BIOENERGÉTICA


JORGE CARVAJAL é um médico atual que sabe confluir a sabedoria antiga com os conhecimentos modernos, possibilitando, ainda, a conjuminância dos fundamentos religiosos com a ciência. Penso valer a pena ganhar alguns minutos do tempo que temos para ler atentamente as sábias respostas que ele dá a questionamentos que são nossas ansiedades. Afinal, devemos ter a mente aberta para que não sejamos levados exclusivamente pelas modernidades, esquecendo dos conhecimentos ancestrais, pois "todos os vícios, quando estão na moda, passam por virtudes" (Jean Baptiste Poquelin Molière).
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Entrevista com o Dr. Jorge Carvajal, médico cirurgião da Universidade de Andaluzia, Espanha, pioneiro da Medicina Bioenergética. 

-Qual adoece primeiro: o Corpo ou a Alma?...-A Alma não pode adoecer, porque é o que há de perfeito em ti , a Alma evolui , aprende. Na realidade, boa parte das enfermidades são exatamente o contrário: são a resistência do corpo emocional e mental à Alma. Quando nossa personalidade resiste aos desígnios da alma, adoecemos. A Saúde e as Emoções.

-Há emoções prejudiciais à saúde? Quais são as que mais nos prejudicam?
-70 por cento das enfermidades do ser humano vêm do campo da Consciência Emocional. As doenças muitas vezes procedem de "Emoções não processadas...  não expressadas...  reprimidas". O medo, que é a "ausência de Amor é a grande enfermidade", o denominador comum de boa parte das enfermidades que temos hoje. Quando o temor se congela, afeta os rins, as glândulas suprarrenais, os ossos, a energia vital, e pode converter-se em pânico.


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Então nos fazemos de fortes e descuidamos de nossa saúde?
-De heróis os cemitérios estão cheios. Tens que cuidar de Ti. "Tens teus limites, não vás além". Tens que reconhecer quais são os teus limites e superá-los, pois, se não os reconheceres, " vais destruir teu corpo ".


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Como é que a Raiva nos afeta?...
-A raiva é santa, é sagrada, é uma emoção positiva, porque te leva à auto-afirmação, à busca do teu território, a defender o que é teu, o que é justo. Porém, quando a raiva se torna... " irritabilidade, agressividade, ressentimento, ódio", ela se volta contra ti e afeta o fígado, a digestão, o sistema imunológico".


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Então a Alegria, ao contrário, nos ajuda a permanecer saudáveis?...
-A alegria é a mais bela das emoções, porque é a Emoção da Inocência, do Coração e é a mais curativa de todas,porque não é contrária a nenhuma outra.Um pouquinho de tristeza com alegria escreve poemas.A alegria com medo leva-nos a contextualizar o medo e a não lhe darmos tanta importância.


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A Alegria acalma os ânimos?...
-Sim, a Alegria suaviza todas as outras emoções, porque nos permite processá-las a partir da inocência. A alegria põe as outras emoções em contato com o coração e dá-lhes um sentido ascendente. Canaliza-as para que cheguem ao mundo da mente.


 
-E a tristeza?...
 -A tristeza é um sentimento que pode te levar à depressão quando te deixas envolver por ela e não a expressas, porém ela também pode te ajudar.A tristeza te leva a contatares contigo mesmo e a restaurares o controle interno. Todas as emoções negativas têm seu próprio aspecto positivo. Tornamo-las negativas quando as reprimimos.


-Convém aceitarmos essas emoções que consideramos negativas como parte de nós mesmos?...-
-Como parte para transformá-las, ou seja, quando se aceitam, fluem, e já não se estancam e podem se transmutar. Temos de as canalizar para que cheguem à cabeça a partir do coração.Que difícil! Sim, é muito difícil. Realmente as emoções básica são o amor e o medo (que é ausência de amor), de modo que tudo que existe é amor, por excesso ou deficiência. Construtivo ou destrutivo. Porque também existe o amor que se aferra, o amor que superprotege, o amor tóxico, destrutivo.


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Como prevenir a enfermidade?...
-Somos criadores, portanto creio que a melhor forma é criarmos saúde. E, se criarmos saúde, não teremos que prevenir nem combater a enfermidade, porque seremos saúde.


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E se aparecer a doença?...
-Teremos, pois, de aceitá-la, porque somos humanos. Krishnamurti também adoeceu de um câncer de pâncreas e ele não era alguém que levasse uma vida desregrada. Muita gente espiritualmente muito valiosa já adoeceu. Devemos explicar isso para aqueles que creem que adoecer é fracassar. O Fracasso e o Êxito são dois mestres e nada mais. E, quando tu és o aprendiz, tens que aceitar e incorporar a lição da enfermidade em tua vida... Cada vez mais as pessoas sofrem de ansiedade.A ansiedade é um sentimento de vazio, que às vezes se torna um oco no estômago, uma sensação de falta de ar. É um vazio existencial que surge quando... "buscamos fora em vez de buscarmos Dentro". Surge quando buscamos nos acontecimentos externos, quando buscamos muleta, apoios externos, quando não temos a solidez da busca interior. Se não aceitarmos a solidão e não nos tornarmos nossa própria companhia, sentiremos esse vazio e tentaremos preenchê-lo com coisas e posses. Porém, como não pode ser preenchido de coisas, cada vez mais o vazio aumenta.

Então, o que podemos fazer para nos libertarmos dessa angústia?...
-Não podemos fazer passar a angústia comendo chocolate ou com mais calorias, ou buscando um príncipe fora."Só passa a angústia quando entras em teu Interior, te aceitas como és e te reconcilias contigo mesmo". A angústia vem de que não somos o que queremos ser, muito menos o que somos, de modo que ficamos no "deveria ser", e não somos nem uma coisa nem outra. O stress é outro dos males de nossa época. O estresse vem da competitividade, de que quero ser perfeito, quero ser melhor, quero ter uma aparência que não é minha, quero imitar. E realmente só podes competir quando decides ser um competidor de ti mesmo, ou seja, quando queres ser único, original, autêntico e não uma fotocópia de ninguém. O estresse destrutivo prejudica o sistema imunológico. Porém, um bom stress é uma maravilha, porque te permite estar alerta e desperto nas crises e poder aproveitá-las como oportunidades para emergir a um novo nível de consciência.


O que nos recomendaria para nos sentirmos melhor com nós mesmos?...
-A solidão. Estar consigo mesmo todos os dias é maravilhoso... Passar 20 minutos consigo mesmo é o começo da meditação, é estender uma ponte para a verdadeira saúde, "é aceder o altar interior, o ser interior". Minha recomendação é que a gente ponha o relógio para despertar 20 minutos antes, para não tomar o tempo de nossas ocupações... Se dedicares, não o tempo que te sobra, mas esses primeiros minutos da manhã, quando estás rejuvenescido e descansado, para meditar, essa pausa vai te recarregar, porque na pausa... " habita o potencial da Alma".


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O que é para você a Felicidade?...
-É a essência da Vida. É o próprio sentido da vida.Estamos aqui para sermos Felizes, não para outra coisa. Porém, felicidade não é prazer, é integridade. Quando todos os sentidos se consagram ao ser, podemos ser felizes. Somos felizes quando cremos em nós mesmos, quando confiamos em nós, quando nos empenhamos transpessoalmente,  a um nível que transcende o pequeno eu ou o pequeno ego.Somos felizes quando temos um sentido que vai mais além da vida cotidiana, quando não adiamos a vida, quando não nos alienamos de nós mesmos, quando estamos em Paz e a salvo com a vida e com nossa Consciência. Viver o Presente.


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É importante viver no presente?  Como conseguir?...
-Deixamos ir-se o passado e não hipotecamos a vida às expectativas do futuro, quando nos ancoramos no ser e não no ter , ou a algo ou alguém fora. Eu digo que a Felicidade tem a ver com a Realização, e esta com a capacidade de habitarmos a realidade. E viver em realidade é sairmos do mundo da confusão.


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Na sua opinião, estamos tão confusos assim?...
-Temos três ilusões enormes que nos confundem:

Primeiro: cremos que somos um corpo e não uma Alma, quando o corpo é o instrumento da vida e se acaba com a morte.

Segundo: cremos que o sentido da vida é o prazer, porém com mais prazer não há mais felicidade, senão mais dependência... Prazer e Felicidade não são o mesmo. "Há que se consagrar o prazer à vida e não a vida ao prazer".

Terceiro: Ilusão é o poder; desejamos o poder infinito de viver no mundo. E do que realmente necessitamos para viver?... Será de amor, por acaso?...O amor, tão trazido e tão levado, e tão caluniado, é uma força renovadora. O amor é magnífico porque cria coesão. No amor tudo está vivo, como um rio que se renova a si mesmo. No amor a gente sempre pode renovar-se, porque ordena tudo. No amor não há usurpação, não há transferência, não há medo, não há ressentimento, porque quando tu te ordenas, porque vives o amor, cada coisa ocupa o seu lugar, e então se restaura a harmonia. Agora, pela perspectiva humana, nós o assimilamos com a fraqueza, "porém o amor não é fraco". Enfraquece-nos quando entendemos que alguém a quem amamos não nos ama. Há uma grande confusão na nossa cultura. Cremos que sofremos por amor, porém não é por amor, é por paixão, que é uma variação do apego.O que habitualmente chamamos de amor é uma droga. Tal qual se depende da cocaína, da maconha ou da morfina, também se depende da paixão. É uma muleta para apoiar-se, em vez de levar alguém no meu coração para libertá-lo e libertar-me. O verdadeiro amor tem uma essência fundamental que é a liberdade, e sempre conduz à liberdade. Mas às vezes nos sentimos atados a um amor. Se o amor conduz à dependência é Eros. Eros é um fósforo, e quando o acendes ele se consome rapidamente em dois minutos e já te queima o dedo. Há amores que são assim, pura chispa. Embora essa chispa possa servir para acender a lenha do verdadeiro amor. Quando a lenha está acesa, produz fogo. Esse é o amor impessoal, que produz luz e calor .


Pode nos dar algum conselho para alcançarmos o Amor verdadeiro?...
-Somente a Verdade. Confia na verdade; não tens que ser como a princesa dos sonhos do outro, não tens que ser nem mais nem menos do que és. Tens um direito sagrado, que é o direito de errar ; tens outro , que é o direito de Perdoar , porque o erro é teu mestre. Ama-te, sê sincero contigo mesmo e leva-te em consideração. Se tu não te queres, não vais encontrar ninguém que possa te querer. Amor produz Amor. Se te amas, vais encontrar amor. Se não, vazio. Porém nunca busques migalhas, isso é indigno de ti.A chave então é Amar-se a Sí mesmo.. E ao próximo como a ti mesmo. Se não te amas a ti , não amas a Deus , nem a teu filho , porque estás apenas te apegando, estás condicionando o outro. Aceita-te como és; "não podemos transformar o que não aceitamos", e a vida... é uma corrente permanente de Transformações.





FRAGILIDADES


Sabe-se que os mercados oscilam segundo o comando de especuladores. Já foi assim no passado próximo, tanto no Brasil, quanto no mundo. Agora, com a questão do Pinheirinho, em São Paulo, relembramos o tal de Naji Nahas, que orientou caminhos dos mercados financeiros nacionais e, com isso, faturou, ele e os seus, carradas de dinheiro, em detrimento de milhares ou de milhões de brasileiros.
No mundo, os grandes especuladores, um deles preso nos Estados Unidos, moveram bilhões e trilhões em moedas internacionais ou locais, quebrando pessoas, empresas e países. Mas, como as Nações começaram a perceber a malandragem individual dos especuladores, foi sendo maturada pelos espertalhões a criação de agências e de bancos “respeitáveis”. Aí, então, as crises começaram a se mover no mundo e foram amplificadas de forma geométrica por uma delas, que soube criar no seu entorno uma auréola de respeitabilidade à qual a humanidade se curvou. Mas, o problema financeiro mundial foi se tornando agudo e, apesar de medidas bem estruturadas, algumas economias ameaçavam afundar porque a S&P dizia a todos que determinado país tinha sua avaliação rebaixada, quando a realidade era outra. E, assim, as altas e as baixas foram sendo manipuladas como interessava a alguns.
É aí, pois, que penso estar o problema mundial. A superficialidade do tratamento da macroeconomia, tanto dos países quanto do mundo, e que permitem a intervenção mais superficial ainda de agências que avaliam desempenhos. Mas, avaliam com que base?  A partir de quais parâmetros? Quais os interesses que estão por trás delas quando manifestam uma avaliação?
Há duas semanas, alguns países finalmente começaram a questionar isso, o que penso ser bom para todos. Como diz Kátia Abreu “...os mercados não são inteiramente insensatos como as agências de classificação de risco...”. É o momento, então de reverter essa anomia internacional e países tradicionalmente líderes, como a Alemanha está agindo, tomarem o comando da crise e agir, não necessariamente por blocos geográficos, mas, sim, econômicos.
Efetuou postagem do artigo dela por vê-lo como adequado ao tempo de crise.
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Europa, a hora da política

Kátia Abreu*, Folha de São Paulo, 21/01/2012


Ninguém pode ficar indiferente ao que se passa com a economia da zona do
euro. Se o bloco não reencontrar com certa urgência o caminho da
estabilidade financeira e do crescimento econômico, os efeitos da crise se
farão sentir em todo o mundo.

A recuperação americana será prejudicada e as exportações da China vão
declinar. Desses dois centros, os efeitos recessivos se espalharão para
todas as economias relevantes, o Brasil entre elas.
Depois de um período de perplexidade e hesitação, os governos europeus
estão buscando com dificuldades mecanismos capazes de lidar com a crise
das dívidas soberanas dos países mais vulneráveis e com a debilidade de
todo o sistema bancário europeu.
Há muita gente que sabe das coisas que diz que os remédios estão vindo
sempre tarde e em doses insuficientes. O que parece haver é uma dualidade
de tempos, uma falta irremediável de sincronia, pois os mercados querem
soluções instantâneas, já que seu mundo é o do curto prazo e sua medida
são os índices diários.
Do outro lado estão os governos, representando sociedades complexas e
informadas e lidando com questões que afetam a própria existência humana.
E, mais complicado ainda, governos operando para além das fronteiras do
Estado-nação, num espaço institucional e em formação.
De qualquer modo, a economia é sempre algo mais simples que a sociedade. O
mundo já viveu outras crises e aprendeu um pouco com elas. O avanço
técnico no processamento das informações torna o diagnóstico das situações
mais preciso e a própria ciência econômica, com todas as suas
imperfeições, está hoje muita mais apta que antes a prescrever soluções
relativamente eficazes.
Por tudo isso, eu, que não sou especialista nessas altas questões, tenho
grande confiança em que a economia da crise será, mais cedo ou mais tarde,
bem resolvida.
Mesmo porque os mercados não são inteiramente insensatos, como as agências
de classificação de riscos, e sabem que num confronto final eles perderão
muito -e, nesse caso, talvez não encontrem Estados suficientemente fortes
para resgatar seus prejuízos.A questão que me preocupa é a política da crise.
Por trás de qualquer política econômica há inevitavelmente perdedores e
ganhadores. E há políticas em que quase todos perdem, pelo menos nos
primeiros momentos.
Na Europa, ao lado de instrumentos financeiros para garantir a rolagem das
dívidas fiscais e a liquidez do sistema bancário, estão em fase de
implantação rigorosos programas de ajuste fiscal cuja consequência será
necessariamente menos serviços públicos, mais desemprego e menos
crescimento econômico.
Ou seja, a vida das pessoas comuns vai piorar e suas expectativas se
tornarão cada vez mais sombrias. Como elas reagirão a tudo isso?
A maioria das sociedades europeias é democrática há muito tempo e dispõe
de todos os meios para expressar suas opiniões e sua vontade. Uma crise
econômica não é uma guerra, em que uma nação esquece suas diferenças para
enfrentar um inimigo comum. Essa crise é sempre percebida como algo que
foi provocado pelos outros bancos, financistas, outros países, ou mesmo o
próprio governo.
Nas crises econômicas, as diferenças se acentuam e as sociedades perdem,
mesmo que momentaneamente, o cimento que as congrega.
Há especialistas de renome que declaram abertamente que ajuste fiscal no
meio de uma recessão é medida equivocada, por razões estritamente
econômicas. Se considerada de um ponto de vista político, ou seja, da sua
legitimação, chega a ser quase uma coisa insana.
Todos nós que não apenas somos influenciados pela economia da Europa, mas,
principalmente, nos sentimos herdeiros de sua cultura e da maioria dos
seus valores, o que mais podemos desejar é que os líderes europeus não
assistam passivamente ao esgarçamento dos laços sociais europeus e que
aproveitem as duras realidades da crise para levar mais longe o sonho de
uma Europa unida por laços do consentimento e das formalidades
institucionais.
Mantenham as pessoas confortáveis, enquanto o barco é reparado.
*Kátia Abreu, 49, senadora (PSD-TO) e presidente da CNA (Confederação da

Agricultura e Pecuária do Brasil).





UMBERTO ECO


Sinto satisfação ao publicar uma postagem com a entrevista de Umberto Eco, abaixo. Ele é um escritor instigante nos seus escritos, pois o seu texto faz pensar, deixando de ser um romancista de livros de pouca digestão mental. A trama que ele expõe nas páginas são densas e ardilosas para mentes não preparadas para uma boa leitura. Suas tramas estão sempre situadas no inusitado e na última delas, no livro “O Cemitério de Praga”, há uma rigorosa descrição de fatos históricos, tendo como único personagem fictício o próprio protagonista. Na entrevista, também, provocado, ele aproveita para analisar a forma contemporânea de comunicação e os perigos que ela gera para o conhecimento.
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Umberto Eco: "O excesso de informação provoca amnésia"

O escritor italiano diz que a internet é perigosa para o ignorante e útil para o sábio porque ela não filtra o conhecimento e congestiona a memória do usuário

LUÍS ANTÔNIO GIRON, DE MILÃO

3O escritor e semiólogo Umberto Eco vive com sua mulher em um apartamento duplo no segundo e terceiro andar de um prédio antigo, de frente para o palácio Sforzesco, o mais vistoso ponto turístico de Milão. É como se Alice Munro morasse defronte à Canadian Tower em Toronto, Hakuri Murakami instalasse sua casa no sopé do monte Fuji, ou então Paulo Coelho mantivesse uma mansão na Urca, à sombra do Pão de Açúcar. "Acordo todo dia com a Renascença", diz Eco, referindo-se à enorme fortificação do século XV. O castelo deve também abrir os portões pela manhã com uma sensação parecida, pois diante dele vive o intelectual e o romancista mais famoso da Itália.
Um dos andares da residência de Eco é dedicado ao escritório e à biblioteca. São quatro salas repletas de livros, divididas por temas e por autores em ordem alfabética. A sala em que trabalha abriga aquilo que ele chama de "ala das ciências banidas", como ocultismo, sociedades secretas, mesmerismo, esoterismo, magia e bruxaria. Ali, em um cômodo pequeno, estão as fontes principais dos romances de sucesso de Eco: O nome da rosa (1980), O pêndulo de Foucault (1988), A ilha do dia anterior (1994), Baudolino (2000), A misteriosa chama da rainha Loana (2004) e O cemitério de Praga. Publicado em 2010 e lançado com sucesso no Brasil em 2011, o livro provocou polêmica por tratar de forma humorística de um assunto sério: o surgimento do antissemitismo na Europa. Por motivos diversos, protestaram a igreja católica e o rabino de Roma: aquela porque Eco satirizava os jesuítas ("são maçons de saia", diz o personagem principal, o odioso tabelião Simone Simonini), este porque as teorias conspiratórias forjadas no século XIX - como o Protocolo dos sábios do Sião - poderiam gerar uma onda de ódio aos judeus. Desde o início da carreira, em 1962, como autor do ensaio estético Obra aberta, Eco gosta de provocar esse tipo de reação. Mesmo aos 80 anos, que completa em 5 de janeiro, parece não perder o gosto pelo barulho. De muito bom humor, ele conversou com Época durante duas horas sobre a idade, o gênero que inventou - o suspense erudito -, a decadência europeia e seu assunto mais constante nos últimos anos: a morte do livro. É de pasmar, mas o maior inimigo da leitura pelo computador está revendo suas posições - e até gostando de ler livros... pelo iPad que comprou durante sua última turnê americana.

ÉPOCA - Como o senhor se sente, completando 80 anos?
Umberto Eco - Bem mais velho! (Risos.) Vamos nos tornando importantes com a idade, mas não me sinto importante nem velho. Não posso reclamar de rotina. Minha vida é agitada. Ainda mantenho uma cátedra no Departamento de Semiótica e Comunicação da Universidade de Bolonha e continuo orientando doutorandos e pós-doutorandos. Dou muita palestra pelo mundo afora. E tenho feito turnês de lançamento de O cemitério de Praga. Acabo de voltar de uma megaexcursão pelos Estados Unidos. Ela quase me custou o braço. Estou com tendinite de tanto dar autógrafos em livros. 

ÉPOCA - O senhor tem sido um dos mais ferrenhos defensores do livro em papel. Sua tese é de que o livro não vai acabar. Mesmo assim, estamos assistindo à popularização dos leitores digitais e tablets. O livro em papel ainda tem sentido?
Eco - Sou colecionador de livros. Defendi a sobrevivência do livro ao lado de Jean-Claude Carrière no volume Não contem com o fim do livro. Fizemos isso por motivos estéticos e gnoseológicos (relativo ao conhecimento). O livro ainda é o meio ideal para aprender. Não precisa de eletricidade, e você pode riscar à vontade. Achávamos impossível ler textos no monitor do computador. Mas isso faz dois anos. Em minha viagem pelos Estados Unidos, precisava carregar 20 livros comigo, e meu braço não me ajudava. Por isso, resolvi comprar um iPad. Foi útil na questão do transporte dos volumes. Comecei a ler no aparelho e não achei tão mau. Aliás, achei ótimo. E passei a ler no iPad, você acredita? Pois é. Mesmo assim, acho que os tablets e e-books servem como auxiliares de leitura. São mais para entretenimento que para estudo. Gosto de riscar, anotar e interferir nas páginas de um livro. Isso ainda não é possível fazer num tablet. 

ÉPOCA - Apesar dessas melhorias, o senhor ainda vê a internet como um perigo para o saber?
Eco - A internet não seleciona a informação. Há de tudo por lá. A Wikipédia presta um desserviço ao internauta. Outro dia publicaram fofocas a meu respeito, e tive de intervir e corrigir os erros e absurdos. A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar. Vamos tomar como exemplo o ditador e líder romano Júlio César e como os historiadores antigos trataram dele. Todos dizem que foi importante porque alterou a história. Os cronistas romanos só citam sua mulher, Calpúrnia, porque esteve ao lado de César. Nada se sabe sobre a viuvez de Calpúrnia. Se costurou, dedicou-se à educação ou seja lá o que for. Hoje, na internet, Júlio César e Calpúrnia têm a mesma importância. Ora, isso não é conhecimento. 

ÉPOCA - Mas o conhecimento está se tornando cada vez mais acessível via computadores e internet. O senhor não acha que o acesso a bancos de dados de universidades e instituições confiáveis estão alterando nossa noção de cultura?
Eco - Sim, é verdade. Se você sabe quais os sites e bancos de dados são confiáveis, você tem acesso ao conhecimento. Mas veja bem: você e eu somos ricos de conhecimento. Podemos aproveitar melhor a internet do que aquele pobre senhor que está comprando salame na feira aí em frente. Nesse sentido, a televisão era útil para o ignorante, porque selecionava a informação de que ele poderia precisar, ainda que informação idiota. A internet é perigosa para o ignorante porque não filtra nada para ele. Ela só é boa para quem já conhece – e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a internet para as mais variadas bobagens: jogos, bate-papos e busca de notícias irrelevantes. 

ÉPOCA - Há uma solução para o problema do excesso de informação?
Eco - Seria preciso criar uma teoria da filtragem. Uma disciplina prática, baseada na experimentação cotidiana com a internet. Fica aí uma sugestão para as universidades: elaborar uma teoria e uma ferramenta de filtragem que funcionem para o bem do conhecimento. Conhecer é filtrar. 

ÉPOCA - O senhor já está pensando em um novo romance depois de O cemitério de Praga?
Eco - Vamos com calma. Mal publiquei um e você já quer outro. Estou sem tempo para ficção no momento. Na verdade, vou me ocupar agora de minha autobiografia intelectual. Fui convidado por uma instituição americana, Library of Living Philosophers, para elaborar meu percurso filosófico. Fiquei contente com o convite, porque passo a fazer parte de um projeto que inclui John Dewey, Jean-Paul Sartre e Richard Rorty - embora eu não seja filósofo. Desde 1939, o instituto convida um pensador vivo para narrar seu percurso intelectual em um livro. O volume traz então ensaios de vários especialistas sobre os diversos aspectos da obra do convidado. No final, o convidado responde às dúvidas e críticas levantadas. O desafio é sistematizar de uma forma lógica tudo o que já fiz...

ÉPOCA - Como lidar com tamanha variedade de caminhos?
Eco - Estou começando com meu interesse constante desde o começo da carreira pela Idade Média e pelos romances de Alessandro Manzoni. Depois vieram a Semiótica, a teoria da comunicação, a filosofia da linguagem. E há o lado banido, o da teoria ocultista, que sempre me fascinou. Tanto que tenho uma biblioteca só do assunto. Adoro a questão do falso. E foi recolhendo montes de teorias esquisitas que cheguei à ideia de escrever O cemitério de Praga.

ÉPOCA - Entre essas teorias, destaca-se a mais célebre das falsificações, O protocolo dos sábios de Sião. Por que o senhor se debruçou sobre um documento tão revoltante para fazer ficção?
Eco - Eu queria investigar como os europeus civilizados se esforçaram em construir inimigos invisíveis no século XIX. E o inimigo sempre figura como uma espécie de monstro: tem de ser repugnante, feio e malcheiroso. De alguma forma, o que causa repulsa no inimigo é algo que faz parte de nós. Foi essa ambivalência que persegui em O cemitério de Praga. Nada mais exemplar que a elaboração das teorias antissemitas, que viriam a desembocar no nazismo do século XX. Em pesquisas, em arquivos e na internet, constatei que o antissemitismo tem origem religiosa, deriva para o discurso de esquerda e, finalmente, dá uma guinada à direita para se tornar a prioridade da ideologia nacional-socialista. Começou na Idade Média a partir de uma visão cristã e religiosa. Os judeus eram estigmatizados como os assassinos de Jesus. Essa visão chegou ao ápice com Lutero. Ele pregava que os judeus fossem banidos. Os jesuítas também tiveram seu papel. No século XIX, os judeus, aparentemente integrados à Europa, começaram a ser satanizados por sua riqueza. A família de banqueiros Rotschild, estabelecida em Paris, virou um alvo do rancor social e dos pregadores socialistas. Descobri os textos de Léo Taxil, discípulo do socialista utópico Fourier. Ele inaugurou uma série de teorias sobre a conspiração judaica e capitalista internacional que resultaria em Os protocolos dos sábios do Sião, texto forjado em 1897 pela polícia secreta do czar Nicolau II. 

ÉPOCA - O senhor considera os Procotolos uma das fontes do nazismo?
Eco - Sem dúvida. Adolf Hitler, em sua autobiografia, Minha luta, dava como legítimo o texto dosProtocolos. Hitler tomou como verdadeira uma falsificação das mais grosseiras, e essa mentira constitui um dos fundamentos do nazismo. A raiz do antissemitismo vem de muito antes, de uma construção do inimigo, que partiu de delírios e paranoias.

ÉPOCA - O personagem de O cemitério de Praga, Simone Simonini, parece concentrar todos os preconceitos e delírios europeus do século XIX. Ele é ao mesmo tempo antissemita, anticlerical, anticapitalicas e antissocialista. Como surgiu na sua mente alguém tão abominável?
Eco - Os críticos disseram que Simonini é o personagem mais horroroso da literatura de todos os tempos, e devo concordar com eles. Ele também é muito divertido. Seus excessos estão ali para provocar riso e revolta. No romance, Simonini é a única figura fictícia. Guarda todos os preconceitos e fantasias sobre um inimigo que jamais conhece. E se desdobra em várias personalidades: durante o dia, atua como tabelião falsificador de documentos; à noite, traveste-se em falso padre jesuíta e sai atrás de aventuras sinistras. Acaba virando joguete dos monarquistas, que se opõem à unificação da Itália, e, por fim, dos russos. Imaginei Simonini como um dos autores de Os protocolos dos sábios do Sião. 

ÉPOCA - A falsificação sobre falsificações permitida pela ficção tornou o livro controverso. Ele tem provocado reações negativas. O senhor gosta de lidar com polêmicas? 
Eco - A recepção tem sido positiva. O livro tem feito sucesso sem precisar de polêmicas. Quando foi lançado na Itália, ele gerou alguma discussão. O L'osservatore Romano, órgão oficial do Vaticano, publicou um artigo condenando os ataques do livro aos jesuítas. Não respondi, porque sou conhecido como um intelectual anticlerical - e já havia discutido com a igreja católica no tempo de O nome da rosa, quando me acusaram de atacar a igreja. O rabino de Roma leu O cemitério de Praga e advertiu em um pronunciamento que as teorias contidas no livro poderiam se tornar novamente populares a partir da obra. Respondi a ele que não havia esse perigo. Ao contrário, se Simonini serve para alguma coisa, é para provocar nossa indignação.

ÉPOCA - Além de falsário, Simonini se revela um gourmet. Ao longo do livro, o senhor joga listas e listas de receitas as mais extravagantes, que Simonini comenta com volúpia. O senhor gosta de gastronomia?
Eco - Eu sou MacDonald's! Nunca me incomodei com detalhes de comida. Pesquisei receitas antigas com um objetivo preciso: causar repugnância no leitor. A gastronomia é um dado negativo na composição do personagem. Quando Simonini discorre sobre pratos esquisitos, o leitor deve sentir o estômago revirado.

ÉPOCA - Qual o sentido de escrever romances hoje em dia? O que o atrai no gênero?
Eco - Faz todo o sentido escrever ficção. Não vejo como fazer hoje narrativa experimental, como James Joyce fez com Finnegan's Wake, para mim a fronteira final da experimentação. Houve um recuo para a narrativa linear e clássica. Comecei a escrever ficção nesse contexto de restauração da narratividade, chamado de pós-modernismo. Sou considerado um autor pós-moderno, e concordo com isso. Vasculho as formas e artifícios do romance tradicional. Só que procuro introduzir temas que possam intrigar o leitor: a teoria da comédia perdida de Aristóteles em O nome da rosa; as conspirações maçônicas em O pêndulo de Foucault; a imaginação medieval emBaudolino; a memória e os quadrinhos em A misteriosa chama; a construção do antissemitismo em O cemitério de Praga. O romance é a realização maior da narratividade. E a narratividade conserva o mito arcaico, base de nossa cultura. Contar uma história que emocione e transforme quem a absorve é algo que se passa com a mãe e seu filho, o romancista e seu leitor, o cineasta e seu espectador. A força da narrativa é mais efetiva do que qualquer tecnologia.

ÉPOCA - Philip Roth disse que a literatura morreu. Qual a sua opinião sobre os apocalípticos que preveem a morte da literatura?
Eco - Philip Roth é um grande escritor. A contar com ele, a literatura não vai morrer tão cedo. Ele publica um romance por ano, e sempre de boa qualidade. Não me parece que nem o romance nem ele pretendem interromper a carreira (risos).

ÉPOCA - Mas por que hoje não aparecem romancistas do porte de Liev Tolstói e Gustave Flaubert?
Eco - Talvez porque ainda não os descobrimos. Nada acontece imediatamente na literatura. É preciso esperar um pouco. Devem certamente existir Tolstóis e Flauberts por aí. E têm surgido ótimos ficcionistas em toda parte.

ÉPOCA - Como o senhor analisa a literatura contemporânea?
Eco - Há bons autores medianos na Itália. Nada de genial, mas têm saído livros interessantes de autores bastante promissores. Hoje existe o thriller italiano, com os romances de suspense de Andrea Camilleri e seus discípulos. No entanto, um signo do abalo econômico italiano é que é mais possível um romancista viver de sua obra literária, como fazia (Alberto) Moravia. Hoje romance virou uma atividade diletante. É diferente do que ocorre nos Estados Unidos, aindaum polo emissor de ótima ficção e da profissionalização dos escritores. Além dos livros de Roth, adorei ler Liberdade, de Jonathan Franzen, um romance de corte clássico e repleto de referências culturais. A França, infelizmente, experimenta uma certa decadência literária, e nada de bom apareceu nos últimos tempos. O mesmo parece se passar com a América Latina. Já vão longe os tempos do realismo fantástico de García Márquez e Jorge Luis Borges. Nada tem vindo de lá que me pareça digno de nota.

ÉPOCA - E a literatura brasileira? Que impressões o senhor tem do Brasil? O país lhe parece mais interessante hoje do que há 30 anos?
Eco - O Brasil é um país incrivelmente dinâmico. Visitei o Brasil há muito tempo, agora acompanho de longe as notícias sobre o país. A primeira vez foi em 1966. Foi quando visitei terreiros de umbanda e candomblé - e mais tarde usei essa experiência em um capítulo de O pêndulo de Foucault para descrever um ritual de candomblé. Quando voltei em 1978, tudo já havia mudado, as cidades já não pareciam as mesmas. Imagino que hoje em dia o Brasil esteja completamente transformado. Não tenho acompanhado nada do que se faz por lá em literatura. Eu era amigo do poeta Haroldo de Campos, um grande erudito e tradutor. Gostaria de voltar, tenho muitos convites, mas agora ando muito ocupado... comigo mesmo.

ÉPOCA - O senhor foi o criador do suspense erudito. O modelo é ainda válido?
Eco - Em O nome da Rosa, consegui juntar erudição e romance de suspense. Inventei o investigador-frade William de Baskerville, baseado em Sherlock Holmes de Conan Dolyle, um bibliotecário cego inspirado em Jorge Luis Borges, e fui muito criticado porque Jorge de Burgos, o personagem, revela-se um vilão. De qualquer forma, o livro foi um sucesso e ajudou a criar um tipo de literatura que vejo com bons olhos Sim, há muita coisa boa sendo feita. Gosto de (Arturo) Pérez-Reverte, com seus livros de fantasia que lembram os romances de aventura de Alexandre Dumas e Emilio Salgari que eu lia quando menino.

ÉPOCA - Lendo seus seguidores, como Dan Brown, o senhor às vezes não se arrepende de ter criado o suspense erudito?
Eco - Às vezes, sim! (risos) O Dan Brown me irrita porque ele parece um personagem inventado por mim. Em vez de ele compreender que as teorias conspiratórias são falsas, Brown as assume como verdadeiras, ficando ao lado do personagem, sem questionar nada. É o que ele faz em O Código Da Vinci. É o mesmo contexto de O pêndulo de Foucault. Mas ele parece ter adotado a história para simplificá-la. Isso provoca ondas de mistificação. Há leitores que acreditam em tudo o que Dan Brown escreve - e não posso condená-los.

ÉPOCA - O que vem antes na sua obra, a teoria ou a ficção?
Eco - Não há um caminho único. Eu tanto posso escrever um romance a partir de uma pesquisa ou um ensaio que eu tenha feito. Foi o caso de O pêndulo de Foucault, que nasceu de uma teoria. Baudolino resultou de ideias que elaborei em torno da falsificação. Ou vice-versa. Depois de escrever O cemitério de Praga, me veio a ideia de elaborar uma teoria, que resultou no livroCostruire il Nemico (Construir o Inimigo, lançado em maio de 2011). E nada impede que uma teoria nascida de uma obra de ficção redunde em outra ficção.

ÉPOCA - Quando escreve, o senhor tem um método ou uma superstição?
Eco - Não tenho nenhum método. Não sou com Alberto Moravia, que acordava às 8h, trabalhava até o meio-dia, almoçava, e depois voltava para a escrivaninha. Escrevo ficção sempre que me dá prazer, sem observar horários e metodologias. Adoro escrever por escrever, em qualquer meio, do lápis ao computador. Quando elaboro textos acadêmicos ou ensaio, preciso me concentrar, mas não o faço por método.

ÉPOCA - Como o senhor analisa a crise econômica italiana? Existe uma crise moral que acompanha o processo de decadência cultural? A Itália vai acabar?
Eco - Não sou economista para responder à pergunta. Não sei por que vocês jornalistas estão sempre fazendo perguntas (risos). Talvez porque eu tenha sido um crítico do governo Silvio Berlusconi nesses anos todos, nos meus artigos de jornal, não é mesmo? Bom, a Itália vive uma crise econômica sem precedentes. Nos anos Berlusconi, desde 2001, os italianos viveram uma fantasia, que conduziu à decadência moral. Os pais sonhavam com que as filhas frequentassem as orgias de Berlusconi para assim se tornarem estrela da televisão. Isso tinha de parar, acho que agora todos se deram conta dos excessos. A Itália continua a existir, apesar de Berlusconi.

ÉPOCA - O senhor está confiante com a junção Merkozy (Nicolas Sarkozy e Angela Merkel) e a ascensão dos tecnocratas, como Mario Monti como primeiro ministro da Itália?
Eco - Se não há outra forma de governar a zona do Euro, o que fazer? Merkel tem o encargo, mas também sofre pressões em seu país, para que deixe de apoiar países em dificuldades. A ascensão de Monti marca a chegada dos tecnocratas ao poder. E de fato é hora de tomar medidas duras e impopulares que só tecnocratas como Monti, que não se preocupa com eleição, podem tomar, como o corte nas aposentadorias e outros privilégios.

ÉPOCA - O que o senhor faz no tempo livre?
Eco - Coleciono livros e ouço música pela internet. Tenho encontrado ótimas rádios virtuais. Estou encantado com uma emissora que só transmite música coral. Eu toco flauta doce (mostra cinco flautas de variados tamanhos), mas não tenho tido tempo para praticar. Gosto de brincar com meus netos, uma menina e um menino.

ÉPOCA - Os 80 anos também são uma ocasião para pensar na cidade natal. Como é sua ligação com Alessandria?
Eco - Não é difícil voltar para lá, porque Alessandria fica a uns 100 quilômetros de Milão. Aliás foi um dos motivos que escolhi morar por aqui: é perto de Bolonha e de Alessandria. Quando volto, sou recebido como uma celebridade. Eu e o chapéu Borsalino, somos produção de Alessandria! Reencontro velhos amigos no clube da cidade, sou homenageado, bato muito papo. Não tenho mais parentes próximos. É sempre emocionante.


A PRESSA COMO NEGAÇÃO DO TEMPO


Carlos Bernardo González Pecotche, nascido na Argentina, no começo do século XX criou a LOGOSOFIA, ciência que leva o estudante dela à busca do conhecimento de si mesmo. Pensei, então, ser oportuno trazer o belo texto abaixo, especialmente adequado para o momento inóspito que vivemos, tanto no ambiente onde estamos inseridos, quanto no nosso interior, em razão das pressões causadas por aquele.
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A pressa como negação do tempo
Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)
A pressa, fruto da impaciência umas vezes e outras, da ausência de controle na distribuição do tempo, torna o homem intolerante, violento, irascível e insensato. Esse febril afã de pretender que tudo se faça na hora ou se encurtem as distâncias por obra de magia, é tendência generalizada; observando uns e outros, comprova-se que nenhuma pressa tem razão de ser, salvo, naturalmente os casos excepcionais.
Oferece um típico exemplo quem lança seu automóvel a toda velocidade para chegar o quanto antes ao lugar escolhido para seu veraneio, e na metade do caminho se detém para lanchar, despreocupadamente, demorando-se às vezes em excesso, para lançar-se de novo em desenfreada corrida, bramando de ira em cada passagem de nível, detido ante o cruzamento de algum tranquilo comboio ferroviário; oferece-o, também, aquele que, ao ser atendido em qualquer solicitação, manifesta como advertência que está muito apressado, ou protesta iradamente, ante a menor demora, para passar depois, longas horas num bar ou entretido entre amigos. Poderia citar-se, igualmente, o caso daquele que, tendo concebido um projeto, queira vê-lo realizado no momento, deprimindo-se por toda dificuldade que encontrar em sua execução, e abandonando-o, finalmente, por parecer-lhe que sua realização demorará muito. Em singular contraste, aparece um fato, repetido com certa frequência, que é que as pessoas que atendem aos apressados nem sempre se apressam, parecendo a estes que aqueles demoram deliberadamente; entre ambas as partes produzem-se assim conflitos de apreciação do tempo, que raramente chegam a se conciliar.
Que frutos pode obter de seu tempo o apressado,
se depois o perde inutilmente, por viver em um constante estado de ofuscação?
Não há dúvida alguma de que a reflexão e a paciência inteligente são as que levam o homem a serenar seu ânimo e a equilibrar seus estados psicológicos. 

Se, encontrando-nos em um pomar e desejando comer uma fruta, reparamos que está verde, apesar da pressa deveremos aguardar seu natural amadurecimento. Muitos, arrancando-a antes do tempo, encontram um sabor desagradável ao prová-la, desprezando um manjar que, saboreado oportunamente, teria sido delicioso. 

Com os propósitos ocorre algo similar; já se tem visto quantos seres os formulam sem ter a paciência de esperar que eles se convertam em realidades, por querer saboreá-los, como no caso da fruta, antes de seu amadurecimento. Propicia-se, ao contrário, o advento da realidade, seja esta o amadurecimento da fruta ou a culminação de um propósito, quando, no primeiro caso se rega a planta com frequência, buscando livrá-la das pragas que costumam afetá-la e, no segundo, quando se cultiva o propósito, esforçando-se na conquista de sua realização, enquanto o livra das dificuldades que, à semelhança das pragas, costumam entorpecer seu desenvolvimento e até malográ-lo.


CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS


Em 1945, ao término da Segunda Grande Guerra Mundial, as principais nações do mundo estavam esfaceladas, ou no seu poderio econômico, ou no seu moral nacional. Além disso, ocorriam os dois pólos mundiais de poder, de um lado a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, naquele momento ainda em incorporação de aliados e subjugados, e, de outro, os países ocidentais, aliados na guerra contra o nazismo. Surge, então, a Organização das Nações Unidas, criada para unificar os esforços de paz e harmonia mundiais. Hoje, é oportuno perguntar se esses fundamentos pensados naquele momento, são seguidos. É comum vermos a usurpação da liberdade dos mais fracos pelos mais fortes. São criados factóides para induzir aliados à aprovação de medidas coercitivas e punitivas contra países, em função do interesse econômico particular de uma nação ou de um grupo delas. E crimes contra pessoas e nacionalidades são cometidos de tal maneira que a recomposição de determinado povo durará gerações. Há muitos casos ocorridos nas últimas décadas, tão conhecidos e comentados que não se torna necessária sua menção.
Em razão disso, e para termos melhor lembradas as palavras que orientaram a constituição das Nações Unidas, trago abaixo apenas o texto que é núcleo da orientação propugnada então, correspondendo ao Capítulo I, pois os demais se referem apenas às normas de funcionamento da Organização.
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CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS

Preâmbulo

NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla. E PARA TAIS FINS, praticar a tolerância e viver em paz, uns com os outros, como bons vizinhos, e unir as nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais, e a garantir, pela aceitação de princípios e a instituição dos métodos, que a força armada não será usada a não ser no interesse comum, a empregar um mecanismo internacional para promover o progresso econômico e social de todos os povos.
RESOLVEMOS CONJUGAR NOSSOS ESFORÇOS PARA A CONSECUÇÃO DESSESOBJETIVOS. Em vista disso, nossos respectivos Governos, por intermédio de representantes reunidos na cidade de São Francisco, depois de exibirem seus plenos poderes, que foram achados em boa e devida forma, concordaram com a presente Carta das Nações Unidas e estabelecem, por meio dela, uma organização internacional que será conhecida pelo nome de Nações Unidas.

CAPÍTULO I - PROPÓSITOS E PRINCÍPIOS
ARTIGO I
Os propósitos das Nações unidas são:
1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da paz;
2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal;
3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; e
4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns.

ARTIGO II
A Organização e seus Membros, para a realização dos propósitos mencionados no Artigo I, agirão de acordo com os seguintes Princípios:
1. A Organização é baseada no princípio da igualdade de todos os seus Membros.
2. Todos os Membros, a fim de assegurarem para todos em geral os direitos e vantagens resultantes de sua qualidade de Membros, deverão cumprir de boa fé as obrigações por eles assumidas de acordo com a presente Carta.
3. Todos os Membros deverão resolver suas controvérsias internacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justiça internacionais.
4. Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas.
5. Todos os Membros darão às Nações toda assistência em qualquer ação a que elas recorrerem de acordo com a presente Carta e se absterão de dar auxílio a qualquer Estado contra o qual as Nações Unidas agirem de modo preventivo ou coercitivo.
6. A Organização fará com que os Estados que não são Membros das Nações Unidas ajam de acordo com esses Princípios em tudo quanto for necessário à manutenção da paz e da segurança internacionais.
7. Nenhum dispositivo da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervirem em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição de qualquer Estado ou obrigará os Membros a submeterem tais assuntos a uma solução, nos termos da presente Carta; este princípio, porém, não prejudicará a aplicação das medidas coercitivas constantes do Capitulo VII.

O POLITICAMENTO CORRETO COMO FORMA DE CENSURA

A adoção do posicionamento POLITICAMENTE CORRETO vem sendo adotada pela esquerda mundial como forma sutil de dominação da sociedade, fazendo...