MEDIOCRACIA

Há os filósofos, os escritores, enfim os pensadores, que fazem dos seus escritos ou de sua fala o chicote dos medíocres. Aquilo que escrevem, ou escreveram, em épocas passadas sobre condutas sociais dos tempos em que vivem, ou viveram, muitas vezes surge como se o houvesse sido para situações atuais. Esses princípios e essas constatações escritas podem, em um momento ou em outro, serem aplicados na comparação com fatos presentes. No momento, vivemos instantes desoladores das condutas públicas dos nossos governantes e representantes democráticos no sistema republicano. Muito há com que nos preocuparmos, os brasileiros conscientes, pois estamos construindo uma Nação, madura na sua idade de cinco séculos, mas ainda adolescente na sua estrutura nacional e cidadã.

Agora, vejamos o que José Ingenieros, que nasceu na Itália, mas que viveu e morreu na Argentina, escreveu sobre isso, há um século:

MEDIOCRACIA

“Em raros momentos, a paixão caldeia a história e se exaltam os idealismos; quando as nações se constituem e quando elas se renovam. Antes é secreta ânsia de liberdade, luta pela independência; mais tarde, crise de consolidação institucional a seguir e, depois, veemência de expansão, ou pujança de energias. Os gênios pronunciam palavras definitivas; os estadistas plasmam os seus planos visionários; os herois põem o seu coração na balança do destino.

(...)

Em certos períodos, a nação adormece dentro do país. O organismo vegeta; o espírito se amodorra. Os apetites acossam os ideais, tornando-os dominadores e agressivos. Não há astros no horizonte, nem auriflamas nos campanários. Não se percebe clamor algum do povo; não ressoa o eco de grandes vozes animadoras. Todos se apinham em torno dos mantos oficiais, para conseguir alguma migalha da merenda. É o clima da mediocridade.

(...)

O culto da verdade entra na penumbra, bem como o afã de admiração, a fé em crenças firmes, a exaltação de ideais, o desinteresse, a abnegação – tudo o que está no caminho da virtude e da dignididade. Todos os espíritos se temperam pelo mesmo diapasão utilitário. (...) Tudo o que é vulgar encontra fervorosos adeptos (...). Os seus mais altos porta-vozes são escravos do seu clima. São atores aos quais foi proibido improvisar, pois de outra forma, romperiam o molde a que se ajustam.

Platão, sem pretender fazê-lo, definiu a democracia: “é o pior dos bons governos, mas é o melhor entre os maus”. Transcorreram séculos e a sentença conserva a sua verdade.

(...) Em cada comarca, uma facção de parasitas detém as engrenagens do mecanismo oficial, excluindo do seu seio todos quantos recusam altivamente a própria cumplicidade em seus empreendimentos.

(...)

Quando o ignorante se julga igualado ao estudioso, o velhaco ao apóstolo, o falador ao eloquente e o mau ao digno, a escala do mérito desaparece numa vergonhosa nivelação de vilania. A mediocridade é isso: os que nada sabem, julgam dizer o que pensam, embora cada um só consiga repetir dogmas, ou auspiciar voracidades.

(...)

Convenciona-se denominar urbanidade à hipocrisia, tolerância à cumplicidade, pois a mentira proporciona estas denominações equívocas (...). A obsessão de acumular tesouros materiais, ou o seu desfrute, apaga o espírito coletivo, os países deixam de ser pátria e qualquer ideal parece suspeito. As coisas do espírito e do sentimento são desprezadas. Já os medíocres sempre os há, pois eles são perenes e o que varia é o seu prestígio e a sua influência. Nas épocas de exaltação renovadora, eles se mostram humildes e ninguém os nota. Quando se enfraquecem os ideais e se substitui o qualitativo pelo quantitativo, começa-se a contar com eles que reunem-se em grupos e arrebanham-se em partidos, condensando a mediocridade, convertendo-se em sistema e tornando-se incontrastável.

(...)

Quando as nações dão em baixios, alguma facção se apodera da engrenagem constituída e florescem legisladores, pululam arquivistas, os funcionários são contatados por legiões, as leis se multiplicam sem eficácia. As ciências convertem-se em mecanismos oficiais de onde jamais brota o gênio e onde se impede que o talento brilhe. As artes tornam-se indústrias patrocinadas pelo Estado.

(...)

Uma apatia conservadora caracteriza esses períodos e enfraquece-se a ansiedade das coisas elevadas.

(...)

As mediocracias são escoradas pelos apetites dos que esperam nelas viver e no medo dos que temem perder o seu espaço.

A indignidade civil é lei nesses climas. Todo homem declina de sua personalidade, ao converter-se em funcionário: a cadeia não é visível no seu pé, como nos dos escravos, mas ele a arrasta, ocultamente, amarrada ao seu intestino. A mediocracia cultiva o incapaz de viver pelo seu esforço, sem o vínculo oficial. Quando tudo de pessoal é sacrificado a esse sistema, sobrepondo-se os apetites às aspirações, o sentido moral se degrada e a decadência se aproxima. Para despertar dessa fadiga, o único caminho da nação é semear o futuro.”

Meu Comentário:

Nada mais atual do que esse texto, situado no modo de ser das nações e dos povos do século XXI. Mas, especialmente, de aplicação total no Brasil, onde tivemos uma retórica política voltada à reconstrução nacional, depois de um período democrático anômalo. Porém, logo após a tomada do poder, pelo processo democrático, esse mesmo grupo que antes liderava a discussão, dita de esquerda, desvirtua o conteúdo, domina a cena dos bastidores menos recomendáveis, pulula o país de leis atalhadas, promove a arte que lhe convém, comprando-a, e ameaça liberdades básicas com movimentos coercitivos e pretensamente divinos, parecendo por meios livres, claro!

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