As palavras da
escrita abaixo doem muito para o verdadeiro cidadão brasileiro. Verdadeiro,
porquê comprometido com os rumos da Nação. Há, claro, a quase totalidade dos
200 milhões que somos, que pouco se importam com o pensamento e a ação daqueles
em quem votamos. Tudo isso porque elegemos alguém que está a centenas ou
milhares de quilômetros distantes de nós e nada conhece da nossa realidade e
nós mal o conhecemos. Ou, ainda, está no parlamento, praticamente sem votos,
levado pela legenda, e em razão de votação torrencial destinada a determinado
candidato. Pior do que isso, temos senadores "biônicos", pois não
receberam um voto sequer e lá estão por terem sido "suplentes".
Votamos em candidatos sem compromisso mútuo e nada recebemos das ideias e das
propostas parlamentares por que, primeiramente, estas não são geradas por
mentes vazias e, segundamente, por que não lhes interessa trabalhar, mas,
apenas, participar de negociatas que lhes favoreçam monetariamente. O texto,
lembrando que ninguém discute os temas candentes atuais e, portanto, não sugere
propostas, pensando o País do futuro, faz-nos alertas sobre como somos levados
a comprovar a frase da música de Zé Ramalho: "vida de gado, povo marcado,
povo feliz".
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Procuram-se partidos
“É cada dia maior o hiato entre as cúpulas partidárias e a
realidade brasileira, o comando pragmático da política e a produção crítica
acadêmica. Os grandes temas ficam para as elites privadas e suas instituições”
Lendo
as notícias dos principais jornais do país e as publicações doIBGE, do Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), e do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), sobretudo os dados
especializados em economia, indústria, importação, exportação, ciência e
tecnologia, tenho a impressão de que vivemos dois mundos na política
brasileira. O primeiro, árido, acadêmico, denso, aparentemente distante do
cotidiano da maioria do eleitorado, mas que carrega informações e dados
essenciais para a tomada de decisões pelos agentes públicos e privados. O segundo
mundo é o do vale-tudo político, do varejo, das negociações pragmáticas, da
barganha pelos cargos no governo, da apelação preconceituosa, da busca do voto
a qualquer preço. Tudo isso com uma pitada de boa publicidade, sob a regência
de eficientes marqueteiros.
Diante desses mundos, pergunto-me como transitam os atuais
partidos políticos existentes no país, em especial os chamados grandes e
aqueles de esquerda? Todo partido pode ter, mantida com verbas do fundo
partidário, uma fundação de estudos que deve subsidiar os debates e as decisões
partidárias. O que se percebe, contudo, é que esses organismos funcionam de
forma autônoma em relação às direções dos partidos. Suas vidas, seus estudos e
publicações, quando muito, servem para enfeitar o discurso e a vitrine das
agremiações às quais são vinculados. Na prática, os partidos não discutem para
valer os temas do primeiro mundo acima referido. Na maioria das vezes, seus
dirigentes preparam discursos para os programas partidários regularmente
exibidos na mídia.
Alguém
conhece alguma resolução recente, pelo menos da crise de 2008 até hoje, de
algum partido, sobre os rumos das políticas monetária, creditícia e cambial,
adotados pelo governo federal desde então? Alguém viu ou participou de
entrevista coletiva da cúpula de algum partido político, na qual a agremiação
expôs sua análise sobre os números das importações e exportações? E sobre o
peso das commodities agrícolas e minerais versus a
participação de produtos manufaturados, de média e alta complexidade em nossas
exportações? Algum sinal de avaliação oficial partidária sobre o fracasso do
Plano Nacional de Educação (PNE) que vigorou entre 2001 e 2010? Alguém recebeu
nota técnica da direção de algum partido com representação no Congresso
analisando a gênese da dívida pública brasileira, sua composição, encargos, seu
impacto nas contas nacionais? E as limitações que impõem à elevação da taxa
pública de investimentos no país? Certamente ninguém leu, viu ou ouviu tais
manifestações com a centralidade que mereciam.
Os partidos conservadores, certamente, não teriam muito a dizer,
pois, em linhas gerais, concordam com as diretrizes macroeconômicas seguidas
pelos governos de 2008 até hoje. Os partidos de esquerda, eis a questão, estão
atuando muito mais restritos à máquina pública, à exceção do Psol. O meu
partido, o PDT, quando se unificou na votação de matérias importantes em defesa
dos trabalhadores, avançou na esquerda, com a sociedade, sem seguir a
orientação do governo, mesmo participando da administração federal desde 2007.
É
cada dia maior o hiato entre a vida das cúpulas partidárias e a realidade
brasileira, o comando pragmático da política e a produção crítica acadêmica
veiculada em teses, artigos nas revistas e jornais, publicações, sob a
liderança de professores, economistas e pesquisadores com vínculos nas
universidades, no Ipea, no BNDES e outras instituições. Na verdade, parece que
vivemos a ‘democracia oligárquica’, como afirmou recentemente o professor Luis
Gonzaga Belluzzo, em artigo na revista Carta Capital. Os grandes
temas e decisões da economia e do desenvolvimento ficam para as elites privadas
e suas instituições, para as autoridades monetárias do governo central e alguns
poucos manipuladores de informações. Para as instituições eletivas, fica o
varejo. Um equívoco.
Na
recente convenção nacional do PDT, em março deste ano, pensando mais no país,
assinei, com os senadores Cristovam Buarque (PDT-DF) e Pedro Taques (PDT-MT),
um documento com reflexões e questionamentos ao governo Dilma. Procuram-se,
portanto, partidos que assumam a responsabilidade e façam, em todo o país, o
debate sobre rumos, desafios, limites e rupturas que a nação exige para sair
das incômodas posições que hoje apresenta em educação, na saúde, nos números da
violência contra a infância e a juventude, no baixo investimento público, na
tributação regressiva e indireta, na desindustrialização, nos encargos elevados
com a dívida pública, nas desigualdades regionais, na ciência e tecnologia, nas
exportações de baixo valor agregado e nos demais déficits decorrentes dessa
ordem injusta e desigual. Procuram-se. Quem se habilita a sair dos limites e do
conforto dos cargos na máquina pública para pensar e redesenhar o país?
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