OS CONTADORES DE VOTOS

É a verdade verdadeira desde os tempos remotos. Contam um "causo" que numa tal cidade fronteiriça, há alguns anos também ocorreu e os responsáveis foram parar na cadeia. Agora, atualmente, a URNA ELETRÔNICA, tão propagandeada, faz o mesmo serviço sujo.

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MESSALINAS FANTASIADAS DE VESTAIS


Belo e resgatador texto de Augusto Nunes que coloca no prumo o conjunto dos eventos factuais e de boquirrotos delirantes, dos apedeutas que nos governam. Gostei da definição "messalinas fantasiadas de vestais", tudo a ver com os personagens de hoje.

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Encenado para disfarçar o nocaute sonoro sofrido por Dilma Rousseff no Itaquerão, o espetáculo da hipocrisia protagonizado pela seita lulopetista confirma o parecer do deputado paulista Duarte Nogueira: “Eles são incapazes capazes de tudo”. Messalinas de longo curso capricham na pose de virgem profissional para ensinar que não se faz uma coisa dessas com alguém que, mais que presidente, é mulher, mãe, avó e quase setentona. O comentarista Eduardo Henrique lembra que Ruth Cardoso tinha 77 anos, filhos e netos em 2008, quando foi vítima da infâmia tramada por Dilma, então chefe da Casa Civil, em parceria com a amiga e quadrilheira Erenice Guerra.

Os que nunca enxergaram limites para nada fingem que perderam o sono com  o desabafo da multidão de brasileiros cansada de ser tratada pelo governo como um bando de idiotas. São os mesmos que não viram nada de mais no caso do dossiê forjado para jogar lama na imagem da mulher de FHC. Na página 224 do livro Ruth Cardoso: Fragmentos de uma Vida, o escritor Ignácio de Loyola Brandão recorda o ataque traiçoeiro, repulsivo e muito mais doloroso que qualquer palavrão. Confira:

“Ruth Cardoso tinha razão quanto a querer se distanciar da política como ela é feita no Brasil e em certos setores de Brasília. Ela, que sempre foi uma pessoa célebre pela integridade e pelo cuidado com a coisa pública, se viu ameaçada pela então chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com um escândalo em torno de um dossiê sobre os gastos corporativos da Presidência, em que alegava que Ruth havia despendido milhares de reais ou dólares em compras fúteis, inúteis e banais, em vinhos e comidas. Caiu mal no mundo político, no qual Ruth sempre foi respeitada até mesmo pelos adversários mais ferrenhos. O jornalista Augusto Nunes, que tem um blog dos mais visitados, não resistiu e comentou: “Dilma foi a primeira a agredir uma mulher gentil, suave, e também por isso tratada com respeito até por ferozes inimigos do marido”. Pegaram pesado e Ruth sentiu o baque, logo ela que sempre teve o cuidado de separar o privado do público, até mesmo no aluguel de filmes exibidos no palácio. O dossiê teria sido preparado pela secretária executiva da Casa Civil, Erenice Guerra. As reações contra o dossiê foram imediatas e a chefe da Casa Civil se desculpou, voltou atrás. Ruth, elegantemente, ainda que magoadíssima, aceitou as desculpas, porém o círculo íntimo sabe quanto isso a feriu e atingiu um coração já afetado.”

A frase citada por Loyola é um trecho do post publicado em 26 de novembro de 2009 com o título Ruth Cardoso vs Dilma: 400 a 0. Leia a íntegra do texto:

Ruth Cardoso foi a prova definitiva de que milagres civilizatórios ocorrem mesmo nos grotões do planeta. A discreta e talentosa paulista de Araraquara, que se casou muito jovem com o sociólogo carioca Fernando Henrique Cardoso, seria a única primeira-dama a desembarcar em Brasília com profissão definida, luz própria e opiniões a emitir ─ sempre com autonomia intelectual e, se necessário, elegante contundência. Durante oito anos, o brilho da mulher que sabia o que dizia somou-se à luminosidade da antropóloga respeitada em muitos idiomas para clarear o coração do poder.

No fim de 1994, por não imaginarem com quem logo lidariam, muitos jornalistas ouviram com ceticismo a justificativa apresentada pelo presidente eleito para a viagem à Rússia: “Vou como acompanhante da Ruth”. Ela participaria como palestrante de um congresso de antropologia promovido em Moscou, ele aproveitaria para descansar alguns dias. Nenhum repórter cuidou de conferir o desempenho da palestrante. Perderam todos a chance de descobrir que Ruth era muito mais que a mulher do n° 1.

A melhor e mais brilhante das primeiras-damas abdicou do título já no dia da posse do marido. “Isso é uma caricatura do original americano, esse cargo não existe”, resumiu numa entrevista. Se não existia, Ruth inventou-o.  Sem pompas nem fitas, longe de fanfarras e rojões, montou o impressionante conjunto de ações enfeixadas no programa Comunidade Solidária. Em dezembro de 2002, os projetos em execução mobilizavam 135 mil alfabetizadores, 17 mil universitários e professores, 2.500 associações comunitárias, 300 universidades e 45 centros de voluntariado.

Acabou simbolicamente promovida a primeira-dama da República no dia da morte que pareceria prematura ainda que tivesse mais de 100 anos. A cerimônia do adeus comprovou que o Brasil se despedia, comovido, de alguém que o fizera parecer menos primitivo, mais respirável, menos boçal. E que merecia ter morrido sem conhecer a fábrica de dossiês cafajestes da Casa Civil chefiada por Dilma Rousseff.

Instruída para livrar o governo da enrascada em que se metera com a gastança dos cartões corporarativos, Dilma produziu um papelório abjeto que tentava reduzir Fernando Henrique e Ruth Cardoso a perdulários incuráveis, uma dupla decidida a desperdiçar o dinheiro da nação em vinhos caros e futilidades gastronômicas. Dilma foi a primeira a agredir uma mulher gentil, suave, e também por isso tratada com respeito até por ferozes inimigos do marido.

A fraude que virou candidata à presidência anda propondo que o país compare Fernando Henrique a Lula. “O Lula ganha de 400 a 0″, delira. Qualquer partido mais competente e menos poltrão teria topado há muito tempo esse confronto entre a seriedade e a bravata, entre o conhecimento e a ignorância, entre o moderno e o antigo, entre o real e o imaginário. Em vez de capitular sem combate, o PSDB poderia ao menos sugerir que se compare Dilma Rousseff a Ruth Cardoso. A Mãe do PAC aprenderia o que é perder por um placar de 400 a zero.

Passados quatro anos e meio, o que Dilma ouviu no Itaquerão mostrou que 400 a 0 é pouco.

 

A TRAÇA

Não é necessário comentar, está tudo na imagem. A tristeza de uns (a minha também) e a alegria de outros. Ao mesmo tempo, o trocadilho de taça por TRAÇA é bem significativo, pois este inseto é uma praga devoradora. Então, é uma charge que tem tudo a ver com o momento e com os seus protagonistas. 
 
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NOVIDADE NO MERCADO DO IMAGINÁRIO

Bote de “fibra ótica” vai ajudar Paraná na enchente, diz Dilma

18 de junho de 2014
Em ato falho, ontem em União da Vitória, a presidente Dilma Rousseff saiu com mais uma máximo para seu anedotário.
No pronunciamento na Câmara de Vereadores, Dilma disse que o Exército tem “bote de fibra ótica” para ajudar o Paraná na enchente. A Defesa Civil nunca viu um equipamento do tipo.

ANALFABETISMO, SEGUNDO ALVIN TOFLLER

"OS ANALFABETOS DO SÉCULO 21 NÃO SERÃO AQUELES QUE NÃO SABEM LER E ESCREVER, MAS AQUELES QUE NÃO SABEM APRENDER, DESAPRENDER E REAPRENDER" (Alvin Toffler)
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Não resisti a esse fundamento do Toffler, instigante, mas verdadeiro. Apenas, não lembro, ou não sei, em que momento ele o elaborou, mas, certamente, está relacionado com que preconiza nos seus livros "O CHOQUE DO FUTURO", "A TERCEIRA ONDA", "POWERSHIFT-As mudanças do poder", "GUERRA E ANTIGUERRA", dentre outros escritos seus. Em "O Choque do Futuro", escrito em 1970, e, parece-me, o primeiro livro seu, ele analisa a questão sintetizada na frase do anexo, dando saliência ao choque por que passamos ao nos defrontarmos com a mudança. Escreve ele: "...Para manter nosso equilíbrio adaptativo, ... lutamos para refrescar nossa imagística, ... para reaprender a realidade. Assim, o impulso acelerativo fora de nós encontra uma aceleração correspondente no indivíduo que se adapta. ... Aprender exige energia e reaprender exige ainda mais."

SIMPLICIDADE DO POVO


Descobri o texto abaixo na rede e repasso para conheceres como vivem sérios senhores do mundo em país sério. Aí, então, tentei comparar com o Brasil e ... bem, deixa prá lá!


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Como vive um primeiro-ministro num país escandinavo


A jornalista brasileira Claudia Wallin entrevistou o primeiro-ministro da Suécia, Fredrik Reinfeldt. A entrevista é parte do recém-lançado livro de Claudia sobre a peculiar cultura igualitária sueca: Um País sem Excelências e sem Mordomias.

Abaixo, a entrevista.

Reinfeldt leva a vida de um cidadão comum

Fredrik Reinfeldt entra no saguão do Parlamento sueco com os passos determinados de um gladiador a caminho da arena de leões esfomeados. Vai enfrentar a sabatina mensal do Frågestund (”Hora das Perguntas”), quando o primeiro-ministro se expõe a quarenta minutos de fogo inimigo para responder a questões dos parlamentares sobre os rumos da Suécia sob a sua liderança.

Aumenta o vaivém discreto de deputados e jornalistas a caminho do plenário. Estamos todos teoricamente ilhados. O Parlamento sueco ocupa toda a minúscula ilha de Helgeandsholmen, cercada de um lado pelas águas do Mar Báltico, de outro pelo lago Mälaren. No horizonte que se abre através dos painés de vidro curvilíneos do saguão, brilha a cúpula dourada da Stadshuset, a sede da Prefeitura. Na margem oposta, diante de Rosenbad, a sede do Governo, pescadores lançam seus anzóis à espera de arenques e salmões.

”Você tem dez minutos”, me avisa no saguão a assessora do primeiro-ministro, Roberta Alenius, dando o sinal para a entrevista com Reinfeldt.

Líder do Partido Moderado (Moderata Samlingspartiet), Fredrik Reinfeldt tornou-se primeiro-ministro da Suécia aos 41 anos de idade, em 2006, quando uma aliança de quatro partidos de centro-direita desalojou do poder a coalizão comandada pelos social-democratas.

De pé na ante-sala do plenário do Parlamento, com fisionomia austera, Reinfeldt falou deste reino onde os políticos ocupam o poder antes exercido pela monarquia, mas não levam vida de príncipe.

A vida dos políticos suecos, sem luxo nem privilégios, obedece a algum tipo de código de conduta moral?

FREDRIK REINFELDT: Eu diria que sim. A Suécia é um país onde não existe o alto grau de desigualdade social que se vê em outros lugares, e este é um aspecto que valorizamos enormemente em nossa sociedade. Por esta razão, buscamos líderes políticos dos quais se possa dizer que são ”um de nós”, e não ”acima de nós”. Este é um ponto básico do pensamento social sueco, que a mim também agrada. Quero ser um indivíduo entre outros indivíduos, e não alguém tratado como uma pessoa extraordinária. O senso de igualdade entre as pessoas se reflete na alma sueca, no sentimento sueco de identidade nacional, e naquilo que desejamos que a Suécia seja como nação. Eu seria duramente criticado, assim como qualquer outro político, se houvesse a percepção de que vivo uma vida de luxo, inteiramente diferente da vida dos cidadãos comuns.”

Qual é a origem deste sistema de valores sueco?

FREDRIK REINFELDT: A democracia tem raízes profundas na Suécia. Os políticos compreendem que não estão aqui para se tornarem ricos ou enriquecer suas famílias, nem para criar condições de vida favoráveis para alguns. Estou aqui para realizar reformas e fazer deste um país melhor, de tal maneira que as pessoas digam ”ele está me ouvindo, está resolvendo meus problemas”. Do contrário, os eleitores darão seu voto a outra pessoa. Não vejo isso como um problema. Também acho bom poder continuar a cuidar das coisas cotidianas que costumava fazer antes de ocupar o posto de primeiro-ministro. A diferença é que hoje em dia tenho, é claro, um aparato de segurança em torno de mim. Mas continuo a cuidar da rotina das atividades pessoais do dia a dia, como qualquer cidadão.

É verdade que o senhor passa as próprias camisas pela manhã, como faz a maioria dos suecos?

FREDRIK REINFELDT: Sim. Não todas as manhãs, porque geralmente passo de uma só vez uma quantidade de camisas suficiente para toda a semana. Mas lavo e passo minhas próprias roupas.

O senhor também cozinha todas as noites?

FREDRIK REINFELDT: Sim, cozinho para mim e também para meus três filhos, quando estão em minha casa (Fredrik Reinfeldt é divorciado da mulher, a também política Filippa Reinfeldt). Não há nada de estranho nisso, é o que fazem todos os suecos quando voltam do trabalho.

O senhor tem fama de ser maníaco por limpeza. Ainda limpa a própria casa?

FREDRIK REINFELDT: Tenho dois filhos que são alérgicos a poeira. A necessidade de limpar bem a casa tornou-se uma questão de saúde para meus filhos. Tenho ocasionalmente um serviço de limpeza básica na residência oficial, mas cuido eu mesmo da maior parte da limpeza da casa no dia a dia. Embora não gaste mais tantas horas nessa tarefa como gastava antes de me tornar primeiro-ministro, quando passava a maior parte do domingo fazendo uma grande faxina.

Por que considera importante o senhor próprio cuidar da limpeza?

FREDRIK REINFELDT: Gosto de fazer, e além do mais é algo que todos fazem na Suécia, não apenas eu. Limpar a casa me dá a sensação de ter controle sobre a minha própria vida e de cuidar das crianças, o que me faz bem. É um momento relaxante, que procuro tornar agradável. Enquanto limpo, uso fones de ouvido para ouvir música ou acompanhar partidas do meu time de futebol, o Djurgården. A sensação de andar pela casa no fim de uma faxina, enquanto as crianças dormem tranquilamente, é fantástica.

Qual é a sua melhor dica de limpeza?

FREDRIK REINFELDT: A parte de trás das camisas sociais velhas é excelente para polir espelhos e vidros de janelas.

Qual é a sua tarefa preferida?

FREDRIK REINFELDT: Lavar a roupa. Antes, eu preferia limpar a casa. Hoje em dia, gosto mais de lavar as roupas. Isso me dá a sensação de estar preparado.

Muitas pessoas também o vêem na fila do supermercado.

FREDRIK REINFELDT: Faço minhas próprias compras, como qualquer pessoa. Embora acompanhado por seguranças.

Como fazer tudo isso e ao mesmo tempo liderar um país?

FREDRIK REINFELDT: As tarefas domésticas não tomam tanto tempo assim. Acho que é importante estar integrado à vida familiar, apesar de ter este tipo de trabalho na política. É uma questão de organização. Dedico uma pequena parte do meu dia aos afazeres da casa, e em seguida retorno à leitura de documentos ou aos telefonemas que necessito dar. É perfeitamente possível combinar o trabalho profissional com o trabalho doméstico.

Qual é a sua opinião sobre o sistema de países como o Brasil e outras nações, em que políticos possuem privilégios de uma classe à parte?

FREDRIK REINFELDT: Em primeiro lugar, é muito importante dizer que respeito o fato de que o Brasil é uma democracia e que portanto cabe àqueles que são eleitos pelo povo responder a este tipo de questão. Mas para dizer o óbvio, se eu fosse o ministro da Fazenda do Brasil e tivesse que fazer um corte de gastos, eu saberia exatamente por onde começar. Porque quando um político precisa cortar gastos, é muito importante mostrar que ele próprio dá o exemplo. No nosso país, as pessoas estão sempre atentas aos custos da burocracia e da classe política. É necessário que haja equilíbrio. Se um político quer manter a confiança dos eleitores, deve estar próximo das pessoas.

 

A TAÇA DO MUNDO DE ... ASSASSINATOS


"A taça do mundo é nossa, com o brasileiro não há quem possa. Êêêta esquadrão de ouro, é bom no samba, é bom no couro. ...". Pois é, essa frase era parte dos versos de uma canção gloriosa do futebol brasileiro de antigamente. Agora, restou-nos outra taça, a degradante e assustadora taxa de criminalidade, em busca da liderança no mundo. Como diz o artigo abaixo, os fundamentos sobre os quais são explicados os índices de violência, são suplantados por evidências inexplicáveis de per si, mas possíveis de serem compreendidos quando os diversos aspectos incidentes se cruzam e mostram a ineficiência da ação, não apenas governamental, mas, também, social, a nossa. 

Depreendo dessas evidências que carecemos do fundamento EDUCAÇÃO, como caminho para solucionar o problema. Mas, disto, estamos longe, pois vivemos eivados de demagogia e de falta de vontade dos nossos representantes no Governo e no Legislativo, não esquecendo que o Judiciário também tem sua culpa. 

Vale a pena a leitura do texto, mesmo sendo ele da revista Carta Capital, mas, neste caso, bem posicionada.

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Publicado em Domingo, 22 Junho 2014 14:08

 

A esquerda costuma associar violência e desigualdade. O fato de as Américas serem ao mesmo tempo o continente mais injusto e mais violento do planeta reforça essa impressão. A direita atribui os índices de criminalidade à falta de repressão e de investimentos em segurança. Pede mais polícia, mais presídios e aplaude quem defende a tese de "bandido bom é bandido morto". No Brasil, ex-policiais valentões são facilmente eleitos, pois ao menos 14% do eleitorado defende o olho por olho, dente por dente.

Sob qualquer ponto de vista, à esquerda ou à direita, o País tornou-se um paradoxo. Na última década e meia, houve sensível melhora das condições de vida. O desemprego caiu à metade, o salário subiu de forma constante, 36 milhões de cidadãos foram retirados da extrema pobreza. Ao mesmo tempo, a elevação dos gastos em segurança tem se mantido contínua há, no mínimo, 20 anos. Os estados investem em tecnologia, equipamentos, treinamento. A soma desses fatores deveria ter se refletido na queda dos índices de criminalidade. Não foi o que aconteceu. De forma resiliente, o Brasil registra, ano após ano, as maiores taxas de assassinatos em termos absolutos do mundo. Somos campeões de homicídios, título constrangedor para governantes, parlamentares, juizes, promotores, e causa do temor crescente dos cidadãos.

Em 2012, último dado disponível, o País registrou 56.337 assassinatos, segundo a prévia da versão 2014 do Mapa da Violência, divulgada em maio. A fonte do documento são as certidões de óbito emitidas pelo Sistema Único de Saúde, a mais confiável estatística disponível em território nacional. Isso representa uma morte a cada dez minutos. E uma taxa de 29 homicídios para cada 100 mil habitantes, indicador mais utilizado por especialistas para medir o grau de violência letal em uma nação, pois leva em conta o tamanho da população. Uma década atrás, o índice não era muito diferente: 28,5. De lá para cá, morreram assassinados 555.884 brasileiros, ou aproximadamente 50 mil por ano. Jamais, contudo, o País contabilizara cifra tão elevada quanto aquela de 2012. E o dado pode até estar subestimado. Um estudo recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que o volume de homicídios é maior e já teria ultrapassado a marca de 60 mil anuais. O aumento das mortes classificadas como "causa indeterminada", desconfia-se, seria na verdade um subterfúgio de autoridades estaduais para maquiar a realidade.

Co -autor do livro Violência Letal, Renda e Desigualdade no Brasil e coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Ignacio Cano sustenta existir uma relação direta entre pobreza, desigualdade e violência em áreas específicas - dentro de uma cidade, por exemplo - e grupos específicos (entre os 20% mais pobres, no caso brasileiro). Mas não em um ambiente mais complexo como um país. Daí a pequena relação vista até o momento entre a redução da pobreza e os indicadores de violência. Existiriam fatores externos à dinâmica econômica, entre eles a morosidade judicial, o excesso de armas de fogo disponíveis ou a tal noção conservadora do "bandido bom é bandido morto".

Uma iniciativa específica, sem relação com o quadro socioeconômico, causou ao menos um momento de queda consistente no índice de assassinatos nos últimos dez anos e aponta uma causa do problema. O Estatuto do Desarmamento, de dezembro de 2003, retirou revólveres e rifles de circulação ao incentivar os proprietários a entregar as armas às autoridades em troca de uma indenização que hoje chega a 300 reais. De lá para cá, foram recolhidas 650 mil unidades, grande parte no início da vigência da lei. Entre 2003 e 2004, a taxa de homicídios caiu de 28,9 por cem mil para 27. No ano seguinte, recuaria para 25,8. Depois, voltou a acelerar.

O mecanismo mais ousado do estatuto, a proibição da venda de armas, esbarrou em uma frente de setores conservadores da sociedade, responsáveis por uma poderosa campanha a favor do direito de se armar. Em um referendo realizado em 2005, como estava previsto na lei, 64% dos brasileiros reprovaram a proibição. Até hoje, comprar uma arma no Brasil é fácil. Na internet, é possível
encomendar um revólver calibre 38 por algo em torno de 1,1 mil reais e uma bala por 5 reais.

Matar com arma de fogo é bem típico das Américas. Em nenhum outro lugar assassina-se tanto dessa maneira. De cada três homicídios na região, dois resultam de disparos, conforme o Estudo Global Sobre Homicídios de 2013, divulgado em abril pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, o Unodc. O continente é o único onde as pistolas são a principal ferramenta dos homicidas. Nos demais, predominam objetos cortantes, facas e explosivos entre eles. A disponibilidade de armas é uma das razões para o continente ostentar o inglório título de área mais violenta do planeta. Dos 437 mil assassinatos em 2012 estimados pela ONU, 36% aconteceram em alguma nação americana, enquanto 31% foram na África, 28% naÁsia, 5% na Europa e 0,3% na Oceania. Dos 20 países com as mais altas taxas de homicídio, 15 ficam nas Américas.

A exemplo do Brasil, os assassinatos mantiveram-se elevados no continente mesmo durante um período no qual muitas nações, sobretudo sul--americanas e caribenhas, viram a pobreza e a desigualdade declinarem. Um caso extremo dessa situação é a Venezuela. A queda da desigualdade e da pobreza foi acentuada, a ponto de o país tornar-se o menos desigual na América Latina, segundo as Nações Unidas. O número de assassinatos disparou, porém. O país registra a segunda maior taxa relativa de homicídios do globo: 53,7 por 100 mil. A cifra só não é pior do que os espantosos 90 casos de Honduras. Em conseqüência, a violência esteve no centro da última eleição disputada por Hugo Chávez, em 2012. Presidente cujo governo comandou a distribuição de renda na Venezuela, Chávez sofreu na eleição os ataques do adversário direitista Henrique Capriles e sentiu-se obrigado a lançar às pressas um plano de segurança pública. Sem maiores efeitos.

Responsável pelo Mapa da Violência há mais de 30 anos e atual coordenador da área de Estudos sobre Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz avalia que o comportamento da taxa de homicídios na última década no Brasil revela uma boa e uma má notícia. A boa: o País reduziu o ritmo desse crime. Nos anos 1980, a taxa por 100 mil habitantes dobrou. Na década de 1990, subiu 20%. De 2002 a 2012, cresceu "apenas" 2,1%, embora entre 2011 e 2012 a situação tenha destoado e saltado 7%. O lado ruim da história é que a sangria foi contida em um patamar absurdo.

Vivemos uma situação que merece ser descrita como uma "epidemia de homicídios". Morreu mais gente assassinada no Brasil, diz Waiselfisz, do que em todas as principais guerras da década passada, incluídas as do Iraque e Afeganistão. O perfil médio das vítimas é dejovens entre 15 e 24 anos, negros, moradores da periferia e do sexo masculino, padrão mais ou menos tradicional. A novidade deu-se na geografia. Se nos anos 1980 e 1990 os casos concentravam-se nos grandes centros e nas capitais, na última década tomou conta de regiões menos desenvolvidas.

Em 2002, a lista dos cincos estados com as maiores taxas de homicídio era liderada e dominada pelo Sudeste: Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pernambuco, Rondônia e São Paulo, pela ordem. Após uma década, é liderada e dominada pelo Nordeste: Alagoas, Espírito Santo, Ceará, Bahia e Goiás. Entre as explicações para o fenômeno estão a interiorização do desenvolvimento da economia, o que atrai migrantes e dinheiro para cidades com um aparato de segurança pública mais débil, e o próprio combate da violência nos grandes centros, como Rio e São Paulo, o que forçou certa "fuga" de delitos rumo a outras regiões.

Em Alagoas, que assumiu a embaraçosa dianteira, com taxa (64,6 casos por 100 mil habitantes) bem superior àquela do segundo colocado (Espírito Santo, com 47,3), as autoridades consideram inegável o impacto da migração da criminalidade. "Há oito, dez anos, quase não havia tráfico de drogas por aqui. Hoje, 90% dos homicídios são causados pelo tráfico, o pessoal do Centro-Sul invadiu Alagoas", diz o secretário estadual de Segurança Pública, Diógenes Tenório.

A "invasão" de um dos estados mais pobres e dono de alguns dos piores indicadores sociais do País transformou sua capital, Maceió, na quinta cidade com mais assassinatos no mundo, tomando-se por base o estudo da ONU. A situação é tão grave que, desde 2012, a polícia local vale-se do apoio da Força Nacional de Segurança Pública no combate ao crime. Em 2013, o estado criou uma divisão policial especializada em homicídios para tentar melhorar as investigações e as possibilidades de punir os matadores.

A inoperância policial na averiguação de homicídios é um problema nacional e precisa ser atacada com urgência, na opinião dos estudiosos. E, diferentemente de outros serviços públicos como saúde e transporte coletivo, a causa não é orçamentária. Desde 2005, o Brasil investe perto de 1,3% do Produto Interno Bruto em segurança pública. É o mesmo porcentual aplicado pela França. Só no ano passado, foram 61 bilhões de reais, conforme o anuário estatístico do setor.

Para o Conselho Nacional do Ministério Público, o trabalho policial pouco qualificado dificulta o julgamento de suspeitos de assassinato. É necessário, diz Walter Agra, representante do CNMP na Estratégia Nacional de Segurança Pública, termais delegacias especializadas, laboratórios, perícia, inteligência, treinamento e integração entre as polícias. Sem provas, não dá para processar, o que gera uma sensação de impunidade a alimentar a disposição para matar. No Brasil, estima-se que o índice de elucidação de crimes varie de 5% a 8%, baixíssimo se comparado aos 65% dos Estados Unidos, para citar um caso. "O Ministério Público só tem o corpo e o atestado de óbito. Os inquéritos policiais são muito mal instruídos", diz Agra.

Subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da área de Segurança Pública do Rio de Janeiro, que em 2002 tinha a maior taxa estadual de homicídios e "perdeu" o posto na última década, Roberto Sá, nega que a baixa efetividade policial seja um convite ao crime de homicídio. A polícia, afirma, melhorou e está mais produtiva. Linha-dura, ele sente falta de rigor contra o crime. Defende a redução da maioridade penal para 16 anos e penas mais duras. Segundo Sá, enquanto o Rio cortava pela metade sua taxa de homicídios, por meio de iniciativas como as Unidades de Polícia Pacificadora e delegacia especializada, registraram-se uma elevada reincidência (os detidos costumam ser os mesmos) e o aumento da participação de adolescentes. "O que temos feito no Rio nos permite inferir que há uma legislação branda para um povo violento."

Os dados indicam uma grande responsabilidade dos policiais pela elevada taxa de homicídios. E não só por sua incompetência investigativa. No ano passado, a polícia matou cinco cidadãos por dia no Brasil, quatro vezes mais do que nos Estados Unidos e duas vezes e meia o índice registrado na Venezuela, segundo o anuário estatístico. "A polícia é parte do problema no Brasil. Matar cinco por dia é inaceitável", afirma a socióloga Julita Lemgruber, coordenadora do Centro de Estudos e Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes e ex-diretora do sistema penitenciário fluminense. Com uma polícia que mata, poucas opções de lazer nas periferias, educação que avançou em matrículas, mas não em qualidade, e uma postura de "guerra às drogas" por parte do aparato de segurança, diz Julita Lemgruber, não dá para esperar resultados muito animadores contra os homicídios, em que pesem iniciativas estaduais específicas.

Para tentar acabar com uma tácita licença para matar concedida a policiais, tramita no Congresso um projeto de lei para mudar o Código de Processo Penal. O código atual autoriza a polícia a usar a força e os meios necessários contra alguém pego em flagrante ou que teve a prisão ordenada pela Justiça, situações chamadas de "autos de resistência". O projeto em curso permite o uso "moderado"da força, designação que, subentende-se, exclui o uso de armas. E caso haja disparos a resultar em mortes, determina-se uma rigorosa análise do caso, com preservação da cena, perícia, coleta imediata de provas e abertura de inquérito. Apresentado por quatro deputados de partidos diferentes - Paulo Teixeira, do PT de São Paulo; Protógenes Queiroz, do PCdoB de São Paulo; Fabio Trad, do PMDB de Mato Grosso do Sul; e Miro Teixeira, do PROS do Rio -, enfrenta um poderoso lobby contrário. Partidos conservadores, inclusive da base governista, entre eles PR e PTB, e entidades ligadas a policiais, têm conseguido há um ano impedir a votação no plenário da Câmara.

No Senado, uma proposta do fim de 2013 também busca conter a violência policial, mas mexe na Constituição para promover uma verdadeira refundação da atividade no País. O texto propõe o fim da Polícia Militar, determina que a investigação de crimes seja conduzida do início ao fim por uma única força, e não de forma fatiada como acontece hoje, e cria ouvidorias em todas as polícias. Seguidas tais premissas, permite-se aos estados definir seus próprios modelos policiais, com base na realidade local, quebrando o modelo único existente hoje. O projeto é do senador Lindbergh Farias, do PT fluminense e candidato ao governo do estado, e foi idealizado pelo antropólogo Luiz Eduardo Soares, que esteve à frente das áreas se segurança pública do governo federal e do Rio de Janeiro.

Para além de mudanças pontuais na legislação, o combate aos homicídios carece, sobretudo, de uma radical alteração na postura por parte da sociedade e das autoridades. De um novo pacto civilizatório, afirma o sociólogo Renato Sérgio de Lima, da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas e um dos fundadores do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Segundo ele, no Brasil não há sanção moral, econômica ou judicial a assassinatos. A tese de que "bandido bom é bandido morto" encontra uma ressonância de Norte a Sul, balas e revólveres custam pouco, não se pega cadeia. "O Brasil é violento. A morte precisa ser um tabu." O País precisa urgentemente de um grande debate nacional e de prioridade no combate à violência e aos assassinatos, afirma Lima. Em todas as pesquisas de opinião, segurança pública e violência figuram entre os três principais problemas brasileiros, ao lado de saúde e educação. E, no entanto, um tema frequentemente evitado pelas principais lideranças políticas, pois os resultados nessa área são lentos e normalmente não rendem dividendos eleitorais. As eleições de outubro são uma boa oportunidade para o assunto ganhar espaço no debate público. Ele precisa, porém, permanecer na pauta nacional após o encerramento das urnas.

Disponível na web – Revista Carta Capital 22/06/2014

A MORTE É UM DIA QUE VALE A PENA VIVER

Eis um vídeo com assunto extremamente relevante e sobre o qual é difícil encontrar referências, pois o meio médico não costuma voltar a atenção para alguns detalhes importantes da existência humana, como esses conversados na exposição. São aspectos, frutos da observação atenta, dedicada e fraterna, portanto Humanista, de uma médica. 
 
 







O POLITICAMENTO CORRETO COMO FORMA DE CENSURA

A adoção do posicionamento POLITICAMENTE CORRETO vem sendo adotada pela esquerda mundial como forma sutil de dominação da sociedade, fazendo...