AINDA HÁ ESPERANÇA


Às vezes, somos obrigados a mudar de opinião, num mesmo dia. É o que faço, ao ler a entrevista com Osmar Terra. Não "tátudodominado", não! Ainda há resistência dos bons.
_______________________________________________________________

Entrevista (à revista VEJA)
Osmar Terra: 'Traficante é um homicida que mata várias pessoas ao mesmo tempo'
Projeto de deputado do PMDB gaúcho que poderá ser votado na quarta-feira iguala pena para traficantes ao crime de homicídio; parlamentar também defende mais rigor na punição da posse de drogas no combate ao vício
Marcela Mattos, de Brasília
"Se disser que não é crime, a pessoa vai andar com a droga no bolso, e o número de usuários vai se multiplicar muito rápido. Tem que dizer que é crime e que tem pena"
Na esteira dos esforços para conter o avanço do consumo de drogas no Brasil, um projeto de lei que poderá ser votado na próxima quarta-feira pela Câmara dos Deputados endurece a pena para traficantes como um caminho para frear o comércio e, consequentemente, o consumo de entorpecentes no país. Pela legislação atual, o tráfico de drogas é punido com cinco a quinze anos de prisão e multa. A proposta do deputado federal Osmar Terra (PMDB-RS) aumenta o tempo mínimo para oito anos de prisão e, nos casos com agravantes, como a fabricação da droga, permite aplicação de pena máxima prevista para o crime de homicídio: vinte anos. “O traficante pode não ser um homicida que dá um tiro, mas ele está matando um monte de gente ao mesmo tempo”, compara.
O deputado, que é médico, sugere penas mais duras para flagrantes de usuários de drogas: de seis meses a um ano de trabalho comunitário - atualmente são cinco meses. No caso de reincidência, de um a dois anos, ante os dez meses atuais. O projeto de Terra recebeu apoio dos ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil), o que deverá facilitar a aprovação no Congresso.
Leia a seguir trechos da entrevista ao site de VEJA.
O senhor é criticado por propor mais rigor na punição do usuário flagrado com a droga, mesmo para consumo pessoal. A legislação atual é frouxa nesses casos? A legislação atual até pune, mas temos de ser mais rígidos. Esse período maior [de pena] é para dizer que é crime e que não é para fazer de novo. Se disser que não é crime, a pessoa vai andar com a droga no bolso, e o número de usuários vai se multiplicar muito rápido. Tem que dizer que é crime e que tem pena. O usuário está cometendo um ato ilegal, que o prejudica, e ele vai ter a oportunidade de fazer uma reflexão.
No projeto, a pena máxima para traficantes se iguala a do homicídio. A gravidade desses crimes pode ser comparada? Eles são homicidas. Vinte e cinco por cento dos usuários de crack morrem nos primeiros cinco anos, segundo dados da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). O traficante pode não ser um homicida que dá um tiro, mas ele está matando um monte de gente ao mesmo tempo. Os meninos vão morrendo. Morrem de aids, de problemas pulmonares, de hemorragia cerebral e também de morte violenta. E todos são jovens, não morreriam se não fossem dependentes de droga. Então, não é uma pena exagerada.
O projeto prevê, após o primeiro flagrante, que o usuário não poderá frequentar determinados lugares e impõe restrição de horários. Para evitar o dano e os desdobramentos que a droga causa, a saída é a abstinência. É proposta uma série de medidas restritivas que não significam a prisão, mas são para constranger o usuário, para dizer que o que ele está fazendo não é uma coisa lícita.
Por que para o usuário pego com droga o projeto mantém pena mais branda? Porque o usuário é doente, está precisando de atendimento. Se ele não está viciando outros, é mais importante dar cuidados de saúde do que pena de prisão.
Em quais casos seria necessária a internação involuntária? Nós tiramos no projeto a internação compulsória, pois ela pressupõe um processo judicial e uma decisão do juiz. Isso já está na lei hoje, mas só vale quando a pessoa representa um risco social. Então demora muito, e poucos são internados por decisão do juiz. No caso da internação involuntária, a pedido da família, o médico avalia o caso e pode determinar a internação, sem precisar de juiz. Isso vai antecipar o início do tratamento. Como 90% dos meninos não se tratam voluntariamente, no caso do crack, isso pode colocar uma parcela muito maior para ficar em abstinência inicial.
Por que o projeto pune os gestores que não cumprirem as determinações básicas? Porque hoje é um jogo de empurra. Vamos falar com um prefeito e ele diz que é da responsabilidade do governo do estado. Vai falar com o governo do estado e diz que é a prefeitura, que reclama que o governo federal não ajuda. Aí ninguém faz. O projeto redefine as responsabilidades, determinando o que municípios, estados e governo federal têm de fazer. Quem não cumprir essas regras será responsabilizado administrativamente, até com perda da função.
O que o projeto traz de novo para a recuperação dos dependentes químicos? Estou propondo que se acrescentem as comunidades terapêuticas à rede dos Caps. Hoje existem mais de 2.000 comunidades terapêuticas pelo Brasil, com cerca de 60.000 vagas que não são usadas. Os Caps foram criados para atender casos de transtorno mental, mas resolveram que eles podem atender também a dependência química – mas é um fracasso. Eles não têm protocolo, não tem uma organização articulada entre si e a maioria das pessoas trata a questão da dependência química como uma opção. As pessoas vão ali e voltam para a boca de fumo. Nas comunidades os usuários ficam em abstinência prolongada, afastados até da família. Lá terão um programa de ressocialização, com empresas ou com o próprio governo estabelecendo um número de vagas. Além disso, tem de ter acesso a lazer, esporte e cultura.
A ideia é aproximar o governo dessas comunidades? É trazer esse trabalho para a formalidade. É criar regras para ele. A Anvisa já determina o que uma comunidade terapêutica deve ter, e o governo estabelece protocolos de atendimento. Mas a verdade é que não tem protocolo para nada. Já ouvi uma psicóloga do Caps dizer que é uma bobagem classificar o crack como uma epidemia e que a pessoa pode fumar uma pedrinha de vez em quando em alguns casos. Eles não fazem nenhum esforço para tirar a pessoa da dependência. O Ministério da Saúde não cria protocolo, não cria nada. A orientação, nesse ponto, realmente deixa muito a desejar. É um discurso bonito, filosófico e humanitário, mas, na prática, eles vão filosofando e os meninos vão morrendo.
O senhor faz críticas duras ao serviço atual. É totalmente ineficaz. Eles não sabem lidar com o problema. O crack transtornou tudo, criou um transtorno mental coletivo. A avalanche do crack, a forma epidêmica que ele se propagou, desorganizou tudo. Ninguém estava preparado para isso. Os Caps funcionam para outros transtornos. Mas, para o crack, não.
Qual o valor estimado para arcar com os gastos previstos no projeto e de onde viriam esses recursos? É necessário aumentar muito a rede. A Dilma [Rousseff, presidente], quando lançou o programa “Crack, é possível vencer”, estimou em 4 bilhões de reais os gastos para os dois anos seguintes. Eu acho que deveria ser 4 bilhões por ano – e ainda assim não sei se resolveria para reduzir a demanda. A gente tinha proposto que a taxa de imposto cobrada do álcool e do cigarro fosse para o programa de drogas. É um volume grande, daria uns 8 bilhões de reais, mas o governo está resistente.
Quando o texto deve ir a plenário? O senhor acha que haverá resistência dos parlamentares? Vamos votar o mérito no dia 8 de maio. Há cerca de dois meses foi aprovada a urgência no plenário. A turma a favor da legalização foi contra, não queria votar. Mesmo assim obtivemos 344 votos favoráveis contra seis. Isso já mostra mais ou menos o ânimo que está a Casa. Nós estamos procurando diminuir a resistência do governo. A conversa com a ministra Gleisi Hoffmann foi boa. Ela disse que é contra a descriminalização, a favor das unidades terapêuticas e de tudo do projeto. Sobre as penas, ela disse que deveria conversar com o ministro da Justiça, porque as prisões estão lotadas. Acho que estamos chegando a um consenso. O governo também não pode segurar muito tempo, pois a pressão é da sociedade.

NÃO TEM MAIS JEITO!


É!, não tem mais jeito. " TUDO DOMINADO".
________________________
Tribunal ignora mensalão e aprova contabilidade do PT
Justiça Eleitoral descartou investigação sobre dinheiro repassado por Valério
TSE levou cinco anos para tomar decisão sobre contas do partido no ano em que esquema começou a funcionar
RUBENS VALENTEANDREZA MATAISDE BRASÍLIA
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) aprovou as contas de 2003 do diretório nacional do PT e analisa uma recomendação para aprovar as de 2004, desprezando irregularidades que o processo do mensalão apontou nas finanças do partido nos dois anos.
Para que isso ocorresse, o tribunal concentrou sua análise na contabilidade do partido e deixou de lado mais de R$ 58 milhões movimentados fora dos seus livros, cujo destino foi dissecado nas investigações que levaram à condenação de vários ex-dirigentes petistas no julgamento do mensalão, no ano passado.
Apesar da aprovação das contas, os processos seguem abertos porque o PT recorreu de multas aplicadas por causa de outras irregularidades.
A decisão que aprovou as contas de 2003 foi dada pela ministra Cármen Lúcia em junho de 2010, no início da campanha presidencial daquele ano. O despacho foi registrado semanas depois no Diário de Justiça eletrônico.
Ao contrário do que é costume no TSE, não houve nesse caso nenhuma divulgação da decisão para a imprensa.
A ministra impôs, porém, multa de R$ 180 mil ao PT, por falhas na aplicação de recursos do Fundo Partidário.
Os partidos têm que prestar contas ao TSE uma vez por ano, entregando documentos sobre sua contabilidade e comprovantes de seus gastos.
Em caso de rejeição das contas, o TSE pode suspender os repasses do Fundo Partidário, que é formado por dinheiro público e é hoje uma das maiores fontes de recursos dos partidos políticos brasileiros. O PT recebeu R$ 53 milhões do fundo em 2012.
O esquema do mensalão funcionou do início de 2003 a junho de 2005. No julgamento do ano passado, o Supremo Tribunal Federal concluiu que ele foi alimentado porempréstimos bancários fraudulentos e recursos desviados do Banco do Brasil e da Câmara dos Deputados.
Em 2003, o PT recebeu R$ 5,4 milhões dos bancos Rural e BMG. Em 2003 e 2004, agências de propaganda do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, o operador do esquema, receberam R$ 58,2 milhões em empréstimos, mais R$ 77,8 milhões que teriam sido desviados do Banco do Brasil e da Câmara.
O dinheiro foi distribuído por Valério a políticos indicados pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares, mas ao analisar as contas do partido o TSE só considerou as entradas e saídas da contabilidade do PT.
No processo de 2004, uma nota da área técnica do tribunal deixou isso explícito: "Não foram objeto de análise quaisquer movimentações de recursos não declarados, apesar de constar na denúncia irregularidades financeiras, importando inclusive em práticas de movimentações de recursos à margem da contabilidade e das contas bancárias oficiais do partido, [...] bem como do resultado da apuração da CPI dos Correios [que investigou o mensalão]".
A área técnica pediu a aprovação com ressalvas, após rever um parecer que havia recomendado a rejeição das contas. O então ministro Hamilton Carvalhido estabeleceu multa de R$ 424 mil por mau uso do Fundo Partidário. O PT recorreu da multa.
No processo de 2003, os técnicos também mudaram de opinião. Por três vezes, pediram a rejeição das contas, mas depois aceitaram as explicações do partido para algumas falhas e aprovaram as contas do PT com ressalvas.
O resultado dos processos de 2003 e 2004 contrasta com o das contas de 2005. Neste caso, os técnicos encarregados se valeram de investigações da Receita Federal e da CPI dos Correios para propor a rejeição das contas do PT.
O parecer foi aprovado pelo TSE no ano passado. A decisão, que levou à suspensão dos repasses do Fundo Partidário para o PT por um mês, foi divulgada pelo tribunal.
O PP, um dos partidos que recebeu recursos do mensalão, também teve suas contas de 2003 aprovadas. As contas do antigo PL, hoje PR, foram rejeitadas pelo tribunal.

A FOSSA SEM TAMPA



O João Ubaldo abriu a fossa; tirou-lhe a tampa. O resultado? Expôs o fedor da vida nacional, regimentada por um regime, este sim, permanentemente golpista, por que vive em constante busca de meios para suplantar a Democracia e ferir a República, utilizando meias-verdades para elaborar sua propaganda, ao final enganosa. A melifluidade de que se utiliza o regime para a construção enganosa é tão sutil, mas tão sutil, que, muitas vezes, modifica costumes sociais, constrói jurisprudência e desconstrói biografias.
-------------------------------------------------------------------------------------------
Governantes e governados - JOÃO UBALDO RIBEIRO (O GLOBO - 05/05)

Essa capadoçagem burra, arrogante e irresponsável, tentada no Congresso Nacional, para intimidar e desfigurar o Poder Judiciário, mostra de novo como somos atrasados. Antigamente, éramos um país subdesenvolvido e atrasado. Fomos promovidos a emergente — embora volta e meia me venha a impressão de que se trata de um eufemismo modernoso para designar a mesma coisa — e continuamos atrasados. Nosso atraso é muito mais que econômico ou social, antes é um estado de alma, uma segunda natureza, uma maneira de ver o mundo, um jeito de ser, uma cultura. Temos pouco ou nenhum espírito cívico, somos individualistas, emporcalhamos as cidades, votamos levianamente, urinamos nas ruas e defecamos nas praias, fazemos a barulheira que nos convém a qualquer hora do dia ou da noite, matamos e morremos no trânsito, queixamo-nos da falta de educação alheia e não notamos a nossa, soltamos assassinos a torto e a direito, falsificamos carteiras, atestados e diplomas, furamos filas e, quase todo dia, para realçar esse panorama, assistimos a mais um espetáculo ignóbil, arquitetado e protagonizado por governantes.

Que coisa mais desgraciosa e primitiva, esse festival de fanfarronadas e bravatas, essa demonstração de ignorância mesclada com inconsequência, essa insolência despudorada, autoritária, prepotente e pretensiosa. Então a ideia era submeter decisões do Supremo Tribunal Federal à aprovação do Congresso, ou seja, na situação atual, à aprovação do Executivo. E gente que é a favor disso ainda tem o desplante de lançar contra os adversários acusações de golpismo. Golpismo é isso, é atacar o equilíbrio dos poderes da República, para entregar à camarilha governista o controle exclusivo sobre o destino do país. Até quem só sabe sobre Montesquieu o que leu numa orelha de livro lembra que o raciocínio por trás da independência dos poderes é prevenir o despotismo. Se eu faço a lei, eu mesmo a executo e ainda julgo os conflitos, claro que o caminho para a tirania está aberto, porque posso fazer qualquer coisa, inclusive substituir por outra a lei que num dado momento me incomode.

Hoje, muito tempo depois de Montesquieu, sistemas como o vigente nos Estados Unidos, cujas instituições políticas plagiamos na estruturação da nossa república, dependem de um equilíbrio delicado e sutil, o qual pressupõe uma formação cívica e cultural que nosso atraso nos impede de plagiar também. Uma barbaridade desse porte é praticamente impossível acontecer por lá. E isso se evidencia até no comportamento e nas atitudes de todos. Nenhum deputado americano iria blaterar contra a Suprema Corte e investir contra a integridade do Estado dessa forma. E nenhum dos magistrados sai, como aqui, dando entrevistas em toda parte e tornando-se figurinhas fáceis, cuja proximidade induz uma familiaridade incompatível com a natureza e a magnitude dos cargos que ocupam, intérpretes supremos da Constituição, última instância do Estado, capaz de selar em definitivo o destino de um cidadão ou até da sociedade. Quem já presenciou a abertura de uma sessão da Suprema Corte, em Washington, há de ter-se impressionado com a solenidade majestosa do ato e com a aura quase sacerdotal dos juízes. Aqui, do jeito que as coisas vão, chega a parecer possível que, um dia destes, a equipe de um show de televisão interrompa uma sessão do Supremo para entrevistar os ministros, com uma comediante fazendo perguntas como “que é que você usa por baixo da toga?” e Sua Excelência, olhando para o decote dela e depois piscando para a câmera, dê uma gargalhadinha e responda “passa lá em casa, que eu te mostro”.

Soberana, entre as nossas manifestações de atraso, é a importância que damos à televisão. Não conheço outro país onde visitas apareçam exclusivamente para ver televisão na companhia dos visitados, ou onde se liga a televisão na sala e ninguém mais conversa. Hoje está melhor, mas, antigamente, o sujeito era convidado para dar uma entrevista e todos os funcionários da estação ou da produção o tratavam como se ele estivesse recebendo uma dádiva celestial. Do faxineiro à recepcionista, todos eram importantíssimos e eu mesmo já me estranhei com alguns, um par de vezes. A televisão é tudo a que se pode ambicionar, todas as moças querem ser atrizes de novelas, a fama é aparecer na televisão, quem aparece na televisão está feito na vida. Briga-se por tempo na televisão, ameaça-se o regime por causa de tempo na televisão e avacalha-se a imagem das instituições através dos que parecem sempre ansiosos por aparecer na televisão. Em relação aos ministros do Supremo, creio que todos os dias pelo menos uns dois deles se exibem em entrevistas. Houve a questão do mensalão, mas a moda e o costume já pegaram e qualquer processo no Supremo que venha a ter grande repercussão vai gerar novas entrevistas, pois ministro também é filho de Deus e, se não houvesse seguido a carreira jurídica, teria sido personalidade da televisão.

Quanto aos governados, as chances de aparecer na televisão são escassas e talvez o mais recomendável seja não ambicioná-las, porque isso pode significar que teremos sido assaltados ou atropelados, ou vovó esticou as canelas depois de quatro dias numa maca na recepção de um hospital vinculado ao SUS, ou já viramos presunto. Temos os nossos representantes, que podem representar-nos também aparecendo na televisão, são o nosso retrato. Continuam a caber-nos as duas certezas que Benjamin Franklin via na vida: death and taxes, morte e impostos. Nossas oportunidades de morte são amplas e diversificadas, de bala perdida a dengue. Em relação aos impostos, estamos a caminho do campeonato mundial. E, finalmente, contamos com o consolo de saber que todo poder emana do povo e em seu nome será exercido. Ou seja, pensando bem, não temos de quem nos queixar.

ORA, PARTIDOS POLÍTICOS!



As palavras da escrita abaixo doem muito para o verdadeiro cidadão brasileiro. Verdadeiro, porquê comprometido com os rumos da Nação. Há, claro, a quase totalidade dos 200 milhões que somos, que pouco se importam com o pensamento e a ação daqueles em quem votamos. Tudo isso porque elegemos alguém que está a centenas ou milhares de quilômetros distantes de nós e nada conhece da nossa realidade e nós mal o conhecemos. Ou, ainda, está no parlamento, praticamente sem votos, levado pela legenda, e em razão de votação torrencial destinada a determinado candidato. Pior do que isso, temos senadores "biônicos", pois não receberam um voto sequer e lá estão por terem sido "suplentes".  Votamos em candidatos sem compromisso mútuo e nada recebemos das ideias e das propostas parlamentares por que, primeiramente, estas não são geradas por mentes vazias e, segundamente, por que não lhes interessa trabalhar, mas, apenas, participar de negociatas que lhes favoreçam monetariamente. O texto, lembrando que ninguém discute os temas candentes atuais e, portanto, não sugere propostas, pensando o País do futuro, faz-nos alertas sobre como somos levados a comprovar a frase da música de Zé Ramalho: "vida de gado, povo marcado, povo feliz".
_________________________________________________________


Procuram-se partidos
“É cada dia maior o hiato entre as cúpulas partidárias e a realidade brasileira, o comando pragmático da política e a produção crítica acadêmica. Os grandes temas ficam para as elites privadas e suas instituições”

 
Lendo as notícias dos principais jornais do país e as publicações doIBGE, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), sobretudo os dados especializados em economia, indústria, importação, exportação, ciência e tecnologia, tenho a impressão de que vivemos dois mundos na política brasileira. O primeiro, árido, acadêmico, denso, aparentemente distante do cotidiano da maioria do eleitorado, mas que carrega informações e dados essenciais para a tomada de decisões pelos agentes públicos e privados. O segundo mundo é o do vale-tudo político, do varejo, das negociações pragmáticas, da barganha pelos cargos no governo, da apelação preconceituosa, da busca do voto a qualquer preço. Tudo isso com uma pitada de boa publicidade, sob a regência de eficientes marqueteiros.
Diante desses mundos, pergunto-me como transitam os atuais partidos políticos existentes no país, em especial os chamados grandes e aqueles de esquerda? Todo partido pode ter, mantida com verbas do fundo partidário, uma fundação de estudos que deve subsidiar os debates e as decisões partidárias. O que se percebe, contudo, é que esses organismos funcionam de forma autônoma em relação às direções dos partidos. Suas vidas, seus estudos e publicações, quando muito, servem para enfeitar o discurso e a vitrine das agremiações às quais são vinculados. Na prática, os partidos não discutem para valer os temas do primeiro mundo acima referido. Na maioria das vezes, seus dirigentes preparam discursos para os programas partidários regularmente exibidos na mídia.
Alguém conhece alguma resolução recente, pelo menos da crise de 2008 até hoje, de algum partido, sobre os rumos das políticas monetária, creditícia e cambial, adotados pelo governo federal desde então? Alguém viu ou participou de entrevista coletiva da cúpula de algum partido político, na qual a agremiação expôs sua análise sobre os números das importações e exportações? E sobre o peso das commodities agrícolas e minerais versus a participação de produtos manufaturados, de média e alta complexidade em nossas exportações? Algum sinal de avaliação oficial partidária sobre o fracasso do Plano Nacional de Educação (PNE) que vigorou entre 2001 e 2010? Alguém recebeu nota técnica da direção de algum partido com representação no Congresso analisando a gênese da dívida pública brasileira, sua composição, encargos, seu impacto nas contas nacionais? E as limitações que impõem à elevação da taxa pública de investimentos no país? Certamente ninguém leu, viu ou ouviu tais manifestações com a centralidade que mereciam.
Os partidos conservadores, certamente, não teriam muito a dizer, pois, em linhas gerais, concordam com as diretrizes macroeconômicas seguidas pelos governos de 2008 até hoje. Os partidos de esquerda, eis a questão, estão atuando muito mais restritos à máquina pública, à exceção do Psol. O meu partido, o PDT, quando se unificou na votação de matérias importantes em defesa dos trabalhadores, avançou na esquerda, com a sociedade, sem seguir a orientação do governo, mesmo participando da administração federal desde 2007.
É cada dia maior o hiato entre a vida das cúpulas partidárias e a realidade brasileira, o comando pragmático da política e a produção crítica acadêmica veiculada em teses, artigos nas revistas e jornais, publicações, sob a liderança de professores, economistas e pesquisadores com vínculos nas universidades, no Ipea, no BNDES e outras instituições. Na verdade, parece que vivemos a ‘democracia oligárquica’, como afirmou recentemente o professor Luis Gonzaga Belluzzo, em artigo na revista Carta Capital. Os grandes temas e decisões da economia e do desenvolvimento ficam para as elites privadas e suas instituições, para as autoridades monetárias do governo central e alguns poucos manipuladores de informações. Para as instituições eletivas, fica o varejo. Um equívoco.
Na recente convenção nacional do PDT, em março deste ano, pensando mais no país, assinei, com os senadores Cristovam Buarque (PDT-DF) e Pedro Taques (PDT-MT), um documento com reflexões e questionamentos ao governo Dilma. Procuram-se, portanto, partidos que assumam a responsabilidade e façam, em todo o país, o debate sobre rumos, desafios, limites e rupturas que a nação exige para sair das incômodas posições que hoje apresenta em educação, na saúde, nos números da violência contra a infância e a juventude, no baixo investimento público, na tributação regressiva e indireta, na desindustrialização, nos encargos elevados com a dívida pública, nas desigualdades regionais, na ciência e tecnologia, nas exportações de baixo valor agregado e nos demais déficits decorrentes dessa ordem injusta e desigual. Procuram-se. Quem se habilita a sair dos limites e do conforto dos cargos na máquina pública para pensar e redesenhar o país?

ACABEMOS COM A AVALIAÇÃO POR NOTAS


Será que os alunos que, na redação do ENEM, complementaram as suas redações com receita do produto Miojo ou com a letra do Hino do Palmeiras, merecem zero? Por que não lhes dar a nota máxima? Afinal, foram eles os causadores de profundas modificações na qualidade de avaliação da qualidade das escritas! Aliás, mais do que modificar procedimentos e aprofundar os métodos de correção, deram uma lição no Governo que, no começo mentiu, ou pelos menos tergiversou, sobre os erros monumentais do sistema, e, depois, admitiu as incongruências sobre o lamentável ocorrido.
Enfim, o artigo de Stephen Kanitz leva-nos a pensar sobre padrões que estão situados na nossa vida, há tanto tempo que nem mais os questionamos.


______________________________________________________________________________________


VAMOS ACABAR COM AS NOTAS


 


Vamos Acabar Com as Notas
Quantos alunos tiraram nota zero justamente porque foram criativos ou criativos demais?
Damos notas a hotéis, a videogames e a tipos de café.
Mas faz sentido dar notas a seres humanos como fazem as escolas e nossas universidades?
Ninguém dá a Beethoven ou à Quinta Sinfoniauma nota como 6.8, por exemplo.
O que significa dar uma “nota” a um ser humano?
Que naquele momento da prova, ele sabia x% de tudo o que os professores gostariam que ele soubesse da matéria.
Mas saber “algo” significa alguma coisa hoje em dia?
Significa que você criará “algo” no futuro?
Que você será capaz de resolver os inúmeros problemas que terá na vida?
Que será capaz de resolver os problemas desta nação?
É possível medir a capacidade criativa de um aluno?
Quantos alunos tiraram nota zero justamente porque foram criativos ou criativos demais?
Por isso, não damos notas a Beethoven nem a Picasso, não há como medir criatividade.
Muitos vão argumentar que o problema é somente aperfeiçoar e melhorar o sistema de notas, que obviamente não é perfeito e as suas falhas precisam ser corrigidas.
Mas e se, em vez disso, abolíssemos o conceito de notas?
Na vida real, ninguém nos dará notas a cada prova ou semestre.
Você só perceberá que não está sendo promovido, que as pessoas não retornam mais seus telefonemas ou que você não está mais agradando.
Aliás, saber se você está agradando ou não é justamente uma competência que todo mundo deveria aprender para poder ter um mínimo de desconfiômetro. Ou seja, deveríamos ensinar a autoavaliação. Com os alunos se autoavaliando, dar notas seria contraproducente.
Não ensinamos a técnica de autoavaliação, tanto é que inúmeros profissionais não estão agradando nem um pouco como professores e, mesmo assim, se acham no direito de dar notas a um aluno.
O sistema de “dar” notas está tão enraizado no nosso sistema educacional que nem percebemos mais suas nefastas consequências.
Muitos alunos estudam para tirar boas “notas”, não para aprender o que é importante na vida.
Depois de formados, entram em depressão pois não entendem por que não arrumam um apesar de terem tido excelentes “notas” na faculdade.
Foram enganados e induzidos a pensar que o objetivo da educação é passar de ano, tirar nota 5 ou 7, o mínimo necessário.
Ninguém estuda mais pelo amor ao estudo, mas pelas cenouras que colocamos na sua frente.
Ou seja, as “notas” de fim de ano. Educamos pelo método da pressão e punição.
Quando adultos, esses jovens continuarão no mesmo padrão.
Só trabalharão pelo salário, não pela profissão.
Se o seu filho não quer estudar, não o force.
Simplesmente corte a mesada e o obrigue atrabalhar.
Ele logo descobrirá que só sabe ser menino de recados.
Depois de dois anos no batente ele terá uma enorme vontade de estudar.
Não para obter notas boas, mas para ter uma boa profissão.
Robert M. Pirsig, o autor do livro Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas, testou essa ideia em sala de aula e, para sua surpresa, os alunos que mais reclamaram foram aqueles da turma do fundão.
São os piores alunos que querem notas e provas de fim de ano. Os melhores alunos já sabem que passaram de ano.
Muitos nem se dão ao trabalho de buscar o diploma.
Sem notas, os piores alunos seriam obrigados a estudar, não poderiam mais colar nas provas e se autoenganar.
Provas não provam nada, o desempenho futuro na vida é que é o teste final.
Imaginem um sistema geral de autoavaliação em que os alunos não mais estudariam para as provas, mas estudariam para ser úteis na vida.
Imaginem um sistema educacional em que a maioria dos alunos não esqueceria tudo o que aprendeu no 1º ano, mas, pelo contrário, se lembraria de tudo o que é necessário para sempre.
Criaríamos um sistema educacional em que o aluno descobriria que não é o professor que tem de dar notas, é o próprio aluno.
Todo mês, todo dia, todo semestre, pelo resto de sua vida.
 Publicado na Revista Veja, edição 1955, ano 39, nº 18, 10 de maio de 200
6

CIDADÃO, ASSUME. EU, ESTADO, NÃO FAÇO MAIS!


Dias desses, soubemos que na Bahia, há orientações oficiais para separar um dinheirinho para os assaltantes. Logo depois, também soubemos que foram divulgadas orientações de como conversar com os criminosos. Agora, a Segurança pública da Paraíba, orienta como forçar rictus faciais frente a esses mesmos fascínoras. Ontem, soubemos que, no Piauí, foram permitidas regalias aos presidiários para que estes não promovessem desordens públicas (incrível!, presidiários promovendo desordem pública). Periodicamente, presidiários são transferidos de cidade para que não atraiam seus comparsas para a região onde estão, mostrando com isso sinais de falência do sistema público de segurança. Bem!, o que resta para o cidadão correto? Com as responsabilidades migrando dos governos incapazes para os cidadãos em luta pela sobrevivência, só resta valorizar o "çábio" conselho de Maluf ao criminosos, dito há mais de uma década: "...ESTUPRA, mas não mata!". Afinal, hoje, como ontem, os governos fazem que governam; desenvolvem campanhas políticas em torno de três bases, sendo uma delas a Segurança e, depois, nada fazem; destinam recursos orçamentários que não utilizam; e, finalmente, descobre-se agora, fazem o jogo do crime.


__________________________________________________________________

Contra assaltos, governo da Paraíba pede que mulheres façam “cara de brava”

20 de março de 2013
Autor: Comunicação Millenium

Dica consta no site de Secretaria de Segurança, que também diz que mulheres devem levar bolsa reserva “com quinquilharias” para entregar aos ladrões
Como evitar ser assaltado? Se você for uma mulher paraibana que tem medo de andar à noite ou que acabou de sair do banco, talvez seja o caso de fazer “cara de brava”, “franzir as sobrancelhas” e “falar alto consigo mesma”. Pelo menos é o que recomenda em seu site a Secretaria de Segurança e Defesa Social da Paraíba, apasta responsável pelo policiamento do sexto estado mais violento do país.
Numa seção de dicas de segurança, a maior parte delas composta por conselhos para evitar assaltos, a secretaria mantém uma seção especial de “segurança para mulheres”. Nela, quem acessar o site vai encontrar o item onde se lê “se você se sente insegura ao andar à noite numa rua deserta, ou ao sair do banco com o dinheiro na bolsa, faça cara de brava, franza as sobrancelhas, fale alto consigo mesma”.
O site recomenda ainda, entre outras curiosidades, que as mulheres mantenham no carro “uma bolsa à vista, com quinquilharias e algum dinheiro, para que um eventual ladrão possa levá-la sem lhe trazer muito prejuízo”.
Com essas dicas, a secretaria paraibana segue o exemplo das polícias Militar e Civil da Bahia, que nos sites das corporações mantinham seções de dicas que recomendavam, entre outras coisas, que os cidadãos andassem com “um pouco de dinheiro para satisfazer o ladrão”. Após a informação ser divulgada pela imprensa, as listas de dicas foram retiradas do ar.
MacGyver
Algumas das dicas da secretaria da Paraíba são quase idênticas àquelas recomendadas pela polícia baiana. Uma delas sugere que a população incorpore o espírito inventivo e audacioso do personagem MacGyver, da série televisa “Profissão: Perigo”, em caso de sequestro. “Treine como sair de um porta-malas, para o caso de ser aprisionado. Em caso de tranca mecânica, treine com um grampo, arame ou canivete o levantamento da trava. Em caso de trava elétrica, identifique o caminho da fiação para poder cortá-la”, recomenda a secretaria de Segurança.
A maior parte das dicas, divididas em seções como “andando na rua” e “segurança no trânsito”, é formada por conselhos úteis, apesar de serem bastante óbvios, como “ao fazer um saque, nunca coloque o dinheiro ou a carteira no bolso de trás”.
Outras dicas soam especialmente datadas. Um exemplo: “quando estiver na rua, não escute walkman ou discman. Para estar a salvo, é preciso ficar atenta ao que acontece em volta” ou “antes de sair de um bar com algum desconhecido, ligue para um amigo, ou para sua própria secretária eletrônica, avisando a hora em que está saindo, para onde pretende ir e com quem está”.
Há também recomendações que soam geograficamente curiosas, já que o estado em questão é a Paraíba. “Não exibir ‘currículo’ no carro. Adesivos como: ‘Eu amo Campos do Jordão’ (…) levam à deduções sobre a rotina das pessoas”, diz uma das dicas.
Fonte – Logo abaixo de algumas das seções de dicas, a secretaria paraibana afirma que a fonte para uma parte delas foi o site da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. E de fato algumas das dicas constam no site da Polícia Civil paulista, porém as dicas mais “curiosas” não fazem parte das recomendações do site de São Paulo.
Ninguém foi encontrado na Secretaria de Segurança Pública na noite desta terça-feira para comentar as dicas publicadas no site.
Na edição 2012 do Mapa da Violência, elaborado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, a Paraíba apareceu como o quinto estado com o maior número de homicídios do país. Segundo dados de 2010, a taxa de homicídios por 100.000 habitantes na Paraíba é de 38,6, enquanto a média brasileira é de 26,2. João Pessoa é a segunda capital mais violenta do país, logo depois de Maceió, com média de 80,3 assassinatos por 100.000 habitantes.

"ELES"



Não sou um concordante 100% do Reinaldo Azevedo, chego aí, pelos 70%! Agora, com este texto concordo plenamente, pois ele expõe as vísceras da relação espúria que tomou conta do elo público/privado. Ah!, mas LULLA não representa mais o público! Representa, sim, pois todos sabemos como ele se comporta nos bastidores (nem tão bastidores assim), para comandar as ações da Dilma nos rumos do governo e na indicação de pelegos para cargos.

_______________________________________________________________________
22/03/2013
 às 6:59
Decidi manter este texto no alto na homepage por mais algum tempo.
Há muitos anos invoco com um certo sujeito frequentemente atacado nos discursos logorreicos de Lula. Trata-se de um sujeito simples, mas oculto; presente, mas indeterminado, reconhecível, mas ausente. Vindo do Apedeuta, haveria de ser uma revolução da sintaxe. Não tem nome, mas pronome: “Eles” — eventualmente, há a variante “as elites”, mas o Babalorixá de Banânia tem recorrido menos a essa palavra. Ele gosta mesmo é de atacar um certo “eles”, caso em que temos, então, o objeto oculto, o objeto indeterminado, o objeto reconhecível, mas ausente.
Esse “eles” é capaz das maiores maldades. O “eles” está sempre conspirando contra o Brasil. O “eles” tem sempre as piores intenções. O “eles” atua em nome de uma agenda secreta. O “eles” é contra os benefícios aos mais pobres…
Assim, ao longo desses anos, tenho indagado: “Mas, afinal de contas, quem forma esse ‘eles’?”. Quais são os nomes designados por esses pronomes? Onde estão os “quens” que lhe conferem substância política? Como transformar esse pronome do caso reto em pronome interrogativo, em pronome relativo? Impossível!
Já lhes falei aqui, em 2010, sobre um livrinho chamado “Mitos e Mitologias Políticas”, do francês Raoul Girardet. É de fácil leitura e não traz nada de especialmente fabuloso. Sua virtude principal é sistematizar com muita clareza as características do discurso da manipulação política autoritária. Leiam abaixo as suas características e depois me digam se vocês não reconhecem aí tipos como Chávez (agora Maduro), Cristina Kirchner, Rafael Correa, Evo Morales — e, é evidente, Lula! Notem como todos os tiranos do século passado também seguiram rigorosamente o roteiro. Segundo Girardet, os assassinos da razão política investem nos seguintes mitos:
– prometem a Idade de Ouro;
– apresentam-se como salvadores da pátria;
– apontam uma permanente conspiração de inimigos;
– sempre alertam para o risco representado pelos estrangeiros;
– demonstram que a luta contra os inimigos implica sacrifício pessoal;
– o que deu errado é sempre culpa desses inimigos.
Todos são assim?
Aí dirá alguém: “Ah, Reinaldo, todos são assim! Isso é próprio da política!”. Bem, meus caros, o Brasil mesmo demonstra que isso não é verdade. Pegue-se o caso do político que chegou ao topo sem exercitar nenhuma dessas vigarices: FHC. Apontem uma só dessas pilantragens no discurso do ex-presidente, dentro ou fora do poder. Ao contrário até: o tucano é uma espécie de fanático da racionalidade, enxergando sempre conexões lógicas e necessárias entre passado, presente e futuro; entre o antes e o depois. Já ocorreu de ser generoso demais na leitura do tal “processo”, de sorte que já chegou a ver no próprio Lula o desdobramento da era tucana. Acho isso falso. Mas fica para outra hora.
Lula, ao contrário, cumpriu à risca o roteiro (os “estrangeiros” em sua fala, são os americanos; os “brancos de olhos azuis”), com ênfase na suposta e permanente conspiração dos inimigos — aquele “eles” sujeito, aquele “eles” objeto de demonização.
Quem paga a conta?
Pois é… Nesta quarta, o Globo informou que três empreiteiras arcam com os custos da viagem de Lula à África. Reproduzo trecho de texto publicado nesta quinta na VEJA.com (em vermelho). Volto em seguida:
Três construtoras com histórico de doações eleitorais para as campanhas presidenciais petistas e de execução de obras do governo federal custearam a viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a África, encerrada na terça-feira. Lula ficou seis dias no continente e passou por Gana, Benin, Guiné Equatorial e Nigéria.
Durante a viagem, fez duas palestras custeadas por empreiteiras. A primeira, em Gana, foi paga em conjunto pela Odebrecht e pela Queiroz Galvão, além de uma empresa de seguros local chamada SIC. A segunda foi bancada pela construtora Andrade Gutierrez, que doou mais de 2 milhões de reais a Lula quando ele concorreu à reeleição, em 2006. Naquele ano, a Odebrecht injetou cerca de 200 000 reais na campanha do petista. A Queiroz Galvão não fez doações.
Em 2010, a campanha da presidente Dilma Rousseff recebeu 9,38 milhões de reais da Queiroz Galvão, 15,7 milhões da Andrade Gutierrez e 2,4 milhões da Odebrecht. A informação de que a viagem fora paga pelas empreiteiras foi publicada nesta quarta-feira pelo jornal O Globo e confirmada pelo Instituto Lula, que, no entanto, não informou os valores pagos sob a alegação de que são dados “reservados”.
(…)
Voltei
Refaço a pergunta: que nomes, afinal de contas, se escondem no pronome “eles”? Lula, por certo, não considera que os trabalhadores sejam os inimigos. Ao contrário: ele se quer seu porta-voz. As empreiteiras, ainda as maiores financiadoras de campanhas eleitorais, também são amigas de Lula. Os grandes industriais, hoje dependentes do BNDES e das bondades “desonerantes” de Guido Mantega, não perfilam com o tal “eles”. O setor financeiro… Bem, esse não mesmo! Quem é esse “eles”? Onde está esse “eles”?
A prática não é nova. No dia 30 de agosto de 2011, Sérgio Roxo, no mesmo Globo, informava (em vermelho):
Depois de uma semana dedicada a articulações políticas para a eleição do ano que vem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retoma, a partir de hoje, a vida de palestrante internacional. Contratado pelas empreiteiras OAS e Queiroz Galvão, o petista irá à Bolívia, à Costa Rica e a El Salvador. Nos três países, o ex-presidente também terá atividades políticas e se encontrará com os presidentes locais.
O tema de todas as palestras será o mesmo: integração regional e o desenvolvimento social e econômico dos países da América Latina. Lula viaja em jatos particulares bancados pelas empreiteiras e acompanhado de assessores. Ele recebe cerca de US$ 300 mil por palestra no exterior.
O giro do ex-presidente começou ontem, em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, onde participaria à noite, com o presidente boliviano Evo Morales, de uma reunião com movimentos sociais no estádio da cidade. Hoje de manhã, pago pela OAS, Lula falará a empresários, industriais, produtores rurais e integrantes da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos. A empreiteira brasileira é responsável pela construção no país de uma estrada de US$ 415 milhões (cerca de R$ 660 milhões), que enfrenta protestos por cortar uma área indígena.
Encerro
As viagens de Lula e quem lhe paga as contas não teriam a menor importância se o PT não fizesse do estado uma extensão do partido (e também o contrário). Isso tudo seria irrelevante se ele não se colocasse — e não fosse de fato — um condestável da República. Que se virasse lá com seus financiadores! Seria mesmo irrelevante se o Apedeuta fosse hoje, com efeito, apenas um homem privado, que não se imiscui nos assuntos de estado nem dá as cartas no partido que está no poder; se não houvesse uma fatia enorme do governo que obedece mais a seu comando do que ao de Dilma.
Ocorre que nada disso é verdade. O Apedeuta se transformou num misto de chefe de estado informal e lobista — com a graça de que nem tem o ônus da governança.
Lula está no topo da cadeia alimentar da política. Não tem predadores naturais. Mesmo assim, vive apontando a conspiração dos gnus, das zebras, dos cervos… Sempre deixando claro que pode resolver tudo com uma patada na espinha ou uma mordida na jugular. E toda a savana lhe presta reverência.
Onde, afinal de contas, se esconde o tal “eles”?
Texto publicado originalmente às 20h39 desta quinta
Por Reinaldo Azevedo

"BABY BOOMER", COM ORGULHO!

  ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Sim, ...