SINAL DE VIDA


Eis mais um artigo que revigora o pensamento e fortalece a crença nos fundamentos democráticos e republicanos. Eis, então, mais um artigo de Fernando Henrique Cardoso, o estadista de fato. Não acompanho apenas a trajetória dele desde quando Presidente ou, agora, como contraponto ao regime petista que nos governa. Acompanho-o e à sua obra desde a década de 70, quando li seu primeiro livro “A ESCRAVIDÃO NO BRASIL MERIDIONAL”, pelo qual faz uma análise do processo escravagista no Rio Grande do Sul, e outros livros e textos de cursos humanistas que frequentei.

Desde aquela época, nada mais do que temas acadêmicos, mas profundos e renovadores de ideias.

Agora, como ex-Presidente, vem marcando e definindo princípios filosóficos de cidadania, de política e de comportamento civilizado, necessário aos governantes e às instituições que nos governam.

Abaixo, pois, um belo texto para pensar.


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Sinal de vida

Fernando Henrique Cardoso

 

A condenação clara e indignada, por ministros do Supremo Tribunal Federal, do mau uso da máquina pública revigora a crença na democracia
Tenho dito e escrito que o Brasil construiu o arcabouço da democracia, mas falta dar-lhe conteúdo. A arquitetura é vistosa: independência entre os poderes, eleições regulares, alternância no poder, liberdade de imprensa e assim por diante. Falta, entretanto, o essencial: a alma democrática.
A pedra fundamental da cultura democrática, que é a crença e a efetividade de todos sermos iguais perante a lei, ainda está por se completar. Falta-nos o sentimento igualitário que dá fundamento moral à democracia. Esta não transforma de imediato os mais pobres em menos pobres. Mas deve assegurar a todos oportunidades básicas (educação, saúde, emprego) para que possam se beneficiar de melhores condições de vida. Nada de novo sob o sol, mas convém reafirmar.
Dizendo de outra maneira, há um déficit de cidadania entre nós. Nem as pessoas exigem seus direitos e cumprem suas obrigações, nem as instituições têm força para transformar em ato o que é princípio abstrato.
Ainda recentemente um ex-presidente disse sobre outro ex-presidente, em uma frase infeliz, que diante das contribuições que este teria prestado ao país não deveria estar sujeito às regras que se aplicam aos cidadãos comuns... O que é pior é que esta é a percepção da maioria do povo, nem poderia ser diferente, porque é a prática habitual.
Pois bem, parece que as coisas começam a mudar. Os debates travados no Supremo Tribunal Federal e as decisões tomadas até agora (não prejulgo resultados, nem é preciso para argumentar) indicam uma guinada nessa questão essencial. O veredicto valerá por si, mas valerá muito mais pela força de sua exemplaridade.
Condenem-se ou não os réus, o modo como a argumentação se está desenrolando é mais importante do que tudo. A repulsa aos desvios do bom cumprimento da gestão democrática expressada com veemência por Celso de Mello e com suavidade, mas igual vigor, por Ayres Britto e Cármen Lúcia, são páginas luminosas sobre o alcance do julgamento do que se chamou de “mensalão”.
Ele abrange um juízo não político-partidário, mas dos valores que mantêm viva a trama democrática. A condenação clara e indignada do mau uso da máquina pública revigora a crença na democracia. Assim como a independência de opinião dos juízes mostra o vigor de uma instituição em pleno funcionamento.
É esse, aliás, o significado mais importante do processo do mensalão. O Congresso levantou a questão com as CPIs, a Polícia Federal investigou, o Ministério Público controlou o inquérito e formulou as acusações, e o Supremo, depois de anos de dificultoso trabalho, está julgando.
sociedade estava tão desabituada e descrente de tais procedimentos quando eles atingem gente poderosa que seu julgamento — coisa banal nas democracias avançadas — transformou-se em atrativo de TV e do noticiário, quase paralisando o país em pleno período eleitoral. Sinal de vida. Alvíssaras!
Não é a única novidade. Também nas eleições municipais o eleitorado está mandando recados aos dirigentes políticos. Antes da campanha acreditava-se que o “fator Lula” propiciaria ao PT uma oportunidade única para massacrar os adversários. Confundia-se a avaliação positiva do ex-presidente e da atual com submissão do eleitor a tudo que “seu mestre” mandar.
É cedo para dizer que não foi assim, pois as urnas serão abertas esta noite. Mas, ao que tudo indica, o recado está dado: foi preciso que os líderes aos quais se atribuía a capacidade milagrosa de eleger um poste suassem a camisa para tentar colocar seu candidato no segundo turno em São Paulo. Até agora o candidato do PT não ultrapassou nas prévias os minguados 20%.
No Nordeste, onde o lulismo com as bolsas-família parecia inexpugnável, a oposição leva a melhor em várias capitais. São poucos os candidatos petistas competitivos. Sejam o PSDB, o DEM, o PPS, sejam legendas que formam parte “da base”, mas que se chocam nestas eleições com o PT, são os opositores eleitorais deste que estão a levar vantagem.
No mesmo andamento, em Belo Horizonte, sob as vestes do PSB (partido que cresce), e em Curitiba são os governadores e líderes peessedebistas, Aécio Neves e Beto Richa, que estão por trás dos candidatos à frente. Em um caso podem vencer no primeiro turno, noutro no segundo.
Não digo isso para cantar vitória antecipadamente, nem para defender as cores de um partido em particular, mas para chamar a atenção para o fato de que há algo de novo no ar. Se os partidos não perceberem as mudanças de sentimento dos cidadãos e não forem capazes de expressá-las, essa possível onda se desfará na praia.
O conformismo vigente até agora, que aceitava os desmandos e corrupções em troca de bem-estar, parece encontrar seus limites. Recordo-me de quando Ulysses Guimarães e João Pacheco Chaves me procuraram em 1974, na instituição de pesquisas onde eu trabalhava, o Cebrap, pedindo ajuda para a elaboração de um novo programa de campanha para o partido que se opunha ao autoritarismo.
Àquela altura, com a economia crescendo a 8% ao ano, com o governo trombeteando projetos de impacto e com a censura à mídia, pareceria descabido sonhar com vitória. Pois bem, das 22 cadeiras em disputa para o Senado, o MDB ganhou 17. Os líderes democráticos da época sintonizaram com um sentimento ainda difuso, mas já presente, de repulsa ao arbítrio.
Faz falta agora, mirando 2014, que os partidos que poderão eventualmente se beneficiar do sentimento contrário ao oportunismo corruptor prevalecente, especialmente PSDB e PSB, disponham-se cada um a seu modo ou aliando-se a sacudir a poeira que até agora embaçou o olhar de segmentos importantes da população brasileira.
Há uma enorme massa que recém alcançou os níveis iniciais da sociedade de consumo que pode ser atraída por valores novos. Por ora atuam como “radicais livres” flutuando entre o apoio a candidatos desligados dos partidos mais tradicionais e os candidatos daqueles dois partidos.
Quem quiser acelerar a renovação terá de mostrar que decência, democracia e bem-estar social podem novamente andar juntos. Para isso, mais importante do que palavras são atos e gestos. Há um grito parado no ar. É hora de dar-lhe consequência.


A MORTE DO NADA


Eis mais um belo e instigante texto de Marcelo Gleiser, expondo mais das ansiedades que cercam os mistérios, as dúvidas e os desencontros da ciência acerca do Universo. Ou, agora, do Multiverso, já que passam a existir teorias de que estamos num dos vários Universos existentes.
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 A morte do Nada, por MARCELO GLEISER

Desde o início, a filosofia pergunta se existe espaço vazio no Universo; agora, o Nada bateu as botas
É com grande pesar que vos informo da morte do Nada. Pois é, caro leitor, após mais de dois milênios de ambiguidades e confusões, parece que desta vez o Nada bateu mesmo as botas. São coisas que temos de aceitar em vista da evidência extremamente convincente vinda tanto da física das partículas elementares -que visa explicar a composição mais fundamental da matéria- como da astronomia. Comecemos com as partículas.
A questão da composição material do mundo é tão velha quanto a filosofia; foi Tales, o primeiro dos filósofos gregos, que perguntou: "Do que o mundo é feito?".
Desde então, a discussão girou em torno da questão do vazio ou, menos precisamente, do Nada: existe o espaço vazio, destituído de qualquer tipo de matéria ou substância? Ou será que algo o preenche, como o ar preenche nossa atmosfera?
Um tremendo vaivém se deu com o passar dos séculos, tema que volta e meia tratamos aqui neste espaço. Os atomistas gregos supuseram que existiam apenas átomos se movendo no vazio, enquanto que Aristóteles considerava a hipótese do vazio absurda: preencheu o Cosmo com uma quinta-essência, o éter que compunha os objetos celestes e, de forma difusa, enchia o espaço, tornando-o pleno.
Depois, veio Descartes com seus vórtices de uma substância fluida que enchia o universo, tese desmentida de forma muito lúcida por Newton no final do século 17. Atomista também ele, o mestre inglês provou claramente que, se alguma substância preenchesse o espaço, causaria fricção nas órbitas planetárias e o Sistema Solar não existiria como o vemos.
Veio, então, a luz como onda eletromagnética, no século 19, necessitando de um meio material para se propagar; o éter retorna, com essa função, até que, em 1905, Einstein demonstra sua inutilidade. Porém, em 1917, ele mesmo sugere que, se o Universo é esférico e estático, deveria ser preenchido por uma substância estranha, cuja função seria atuar como uma espécie de antigravidade, equilibrando a atração de todas as coisas. Mas o Universo não é estático e, em 1929, a tal constante cosmológica é deixada de lado. Provisoriamente.
No meio tempo, físicos de partículas descobriram os componentes básicos da matéria comum. Destes, o bóson de Higgs tem o papel singular de atribuir massa a todas as outras partículas. Para tal, encontra-se por todo o espaço uma espécie de ar que não é ar mas por onde todas as partículas de matéria se movem. E, ao fazê-lo, respondem à presença do Higgs com inércias próprias, como pérolas movendo ora em água ora em mel. O espaço, segundo a física do muito pequeno, não pode ser vazio.
E nem o Cosmo nas suas proporções maiores: em 1998, astrônomos descobriram que as galáxias se afastam de forma acelerada, levadas pela expansão cósmica como objetos numa enchente. A causa dessa aceleração, com efeito idêntico ao termo que Einstein inseriu e depois descartou nas equações de sua teoria da relatividade, é uma espécie de fluido preenchendo todo o espaço, primo do Higgs mas não ele, um outro tipo de éter, chamado provisoriamente de energia escura. Existimos numa natureza plena-plena de essências e mistérios.
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita". Facebook: goo.gl/93dHI

NO IMAGINÁRIO FEMININO O POLÍTICO É A ÚLTIMA ESCOLHA


Em princípio, ao ler o texto, situei-o no terreno das frivolidades e não dei importância a ele. Mas, pensando bem, vi que representava mais uma manifestação contra uma classe da sociedade que já foi importante e respeitada, mas que, hoje, está em decadência no conceito da população, externada até mesmo no terreno dessa pesquisa noticiada. Mas, e daí? Daí, que para quem conhece um pouco da História, e delimitando a análise ao tempo recente, lembra que até há algumas décadas o político era figura proeminente e respeitada nas comunidades e no âmbito nacional. No entanto, atualmente, esse elemento (termo  utilizado na linguagem policialesca) é objeto de boas comédias e charges (ou más, não sei!) que provocam o riso popular. Provocam o riso, mas é um riso trágico de quem percebe a degradação técnica, operacional e moral de um dos pilares que sustentam a República. Mas, o trágico não para por aí, pois a tragédia maior é que se a classe política está degenerada é culpa do eleitor, pois este é o patrão e o político é o empregado. Não somos bons gerentes, pois!

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Os efeitos do livro "50 Tons de Cinza" lembram profissionais da Advocacia Espaço Vital, 13/11/2012



Uma pesquisa realizada com os usuários italianos do C-date, saite mundial de relacionamento voltado para o "casual dating" ou "encontros casuais", mostra que sete em cada dez mulheres têm curiosidades e fantasias diferentes quando o tema é sexo. 


Segundo o C-date, esse comportamento tem um impacto significativo do livro "50 Tons de Cinza", que já alcançou 20 milhões de cópias vendidas nos Estados Unidos e Europa e que também alcançou as praias italianas. 
De fato, sob o guarda-sol da Itália, parece que as mulheres leem e falam basicamente sobre o que está no livro. A tabulação final da pesquisa conclui que "em se tratando de sexo há muitas coisas para fazer muito além de uma simples fantasia sobre o par masculino desejado". 

Ao todo foram entrevistadas 860 mulheres italianas entre 20 e 55 anos. Os resultados foram surpreendentes:
* No ranking sobre os homens com apelo sexual, as mulheres italianas preferem o banqueiro e um personal trainer como "parceiros casuais". Os políticos em geral deslizam para o último lugar. 
* As mulheres italianas que gostariam de vivenciar experiências inusitadas entre quatro paredes estão fortemente divididas. Menos da metade respondeu que o único homem com quem elas aceitariam realizar as "brincadeiras" seria o próprio marido ou namorado (46%), o que leva a acreditar que para esse tipo de experiência elas gostariam, em sua maioria, de realizar com um parceiro casual (54%). 

* Entre os perfis de homens que mais instigam a imaginação das mulheres ficou em primeiro lugar o "homem de poder" (33%) como os banqueiros - mais citados que os empresários (26%). Em terceiro lugar está o personal trainer (21%), seguido de profissionais liberais (advogados, 15%) e contadores (5%).
Outros profissionais também estão no imaginário feminino, embora, de acordo com a pesquisa, em menor grau, como o açougueiro, o encanador, o salva-vidas e - como visto acima - em último lugar o político.

CAMUS: a relação vocabulário X tempo


Eis um texto lúcido de Brossard acerca do clima de insegurança que vivenciamos no Brasil. A breve análise dele faz com que lembremos o comparativo de mortos pela violência pessoal, sem contar a de trânsito, no Brasil, anualmente. São dados que superam muitas guerras de muitos países. Embora ele defenda a tese que vivemos uma guerra civil, pelos argumentos que apresenta, eu compreendo ambas as definições, pois se estamos em um conflito aberto, também estamos numa sociedade doente de comportamento.

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Guerra civil ou epidemia, por PAULO BROSSAR DE SOUZA PINTO

(INSTITUTO MILLENIUM)


  
Pouco importa que lhe demos o nome de peste ou febre. O essencial é impedir a morte de metade da população

Se há um fato que entra pelos olhos de qualquer pessoa é o da violência generalizada e crescente; como se ela não bastasse, tem se agravado com requintes de crueldade; a morte não basta e a ela seguem-se mutilações várias nas vítimas, degola inclusive, para não falar em outras; os meios de comunicação dia a dia confirmam essa realidade.
Insisto em acentuar a coexistência de duas espécies de violência, a que vem de tempos imemoriais e a recente, originária ou consorciada ao fenômeno da droga e o que dela decorre, como a reação à ação policial. O número de policiais mortos e feridos não deixa dúvida a propósito das dimensões do problema, tanto que serviços federais vão colaborar com o Estado de São Paulo, não sei em que termos e de que forma, mas a União assumiu publicamente essa posição, e não terá sido por somenos. A verdade é que, nas últimas semanas, tem se agravado o problema em número e intensidade, como vem adquirindo marcas inegáveis da alteração de seu caráter; a meu sentir, a violência passou a ser instrumento de uma ação coletiva com particulares objetivos ilícitos. Em outras palavras, se a violência se expandia empiricamente, hoje se assemelha a uma entidade habilitada a atingir seus objetivos, fossem eles quais fossem. É o que vem ocorrendo à luz do sol, na maior cidade do país e no mais desenvolvido Estado da União, em termos ameaçadores. O número de policiais mortos e feridos fala por si; basta sinalar que os servidores do setor de segurança vêm sendo o alvo predileto da luta armada. Para mostrar que o comando em causa não está a brincar, em dias passados, à frente de sua casa, à tarde, foi morta uma policial que se recolhia, com numerosos balaços. É apenas um dado, mas um dado que resume o que está nas origens do fenômeno e em suas finalidades.
Há pessoas que não simpatizam e até têm repugnância à expressão “guerra civil”; a mim o fato repugna mais que a expressão, e o que está ocorrendo caracteriza o que se chama de “guerra civil”. São forças estranhas à nomenclatura estatal, com recursos próprios, que hostilizam serviços estatais fundamentais, levando à morte pessoas dedicadas à segurança pública, isto me faz lembrar uma passagem de Albert Camus, em A Peste, ao dizer que “a questão não é de vocabulário, mas de tempo. Pouco importa que lhe demos o nome de peste ou febre. O essencial é impedir a morte de metade da população”.
Por tudo que estou a ver, tenho o desgosto de reconhecer a ocorrência de uma forma da guerra civil, calamidade que Gaspar Silveira Martins disse, em texto histórico, ser o maior flagelo que pode cair sobre um povo.
Denomine-se de guerra civil ou se batize com o mais delicado eufemismo, pouco importa, se todas as noites policiais são abatidos no território do maior Estado da federação. A questão não é de vocabulário, é de brasileiros eliminados em sua própria casa.


O CONTEXTO DO TEMPO E NÓS

O tempo, ah, o tempo! Nada somos no contexto do tempo e nada deixaremos a não ser lembranças, também estas, morredouras. ___________________...