DETALHES DA VIDA

A vida passa por nós sem que demos a importância devida a pequenos momentos e situações em que, vivenciando-as normalmente, não as percebemos. Mas, assistindo ao vídeo da reportagem indicada no endereço abaixo, podemos avaliar a densidade de um momento, comum para bilhões de pessoas, revolucionário na vida de poucas.
Emocionante, enfim!
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TROTSKY - MERCADER - SARITA MONTIEL

Os nomes que mencionei no título da postagem são conhecidos por poucos, muito poucos!, da geração que vivencia o século XXI. Talvez Trotsky pela relevância de alguns aspectos políticos da atualidade, ainda seja lembrado, mas poucos, muito poucos!, conhecem as particularidades da sua vida pessoal e política no cenário mundial, especialmente pela participação que teve, e dos ódios adquiridos então, na Revolução Russa.
Mas, na caudal da importância da vida de Trotsky naquele momento, surge o tal Ramón Mercader e, agora sabe-se, a relação que este mantinha com Sara Montiel. Para quem conhece esses personagens e suas estórias, o fato de Sarita estar envolvida com o assassino, e dessa forma, fez cair a imagem icástica que mantinha dela por ela ter povoado, e muito, minha mente da adolescência e do adulto jovem. Agora, cai a máscara, cai o pano e termina o espetáculo. É uma pena!
Após o texto de Padura, há um endereço que pode ser acessado e onde há maiores informações sobre o fato, inclusive com um documentário filmográfico bem interessante.
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Ramón Mercader ri no túmulo

Leonardo Padura, para o jornal Folha de São Paulo, de 15/02/2015
Sara Montiel, ícone do cinema espanhol, pode ter tido filha do assassino de Trótski, segundo revista
Uma revista espanhola fez uma revelação que causou comoção no mundo do show business do país ibérico: Sara Montiel, um dos ícones do cinema espanhol do século 20 e uma das mulheres mais belas do mundo, pode ter tido uma filha ilegítima de ninguém mais, ninguém menos que Ramón Mercader, o assassino de León Trótski.
Segundo a revista, a criança, concebida e nascida no México no período em que Montiel viveu nesse país, na década de 1950, nasceu por cesárea. Quando sua mãe acordou da anestesia, lhe disseram que a menina tinha nascido morta, sendo que, na realidade, fora sequestrada e enviada a Valencia, onde seria adotada e criada por uma família que ali vivia. A operação à qual submeteram a atriz e cantora foi tão brutal que, no processo, foi extirpado seu útero, deixando-a estéril pelo resto de sua vida.
Sobre aquela gravidez de "la" Montiel pouco se soube na época. O assunto só foi comentado mais tarde, mas tudo parece indicar que aconteceu, embora não tenha sido possível determinar com clareza o destino da criança que ela gestou. E nunca se falou com certeza do possível pai, embora tenham sido aventados vários nomes de amantes duradouros e ocasionais da vedete.
Agora, vários anos após a morte da bem chamada "Saritíssima", o homem que por anos foi seu cabeleireiro fez a revelação explosiva que a imprensa divulgou... com a cautela devida num caso como esse.
Poucos dos roteiristas das telenovelas brasileiras mais cheias de reviravoltas teriam sido capazes de imaginar esse giro "dramático" no desenvolvimento de uma personagem. Isso porque, embora la Montiel pareça ter sido bastante liberal em suas relações amorosas, nesse episódio, para que a conjunção agora revelada pudesse ter acontecido, ela teria de ter ocorrido nos anos 50, quando Mercader estava encarcerado na temível prisão mexicana de Lecumberri, cumprindo 20 anos de pena pelo assassinato de Trótski.
É sabido, pela própria Montiel e por seu amante da época, o colunista espanhol Juan Plaza, que a atriz visitou Mercader na prisão mexicana em duas ou três ocasiões e, num gesto de simpatia, lhe deu de presente um agasalho tricotado por ela. O que desconheço é se nesse inferno chamado Lecumberri havia autorizações para visitas conjugais...
Se bem que é sabido que com um pouco de dinheiro é possível abrir qualquer porta no México, ainda mais a de uma instituição na qual sempre reinou a corrupção. Ou terá sido o longo braço de Stálin que, de Moscou, deu ordem para que fossem feitos "investimentos" para melhorar a vida de seu pistoleiro de aluguel e o presenteou com o petisco fino que era a jovem Sara Montiel?
Os ingredientes da telenovela mais inesperada da biografia sempre obscura de Ramón Mercader foram colocados sobre a mesa. Agora falta esperar os próximos capítulos --ou então que, neste século 21 tão pouco novelesco, um simples exame de DNA esclareça tudo.
Tradução de CLARA ALLAIN

A INFORMALIDADE E O SENTIMENTO REAL DO JORNALISTA

A informalidade e o sentimento real do jornalista, antes da encenação televisiva. Sim, porque aquilo que assistimos no programa ao vivo, nunca é a realidade, pois tudo representa o jogo de interesses do sistema, aqui entendendo quem paga a publicidade da empresa, os interesses dessa mesma empresa e os "acertos" de bastidores. Tudo isto é o que forma o conjunto noticiado a que assistimos.
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http://youtu.be/9ptZ6yE6Fa0

CLOACA DA CLOACA

Todos sabemos e conhecemos a cloaca em que chafurda o petismo governante do Brasil varonil. As ligações cloacais aparentemente são infindáveis, tal como o "n" da matemática. Então a seguir, mais um daqueles canais que alimentam o esgoto brasileiro da corrupção.
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Força-tarefa da Lava Jato caça o misterioso doleiro que guarda o dinheiro do petrolão

O suíço-brasileiro Bernardo Freiburghaus, que deixou o Brasil no ano passado, opera as contas do esquema em paraísos fiscais

THIAGO BRONZATTO E MURILO RAMOS
20/02/2015 21h57
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No dia 29 de outubro de 2014, o suíço-brasileiro Bernardo Freiburghaus apresentou à Receita Federal uma declaração de saída, documento exigido de todos aqueles que desejam deixar o Brasil ou se ausentar por mais de 12 meses. Não declinou seu novo endereço, como outros fazem em sua situação. Conforme a Receita informou à força-tarefa do Ministério Público Federal que investiga o petrolão, Freiburghaus indicou apenas uma conta-corrente com cerca de 50 mil francos-suíços, depositados no banco Julius Baer, na Suíça. Freiburghaus tem residência lá. Faltavam poucos dias para a etapa mais importante da Lava Jato, batizada de Juízo Final. Enquanto grandes empreiteiros seguiam para o xadrez, Freiburghaus desaparecia no mundo. Segundo os investigadores, deixara o Brasil em junho.

ELO O suíço Bernardo Freiburghaus. Em depoimentos como o de Paulo Roberto Costa, ele é apontado como doleiro do esquema (Foto: reprodução)
No começo de novembro, os investigadores já sabiam que Freiburghaus era o grande doleiro dos principais operadores do petrolão. Seus clientes incluíam executivos da Petrobras, como os delatores Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco; lobistas envolvidos no esquema; e empreiteiras, sobretudo a Odebrecht. Freiburghaus atua desde os anos 1990 no mercado negro dos bancos suíços. Especializou-se em clientes cariocas. Para minimizar os riscos de ser descoberto pelas autoridades brasileiras e suíças, usava múltiplos bancos – e, de tempos em tempos, remanejava o dinheiro dos clientes para novas contas secretas. Tinha contato direto com os gerentes dos  bancos. Usava uma brasileira de sua confiança, fluente em várias línguas, para se comunicar por e-mail com alguns desses bancos. A força-tarefa do petrolão está à caça dele: há um mandado judicial para que ele fale. Se Freiburghaus colaborar, os investigadores chegarão mais rápido à origem do dinheiro sujo que ele, segundo as provas do caso, repassava aos operadores do esquema. A origem – quem pagava – está nas fornecedoras da Petrobras, sejam empreiteiras ou multinacionais do petróleo.
>> Os homens que sacodem o Brasil: como trabalha a força-tarefa da Lava Jato
Segundo os depoimentos da delação premiada de Paulo Roberto Costa, Freiburghaus abrira uma conta no mesmo banco suíço Julius Baer para depositar parte do dinheiro da propina, US$ 5,6 milhões, paga pela Odebrecht. Costa disse que Freiburghaus fora orientado pelo ex-diretor da Odebrecht Rogério Araújo. Ele temia que o dinheiro destinado a Costa transitasse pelas mãos gananciosas de políticos.
Desde o começo do caso, a Odebrecht nega qualquer ilegalidade. Em nota, a empreiteira e Rogério Araújo “negam ter feito, intermediado ou mandado fazer qualquer pagamento ilegal a Paulo Roberto Costa e reiteram que não se manifestam sobre a fala suspeita e interessada de réus confessos, que buscam se favorecer dos benefícios da delação premiada”.
O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, que assumiu em sua delação ter desviado mais de R$ 100 milhões da Petrobras, também afirmou ter usado o Julius Baer para transferir dinheiro para uma offshore no Canadá. Sócio de Freiburghaus e contador da Diagonal Investimentos, empresa de fachada que já foi vasculhada pela Polícia Federal no Rio de Janeiro, Marcos Heronides, que possui uma sorveteria no subúrbio carioca de Duque de Caxias, disse a ÉPOCA que o doleiro está na Suíça.
>> Delatores do petrolão entregam os companheiros do PT
Freiburghaus não gosta apenas de sorvete. Ele é dono de um apartamento avaliado em R$ 3 milhões na Lagoa Rodrigo de Freitas e costumava frequentar o Gávea Golfe Clube. Investe fora do Brasil. Em Portugal, por exemplo, ele fez um investimento imobiliário de quase e 2 milhões no ano passado. Numa sociedade com o advogado português Antonio Manuel Raposo Subtil, Freiburghaus comprou imóveis em Lisboa. “Eu não sabia que Freiburghaus tinha empresa no Brasil ou que estava envolvido em algum escândalo. Fui sócio dele, porque nosso escritório costuma abrir empresas em nome de nossos clientes estrangeiros”, diz Subtil, que afirma ter conhecido Freiburghaus numa feira imobiliária em Portugal.
Entre os que temem as possíveis revelações de Freiburghaus está a construtora Odebrecht. Preocupados com a colaboração da Suíça com a força-tarefa do petrolão, advogados da empreiteira estiveram com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para pedir informações sobre dados bancários enviados  recentemente pelos suíços. A Odebrecht alega que os procuradores brasileiros, que já estiveram na Suíça e viram algumas das contas do petrolão, deveriam ter esperado a chegada formal dos documentos ao Brasil. A Odebrecht ainda não é oficialmente investigada, mas já quer anular quaisquer dados oriundos da Suíça.
A caça da força-tarefa a Freiburghaus se intensificará. Se ele for achado, a lista do petrolão ganhará alguns zeros.

"PARALAMENTAR" UMA DAS RAZÕES DA CARGA FINANCEIRA QUE NOS ACOMETE


Afinal, qual é o custo atualizado dos parlamentares, "paralamentar" a minha condição de povo? A matéria jornalística abaixo, da revista Congresso em Foco, esclarece esta dúvida e, assim, todos teremos a razão "paralamentar" os absurdos cometidos por aqueles a quem indicamos como nossos representantes republicanos.
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CÂNCER: OUTRA VISÃO, DE OUTRO MÉDICO

Eis outra visão do problema tão grave para a vida, de uma perspectiva otimista.


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Minha vida

O neurologista diante da morte 
OLIVER SACKS, COM TRADUÇÃO FRANCESCA ANGIOLILLO
 
Autor prolífico de livros populares de divulgação científica, o neurologista Oliver Sacks descobriu recentemente metástases, não tratáveis, de um câncer que tem há nove anos. Neste texto, ele fala de como quer viver seus últimos meses e dos esforços necessários para fazer o que chama de um acerto de contas com a vida.
Um mês atrás, eu me sentia gozando de boa saúde; diria até que de uma saúde de ferro. Aos 81, ainda nado 1.600 metros por dia. Mas minha sorte se esgotou --há algumas semanas, soube que tinha múltiplas metástases no fígado. Nove anos atrás, descobri que eu tinha um tumor de olho raro, um melanoma ocular. Apesar de as radiações e do laser para eliminar o tumor terem me deixado cego daquele olho, era muito improvável que um tumor daquele tipo se alastrasse. Eu estou entre os 2% desfavorecidos pela sorte.
Sinto-me grato pelos nove anos produtivos e de boa saúde que tive após o diagnóstico original, mas agora estou cara a cara com a morte. A doença tomou um terço de meu fígado e, ainda que seja possível atrasar seu passo, o avanço desse tipo particular de câncer não pode ser impedido.
O que me cabe agora é decidir como viverei os meses que me restam. Devo vivê-los da maneira mais rica, profunda e produtiva que puder. Nisso sou encorajado pelas palavras de um de meus filósofos favoritos, David Hume, que, aos 65 anos, sabendo-se acometido por uma doença mortal, escreveu, em um só dia de abril de 1776, uma breve autobiografia. Ele a intitulou "Minha Vida".1
"Conto agora com uma morte rápida", ele escreveu. "Tenho sofrido pouquíssima dor advinda de minha doença e, o que é mais estranho, apesar do rápido declínio de meu corpo, meu espírito nunca se abateu um momento sequer. [...]Possuo o mesmo ardor de sempre pelos estudos, e a mesma alegria na companhia de outras pessoas."
Tive muita sorte de poder passar dos 80, e os 15 anos que me foram concedidos além das seis décadas e meia que viveu Hume, eu os vivi de forma tão plena de trabalho e amor quanto ele. Nesse período, publiquei cinco livros e terminei uma autobiografia, um bocado mais extensa que a dele, a sair nos próximos meses;2 tenho vários outros livros quase concluídos.
Hume seguia: "Sou [...] um homem de disposição cordial, senhor de si mesmo, de humor franco, social e jovial, capaz de amizade, mas pouco suscetível a inimizades e de grande moderação em todas as suas paixões".
Nesse ponto minha experiência se afasta da dele. Embora eu tenha vivido amores e amizades e não tenha inimizades reais, não posso dizer (nem ninguém que me conhece poderia) que sou um homem de disposição cordial. Ao contrário, meu caráter é veemente, sou capaz de me entusiasmar de forma violenta e sou extremamente imoderado no que diz respeito a qualquer de minhas paixões.
Ainda assim, uma linha do ensaio de Hume me parece especialmente verdadeira: "É difícil", escreve, "sentir maior distanciamento da vida do que este que sinto neste momento".
Ao longo dos últimos dias, eu pude ver minha vida como se a observasse desde uma grande altitude, como se ela fosse uma espécie de paisagem, e com a percepção cada vez mais aguda da conexão entre todas as suas partes. Isso não quer dizer que eu tenha dado minha vida por encerrada.
Ao contrário: sinto-me intensamente vivo, e quero e espero que, no tempo que resta, eu possa aprofundar minhas amizades, dizer adeus aos que amo, escrever mais, viajar, se tiver força para tanto, alcançar novos graus de entendimento e de discernimento.
Isso vai requerer audácia, clareza e franqueza; é uma tentativa de acertar as contas com o mundo. Mas haverá tempo, também, para diversão (e até mesmo para um tanto de tolices).
Sinto uma súbita nitidez de foco e de perspectiva. Não há tempo para nada que não seja essencial. Preciso me concentrar em mim, no meu trabalho, nos meus amigos. Não vou mais assistir ao noticiário na televisão toda noite. Não darei mais atenção alguma à política ou ao aquecimento global.
Isso não é indiferença, mas distanciamento --eu ainda me preocupo muito com o Oriente Médio, aquecimento global, o crescimento da desigualdade, mas esses assuntos não me cabem mais; eles cabem ao futuro. Eu me alegro quando encontro gente jovem e talentosa --inclusive a que fez a biópsia que constatou minhas metástases. Eu sinto que o futuro está em boas mãos.
Fiquei mais e mais atento, nos últimos dez anos, à morte de contemporâneos meus. Minha geração está de saída, e cada uma dessas mortes eu senti de forma abrupta, como se uma parte de mim me fosse arrancada. Não haverá mais ninguém como nós quando todos nós tivermos ido embora, mas é um fato que não há no mundo ninguém igual a outra pessoa, nunca. Quando alguém morre, não existe um substituto possível. Cada um deixa um vazio que não pode ser preenchido, pois é o destino --genético e neural--de cada humano ser um indivíduo único, que deve achar seu próprio caminho, viver sua própria vida e morrer sua própria morte.
Não posso fingir não ter medo. Mas o sentimento que predomina em mim é a gratidão. Eu amei e fui amado; tive muito e dei muito em troca; eu li, e viajei, e pensei, e escrevi. Eu tive com o mundo o relacionamento especial que os escritores e os leitores têm com ele.
Acima de tudo, eu fui um ser senciente, um animal pensante sobre este belo planeta, o que, por si só, já foi um enorme privilégio e uma aventura.

CÂNCER: A VISÃO DE UM MÉDICO

Sem dúvida, eis uma abordagem ousada de um assunto tão crucial para a vida e, por ser polêmico, merece uma leitura atenta, especialmente procurando compreender o dilema do médico em face da inevitabilidade em que está.
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Entrevista - Richard Smith

Não há melhor forma de morrer do que de câncer

DOENÇA PERMITE SE DESPEDIR, REFLETIR E FAZER PELA ÚLTIMA VEZ O QUE QUISER, AFIRMA MÉDICO
GABRIEL ALVESDE SÃO PAULO
"Você pode dizer adeus, refletir sobre a vida, deixar mensagens, visitar lugares especiais pela última vez, ouvir as músicas favoritas, ler poemas e se preparar, de acordo com suas crenças, para encontrar seu criador ou curtir o esquecimento eterno."
Essa é a visão romântica da morte por câncer, "atingível com amor, morfina e uísque". Com ela, o médico britânico Richard Smith, 62, ex-editor da prestigioso periódico médico "British Medical Journal", causou uma polêmica de proporção global no início deste ano, quando publicou um texto sobre o tema.
"A reação foi maior do que qualquer coisa que eu tenha escrito em 40 anos", afirma.
Richard Smith falou com a Folha a respeito da polêmica e do "gasto excessivo" com pesquisa relacionada a câncer. Veja abaixo a entrevista.
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Folha - O senhor disse recentemente que a melhor maneira de morrer é pelo câncer. Como foi a repercussão? Você esperava tamanha atenção?
Richard Smith - A reação a isso foi maior do que qualquer coisa que eu tenha escrito em 40 anos de jornalismo médico. Foi uma reação global, e muitas pessoas, particularmente aqueles cujos parentes sofreram e morreram de câncer, se sentiram compreensivelmente ultrajados. Até mesmo recebi ameaças de morte. Não esperava tanta atenção, já que eu estava escrevendo principalmente para médicos.
Mas o senhor não estava tentando convencer o público em geral (ou aos médicos e cientistas) a não procurar uma cura para o câncer?
Não, mas eu penso que muito dinheiro gasto em pesquisas de câncer poderia ser melhor gasto pesquisando, por exemplo, neurociência, demência e problemas de saúde mental. Eu não penso que algum dia cheguemos a curar todos os cânceres. Muitos oncologistas e biologistas moleculares concordam. Em algum sentido, o câncer faz parte da gente.
O senhor acha que médicos geralmente discordam dos pacientes sobre a melhor maneira de morrer. Como?
Muitos médicos concordam comigo de que câncer é a melhor maneira de morrer.
Existem essencialmente quatro maneiras: morte súbita, que vem se tornando pouco comum; de demência, uma morte lenta; de falência dos órgãos, que é geralmente uma morte imprevisível; e por câncer, em que o declínio final ocorre ao longo de semanas, dando tempo para despedidas e toda sorte de preparativos.
Médicos geralmente insistem em tratar os pacientes por tempo demais, mas muitos deles mesmos optam por um tratamento menos agressivo quando é com eles.
Poucos médicos querem, por exemplo, morrer na UTI, onde cada vez mais pessoas morrem em uma morte técnica e sem alma.
O senhor é religioso?
Não. Sou ateu, mas eu me interesso por religiões. Eu gosto de pensar que eu, como tudo mundo, tenho um lado espiritual, que se manifesta para mim através da música, poesia, e longas caminhadas em meio à natureza.
As pessoas muitas vezes tentam não pensar a respeito da morte. O senhor acha que isso traz mais mal do que bem?
Eu tenho certeza que nunca pensar a respeito da própria morte faz mal. Os filósofos estoicos, como Sêneca, mostraram claramente que contemplar a própria morte não só leva a uma morte melhor como a uma vida melhor. Uma aceitação por inteiro da morte significa uma vida plena. Para mim a morte dá significado à vida. É um ciclo natural.
Além disso, pessoas que nunca pensam na morte geralmente estão mal preparadas quando ficam doentes e próximas dela. Eu acho que todas as pessoas devem ter de modo claro o que quer que aconteça com elas quando a morte se aproximar.
O senhor pensa que a formação dos médicos é adequada?
O treinamento de médicos tem que mudar na medida em que os padrões de doenças mudam. Nós vivemos em um mundo de pacientes, a maioria idosos, com múltiplos problemas, muitos crônicos, como diabetes ou hipertensão.
O modelo quando eu estava na faculdade, nos anos 70, era "diagnóstico, tratamento e cura". Quando alguém tem meningite, esse é o modelo: o que o médico faz determina se o paciente sobrevive.
Mas hoje o diagnóstico é menos importante porque nós, em geral, já sabemos o que os pacientes têm, e o tratamento depende mais deles que do médico: mudanças no estilo de vida e adaptação às condições impostas por doenças crônicas. Há pouca cura, a maioria das doenças ficarão presentes por toda a vida.


"BABY BOOMER", COM ORGULHO!

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