POLÍTICA, A VERDADEIRA (2)

Num lúcido artigo, escrito semana passada, o senador Buarque levantou questões fundamentais, às quais não vem sendo dada a devida atenção. Costumamos limitar nossa ação, a dos candidatos a cargos e a do eleitor, ao período futuro próximo dos mandatos politiqueiros, pois assim nos conformamos aos padrões institucionais, legais, é verdade, mas perniciosos porque delimitam o programa, quando existe, ao interesse de determinado eleito pelo povo. Da mesma forma, está a se consolidar o pensamento de grupos politiqueiros em manter-se no poder por três, quatro mandatos, como caminho para implantar suas vontades, ideias e interesses. Está esquecido por completo que a verdadeira Política é feita de planejamento de longo prazo, de ideias possíveis de aceitação pelas várias tendências nacionais, e de implantação das ações correspondentes, tendo em vista a consolidação da cidadania e o bem-estar da população.

Sugiro, pois, a leitura do tema abaixo.

Atraso Político

Nesta semana, o mundo se reuniu em Copenhague para pensar os problemas do século XXI.

Mas os políticos presentes estavam presos aos problemas do século XX, e até mais atrás.

A ideia era pensar soluções para a vida no planeta nos próximos cem anos, mas cada político representava seus eleitores, não as gerações futuras, e pensava somente nas próximas eleições.

As catástrofes que ameaçam a humanidade adiante não cabem dentro de país nenhum, nem se manifestarão antes das próximas eleições.

Prisioneiros de cada país e do horizonte da próxima eleição, a política e nós, políticos, estamos despreparados para enfrentarmos as tragédias adiante.

Os problemas ficaram globais, mas a política ficou provinciana. O horizonte de tempo ficou centenário, mas a política continua limitada aos quatro anos à frente.

Lamentavelmente, a globalização apequenou os políticos.

Há até algumas décadas, eles faziam discursos internacionais – pelo socialismo, capitalismo, independência, desenvolvimento –, falavam para o mundo defendendo suas ideias.

Agora, falam apenas para seus eleitores, conforme a orientação dos marqueteiros, baseados nas pesquisas de opinião.

Na verdade, a globalização transformou os líderes mundiais do passado em gerentes comerciais de seus respectivos países.

Para encontrarmos caminhos para cada país, precisaremos encontrar caminhos para o mundo inteiro. E, para tanto, precisaremos de um tipo de político que ainda não temos.

Pelo menos cinco desafios deverão ser enfrentados pela política e pelos políticos nos próximos anos e décadas, para que eles estejam em condições de conduzir os destinos de seus países e da humanidade.

O primeiro desafio é espacial: ser nacional e global, ser capaz de atender às aspirações locais de seus eleitores, sem perder de vista a necessidade de sacrifícios locais em benefício de um planeta equilibrado no futuro.

Esse é um desafio para o qual a geração sentada em Copenhague não parece preparada.

O segundo desafio é temporal: ganhar votos de eleitores imediatistas e ao mesmo tempo olhar para o longo prazo.

Combinar o horizonte de décadas adiante, com o horizonte dos meses até as eleições seguintes.

O terceiro desafio é atravessar a fronteira civilizatória: ir além do debate entre o social e o econômico, e formular uma proposta alternativa para a próxima civilização.

Em vez de apenas propor como produzir mais e distribuir melhor, pensar no que produzir e em como produzir.

Formular novos propósitos: mais tempo livre, mais produtos públicos, nova composição do produto, nova matriz de energia.

Isso vai exigir trocar a busca pelo crescimento pela busca de outro tipo de objetivo, que pode implicar inclusive um decrescimento econômico que traga aumento na qualidade de vida.

O quarto desafio é implícito à atividade política: como se relacionar com o eleitor.

O político das próximas décadas não deve ser apenas o boneco ventrículo dos marqueteiros e da opinião pública.

Terá de se arriscar a propor o novo, mesmo sabendo que diminuem suas chances de ganhar eleições.

Voltou o tempo do Estadista, mas desta vez com sentimento planetário. Além disso, o político não pode se dar ao luxo de ouvir os eleitores apenas por meio da mídia.

A comunicação tem que ser a cada minuto, pelos novos meios de comunicação instantânea.

Finalmente, o quinto desafio é de mentalidade.

O político do futuro deve ser um construtor da mentalidade que permitirá um salto: da atual civilização do consumo depredador privado para a mentalidade do equilíbrio ecológico, da satisfação com o uso de bens públicos; da substituição da divindade do consumo pelo reino do bem-estar.

E o caminho para mudar a mentalidade é uma revolução educacional em escala global.

Todos na escola, mas em uma nova escola.

Pena que não haja muitas chances de que esses e outros desafios sejam enfrentados, diante da mediocridade ideológica provocada pela globalização atual.

Por isso, não dá para sermos otimistas em Copenhague. Nossos líderes ainda não entenderam o que lá estava em jogo.

Cristovam Buarque


Meu comentário:

Primordialmente, é necessário que se repense o fundamento filosófico de Política, estabelecendo uma base conceitual para a ação dos representantes populares, porque, hoje, mesmo bons Congressistas, são levados a atuar confusamente segundo o momento e o procedimento usuais. A partir daí, o rito congressual passaria a ocorrer baseado em bons fundamentos para a sociedade. Mesmo cada um dos parlamentares teria sua ação engrandecida, pois participaria de debates mais consistentes e com visão nacional. Cada projeto deve ser analisado pela qualidade e pelo seu alcance no desenvolvimento nacional ou da cidadania. É verdade que isso se torna difícil e relativo, já que envolve os bons, de um lado, e o baixo-clero, do outro, além das disputas internas entre situação e oposição, mais os interesses, ou não, do Governo, dentre tantas outras variáveis. Mas, há que se ter noção que os verdadeiros representantes populares devem, além dos projetos elaborados, ter a capacidade de influir nas negociações legais, republicanas e cidadãs que signifiquem melhorias para o país e para o povo. A defesa dos interesses da sua região, contextualizada na nação, a proposição de projetos e de idéias que correspondam a ideais partidários e nacionais, extratemporais, com visão de médio e de longo prazos, independentes do tempo do seu mandato e baseados na boa gramática, na retórica e na dialética, definida com o eleitores e com os seus pares, estes são os fundamentos do bom mandato parlamentar. Reconheço que são parâmetros de difícil adoção, em razão da obtusidade imperante há décadas, mas, afinal, por que temos a imprensa, a internete, a mídia em geral, trazendo-nos informação de qualidade e atemporal, com isso possibilitando a interação e a pressão sobre os verdadeiros políticos? É para que possamos acompanhar e avaliar os nossos representantes e emitir opinião quando podemos fazê-lo, cumprindo nossa obrigação de conduzir os destinos da sociedade. Afinal, nós, os eleitores, somos os donos do Poder! Do contrário, seremos aquele Homem Medíocre, de José Ingenieros, que "é imitativo e está perfeitamente adaptado para viver em rebanho, refletindo rotinas, preconceitos e dogmatismos, reconhecidamente úteis para a domesticidade". Utopia? Mas, alguém tem que começar!

O GUIA

Todo rio chega ao oceano sem guias e sem mapas. Nós também podemos chegar ao oceano, mas ficamos emaranhados no caminho.

O guia, o mestre, não é necessário para levá-lo ao oceano - isso pode acontecer por si mesmo -; o mestre é necessário para mantê-lo alerta, a fim de que você não fique emaranhado no caminho, porque existem mil e uma atrações.
O rio se move, chega a uma bela árvore, desfruta-a e segue em frente; ele não se apega à árvore, ou o movimento pararia. Ele chega a uma bela montanha, mas ele prossegue, completamente agradecido, grato à montanha pelo deleite de passar por ela e por todas as canções que acontecem, e pela dança... O rio está grato, certamente grato, mas de maneira nenhuma aprisionado. Ele segue se movendo, seu movimento não para.
O problema com a consciência humana é que você se depara com uma bela árvore e deseja fazer ali sua moradia; agora você não deseja ir a lugar algum. Você se depara com um belo homem ou com uma bela mulher e fica aprisionada ou aprisionado. O mestre é necessário para repetidamente lembrá-lo a não se prender a coisa alguma. Não quero dizer para não desfrutar nada. Na verdade, se você se prender, não será capaz de desfrutar; você pode desfrutar somente se permanecer desapegado, solto.

Em Osho, "Osho Todos os Dias"

Meu comentário:
Osho fala da necessidade de seguirmos a vida, observando e criando por onde passamos, sem que nos detenhamos a detalhes que, embora momentaneamente satisfatórios, nos farão segmentar a nossa vivência. Se, no nosso percurso, pararmos para que nos dediquemos a um dos elementos da vida que o façamos sem perder a visão do todo, do universo, da divindade.

FUNDAMENTOS EXISTENCIAIS

Para nós, humanos, o fundamental é a luta pela sobrevivência material e biológica. O que menos importa é a busca da verdade. Ao homem interessa a satisfação imediata das suas necessidades e, menos, a identificação dos caminhos que o levam a evoluir espiritualmente, no contexto divino. Assim, aos primeiros percalços da sobrevivência, surgem as reações iradas, negativas, retaliatórias. O sentimento negativo domina o tênue ambiente do pensamento e as energias se esvaem, gerando consequências em efeito cascata no nosso organismo e no meio em que vivemos. A nossa mente constrange-se cada vez mais, buscando o fundo. É necessário, então, e fundamental, renovar a confiança na energia criadora, à qual podemos denominar Deus, e estabelecer novas referências pessoais. Como diz Pietro Ubaldi, "é louco quem, num mundo feito de guerra, enquanto ferve a luta, se põe a fazer pesquisas sobre a verdade; mas louco é também quem, na sua ignorância, violando a lei natural, atrai tantas dores".
Sugiro, pois, a leitura do texto postado abaixo que mostra o caminho para revertermos a estratégia a que estamos acostumados de, apenas, valorizar a nossa luta exterior.

NÓS PROFETIZAMOS O FUTURO ATRAVÉS DAS PALAVRAS QUE FALAMOS NO PRESENTE
Por Gillian Macbeth-Louthan

Quando nós falamos, estamos dando vida ao que estamos dizendo, plantando uma semente. Palavras são como sementes: possuem poder de criação. Nós somos o que somos hoje devido às palavras que dissemos no passado. Todas as nossas palavras se tornarão uma autoprofecia no futuro. Preste atenção ao que você diz a respeito de si mesmo. Pensamentos negativos não precisam se tornar palavras negativas. No momento que você diz alguma coisa abertamente, um sentindo totalmente diferente é adquirido, assim como uma energia totalmente diferente. Se você não gosta do que tem experimentado na vida, comece a mudar suas palavras.

Nós profetizamos o futuro através das palavras que dizemos no agora. Nossas palavras são sempre profecias que se autocumprem. Não plante sementes negativas. Apenas profetize o que é bom e as boas intenções. Você tem o poder de anular os planos mais bem assentados do universo através de suas palavras negativas e suas contemplações negativas. Suas palavras são poder de vida ou de morte. Você obterá aquilo que anda a falar. Suas palavras darão vida exatamente ao que estiver dizendo. É melhor dizer não coisa alguma a dizer algo negativo. Palavras negativas anulam os planos de Deus. Você estará amaldiçoando seu futuro. Suas palavras podem ser usadas para amaldiçoar seu futuro ou para abençoar seu futuro. Declare palavras de fé. Declare o suporte que Deus oferece à sua luz e ao seu coração. Mude a atmosfera de todos os lugares que você vai através de suas palavras. Chame por Deus, peça por luz, peça por amor e por ajuda divina. Mude seu mundo mudando as suas palavras. Sua língua tem o poder de morte e de vida.

Não fale sobre os problemas, fale sobre as soluções. Nós não somos os repórteres de nossas vidas e sim, aqueles que fazem as previsões. Nós devemos chamar pelo invisível como se já fosse visível. Chame por aquilo que você deseja, chame com palavras recheadas de fé, chame com luz!

Você tem dado luz à vida ou a destruição?

Circunstâncias são formadas através de cada palavra pronunciada. Suas palavras são profecias que se autocumprem. Você é o criador de suas próprias circunstâncias.

O que foi criado com suas próprias palavras pode ser mudado.

Quando agimos negativamente às mudanças repentinas e ao caos em nossas vidas, estamos atrasando o propósito da criação. Se nós aceitarmos o caos como uma oportunidade para a elevação espiritual, a dor desaparece. Sozinhos determinamos o ritmo de cada passo em períodos turbulentos. Existem incontáveis futuros que existem ao mesmo tempo (como potenciais). Nosso próprio comportamento determina em qual universo adentramos.

A profecia é poder enxergar o futuro em nossas ações no presente.


EM ALGO EVOLUÍMOS! OU NÃO?

O jornal Correio Brasiliense, há alguns dias, expôs reportagem sobre os Jogos Panamericanos de 2007, no Rio de Janeiro, informando que o TCU analisa 35 processos de mau uso dos recursos públicos aplicados no conjunto daquele evento. As suspeitas de falhas graves e de desvios de recursos têm as mais variadas origens e, de um orçamento inicial previsto de pouco mais de 300 milhões de reais para a realização dos Jogos, ao final foi calculado um custo de 3,3 bilhões de reais. Assim, o Tribunal investiga o porquê de uma elevação de mais de 1000% de custos para a realização dos Jogos. Mantida essa correlação de previsão e custo final, pois, não é absurdo algum projetarmos os 26 bilhões de reais, declarados pelo Governo, para a realização dos Jogos Olímpicos de 2016, para algo em torno de 260 bilhões de reais ao seu final.
A pergunta a ser feita é se vale a pena essa despesa no âmbito de um país com necessidades básicas não supridas, com educação deficiente, sem saneamento adequado, com uma infraestrutura de transporte aéreo, terrestre, fluvial e marítimo extremamente atrasada em relação a outros e, finalmente, com um sistema de saúde que deixa as pessoas em longas filas diárias e com tempos de meses ou de anos à espera de atendimento ou de cirurgias. Não há razão para declararmos o orgulho e a satisfação nacionais pela responsabilidade que nos foi dada ao País para essa realização dos Jogos se, além das defasagens mencionadas acima, nem sequer relevamos historicamente os nossos atletas, com preparação física adequada, atenção às suas necessidades pessoais e familiares, valorizando as associações de que eles participam e dando-lhes suporte financeiro e técnico, além do conhecimento científico relacionado a determinada prática esportiva. Afinal, não são essas as razões que os fazem buscar treinamento e preparação em países mais avançados e preocupados com atletas?
Relativamente a isso tudo, e por causa dessas observações, cabe lembrar a recente publicação do Índice de Percepção da Corrupção, da organização Transparência Internacional, que mostra ao mundo como ocorre essa anomalia no âmbito das 159 Nações analisadas. A partir dessa exposição, pode-se ver como o Brasil se situa na relação, de forma preocupante, pois mostra um país de governantes omissos com a correção, com a moral e com a ética, e um povo correspondente bovinamente acomodado. Preocupante, também, é a ascensão, ano após ano, fazendo com que o nosso país, num período de dez anos, vá do 46º ao 80º lugar na lista do Índice que indica do menos corrupto ao mais corrupto. O mais estranho é que estamos no sétimo ano de um governo de um partido político que nasceu, cresceu e se solidificou mantendo a retórica contra a corrupção, denunciado a vilania das governanças e propondo a revolução da moral pública. Enfim, evoluímos ou involuímos?
Vê, abaixo, como se situa o Brasil na publicação da Transparência Internacional:

1998 –> 46º lugar
1999 –> 45º lugar
2000 –> 49º lugar
2001 –> 46º lugar
2002 –> 45º lugar
2003 –> 54º lugar
2004 –> 59º lugar
2005 –> 62º lugar
2006 –> 70º lugar
2007 –> 72º lugar
2008 –> 80º lugar

As inerências referentes a essa classificação podem ser obtidas no sítio www.transparency.org.

DESVIO DE RUMO

No artigo, postado abaixo, esse escrevente disseca com precisão a falácia em torno da descoberta de petróleo em pré-sal e o endeusamento das eventuais oportunidades de negócio, baseado nesse produto, em nome do Brasil.

Lembro-me que, aí pelos anos 70, lia com sofreguidão o jornal Opinião (lembra dele, do Pasquim, do Movimento, etc?), onde eram mostradas análises políticas nacionais, internacionais, os eventuais contornos da evolução social, os direcionamentos econômicos do mundo, dentre outros temas. E, desses, um era o eventual esgotamento total das reservas petrolíferas e os impactos mundiais dessa "catástrofe" possível de acontecer. Nessa mesma década ocorreu o "choque do petróleo", o que veio a consolidar a linha de pensamento pessimista da época.

Hoje, não se vê dessa forma a questão. Novas tecnologias surgiram, tanto de identificação das reservas, quanto de sua prospecção; os modelos econômicos nacionais são outros, nas diversas regiões do mundo; e, finalmente, há uma visão da necessidade de substituição do produto fóssil, por algo mais correto para a conservação da natureza em geral e da vida humana, especialmente.

Assim, comprometer bilhões dos nossos recursos financeiros numa aposta incerta é exagerado e oportunista, frente a uma infraestrutura deficitária de moradia, de emprego, de alimento e de qualidade de vida, em razão da falta desses mesmos recursos da aposta vazia (não nos esqueçamos, agora, da Olimpíada de 2016, com o custo previsto, por baixo, de 26 bilhões de reais que podem atingir muito mais se formos seguir a proporção dos Jogos Panamericanos de 2007, orçados em 400 milhões e que chegaram a mais de 1,5 bilhão).

Como mostra o artigo, a BP descobre óleo a 10.000 metros de profundidade, enquanto as autoridades tupiniquins arrotam arrogantemente o atingimento dos 7.000 metros, fazendo acenos e gracejos retóricos à OPEP e aos países que a compõem, como se a descoberta brasileira nos colocasse no topo dos produtores. Como diz o escrevente, devemos ir com calma, pois há muitas variáveis possíveis de ocorrer, tais como capacidade real dos poços, custo dessa extração, capacidade do mercado, tempo para disposição definitiva desse produto ao consumidor, etc.
Mas, enfim, o escrevente esqueceu, ou não quis analisar, que esse é, apenas, um movimento eleitoral. E o custo disso para a cidadania brasileira? Ora, o que importa! O importante é o Poder.

Petro-Sal(ro): de volta aos tempos jurássicos

João Luiz Mauad

A petrolífera inglesa BP anunciou na quarta-feira (02/09) a descoberta de um campo gigante no Golfo do México, a cerca de 6 milhas de profundidade, ou seja, bem mais fundo que o famigerado Pré-Sal tupiniquim. Embora a Petrobras tenha uma participação de 20% no negócio – graças ao sistema de concessões vigente nos EUA –, a tecnologia de perfuração é da majoritária BP, o que demonstra a grande falácia que é dizer que a Petrobras é monopolista ou pioneira nesse tipo de tecnologia. Não é! Já se tira petróleo de profundidades maiores há algum tempo.

Embora exultantes com a descoberta, os executivos e engenheiros da BP são bem mais cautelosos do que os da Petrobras quando falam do futuro e das possibilidades de lucro. Segundo eles, devido ao altíssimo custo de produção e toda a infra-estrutura necessária, a retirada do petróleo ali só se tornará lucrativa se os preços da commodity forem superiores a US$ 70,00 por barril. Além disso, estimam que o início da operação comercial só se dará daqui a 10 anos, ocasião em que é praticamente impossível prever como andarão os preços.

Já os nossos experts da Petrobras, políticos e burocratas de “Banânia”, apostam numa alta acentuada dos preços a médio e longo prazos, pois acreditam que o “ouro negro” estará muito mais escasso daqui para frente. Essa teoria sustenta que o pico de produção do petróleo (peak oil) já teria ficado para trás e que a tendência futura seria de um rápido esgotamento das reservas terrestres. Tal tese, endossada por alguns geólogos, deságua na proposta estúpida de “planejar” a retirada do óleo existente, uma vez que, futuramente, os preços serão muito maiores, beneficiando os poucos produtores que sobrarem.
Não é isso, entretanto, que pensam os analistas sérios. De acordo com reportagem do New York Times, a exemplo de várias crenças malthusianas apocalípticas, essa “teoria” do “peak oil” tem sido promovida por grupos de cientistas ligados a grupos de interesse sindicais ou empresariais, os quais baseiam suas conclusões, não raro, em análises estáticas pobres e interpretações distorcidas dos dados técnicos. Segundo quem entende do riscado, as novas tecnologias tornarão possível o incremento das reservas petrolíferas a curto e médio prazos, e estima-se que, por isso mesmo, a tendência dos preços é para baixo.
Isso sem falar que há inúmeras pesquisas sérias acontecendo mundo afora, que visam ao desenvolvimento de combustíveis alternativos, economicamente viáveis, de baixo custo e consumo, além de menos poluentes que os hidrocarbonetos. Algumas montadoras já vendem com enorme sucesso no exterior os automóveis híbridos, meio elétricos, meio a combustão. Outras estão em adiantado desenvolvimento de veículos movidos a hidrogênio, para muitos o verdadeiro motor do futuro, por ser muito mais barato e absolutamente inofensivo ao meio ambiente.
Pois bem: apesar das fortes indicações de que são altas as possibilidades de que a coisa possa se tornar um grande mico, o governo brasileiro, de olho nessa ilusão subterrânea que chamam de Pré-Sal, montou uma verdadeira pantomima na semana passada, com vistas a alterar (de forma mais profunda que o próprio pré-sal) as regras vigentes no país para prospecção de petróleo. Tudo para garantir que o governo, alguns investidores privilegiados e a “República Sindicalista” fiquem com a maior parte da bolada esperada (por eles). Mandaram ao Congresso, para que seja votado em regime de urgência, um pacote de medidas extemporâneas que, em linhas gerais, pretende reestatizar o pouco que havia sido privatizado no governo passado.
A coisa foi tão absurda e descarada que o jornal Folha de São Paulo, que jamais primou pelo viés liberal, escreveu em editorial: “Consumou-se, na explicitação dos projetos do Planalto para o pré-sal, a revanche contra a abertura do mercado e contra a quebra do monopólio da Petrobras, efetivadas na década passada. A antecipação do calendário eleitoral, motivada pela iniciativa do presidente Lula de viabilizar a candidatura Dilma Rousseff, atropelou o interesse público.”

Para começar, criam a tal de “Petro-Sal” (Roberto Campos deve estar rindo à toa desse nome, dado a sua semelhança com o famoso neologismo “Petrossauro”, de que ele tanto falava e combatia), cujo propósito será gerir os recursos da União e regulamentar a matéria. A ANP foi, assim, jogada para escanteio, afinal esse negócio de agência independente nunca agradou aos pelegos petistas. Além disso, numa jogada esdrúxula e sem sentido, resolveram entregar à Petrobras, sem licitação, 30% dos campos e, para completar, o governo fará um aporte entre 50 e 100 bilhões de reais na estatal, “para que ela possa arcar com os custos iniciais da operação”.

Em resumo: colocarão em risco uma quantidade enorme de dinheiro dos pagadores de impostos para viabilizar um negócio de alto risco que, se tudo correr bem, gerará lucros que serão embolsados pela pelegada petroleira e por meia dúzia de investidores privados, já que, não esqueçamos, a Petrobras é uma empresa com ações negociadas em bolsa. Tudo em nome do “interesse nacional”, claro. Sob o velho slogan “O Petróleo é Nosso”, correm uma corrida alucinada para meter a mão no bolso dos contribuintes. No fim das contas, continuaremos pagando um preço salgadíssimo (com trocadilho, por favor) pelos combustíveis e jamais veremos a cor dos eventuais lucros provenientes das profundezas do Atlântico Sul. Mas os prejuízos, se houver, esses serão certamente nossos.

Além dos riscos naturais já mencionados, há aqueles inerentes à própria ineficiência das empresas públicas. Segundo Mark C. Thurber, diretor do Programa de Energia Sustentável da Universidade de Stanford, citado por Adam Green em recente artigo publicado em O Globo, “em média, PENs (petroleiras estatais nacionais) extraem recursos a taxas muito menores do que as PIs (petroleiras independentes)”. Isso acontece, evidentemente, porque “os monopólios não estão sujeitos à competição e são alvo fácil da corrupção”. Ora, se as estimativas e prognósticos dos analistas antimalthusianos estiverem corretos, quanto mais demorarmos para sacar esse óleo das profundezas da terra, maiores serão as possibilidades de que ele se transforme num mico, cuja extração se torne muito mais custosa que o valor de mercado. O interesse da sociedade, portanto, deveria ser tirar o máximo possível no menor prazo. Para isso, a melhor solução seria entregar a prospecção para quem tem capital, eficiência e tecnologia: empresas privadas.

Longe de mim achar que o modelo atual é bom. Pelo contrário, é ainda muito ruim. Mas essa estrovenga que a “república sindicalista” pretende nos empurrar goela abaixo, juntamente com mais um assalto ao nosso bolso, é indecente, para dizer o mínimo.
Peço perdão aos leitores pelo desabafo e principalmente pelos adjetivos um tanto mais pesados que o habitual, mas isso tudo é muito nojento. Somos reféns de uma malta que não encontra qualquer limite em sua sanha de poder e dinheiro. Que Deus nos ajude!


DASACONTECEU x DESCONSTRUÇÃO

Sugiro a leitura do texto indignado, abaixo, que certamente representa o desassossego que todos os cidadãos esclarecidos temos com o que ocorre no nosso País.
Aprendemos de cabeça para baixo
Arnaldo Jabor
25/08/09


Os canalhas são mais didáticos que os honestos. O canalha ensina mais. Temos assistido, como nunca antes, a um show de verdades através do chorrilho de negaças, de cínicos sorrisos e lagrimas de crocodilo. O Brasil está evoluindo em marcha-a-ré! Nestas ultimas semanas, só tivemos desacontecimentos. O senador Mercadante ia sair da liderança do PT, irrevogavelmente. Depois, oscilou, seu mestre deu-lhe um esculacho e ele voltou atrás. Marcha a ré. Desaconteceu.

A Dilma também. Ela "não" se encontrou com a Lina Vieira, não. Querem nos convencer que a Lina é maluca e resolveu inventar tudo aquilo para prejudicar a ministra. Ninguém se lembra que essa polemica do "fui não fui" é útil para camuflar o fato de que a expulsão da Lina aconteceu somente por causa do questionamento à Petrobras...

Tudo marcha a ré. Tudo some. As fitas de VT do Planalto se apagaram. Ninguém existe mais nas fitas. Os atos secretos voltam pouco a pouco e deixam de sê-lo. O nosso Sarney foi absolvido de tudo; as 11 acusações foram arquivadas pelo mordomo-suplente - desaconteceram, sumiram na descarga do Conselho de Ética. Sarney, o Comandante do Atraso, disse que não se sente culpado de nada. Está certo seus servos decretaram que nada houve. Nossa frágil republica esta sumindo.

As tramóias e as patranhas de hoje são deslavadas; não há mais respeito nem pela mentira..Está em andamento uma "revolução dentro da corrupção", tudo na cara da população com o fito de nos acostumar ao horror.

Com a dissolução do PT, que hoje é o verdadeira partido da "direita", com o derretimento do PSDB, o destino do país vai ser a maçaroca informe do PMDB (Oba! Vem aí o tesouro da legislação do pré-sal, a ser entregue a seus malandros-chefes, que já devem estar babando).

No entanto, justiça ao narcisismo deslumbrado do Lula, com seu projeto de si mesmo: nunca nossos vícios ficaram tão explícitos, nunca aprendemos tanto de cabeça para baixo.

E aí, nossa única esperança: talvez estejamos aprendemos sobre a dura verdade nacional neste rio sem foz, onde as fezes se acumulam sem escoamento. Por exemplo: uma visão da cabelo do Wellington, a cara dura de seres como o Almeida Lima, o rosto feliz do Renan e Jucá, nos ensinam muito. Que delicia, que doutorado sobre nós mesmos!

Já sabemos que a corrupção no país não é um "desvio" da norma, não é um pecado ou crime; é a norma mesmo, entranhada nos códigos, nas línguas, nas almas.

Aprendemos a mecânica da sordidez: a técnica de roubar o Estado para fazer pontes para o nada, viadutos banguelas, estradas leprosas, hospitais cancerosos, esgotos à flor da pele, orgasmos entre empreiteiras e políticos. Querem nos acostumar a isso, mas, pode ser, (oh Deus!) que isto seja bom: perdermos o auto-engano, a fé. Estamos descobrindo que temos de partir da insânia e não de um sonho de razão, de um desejo de harmonia que nunca chega.

Até que enfim nossa crise endêmica está sujamente clara, em cima da mesa de dissecação, aberta ao meio como uma galinha. Meu Deus, que prodigiosa fartura de novidades imundas, tão fecundas como um adubo sagrado, belas quanto nossas matas, cachoeiras e flores. Como é educativo vermos as falsas ostentações de pureza, candor, para encobrir a impudicícia, o despudor, a bilontragem nas cumbucas, nos esgotos da alma..Que emocionante este sarapatel entre o publico e o privado: os súbitos aumentos de patrimônio, fazendas imaginarias , açougues fantasmas, netinhas e netinhos, filhinhos ladrões, a ditadura dos suplentes, cheques podres, piscinas em forma de vaginas, mandingas, despachos, as galinhas mortas na encruzilhada, o uísque caindo mal no Piantela, as diarréias secretas, as flatulências fétidas no Senado, diante das evidencias de crime, os arrotos nervosos, os vômitos, tudo compondo o grande painel da nacionalidade.

Já se nos entranhou na cabeça, confusamente ainda, que enquanto houver 20 mil cargos de confiança no país, haverá canalhas, enquanto houver Estatais com caixa preta, haverá canalhas, enquanto houver subsídios a fundo perdido, haverá canalhas. Com esse código penal, nunca haverá progresso. Já sabemos que enquanto não desatracarmos os corpos públicos e privados, que enquanto não acabarem as regras eleitorais vigentes, nada vai se resolver.

Já sabemos que mais de 5 bilhões por ano são pilhados das escolas, hospitais, estradas. A cada punição, outros nascerão mais fortes, como bactérias resistentes a antigas penicilinas, e mais: os que foram desonrados no Congresso voltaram fortes e mandam no legislativo. Temos de desinfetar seus ninhos, suas chocadeiras.

Só nos resta a praga. Isso. Meu desejo é maldizer, como já fiz aqui varias vezes.

Portanto, malditos sejais, ó mentirosos, negadores, defraudadores, vigaristas, trampistas, intrujões, chupistas, tartufos e embusteiros! Que a peste negra vos cubra de feridas pútridas, que vossas línguas mentirosas sequem e que água alguma vos dessedente, que vossas mentiras, marandubas, fraudes, lérias e aldravices se transformem em cobras peçonhentas que se enrosquem em vossos pescoços, que entrem por vossos rabos e fundilhos e lá depositem venenosos ovos que vos depauperem em diarréias torrenciais.

Que a peste negra vos devore a alma, políticos canalhas, que vossos cabelos com brilhantina vos cubram de uma gosma repulsiva, que vossas gravatas bregas vos enforquem, que os arcanjos vingadores vos exterminem para sempre!

No entanto, alem das maldições, sou um otimista inveterado; fico procurando algo de bom nessa bosta toda!

Talvez esta vergonha seja boa para nos despertar da letargia de 400 anos. A esperança tem de ser extirpada como um furúnculo maligno. Através deste escracho, pode ser que entendamos a beleza do que poderíamos ser!

Meu comentário:
É, o Jabor estava figadal e escatológico ao escrever o texto! Mas, também, todos estamos! Ou, não estás? O desaconteceu que ele menciona, corresponde à desconstrução que se está a fazer dos pilares morais e éticos da nacionalidade brasileira. E isso não está a cargo de um segmento marginal da sociedade. Está, sim, sob responsabilidade dos presidentes dos três poderes; das lideranças políticas, dos dirigentes das empresas públicas; dos líderes religiosos que desviam recursos das religiões e das seitas para sua riqueza pessoal; desses mesmos dirigentes e orientadores da Fé que corrompem menores. Enfim, perguntemos, qual o segmento social que está absolutamente livre de desvios? Pode ser que haja algum, mas é difícil sua identificação!

OS NÃO COMUNS

(de Cláudio Humberto-14/09/2009)

Lina Vieira causou irritação ao vigiar jatinhos em Brasília

O governo Lula ainda não sabe como cancelar, com discrição, uma invenção da ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira que provocou muitas reclamações de lobistas, empresários, corruptores e políticos: quem sai ou chega a Brasília em jatinho agora é obrigado a utilizar o Terminal 2 do aeroporto, passando – com suas malas – pelo raio-x, câmeras de segurança e agentes da Receita e da Policia Federal.

Antes de Lina Vieira, passageiros de jatinhos e malas recheadas de dinheiro passavam, discretamente, só nos hangares de táxi aéreo.

Agora, passageiro de jatinho em Brasília é recolhido em uma van da Infraero e levado ao Terminal 2 do aeroporto.

Meu Comentário:

Ao ler a matéria do colunista Cláudio Humberto, é possível perceber o quanto de desfaçatez existe no mundo dos negócios, entre o privado e o público. Certamente essa medida será revertida. Afinal, todos esses citados, assim como Sarney, não devem ser pessoas comuns.


POLÍTICA, A VERDADEIRA

Quase todos os dias vemos e sabemos ocorrer denúncias de erros administrativos, éticos ou morais, postos a público tanto pela oposição quanto pelos governistas, em batalhas episódicas na guerra pelo Poder. Há, então, o debate acirrado, a indignação pública, cada um toma o seu lado, a imprensa vai fundo no caso, mesmo onde deveria ter ido antes, e nada acontece. Logo depois, vemos que esses ânimos indignados pela imoralidade ocorrida, se acomodam, mudam de conversa, iniciam um processo de "todavia", "porém", "mas", etc. e o caso se esvai porque os acertos foram feitos. As várias correntes, não mais tanto ideológicas, mas, sim, de interesses escusos, se juntam, no interesse dos grupos. Até a imprensa, aquela que aparece nas pesquisas de opinião, como a mais confiável para a população, deixa de valorizar o valorizado antes e desvia o assunto, esquece. Assim, pouco a pouco, o resto de esperança que tínhamos numa reforma da linha ética de uma parte do Congresso e das Instituições, vai à falência, finda, esvanece. Esses acordos, já denominados de "acordãos", e que dão relevo ao clima negocial dos bastidores, fazem parte de nosso dia-a-dia, levando a que os assumamos bovinamente e os vivenciemos como corretos nas atitudes republicanas e democráticas do Brasil, em face da aplicação do princípio dos usos e dos costumes, fundamentado na ação da pior legislatura já ocorrida "NESTEPAIZ". É ali que ocorre a confluência de interesses particulares desses representantes do povo, enquanto, este, o eleitor tem as suas vontades esquecidas.
Perceba-se que, até agora, não mencionei a palavra política, já que o que está acontecendo nada tem da verdadeira Política (claro, com P). O que vem ocorrendo no Brasil é a negociação de interesses, popularmente denominada de negociata. Eis o termo adequado! Quando falarmos disso que aí está, por favor, não mencionemos Política, apenas negociata. A junção de forças antagônicas na Política, por meio da boa retórica e da construtiva dialética, é salutar e necessária quando postas a serviço da verdadeira construção ideológica que leva efeitos para o bem estar do povo.
A esse procedimento da sociedade, por intermédio dos seus representantes, os parlamentares, é que chamaríamos Política, em torno da qual todas as discussões teriam como base a estruturação e a formação da sociedade e da Nação brasileiras.
Só que, hoje, acabaram-se os interesses maiores, suprapensados, supraprojetados, supraestimulados, com visão de décadas, ou de séculos, para a frente, estruturando a sociedade em que vivemos hoje, e que nossos descendentes usufruirão amanhã, formando a nacionalidade e possibilitando identidade universal ao País. Perdeu-se o pensamento e a visão horizontais e ganhou o olhar, aquele que nos dá o limite do umbigo.
A cidadania brasileira deve retomar o rumo do pensamento construtivo e adequar-se ao contexto da nova ordem mundial, execrando o fisiologismo, o patrimonialismo e a politicagem. Isso só será conseguido se tivermos a consciência do voto adequado, nas pessoas certas e confiáveis, à luz do seu passado.

HOMENS MEDÍOCRES

José Ingenieros diz que: "O homens evoluem com a variação de suas crenças, não necessariamente as religiosas, e podem transformá-las enquanto vão aprendendo; as sombras acomodam as próprias crenças aos seus apetites, e pretendem encobrir a indignidade com o nome de evolução. Se dependesse delas, esta última palavra equivaleria a desequilíbrio, ou a falta de vergonha; muitas vezes, a traição. .... Quantos há que parecem homens, e que só valem pelas posições alcançadas nos meios mediocráticos Vistos de perto, examinados em obras e ações, são menos dos que nada; valores negativos. Sombras. Os caracteres excelentes são indomesticáveis. Sua firmeza os sustenta."
Meu comentário:
Evidentemente, nos nossos homens públicos de hoje, não há caráter, há mediocridade. Eles são entes servis ao erro, ao ganho fácil, à corrupção, à enganação, à mentira. Por isso mesmo, por essa falta de escrúpulos e por essa ambição sem limites, são extremamente perigosos.

FÁBULA DA ASSIMILAÇÃO

A fábula relatada abaixo, mostra que o poder transforma as pessoas. A posição de inferioridade faz com que clamemos contra o sistema, teorizemos sobre a classe dominante, sonhemos com a realidade que não alcançamos agora, projetemos ações, a partir da vontade que temos, longe do que almejamos. Quando conseguimos chegar ao objeto do nosso sonho, as coisas mudam. Tornamo-nos vorazes de espaço e de dominação; somos avaros na distribuição do bolo; queremos, ao custo dos outros, ter mais riquezas e garantias; não nos suprimos mais, apenas com a dimensão do hoje ou do amanhã. Erroneamente, nosso horizonte deve ter a distância da nossa existência, que pensamos ser imorredoura, mas que é curta demais para sermos tão egoístas e arrogantes para com a vida. Os ratos da fábula passaram uma vida observando o alimento indisponível pelo obstáculo. Esqueceram de trabalhar para suprir essa deficiência de alimento, enquanto criticavam com palavras vãs o sistema. Ao ter satisfeito o desejo do queijo, perderam-se nas divisões, nas lutas pela sobrevivência dos mais fortes e criaram um sistema, tal qual o anterior. Como na "Revolução dos Bichos", de George Orwell, e assim como os porcos de lá, aqui, o próximo passo será o congraçamento com o gato, em lautos jantares de queijo e marmelada, conspirando contra os ratos fracos.



O sonho dos ratos
Rubens Alves

Era uma vez um bando de ratos que vivia no buraco do assoalho de uma casa velha. Havia ratos de todos os tipos: grandes e pequenos, pretos e brancos, velhos e jovens, fortes e fracos, da roça e da cidade. Mas ninguém ligava para as diferenças, porque todos estavam irmanados em torno de um sonho comum: um queijo enorme, amarelo, cheiroso, bem pertinho dos seus narizes.

Comer o queijo seria a suprema felicidade...

Bem pertinho é modo de dizer. Na verdade, o queijo estava imensamente longe, porque entre ele e os ratos estava um gato... O gato era malvado, tinha dentes afiados e não dormia nunca. Por vezes fingia dormir. Mas bastava que um ratinho mais corajoso se aventurasse para fora do buraco para que o gato desse um pulo e, era uma vez um ratinho...

Os ratos odiavam o gato. Quanto mais o odiavam mais irmãos se sentiam. O ódio a um inimigo comum os tornava cúmplices de um mesmo desejo: queriam que o gato morresse ou sonhavam com um cachorro...

Como nada pudessem fazer, reuniram-se para conversar. Faziam discursos, denunciavam o comportamento do gato (não se sabe bem para quem), e chegaram mesmo a escrever livros com a crítica filosófica dos gatos. Diziam que um dia chegaria em que os gatos seriam abolidos e todos seriam iguais. "Quando se estabelecer a ditadura dos ratos", diziam os camundongos, "então todos serão felizes"...

- O queijo é grande o bastante para todos, dizia um.

- Socializaremos o queijo, dizia outro.

Todos batiam palmas e cantavam as mesmas canções. Era comovente ver tanta fraternidade. Como seria bonito quando o gato morresse! Sonhavam. Nos seus sonhos comiam o queijo. E quanto mais o comiam, mais ele crescia. Porque esta é uma das propriedades dos queijos sonhados: não diminuem, crescem sempre.

E marchavam juntos, rabos entrelaçados, gritando: "o queijo, já!"...

Sem que ninguém pudesse explicar como, o fato é que, ao acordarem, numa bela manhã, o gato tinha sumido. O queijo continuava lá, mais belo do que nunca.

Olharam cuidadosamente ao redor. Aquilo poderia ser um truque do gato. Mas não era. O gato havia desaparecido mesmo. Chegara o dia glorioso, e dos ratos surgiu um brado retumbante de alegria. Todos se lançaram ao queijo, irmanados numa fome comum.

E foi então que a transformação aconteceu. Bastou a primeira mordida. Compreenderam, repentinamente, que os queijos de verdade são diferentes dos queijos sonhados. Quando comidos, em vez de crescer, diminuem.

Assim, quanto maior o número dos ratos a comer o queijo, menor o naco para cada um. Os ratos começaram a olhar uns para os outros como se fossem inimigos. Olharam cada um para a boca dos outros, para ver quanto do queijo haviam comido. E os olhares se enfureceram.

Arreganharam os dentes. Esqueceram-se do gato. Eram seus próprios inimigos. A briga começou. Os mais fortes expulsaram os mais fracos a dentadas. E, ato contínuo, começaram a brigar entre si. Alguns ameaçaram a chamar o gato, alegando que só assim se restabeleceria a ordem.

O projeto de socialização do queijo foi aprovado nos seguintes termos: "Qualquer pedaço de queijo poderá ser tomado dos seus proprietários para ser dado aos ratos magros, desde que este pedaço tenha sido abandonado pelo dono".

Mas como rato algum jamais abandonou um queijo, os ratos magros foram condenados a ficar esperando. Os ratinhos magros, de dentro do buraco escuro, não podiam compreender o que havia acontecido. O mais inexplicável era a transformação que se operara no focinho dos ratos fortes, agora donos do queijo. Tinham todo jeito do gato, o olhar malvado, os dentes à mostra.

Os ratos magros nem mais conseguiam perceber a diferença entre o gato de antes e os ratos de agora. E compreenderam, então, que não havia diferença alguma. Pois todo rato que fica dono do queijo vira gato.

Não é por acidente que os nomes são tão parecidos. (Gato/Rato)

FATOS QUE NÃO PODEM SER ESQUECIDOS

Para quem viu o olhar enlouquecido de Collor, contra Simon, deve lembrar das suas atitudes pessoais não menos esquisitas e assustadoras, quando Presidente. Por outro lado, levando em conta a característica da população brasileira, que é a de esquecimento rápido dos crimes cometidos pelos algozes, é uma pena que não lembremos mais do monstruoso crime cometido por ele e ao qual Maria Helena dá realce no texto abaixo. Não temos o direito, por nós e por nossos filhos, de esquecer o Plano Collor que acabou com ilusões, destruiu projetos pessoais e esfacelou vidas humanas.


Maria Helena R. R. de Souza, da coluna do NOBLAT.
07/08/2009

Agredidos e Ultrajados


O Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, embriagado pelos quase 60 milhões de votos que recebeu em outubro de 2006, achou-se no direito de dar uma bofetada em milhões de famílias brasileiras, vítimas do chamado Plano Collor.

Na última quarta-feira, 21 de março de 2007, ele recebeu, em seu gabinete, no Palácio do Planalto, o senador Fernando Collor de Mello (sic). A mim não me interessa se o senador alagoano cumpriu seus 8 anos de afastamento da vida pública. Muito menos se não foi julgado pelo STF por falta de provas. Nem me venham dizer que ele foi absolvido pelo povo, já que acaba de ser eleito pelos alagoanos para representá-los no Senado Federal. Isso é uma vergonha para o Estado de Alagoas, nada mais do que isso.

O Plano Collor foi o mais sofisticado crime contra um povo que se tem notícia. Não usou tanques para bombardear populações inteiras. Não fuzilou ninguém em praça pública. Não prendeu, nem torturou, nem espancou, nem mandou enforcar. A arma que usou foi uma caneta. Que matou e feriu muita gente.

De repente, da noite para o dia, esse homem confiscou todo o dinheiro de um povo. A Caderneta de Poupança sempre foi a aplicação popular por excelência. É notório que o sucesso dos países desenvolvidos se deve à capacidade de seu povo poupar.

Tão importante era o apego e a fé na Poupança, que o candidato Collor dizia, em comícios, e depois pela televisão, que seu concorrente, o sindicalista Lula, comunista, iria tirar o dinheiro que o povo tinha na Caderneta de Poupança. Dizem que Lula perdeu porque Collor deu-lhe um soco abaixo da linha da cintura, apresentando uma ex-namorada que o acusava de monstruosidades.

Em um país machista como o nosso, isso pouca mossa causou, tanto que Collor venceu. E venceu porque todos ficaram com muito medo que o esquerdinha lhes confiscasse a Poupança. Eleito Collor, todos respiraram aliviados. Os poupadores de sempre foram dormir tranqüilos. Os que aplicavam no mercado financeiro, e tinham aprendido a duras penas como se defender das burrices dos planos econômicos que se sucediam como pragas, esses, com medo de um novo plano, migraram para a Poupança, o porto seguro.

Pois foi esse porto que Fernando Collor bombardeou, matando – literalmente – muita gente e ferindo para sempre muitos outros. O dinheiro que nos foi tomado ficaria retido no Banco Central por dezoito meses e, a partir do 19º mês, seria devolvido em 12 parcelas iguais e sucessivas, com juros de 6% ao ano, mais correção monetária.

Foi devolvido, é verdade. Aos inocentes, aos que não tinham amigos na praça, aos que não se sujeitaram a fazer acordos espúrios, aos que não se beneficiaram das famosas torneirinhas da Ministra da Economia (...) Esses, os tolos, receberam seu dinheiro em 12 parcelas. Que já não valia, podem fazer as contas que quiserem, aplicar os índices que bem entenderem, não valia, repito, o mesmo que valia em 16 de março de 1990, dia seguinte à posse do atual senador como Presidente da República do povo a quem iria apunhalar.

Essa monstruosidade não ajudou o Brasil em nada. Seis meses depois a inflação voltava galopante e a corrupção comia o país do centro para as bordas. Em setembro do mesmo ano, estava derrotada essa política desastrosa e criminosa e tudo voltava aos padrões característicos dos anos de alta inflação.

Muitos morreram de tristeza e medo. Muitos se suicidaram. Muitos tiveram que se desfazer, aos poucos, e para os espertos que se utilizaram das famosas torneirinhas, de carros e moradias. Muitos adiaram os planos de estudar e foram trabalhar para ajudar a família. O confisco não afetou somente os que foram suas vítimas. Em cascata, sofreram comerciantes, profissionais liberais, colégios, prestadores de serviços, uma infinidade de pessoas.

A tristeza que se abateu sobre o país, contada, ninguém acredita. Ruas escuras e silenciosas à noite, de dia longas filas nas portas dos bancos, para a retirada dos 50 mil cruzados novos que esse pastiche de marajá nos permitia levar para casa.

(...) E o que nós recebemos é essa agressão: exatamente 17 anos e cinco dias depois, o então candidato Lula, hoje Presidente da República, recebeu calorosa e gentilmente, para duas horas de papo ameno, em seu gabinete no Palácio do Planalto, o sujeito que o desrespeitou e à sua família, e que foi o causador de muito sofrimento e dor para uma enorme parcela da população brasileira.

Esse texto foi publicado aqui em 23 de março de 2007, intitulado “Agredidos”. Hoje, nesta semana que se iniciou em 3 de agosto de 2009, o título é outro. Com toda a dor que senti há dois anos e meio, não imaginei que a República das Alagoas estivesse para ser refundada, debaixo do mesmo tacão e tendo por seguidores os mesmos apadrinhados de outros tempos, as mesmas figuras insalubres para a sociedade brasileira e mais os aproveitadores de ocasião! Calculam contar com a proteção e as bênçãos do único partido que lhes fez frente, a verdade precisa ser dita, nos idos de 1992.

Ontem, o sempre fiel escudeiro Renan nos agrediu e ultrajou a todos: usou calão dentro da Casa do Povo, o que já é uma vileza. Mas nem com a proteção dos padrinhos teve a coragem de falar bem alto e de frente para o microfone: falou baixo e ainda pediu que tudo fosse apagado dos anais da Casa. E rompeu com qualquer padrão ético ao dizer que “minoria com complexo de maioria é falta de decoro parlamentar”.

Voltaram. Estão se achando muito fortes. Precisam sair de suas fortalezas/masmorras de ouro e prata e andar pelas ruas das cidades. Vão levar um bom susto.

O CONTEXTO DO TEMPO E NÓS

O tempo, ah, o tempo! Nada somos no contexto do tempo e nada deixaremos a não ser lembranças, também estas, morredouras. ___________________...