AÇÚCAR


Tive o olhar voltado para o problema do açúcar ainda em 1981, ao conhecer o livro “Sugar Blues”, pelo qual, sem exagero, o autor define o produto como veneno para o organismo humano. Para reforçar o escrito, a capa é ilustrada por uma caveira, significando a morte. Há trinta anos, pois, o tema não despertou interesse dos leitores, mas, hoje, em face da epidemia de obesidade e de outras doenças conseqüentes ou causadoras dela, a ciência começa a manifestar preocupação real com o tema.
Ano passado, no jornal Folha de São Paulo, tive a oportunidade de ler a entrevista que está abaixo e senti-me na obrigação de compartilhá-la. Afinal, o entrevistado não é nenhum lunático, pois tem formação no MIT e atua como professor de pediatria clínica, além de ser diretor do programa de avaliação do peso para a saúde de crianças e adolescentes na Universidade da Califórnia.
Sugiro, então a leitura a seguir e, também, a palestra que está no YOUTUBE, indicada no texto.

_________________________________________________________________

Açúcar causa dependência como álcool e cigarro
ENDOCRINOLOGISTA AMERICANO LANÇA POLÊMICA AO CULPAR O CONSUMO DE DOCES E ATÉ SUCOS PELA EPIDEMIA DE OBESIDADE

Entrevista com ROBERT LUSTIN feita por telefone pela jornalista PATRÍCIA CAMPOS MELLO, para o jornal Folha de São Paulo


Açúcar é veneno. Do mais natureba, o mascavo, até o suco de fruta ou o famigerado xarope de milho, o açúcar está por trás de doenças cardíacas, diabetes e câncer.
E deveria ser proibido para menores de 21 anos, como o álcool e o cigarro.
É com essas declarações polêmicas que o americano Robert Lustig, endocrinologista pediátrico da Universidade da Califórnia em San Francisco, ganhou fama internacional nos últimos anos.
Sua palestra "Açúcar: a verdade amarga" teve mais de 900 mil acessos no YouTube (tinyurl.com/ldgu9k). Há duas semanas, suas teses foram tema da reportagem de capa da revista do "New York Times". Abaixo, os principais trechos da entrevista que ele concedeu à Folha, por telefone.
 

Folha - O senhor defende que as pessoas eliminem totalmente o açúcar da dieta?
Robert Lustig - Não, eu não sou um "food nazi". Eu como açúcar, mas muito pouco.
Nosso corpo tem uma capacidade muito limitada para metabolizar o açúcar e nós vivemos muito acima dela. Não precisamos de frutose para viver. Nosso corpo ficaria muito bem sem nenhuma frutose [açúcar refinado, a sacarose é composta de 50% de frutose e 50% de glicose].

Qual é o máximo de frutose que deveríamos ingerir?
Não temos certeza. Mas uma estimativa é 50 g por dia. Meus estudos mostram as similaridades entre frutose e álcool. Eles são metabolizados da mesma forma, no fígado. E nós sabemos qual é o limite de toxicidade para o álcool: 50 g. A epidemia de obesidade começou quando o consumo de frutose ultrapassou os 50 g por dia [ou 100 g de açúcar, o mesmo que duas latas e meia de refrigerante].
A Associação Cardiológica Americana publicou uma orientação, em agosto de 2009, da qual eu sou coautor, dizendo que o consumo atual de açúcar nos EUA é de 22 colheres de chá por dia. Deveríamos reduzir isso para nove colheres no caso de homens e seis no caso de mulheres.

Qualquer açúcar é ruim, não importa se é mascavo ou xarope de milho?
Todos são igualmente ruins.

Deveríamos substitui-los por adoçantes artificiais?
Adoçantes artificiais são uma questão complicada. Não fizemos todos os testes para saber o que os adoçantes fazem no organismo.
Segundo uma linha de estudos, uma vez que a língua sente o sabor doce, o cérebro se prepara para a entrada do açúcar no sangue. Se ele não entra, o cérebro fica confuso, o que pode levar a um aumento no consumo de açúcar.
Há estudos ligando o consumo de adoçantes a obesidade e doença cardíaca.

Qual a alimentação que os pais devem dar a seus filhos?
Crianças devem comer comida de verdade.

Mas isso inclui suco de fruta natural...
Não, suco de fruta, mesmo natural, não é comida de verdade. Deus fez suco de fruta? Não. Deus fez fruta. Qual é a diferença entre a fruta e o suco? Fibras. A fibra é a parte boa da fruta, e o suco, a má.
Sempre que há frutose na natureza, há muita fibra ""há uma exceção, o mel, mas este é policiado pelas abelhas.
As fibras limitam a velocidade da absorção dos carboidratos e das gorduras do intestino para a corrente sanguínea. Quanto mais rápido a energia sai do intestino e vai para o fígado, maiores as chances de danificar o órgão.

Quando o senhor diz que crianças devem comer comida de verdade, isso inclui um sorvete no fim de semana?
Sim. Quando eu era pequeno, sobremesa era uma vez por semana. Hoje, é uma vez por refeição. Esse é o problema. Eu tenho duas filhas pequenas e é isso que faço. Se é dia de semana e elas querem sobremesa, ganham uma fruta. Uma bola de sorvete, só no fim de semana. Elas seguem as regras e não ficam sonhando com doces.

O senhor propõe que a venda de doces e refrigerantes seja proibida para menores, como cigarros e álcool.
Sim. Refrigerantes não têm valor nutritivo, não fazem nenhum bem às crianças. Se os pais quiserem que seus filhos tomem refrigerante, que comprem para eles.

Não é exagero comparar açúcar a álcool e cigarros?
Não. Cigarros e álcool causam dependência, e açúcar também. Nos refrigerantes, tanto a cafeína como o açúcar causam dependência. Sal e gordura causam hábito, mas não dependência.

Como o senhor explica os efeitos nocivos do açúcar?
Quatro alimentos foram associados à doença metabólica crônica: gorduras trans, aminoácidos de cadeia ramificada [soja], álcool e frutose.
A frutose, quando é metabolizada, libera substâncias tóxicas chamadas espécies reativas de oxigênio [radicais livres], que levam a danos nas células no longo prazo, envelhecimento e, potencialmente, câncer.

VERDADES SOBRE OS REFRIGERANTES


Na postagem anterior fiz referência a produtos que compõem os refrigerantes e cuja utilização estará obrigada à redução. Nesta, trago o texto abaixo, de boa origem, completando o sentido com tudo o que já sabemos desses produtos que denominamos refrigerantes. É bom mantermos preocupação com esses conteúdos químicos não conhecidos que compõem a base de alimentos e de bebidas que consumimos sem controle. Desta forma, estaremos prevenindo nossa saúde e  dos nossos descendentes.


 ________________________________

A verdade sobre os refrigerantes.


Um estudo de um professor brasileiro de Mato Grosso Universidade Federal revelou a verdade chocante sobre os efeitos de ter uma lata de uma bebida gaseificada. 
Saiba o que acontece dentro do seu corpo nos sessenta minutos depois de ingerir a sua bebida refrescante.
Primeiros 10 minutos:
10 colheres de chá de açúcar batem no seu corpo, ou 100% do recomendado diariamente. Você não vomita imediatamente pelo doce extremo, porque o ácido fosfórico corta o gosto.
20 minutos:
O nível de açúcar em seu sangue estoura, forçando um jorro de insulina. O fígado responde transformando todo o açúcar que recebe em gordura (é muito para este momento em particular).
40 minutos:
A absorção de cafeína está completa. Suas pupilas dilatam, a pressão sanguínea sobe, o fígado responde bombeando mais açúcar na corrente. Os receptores de adenosina no cérebro são bloqueados para evitar tonteiras.
45 minutos:
O corpo aumenta a produção de dopamina, estimulando os centros de prazer do corpo. (Fisicamente, funciona como com a heroína..)
50 minutos:
O ácido fosfórico empurra cálcio, magnésio e zinco para o intestino grosso, aumentando o metabolismo. As altas doses de açúcar e outros adoçantes aumentam a excreção de cálcio na urina, ou seja, está urinando seus ossos, uma das causas das OSTEOPOROSE.
60 minutos:
As propriedades diuréticas da cafeína entram em ação. Você urina. Agora é garantido que porá para fora cálcio, magnésio e zinco, os quais seus ossos precisariam. Conforme a onda abaixa você sofrerá um choque de açúcar.Ficará irritadiço. Você já terá posto para fora tudo que estava no refrigerante, mas não sem antes ter posto para fora, junto, coisas das quais farão falta ao seu organismo.

Pense nisso antes de beber refrigerantes. Se não puder evitá-los modere ao máximo sua ingestão. Prefira sucos naturais.
Dr. Carlos Alexandre Fett, Escola de Educação Física da UFMT, Mestrado em Nutrição UFMT, Laboratório de Aptidão Física e Metabolismo

INTERESSE, PRIMEIRO. SAÚDE, DEPOIS.


Vêm sendo noticiado que ocorrem preocupações com alguns componentes de alimentos, tanto por parte dos consumidores, quanto dos órgãos responsáveis pelo assunto do governo. Agora, o que preocupa, e também irrita, é saber que por tantos anos ficamos sujeitos ao problema sem que ninguém tomasse providências. Pior do que isso é saber que o produto é maléfico às pessoas e, ainda assim, é autorizado o seu uso, mesmo que o seja em quantidades menores. Como sabemos que as crianças, por estarem ainda em formação, são mais sujeitas às implicações cancerígenas, é assustador identificarmos que é o universo infantil o maior consumidor de  refrigerantes, como se estivéssemos preparando gerações futuras para o terem o mal.
Para exemplificar, exponho abaixo notícia da imprensa nacional, exposta ano passado.
________________________________________

Fabricantes vão reduzir nível de benzeno nas principais marcas de refrigerante

Carolina Pimentel, da Agência Brasil 
05/11/2011 

As principais marcas de refrigerante light ou diet cítrico terão menos benzeno nos próximos anos, substância que pode provocar câncer. Responsáveis por quase 90% do mercado brasileiro, as empresas Coca-Cola, Schincariol e Ambev comprometeram-se a reduzir a quantidade de benzeno em suas bebidas ao máximo de 5 ppb (partes por bilhão) ou 5 microgramas por litro, o mesmo parâmetro usado para a água potável.

A meta foi acertada com o Ministério Público Federal (MPF) em Minas Gerais, deve ser atingida até 2017 e vale para todo o país. O acordo chega dois anos depois que a Associação de Consumidores Proteste apontou alta concentração de benzeno em refrigerantes de diferentes marcas.

Em 2009, a associação analisou 24 amostras de diversos refrigerantes e detectou a presença de benzeno em sete delas. Em duas amostras de bebidas cítricas – Fanta Laranja Light (da Coca-Cola) e Sukita Zero (Ambev) - o nível foi superior ao considerado tolerável para o consumo humano. Depois da pesquisa, o MPF começou a investigar o caso.

Nos refrigerantes, o benzeno surge da mistura do ácido benzóico com a vitamina C. Nos refrigerantes normais, esse processo não ocorre por causa do açúcar, que inibe a reação química.

Estudos de mais de três décadas atrás apontam que a exposição ao benzeno eleva o potencial de câncer e doenças no sangue. “Ele é tóxico e causador de leucemia e outros tumores, dependendo da quantidade e do tempo de exposição”, disse o presidente da Associação Brasileira de Hemoterapia e Hematologia (ABHH), Cármino de Souza.

A maioria das pesquisas avaliou públicos específicos, como trabalhadores dos setores petroquímico e de siderurgia que lidam diretamente com a substância. O médico explicou que ainda há pouca informação sobre os efeitos do benzeno na saúde da população em geral, mas advertiu que a menor  exposição ao agente químico diminui as chances de doenças sanguíneas. “Temos contato com benzeno diariamente. O ideal é zero, o mínimo possível”.

O benzeno está presente na fumaça do cigarro e dos carros. É também usado na fabricação de plásticos, borrachas e detergentes.

Para o procurador da República Fernando Martins, que conduziu as negociações, o acordo com a indústria foi a saída mais rápida para garantir a proteção da saúde dos consumidores. Segundo ele, se o caso fosse parar nos tribunais, poderia se arrastar por anos sem solução. “É uma questão que fica resolvida”, disse.

O prazo de cinco anos, conforme Martins, serve para as empresas adaptarem o processo de produção, com o foco na redução do benzeno. Quem descumprir o compromisso, terá de pagar multa ou sofrer outras penalidades.

Em nota, a Ambev informou que já adota o limite da água potável em seus produtos. "A Ambev reforça que trabalha sob os mais rígidos padrões de qualidade, em total atendimento à legislação brasileira e que seus produtos estão de acordo com o parâmetro adotado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), inclusive para a água potável”.

A Schincariol informou que vai continuar cumprindo as exigências das autoridades.  “A Schincariol assumiu o compromisso junto ao Ministério Público Federal na assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e, portanto, continuará atendendo normalmente às premissas exigidas pelas autoridades”, diz a nota da empresa.

Na página da Coca-Cola na internet, a empresa informa que a presença de benzeno em bebidas não é ameaça significativa à saúde. Segundo a fabricante, órgãos internacionais reguladores da alimentação, como dos Estados Unidos e da União Europeia, apontam o ar como a principal forma de exposição do  homem ao benzeno por causa da fumaça e queima de combustível dos carros nas cidades. “Alimentos e bebidas são responsáveis por menos de 5% da exposição total do ser humano ao benzeno”, conforme informações publicadas no site da Coca-Cola no Brasil.

As empresas argumentam também que traços da substância nos produtos estão relacionados à quantidade de benzeno pré-existente na água.

No Brasil, não existe limite de benzeno para os refrigerantes. A legislação sanitária prevê valor somente para a água potável, de 5 ppb (partes por bilhão), igual ao adotado pelos Estados Unidos. De acordo com a associação Proteste, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece em até 10 ppb a quantidade de benzeno para a água. Na União Europeia, é 1 ppb.

HIDRELÉTRICAS, ENERGIA LIMPA? (II)



Retorno ao tema que postei em setembro de 2011, por meio de artigo que questiona o mito de que hidrelétricas geram energia limpa. Não são conhecidos estudos dos defensores desse método que avaliem os aspectos das perdas, dos impactos e das agressões ambientais com a formação de um reservatório de per si. Pior ainda se os avaliarmos no seu todo, com esses mesmos aspectos negativos, agora amplificados pela ruptura da estabilidade geográfica, dos biomas e das somas dos acréscimos que cada empreendimento causa no todo do ambiente. 
Trago, então, o texto abaixo, publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos.
______________________________________


Além do mito das barragens como “energia limpa”

Atualmente, existe uma tendência de aceleração da construção de grandes barragens para projetos hidrelétricos, especialmente nos chamados países em desenvolvimento da América Latina, sudeste da Ásia e África. No caso do Brasil, a polêmica usina de Belo Monte é apenas a ponta do iceberg na Amazônia, principal frente de expansão da indústria barrageira, onde o governo Dilma pretende promover a construção de mais de sessenta grandes barragens (UHEs) e mais de 170 hidrelétricas menores (PCHs) nos próximos anos.

A reportagem é 
Brent Millikan, da International Rivers e reproduzido pelo sítio Cúpula dos Povos, 05-06-2012.

No Brasil, o forte viés da construção de novas hidrelétricas na região amazônica, em detrimento de outras opções de investimento, como a eficiência energética  (na geração, transmissão e usos industriais, comerciais e domésticos de energia elétrica) e fontes renováveis (eólica, solar, biomassa) reflete a persistência do planejamento centralizado dentro do Ministério de Minas e Energia, como demonstra a falta de nomeação de representantes da sociedade civil e da universidade brasileira no Conselho Nacional de Política Energética (
CNPE), contrariando o Decreto número 5.793 de 29 de maio de 2006.  Alem disso, reflete a proximidade – ou, como dizem alguns, as “relações promíscuas” – entre o setor elétrico do governo comandado pelo grupo Sarney (PMDB), e grandes empreiteiras que se classificam entre os primeiros lugares do ranking de grandes doadores para campanhas eleitorais da base governista.

Uma tendência crescente é a caracterização de hidrelétricas por seus protagonistas como fonte de “energia limpa” para mitigar mudanças climáticas globais e estimular o chamado “crescimento econômico sustentável”. Essas tentativas de “esverdeamento” de hidrelétricas  ignoram uma série de graves consequências sociais e ambientais.  O represamento de rios, especialmente nos trópicos de baixa altitude, interrompe fluxos ambientais como inundações sazonais das zonas úmidas, provocando perdas significativas de habitats e da biodiversidade (incluindo espécies endêmicas e ameaçadas). As consequências da construção de barragens para populações indígenas e outras comunidades locais incluem o deslocamento compulsório, a intensificação de conflitos pela terra, a perda de recursos pesqueiros, a perda de agricultura de várzea, diminuição da qualidade e da quantidade da água, aumentos de doenças de veiculação hídrica (como a malária), a poluição por mercúrio, a interrupção do transporte de pequenas embarcações, a desintegração das comunidades e a perda de sítios de insubstituível valor cultural, religioso e histórico.

As consequências desastrosas

Em contraste com a propaganda de hidrelétricas como “energia limpa”, as barragens nos trópicos tipicamente envolvem significativas emissões de metano e gás carbônico (CO2) a partir de reservatórios e vertedouros, enquanto o desmatamento e as queimadas – associados à migração e especulação de terras estimulada pela construção de barragens – contribuem ainda mais para a sua ‘pegada de carbono’.

A lógica de maximização do lucro na indústria de barragens tem sido associada à  capacidade de seus protagonistas de essencialmente privatizar rios (apesar do seu status legal como bens públicos) e externalizar custos sociais e ambientais.  A tripla aliança da indústria barrageira, conforme descrito acima, tem conseguido empregar táticas como a subordinação de agências governamentais responsáveis pelo licenciamento ambiental, a falta de processos de consulta livre, prévia e informada junto os povos indígenas (contrariando o artigo 231 da Constituição Federal e acordos intenacionais, como a Convenção 169 da 
OIT) e a intervenção no judiciário para inviabilizar ações civis públicas ajuizadas pelo Ministério Público e entidades da sociedade civil sobre graves violações dos direitos humanos e da legislação ambiental.

Outro grande atrativo econômico para a indústria de barragens tem sido os mega-empréstimos subsidiados do
BNDES, assim como a facilidade de acesso a fundos de pensão de estatais – Petros, FUNCEF Previ – e outros incentivos fiscais.  Nesse contexto, destaca-se a ausência, por parte do  BNDES e de outros financiadores, de prioridades estratégicas salvaguardas socio-ambientais capazes de evitar o financiamento de projetos como Belo Monte, associadas a mecanismos de transparência e responsabilização perante a sociedade brasileira.

A caracterização de hidrelétricas como “energia limpa”, reforçada por meio de campanhas publicitárias caríssimas, tem uma dupla finalidade: por um lado, facilitar o acesso a créditos de carbono e outros incentivos econômicos, e por outro, confundir a opinião pública, como contraponto às críticas sobre conseqüências sociais e ambientais de barragens destrutivas, incluindo violações dos direitos humanos, com insinuações sobre a falta de legitimidade de movimentos de atingidos e outros críticos.

Barragens e Rio+20

Nos preparativos para a
 Rio+20, houve praticamente nenhuma discussão sobre a pegada social e ambiental dos projetos de barragens existentes e as possíveis implicações de uma onda sem precedentes de construção de barragens em todo o mundo.  Ademais, a caracterização de barragens como “energia limpa” para uma economia verde que parece fazer parte de uma tendência para “soluções de mercado” definido pelos interesses dos principais atores do setor privado, onde a relevância dos direitos humanos, políticas públicas e das instituições democráticas tem sido cada vez mais menosprezada.

Sem dúvida, reverter esse quadro e democratizar o debate sobre barragens e a política energética, sob uma ótica de justiça ambiental e da convicção de que outro modelo de desenvolvimento que ainda é possível, merece destaque na atuação da sociedade civil na Rio+20.

A ESPIRITUALIDADE COMO BASE DA HARMONIA


O texto a seguir induz a pensar sobre aspectos da vida, enfatizando que a força interior  e o domínio das paixões são a solução para vivermos em harmonia humana, a partir do entendimento dos defeitos do outro, sem tentar modificá-lo, num processo empático permanente.
Coloco o texto à leitura, por pensar ser o conteúdo extremamente engrandecedor das relações e útil para construirmos um mundo harmonioso.
____________
A COMPREENSÃO ESPIRITUAL DOS RELACIONAMENTOS
Entenda questões relacionadas aos desafios de um relacionamento e saiba como viver melhor mediante aos desafios naturais que surgem.
Precisamos ter muito cuidado ao desenvolver este tema, de preferência fazendo uma reflexão sincera sobre todos os aspectos envolvidos, porque facilmente quando os conflitos surgem, uma ou as duas partes, costumam encontrar culpados sem antes analisar que sempre somos os responsáveis, tanto pelo sucesso quanto pelo fracasso de uma relação conjugal.
Basicamente, do ponto de vista da nossa missão na existência humana, temos três missões a serem realizadas:
1-   Purificar nossas inferioridades: curar o medo, a raiva, o pessimismo, a ansiedade, a tendência de se isolar, a tendência de se magoar, a tendência de se deprimir, a tendência da agressividade, entre tantas outras emoções negativas.
2-   Nos harmonizar com espíritos conflitantes: está nas relações um dos nossos maiores desafios. Conquistar harmonia, perdoar, aceitar, tolerar, desenvolver a paciência e o amor incondicional são os maiores desafios que surgem nos relacionamentos, portanto se configura uma importante meta a ser alcançada.
3-   Gerar bons exemplos: é de se esperar que uma pessoa que esteja sintonizada com o seu Eu superior e a sua essência, que tenha naturalmente a tendência de construir atitudes que ajudam ao próximo, das mais diversas formas.  As atitudes de doação - em diversos aspectos da existência - e da compaixão, surgem como consequência natural nas pessoas sintonizadas com suas essências.
HARMONIZAR OU CURAR AS RELAÇÕES É UMA DAS PRINCIPAIS MISSÕES DA HUMANIDADE.  
Em uma relação, encontramos nossas maiores afinidades, bem como nossos maiores desafios. Em uma mesma pessoa conseguimos encontrar aspectos de total afinidade e também de falta de afinidade, portanto, as pessoas, ou melhor, as relações sempre promovem grandes aprendizados e quando não os entendemos e não evoluímos, sofremos.
Nessa visão com foco evolutivo, entendemos que a pessoa a qual nos relacionamos é a “perfeita” no contexto da reforma íntima, pois ela reúne as condições de aflorar em nós – digo aflorar porque os aspectos já existem presentes na nossa personalidade – os melhores e os piores sentimentos. E é aí que está um dos grandes desafios: entender que as pessoas as quais nos relacionamos, são nossas professoras, pois facilmente conseguem – através de suas atitudes – aflorar ou revelar as nossas inferioridades, e por isso nos alertam para aquilo que viemos efetivamente curar nesTa existência.
TEMOS A TENDÊNCIA DE ACHAR CULPADOS
É muito comum encontrarmos pessoas que colocam a culpa dos conflitos e das crises conjugais na outra pessoa. Também é comum ver que em diversas situações, muitos elegem um obsessor ou uma influência espiritual maligna, como responsável pelo problema. Por isso, antes de adentrarmos a questão da obsessão espiritual nas relações matrimoniais, precisamos entender que na busca da harmonia, são atitudes simples que fazem toda a diferença. Elas se resumem em compreender que atraímos parceiros que tenham a capacidade de aflorar nossas afinidades, mas também nossas inferioridades.

EM TODO TIPO DE RELAÇÃO QUEREMOS MODELAR AS PESSOAS!
Infelizmente a falta de paciência, a intolerância, a presunção, a arrogância e o controle são características negativas presentes na maioria das pessoas que vivem neste planeta. Talvez pudéssemos excluir não mais do que umas cem pessoas em todo o globo as quais estão isentas dessas atitudes negativas. Portanto, essa é uma realidade presente na história das pessoas que vivem uma vida conhecida como normal, e mesmo que queiramos negar, basicamente, todos somos intolerantes!
Onde isso repercute mais em nossas vidas?
Em diversas áreas da nossa existência, mas principalmente nos relacionamentos.
Tudo o que criticamos em uma pessoa acontece pela falta de tolerância, falta de amor ou compaixão. Queremos - em cem por cento dos casos - que a pessoa se comporte como nós achamos que ela deve se comportar.  E o pior, costumamos gostar mais de alguém, no sentido da afinidade mesmo, quando este se age de forma mais parecida com aquilo que nós consideramos certo.
Não dá para negar que as afinidades surgem naturalmente nas nossas vidas, e também não quero dizer que essas sintonias saudáveis entre pessoas não sejam importantes. Claro que são! Apenas quero lembrar que não costumamos nos relacionar com maior proximidade ou intimidade, com pessoas que não se comportam como achamos que elas devem se comportar. E de novo, não me refiro a conduta moral, ética e valores, porque é claro que esses aspectos precisam ser sempre ponderados nos relacionamentos que temos em todos os níveis. Não vou escolher um estelionatário para sócio, sabendo que o passado dele é envolvido por atitudes criminosas ou no mínimo suspeitas. Também teremos dificuldade de confiar em alguém que já agiu de modo errado em outra circunstância. Então devemos sim escolher relacionamentos que estejam na mesma sintonia de valores e código moral, mas as emoções... Essas nos enganam.
Tudo que buscamos externamente traduz o que sentimos internamente. Estamos o tempo todo buscando conforto, buscando “acomodar” as nossas emoções da melhor maneira dentro de nós mesmos. Procuramos o conforto em todos os sentidos o que é natural já que queremos nos sentir bem. É aí que um grande erro começa, pois sem querer, ou sem perceber, e pior ainda, sem ter o mínimo direito, começamos a modelar pessoas! 
Modelamos as pessoas controlando os relacionamentos em todos os níveis, fazendo de tudo para que elas se comportem da forma como mais nos conforta!
E quando elas começam a ter novas ideias, novos caminhos, novos conceitos – porque todo mundo muda – e essa mudança não necessariamente nos agradar, nesse momento o nosso relacionamento com elas começa a se complicar. Complicar porque começamos a querer que a pessoa aja de outra forma, que certamente não será a que ela acha correta, mas a que nós entendermos ser! 
Nesse caminho, vamos ficando críticos, controladores, intolerantes, ardilosos, impiedosos, em resumo, nos tornamos modeladores de pessoas!
Esse não é um bom caminho! Definitivamente não é!  E quando isso acontece, estamos abrindo as portas para que todo o mal venha ampliar os conflitos dessa relação, até mesmo obsessões espirituais. Mas mesmo assim, será que temos o direito de dizer que a causa do conflito e da possível separação seja realmente a ação maligna de um ou mais espíritos?
E qual a solução para isso? Como contornar tais situações tão comuns?
Aprendendo a aceitar as pessoas como elas são. Mantendo a liberdade nas relações, cultivando o respeito pelas vontades alheias e entendendo principalmente que ninguém, ninguém mesmo é responsável pela sua felicidade. Da mesma forma, jamais aceite o peso da responsabilidade de fazer alguém feliz.
Quando o comportamento de alguém lhe fizer mal, não tente mudar a pessoa, esse é o pior caminho, mais sofrido, mais tortuoso, mais custoso, mais escuro.  Nessas situações de divergências olhe para dentro de você e perceba quais são as emoções que surgem com a situação. Veja se é o ciúmes, o medo de perder, a necessidade de aprovação, a ansiedade ou o pessimismo. Seja qual for a emoção negativa, preste atenção nela e não dê tanto foco naquelas atitudes alheias que você julga equivocada. Em especial não culpe a outra pessoa.
Dando atenção ao seu Eu interior você perceberá que sempre busca relações que lhe tragam conforto emocional de acordo com suas crenças, e que sempre que esse seu (e unicamente seu) código emocional interno for quebrado por atitudes alheias julgadas por você como destoantes, então as mágoas, os conflitos e as confusões começarão.  Uma vez que você parar de procurar relações com o objetivo de confortar as suas emoções internas, mas principalmente com a ideia de conviver bem com o mundo, encontrando plenitude e bem viver, você perceberá uma mudança drástica na qualidade de seus relacionamentos.
Não seja um modelador de pessoas, seja um modelador de emoções negativas em positivas, porque esse é o segredo para estabelecer relações pautadas no amor e consequentemente na verdade, ou melhor dizendo: a verdade que liberta!
A OBSESSÃO ESPIRITUAL É ATRAÍDA PELO CASAL
Por afinidade, por sintonia e principalmente por negligenciar a importância da disciplina espiritual constante, com muita facilidade um relacionamento pode ser afetado espiritualmente por obsessores os quais venham estimular mais conflitos, discórdia e desamor entre as partes.
Alguns espíritos podem vir por conta de ligações negativas de vidas passadas, outros podem ser atraídos pelo padrão de pensamentos perturbados do casal ou apenas de um dos cônjuges. Nessas situações em que há influência de um ou mais espíritos obsessores na relação, esses seres conseguem facilmente estimular que as inferioridades do casal sejam evidenciadas e com isso o hábito da crítica se expande descontroladamente.
Já outros obsessores podem ser espíritos sofredores que quase não tem consciência de que estão atrapalhando. Alguns nem percebem que já desencarnaram. Eles são nocivos, pois afetam negativamente o ambiente e a relação, mas em um nível menos intenso do que o de espíritos conscientes e especializados.
E na obsessão em que existem espíritos conscientes e habilidosos na prática do mal, esses facilmente detectam – em uma leitura de alma muito rápida – os pontos de conflito na personalidade de cada um, e assim os exploram com muita perícia, ampliando a intensidade dos conflitos. Como exemplo: o ciúme.  Um ciumento pode ser facilmente manipulado por um obsessor habilidoso e ser completamente dominado pela emoção negativa.
Normalmente esses obsessores mais especializados são atraídos para a vida de um casal por conta de laços de vidas passadas ou também por trabalhos de magia negra encomendados por algum terceiro interessado nesse mal.
Mas a regra que vale para toda situação de obsessão é que essas influências espirituais perniciosas entram sempre por uma fenda, que sempre é gerada por uma falha moral, seja mental ou emocional. Portanto, não existem vítimas, apenas ocorre a reação com base nas ações de cada um individualmente.
Nunca coloque a culpa dos conflitos no obsessor, tampouco em alguém que possa ter encomendado a magia negra, pois saiba que é, foi e sempre será um problema que o casal ajudou a criar.
Antes de chorar, de se separar, de colocar a culpa no outro ou sofrer em vão, pare tudo, mude sua conduta de vida, reforme-se, pois quando a obsessão espiritual acontece, ela indica uma grande falha nos valores. Tudo isso é um sinal do universo que diz que o casal precisa evoluir, em especial, pensar de forma diferente, com outros valores e objetivos. Em especial, grande parte das influências espirituais negativas poderiam ser evitadas, se o casal tivesse como hábito e rotina, a busca constante pela espiritualidade e a prática da oração, que nesses casos atua como uma higienizadora espiritual dos ambientes e das pessoas.
Nem sempre um relacionamento em crise deve ser mantido a todo custo, muitas vezes uma separação é a saída mais sensata para a busca da harmonia e do aprendizado. Também um simples desentendimento não pode ser considerado um bom motivo para uma ruptura. A arte de construir e manter um relacionamento em harmonia acontece na mesma proporção em que se dedica amor, admiração e tolerância. Por isso, para ser feliz, ambos precisam desenvolver sabedoria, paciência para assimilar em silêncio e com resignação, crises temporárias da outra pessoa.
Em uma relação construída e mantida pelo amor, pela tolerância e pelo respeito, a semente da obsessão espiritual nunca germinará.

COMO CURAR UM RELACIONAMENTO?
É compreensível entendermos que quando não estamos felizes com a outra parte, tenhamos o costume de nos lamentar e até desabafar para as pessoas mais próximas o quanto estamos desconfortáveis com uma determinada situação. Esse comportamento revela o que podemos dizer como sendo o hábito da maioria das pessoas que passam por tais ocorrências. Contudo, precisamos definitivamente explicar que esse talvez seja o pior entre todos os erros. Pior ainda que o próprio conflito e as desavenças em si são as críticas e as lamentações que envolvem o relacionamento, porque quando estamos agindo assim, estamos reforçando nosso ponto de atração* naquela sintonia de conflitos e críticas, e, por conta da lei da atração**, acabamos atraindo mais situações as quais vamos nos sentir mal, reforçaremos o comportamento negativo da pessoa a qual estamos criticando, além de que afetaremos negativamente o campo espiritual do casal.
O foco dos seus pensamentos e sentimentos sempre se expandirá. Aquilo que você pensa  e sente estão sempre relacionados a aquilo que você atrai para a sua vida, portanto quando você reclama de algo que vai errado na relação, você está contribuindo maciçamente para a sua ruína. O segredo para mudar isso tudo?
Amor, admiração e valorização dos aspectos positivos da outra pessoa...
É fácil? Não.
É possível? Sim.
Funciona mesmo? Faz um milagre...
A dica é simples. Entre centenas de aspectos negativos que você facilmente encontrou na pessoa a qual vem enfrentando uma série de conflitos, encontre os seus aspectos positivos. Escolha alguns comportamentos que são exemplares naquela pessoa.  Pode ser que você tenha realmente que fazer um grande esforço para encontrar qualidades, mas valerá à pena.
Anote essas qualidades em um papel e guarde com você. Todas as vezes que surgir uma vontade grande de criticá-la ou de magoar-se com alguma atitude dela, lembre-se do papel e leia as suas principais qualidades. Nos primeiros dias o esforço será grande, mas logo em seguida os resultados virão.  Mantenha a disciplina de jamais criticá-la e sempre que essa vontade incontrolável surgir, lembre-se do papel e leia as qualidades daquela pessoa.
Depois de alguns dias fazendo essa prática, tanto você quanto essa pessoa, passarão por mudanças incríveis e rapidamente um milagre acontecerá em suas vidas.
A força da admiração, do respeito e do amor pelo comportamento de uma pessoa, favorece que ela continue a expressar mais e mais aquela qualidade positiva. Além disso, com o seu ponto de atração sintonizado no amor e na admiração, o que você acha que atrairá para a sua vida?
Obviamente mais amor e mais admiração!
Não critique, modifique.  Treine a sua capacidade de perceber os aspectos positivos das pessoas. Concentre-se neles sempre que os conflitos surgirem. Esse é o segredo do sucesso nos relacionamentos e assim você também conseguirá curar qualquer conflito, porque nada que seja negativo consegue resistir ao poder do amor!

 *Seu ponto de atração é o seu estado de espírito ou sua vibração pessoal. A atenção a esse aspecto é amplamente estudada e esclarecida no livro O Criador da Realidade – A Vida dos seus sonhos é possível (Luz da Serra Editora – 2ª Edição) em que Bruno J. Gimenes é coautor.
** Você atrai e manifesta em sua vida a essência dos seus pensamentos e sentimentos. O que você pensa e o que você sente sempre atrairão situações de mesma semelhança na sua realidade material.

 Por Bruno J. Gimenes – Escritor autor de 9 livros, entre eles, Fitoenergética, Sintonia de Luz e Ativações Espirituais. Professor Palestrante – Criador da Fitoenergética e Co-fundador do Luz da Serra www.luzdaserra.com.br . http://brunojgimenes.com.br

A HORA DA VERDADE


Coloco à leitura um belo texto, para proveitosas reflexões, se estas ainda forem necessárias, em face do descalabro nacional. O momento é de clarificar os atos das pessoas públicas, sejam elas políticas ou julgadoras.

_______________

A Espada e a faca

Almir Pazzianotto Pinto, advogado, foi ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho.

"Não há pecado abaixo da linha do Equador"
Caspar Barleus (1584-1648)

Dicionários da língua portuguesa relacionam, como sinônimos do vocábulo corrupto, podre, estragado, deteriorado, corrompido, infeccionado, empestado, inquinado, adulterado, putrefato, errado, vicioso, viciado, devasso, desmoralizado, depravado, pervertido.
Ainda que maior número de expressões houvesse, seriam incapazes de traduzir o grau de putrefação que contamina a vida nacional, na triste confirmação da contundente frase do historiador batavo. É lamentável, mas não há como ignorar que, não obstante certa dose de podridão seja constante nas páginas da humanidade, nunca antes (neste País...) havia alcançado a plenitude a que foi levada entre nós. É como se, de tempos em tempos, a criminalidade ganhasse forças, para testar a eficácia da polícia, do Ministério Público, do Poder Judiciário.
Oito séculos antes de Cristo, o profeta se lamentava: "No país inteiro não há uma só pessoa honesta.... Autoridades exigem dinheiro por fora, e juízes recebem presentes para torcer a justiça" (Mq. 7/2-3). À época do Brasil Colônia, em sermão dedicado a Santo Antonio, pregado em 1657, o Padre Antonio Vieira apontava a depravação dominante entre o povo. Para ilustrar a peroração, acusava o jesuíta: "Grande sabor é o do alheio, até para o gosto e paladar daqueles que o trazem costumado aos mais esquisitos manjares". Em seguida, narrava: "Pôs-se uma vez à mesa el-rei D. João III, e trazia grande fastio. Entre os fidalgos que o assistiam, um muito conhecido, por discreto. Disse-lhe el-rei: Que remédio me dais, D. Fulano, para comer, que de nenhuma coisa gosto? Coma Vossa Alteza do alheio, como eu faço, e verá como lhe sabe bem".
É do que ficamos pasmos, na época presente. Notórios delinquentes fartam-se do alheio roubado, por ser gratuito, saboroso, e se sentirem confiantes. É assustador o silêncio de pessoas convocadas para se apresentarem perante Comissão Parlamentar de Inquérito. Indiferentes a fatos comprovados em volumes de documentos, e horas gravadas pela Polícia Federal, comportam-se de maneira audaciosa, como se nada houvesse acontecido. Crentes de que, com o passar do tempo, prevalecerá o esquecimento, livres e tranquilos aguardarão pela absolvição.
Saqueada por farsantes habituados a viver e se refestelar com o alheio, à Nação pretende acreditar que haverá punição dos culpados. Está aí o famigerado caso do mensalão. Ocuparam a presidência do STF, desde a denúncia formulada pelo Procurador Geral da República, os ministros Gilmar Mendes, Ellen Gracie, e César Peluso. Dentro de seis meses aposentar-se-á, e deixará o Tribunal, o Presidente Ayres Brito. No mesmo período o Supremo conheceu outras alterações. Ignora-se, todavia, decorrido tanto tempo, quando o rumoroso feito será levado à pauta, pois ainda se discute como será a sessão.
Não se trata de obrigar eminentes ministros a julgar, com a faca no pescoço, como teria sido dito com o óbvio propósito de protelação. Diante de matéria de relevante interesse nacional, espera-se do Poder Judiciário que não seja lento, nem quede em silêncio, alheio à opinião pública. A ocasião é oportuna para desmentir-se o ditado popular, segundo o qual cadeia é para pobre, preto, e prostituta.
O envolvimento do sr. Carlinhos Cachoeira com senador da república, e membros dos poderes Executivo e Legislativo, em volumosos negócios que cobram explicação, e do ocupante de cargo de confiança da Prefeitura de São Paulo, proprietário de cento e tantos imóveis, apontado por se locupletar com a emissão de alvarás de construção, reforçam a necessidade de enérgicas medidas do Ministério Público, e de respostas do Judiciário.
Não há punhal dirigido à jugular de ninguém. O que existe é necessidade de respeito à justiça, cuja imagem granítica, fincada à frente do STF, traz na mão esquerda a balança, como símbolo de imparcialidade e, com a destra, empunha espada, garantidora das decisões. Estou seguro de que contraria o projeto de vida, do Ministro Ayres Brito, concluir a impoluta carreira sem antes presidir o julgamento dos réus do mensalão. De uma forma ou de outra, para o bem ou para o mal, os protagonistas entrarão para a história.
_________

CONTRAPONTO NECESSÁRIO


O mais importante é obter índices econômicos superiores aos dos mortais comuns do resto do mundo, não é mesmo? Na ânsia de obtê-los, vale tudo para estimular a produção industrial e, consequentemente, a comercial. Agora, onde está a visão holística necessária para o desenvolvimento sustentado? Não podem ser esquecidos os aspectos da atividade econômica que podem ser prejudiciais à sociedade como um todo, ao longo do tempo.

Pois bem, para estimular a nossa visão crítica e útil para magnificar o contraponto, a leitura do texto de Ruy Castro que está abaixo, é necessária.


______________

Turbina que intoxica

Ruy Castro, para o jornal Folha de São Paulo, 25/05/2012


A mão direita não sabe o que faz a esquerda. Ou finge que não vê. Nesta semana, com o objetivo de "turbinar a economia", o governo reduziu os impostos sobre a produção de carros populares, permitindo às montadoras abater 10% no seu custo e ainda facilitando empréstimos junto aos bancos para a aquisição dos ditos. 

Significa que, se você se endividar um pouco mais e acrescentar um carro à frota que já asfixia as nossas cidades, a
 economia voltará aos seus dias de alegria. Não se sabe por que isso não aconteceria se o governo desse os mesmos incentivos à produção e à venda de veículos pesados, como tratores ou caminhões, ou à de grãos e adubos. Talvez porque falte a jamantas e esterco um “appeal” igual ao de um carro zero no status de uma família que, até há pouco, mal tinha para o ônibus. 

Tudo bem, todos merecem ter seu carrinho próprio. Mas precisam? E será isso conveniente num momento em que as prefeituras lutam para diminuir o número de carros particulares, demolindo viadutos, investindo em corredores para ônibus e implantando veículos rápidos sobre trilhos? Elas estão tentando corrigir um modelo dos anos 50 cujos equívocos custamos a perceber -os carros tomaram o poder na cidade, intoxicaram-na, fizeram-na crescer a limites desumanos e tornaram seus habitantes preguiçosos e egoístas.
 

Encher ainda mais as ruas de carros para reaquecer a economia representa a vitória do planejamento grosseiro e oportunista sobre o
 crescimento equilibrado e o simples bom-senso. Significa que, ao passar dezenas de quilômetros engarrafado em sua cidade e respirando níveis intoleráveis de CO², você deverá se sentir orgulhoso dos números que o governo passará a exibir. 

Medidas como essa só podem ser tomadas nos gabinetes de Brasília, a única cidade que, hostil por natureza aos bípedes, não é afetada por elas.

"BABY BOOMER", COM ORGULHO!

  ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Sim, ...