribuidoras e unidades de petroquímica operadas pela estatal brasileira – em resumo, tudo o que a Petrobras tem de mais valioso na Argentina.

EMPRESÁRIO “K”
Cristóbal López (sorrindo, à esq.), num cassino com os Kirchners (Cristina de vermelho, Néstor de gravata lilás). Amizade com o poder (Foto: Juan Cruz Sanz )
O negócio provocou rebuliço dentro da Petrobras por três motivos: o valor e o momento da venda, a identidade do novo sócio e, sobretudo, o tortuoso modo como ele entrou na jogada. Não se trata de uma preocupação irrelevante – a Petrobras investiu muito na Argentina nos últimos dez anos. Metade do petróleo produzido pela Petrobras no exterior vem de lá. Em 2002, a estatal brasileira gastou US$ 1,1 bilhão e assumiu uma dívida estimada em US$ 2 bilhões, para comprar 58% da Perez Companc, então a maior empresa privada de petróleo da Argentina, que já tinha ações negociadas na Bolsa. Após sucessivos investimentos, a Perez Companc passou a se chamar Pesa, e a Petrobras tornou-se dona de 67% da empresa. Nos anos seguintes, a Petrobras continuou investindo maciçamente na Pesa: ao menos US$ 2,1 bilhões até 2009. Valeu a pena. A Pesa atua na exploração, no refino, na distribuição de petróleo e gás e também na área petroquímica. Tem refinarias, gasodutos, centenas de postos de combustível. Em maio de 2011, a Argentina anunciou ter descoberto a terceira maior reserva mundial de xisto – fonte de energia em forma de óleo e gás –, estimada em 23 bilhões de barris, equivalentes à metade do petróleo do pré-sal brasileiro. A Pesa tem 17% das áreas na Argentina onde se identificou esse produto. No ano passado, por fim, a Pesa adquiriu uma petroleira argentina, a Entre Lomos, que proporcionou um aumento em sua produção.

Apesar dos investimentos da Petrobras, quando a economia da Argentina entrou em declínio, há cerca de dois anos, as ações da Pesa desvalorizaram. As desastrosas políticas intervencionistas da presidente Cristina Kirchner contribuíram para a perda de valor da Pesa. De 2011 para cá, as ações da empresa caíram mais de 60%. É por isso que técnicos da Petrobras envolvidos na operação questionam se agora é o melhor momento para fazer negócio – por mais que a Petrobras precise de dinheiro. Seria mais inteligente, dizem os técnicos, esperar que a Pesa recupere valor no mercado. Reservadamente, por medo de sofrer represálias, eles também afirmam que os bens da Petrobras na Argentina – as distribuidoras, refinarias e unidades de petroquímica que constituem a parte física do negócio – valem, ao menos, US$ 400 milhões. Um valor bem maior, portanto, que os US$ 238 milhões acordados com a Indalo. “Se o governo não intervier tanto, a Pesa pode valer muito mais”, diz um dos técnicos. A Petrobras, até dezembro do ano passado, tinha um discurso semelhante. Na última carta aos acionistas, a Pesa diz: “Estamos otimistas em relação ao futuro da Petrobras Argentina. E agora renovamos o compromisso de consolidar uma companhia lucrativa, competitiva e sustentável, comprometida com os interesses do país (Argentina)...”. Em outro trecho da carta, informa-se que os resultados do ano passado foram “encorajadores” e permitiram, como nos cinco anos anteriores, a distribuição de dividendos milionários aos acionistas.

Mesmo que os valores do negócio pudessem ser considerados vantajosos para a Petrobras, nada provocou tanto desconforto dentro da estatal como o sócio escolhido. O executivo Fabián trabalha para o bilionário argentino Cristóbal López, dono do grupo Indalo. Ele é conhecido como “czar do jogo”, em virtude de seu vasto domínio no mundo dos cassinos (na Argentina, o jogo é legal). López é amigo e apoiador da presidente da Argentina, Cristina Kirchner.

Como o “czar do jogo” da Argentina virou sócio da Petrobras? No dia 5 de novembro do ano passado, López enviou uma carta, em espanhol, à presidente da Petrobras, Graça Foster. Na carta, a que ÉPOCA teve acesso, López revela ser um homem bem informado. Não se sabe como, mas ele descobrira que a Petrobras estava negociando a venda da Pesa com três de seus concorrentes. O assunto da carta, embora em economês, deixava claras as intenções do empresário López: “Ref. Pesa Proposta de aquisição e integração de ativos”. López, portanto, queria comprar um pedaço da Pesa. Na carta, ele manifestou a “firme intenção de chegar a um entendimento entre Pesa e Oíl Combustibles S.A.”, a empresa de petróleo de López, para que a operação viesse a ser fechada. No documento, López propôs comprar 25% das ações que a Petrobras detinha na Pesa. Queria também a opção de, se a parceria desse certo, comprar mais 23,52% das ações – uma proposta mais modesta do que o acordo que ele conseguiu depois.

A resposta da Petrobras também veio por escrito, semanas depois. No dia 21 de novembro, Ubiratan Clair, executivo de confiança de Graça Foster, que toca o feirão da Petrobras e negociava a venda da Pesa aos concorrentes do “czar do jogo”, escreveu a López: “Nos sentimos honrados pelo interesse manifestado na compra de 25% (da Pesa). No entanto, devemos indicar que as ações da Pesa não fazem parte de nossa carteira de desinvestimentos, razão pela qual não podemos iniciar qualquer negociação relativa às mesmas”. Diante do que aconteceu em seguida, a carta do assessor de Graça Foster causa espanto. Não só ele escondeu que a Pesa estava, sim, à venda – como, semanas depois, fechou acordo com o próprio López. No dia 18 de dezembro, menos de um mês após a inequívoca negativa, o mesmo assessor de Graça Foster firmou um “convênio de confidencialidade” com López para lhe vender a Pesa.

O que houve nesse espaço de um mês? Por que a Petrobras mudou de ideia e resolveu fechar negócio com López? A estatal não explica. Assessores envolvidos na operação dizem apenas que “veio a ordem” de fechar com o amigo de Cristina Kirchner. Procurada por ÉPOCA em três oportunidades, a assessoria da Petrobras limitou-se a responder que “não vai emitir comentários sobre assuntos relacionados com o seu Programa de Desinvestimento”. Graça Foster e o executivo Ubiratan não responderam às ligações. A assessoria de López confirmou apenas que o grupo Indalo fez uma proposta pela Pesa.

López é o que a imprensa argentina chama de “empresário K”, como são conhecidos os empresários que têm proximidade com o governo Kirchner. Ele tem empresas de transporte, construção civil, petróleo, alimentação, concessionárias e meios de comunicação. É famoso por suas redes de cassino e caça-níquel. É sócio em pelo menos 14 cassinos, incluindo o Hipódromo de Palermo, para o qual ganhou de Néstor Kirchner, nos últimos dias como presidente da Argentina, uma extensão da concessão para os caça-níqueis – o prazo foi estendido de 2017 a 2032.

ERRO
Refinaria de Pasadena. Os técnicos da Petrobras aconselharam a fazer acordo. Foram ignorados (Foto: Dave Fehling/Stateimpact Texas)
A relação entre López e Néstor Kirchner, o marido de Cristina, que governou o país antes dela e morreu em 2010, começou em 1998. Néstor, quando governador de Santa Cruz, ajudou uma empresa de López a fechar negócios com petroleiras. Desde então, López nunca escondeu de ninguém: sentia que tinha uma “dívida eterna” com Néstor. Para pagar a “dívida eterna”, convidava Néstor, que sempre gostou de uma mesa de jogo, a se divertir num dos cassinos dele em Comodoro Rivadavia. A amizade era recíproca. Em 2006, López recebeu de Néstor concessão para explorar sete reservas de petróleo em Santa Cruz. Cristina, a sucessora, também o ajudou. Fez-lhe um favorzinho depois que ele gastou US$ 40 milhões na compra da concessão do canal de TV C5N, a fim de torná-lo governista. Para que fechasse o negócio, Cristina abriu exceções na lei de audiovisual, que proíbe negociar concessões.

Depois que a Petrobras fechou o acordo de confidencialidade com López, o negócio andou rápido. Ele apresentou uma proposta em 7 de janeiro, aumentou o valor numa segunda proposta, um mês depois – e fechou a compra das ações por US$ 900 milhões em 22 de fevereiro. Com o acordo, López e a Petrobras discutem agora os detalhes do contrato a ser assinado. Se tudo correr como previsto, resta apenas a aprovação do Conselho de Administração da Petrobras, que se reunirá no final de abril. A Pesa, porém, enfrentará resistências na Argentina se assinar o contrato. O atual governador de Santa Cruz, Daniel Peralta, um desafeto de López, ameaçou tirar dele as concessões das sete reservas de petróleo que López tem na região. Peralta diz que ele não fez os investimentos previstos. Diz, ainda, que a situação em Santa Cruz pode “inviabilizar” o negócio com a Petrobras – mas não diz como.

O maior problema do negócio da Petrobras com o “czar do jogo”, e com todas as operações do feirão, é a falta de transparência. Como demonstra o caso da Argentina, não há critérios claros para a escolha das empresas que farão negócio com a Petrobras. Esse modelo sigiloso e sem controle resultou em calamidades, como a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Em 2004, a Astra Trading pagou US$ 42 milhões pela refinaria. Meses depois, a Petrobras pagou US$ 360 milhões por metade do negócio. Tempos depois, um desentendimento entre as sócias levou a questão à Justiça. A Petrobras perdeu e foi condenada a comprar não só a parte da sócia, como a pagar multa, juros e indenização. Em junho, a Petrobras anunciou que pagaria mais US$ 820 milhões.

ÉPOCA teve acesso a um documento interno da Petrobras, elaborado em 2009. Um trecho afirma que a então diretoria, comandada pelo petista José Sergio Gabrielli, decidiu manter o processo devido à “prepotência” com que a Astra se colocava no caso. Logo depois, o documento lista razões para fazer um acordo. Uma delas é que um representante da Astra procurara a Petrobras em busca de entendimento. A razão mais forte era clara: “Caso no litígio a Petrobras perca, o custo total irá para cima de US$ 1 bilhão (...). Vale lembrar que a Petrobras já perdeu na arbitragem, e a possibilidade de perder na corte é preocupante”. A opção do acordo era a menos pior. A Petrobras gastaria, no máximo, US$ 639 milhões. O documento afirma que a (então) “ministra (de Minas e Energia) Dilma Rousseff deverá ser procurada para ser informada de que a Astra está procurando entendimentos, inicialmente por canais informais”. O texto diz que Dilma Rousseff deveria comunicar isso na reunião do Conselho da Petrobras, marcada para 17 de julho de 2009. O Conselho daria então um prazo para um acordo com a Astra. O pior cenário sobreveio. A Petrobras não fez nenhum acordo com a Astra, perdeu na Justiça e gastou mais de US$ 1 bilhão (boa parte dele dinheiro público) – 24 vezes o que a Astra pagou pela refinaria. O Tribunal de Contas da União investiga como a Petrobras pôde fazer um negócio tão ruim – pelo menos para seu caixa e para os cofres públicos.

TESOURO AFRICANO
Plataforma de petróleo na Nigéria. A Petrobras investiu US$ 4 bilhões na África, entre 2003 e 2010, e pretende se desfazer de várias operações no continente (Foto: Dave Fehling/Stateimpact Texas)
A ausência de critério, segundo executivos da Petrobras, aparece também na parte mais valiosa do feirão: as operações da estatal na África. Cálculos do mercado e da Petrobras estimam o patrimônio no continente num patamar entre US$ 5 bilhões e US$ 8 bilhões. A Petrobras produz e explora petróleo em Angola, Benin, Gabão, Líbia, Namíbia, Nigéria e Tanzânia. De 2003 a 2010, investiu cerca de US$ 4 bilhões na África. ÉPOCA teve acesso a documentos internos da Petrobras que apresentam um diagnóstico sobre os negócios na África que devem ser vendidos, incluindo mapas com a localização dos poços e informações sobre seu potencial produtivo. O material mostra muitas possibilidades de lucro. A maior fatia de investimento está na Nigéria, responsável por 23% da produção atual de toda a área internacional da companhia – uma média equivalente a 55 mil barris de óleo por dia. São três poços na Nigéria: Agbami, Akpo e Engina. Os documentos da Petrobras mostram que os três poços têm “reservas provadas” de 150 milhões de barris de petróleo.

Para quem a Petrobras planeja vender tamanho tesouro? A estatal, de novo, não explica os critérios. Até agora, a única negociação avançada é com o grupo BTG, do banqueiro André Esteves. Por meio do investidor Hamylton Padilha, uma das mais poderosas influências na Petrobras, Esteves, segundo executivos da estatal envolvidos com a transação, negocia a compra de parte das operações na Nigéria. Questionado por ÉPOCA, Padilha afirmou ter se reunido com representantes do banco para avaliar investimentos na Petrobras. “Conversei com o pessoal (BTG) sobre esse assunto (venda de ativos da Petrobras). A Petrobras convidou diversas empresas estrangeiras para poder fazer ofertas no Golfo do México, África e até na América Latina. Sei que na área de petróleo eles (BTG) estão olhando. Têm participação em duas empresas ligadas ao setor: Bravante e Sete Brasil”, disse. “Não trabalho para o BTG. Sou investidor. Investi algum dinheiro na Sete Brasil (ligada à construção de plataformas de petróleo).” Indagado sobre quem é a pessoa mais indicada para falar, pelo BTG, sobre investimentos na Petrobras, sobretudo na África, Padilha disse: “A pessoa que trata desse assunto diretamente é o André Esteves”. O BTG disse que não se manifestaria.

O CONTEXTO DO TEMPO E NÓS

O tempo, ah, o tempo! Nada somos no contexto do tempo e nada deixaremos a não ser lembranças, também estas, morredouras. ___________________...