Os paroleiros oficiais se
esforçaram na explicação no inexplicável, mas caíram no ridículo, pois para
cada argumento exposto por eles há o
contraditório irretorquível. A simetria dos posicionamentos pessoais ou
oficiais é que dá credibilidade às pessoas e às instituições. Sem isto, esses
dirigentes, eleitos por um povo crédulo e ordeiro, posam de falastrões,
balabregas, dissimulados e canalhas para a História.
Abaixo um texto densamente inquisidor
e demonstrativo das incoerências que ocorrem nas ações dos nossos governantes,
publicado pelo Instituto Millenium.
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Por que a presidente circula em
carrão importado?
Autor: Carlos Alberto Sardenberg
Por que não um
modelo com mais conteúdo nacional, movido a etanol?
A presidente Dilma acredita que, com o aumento
“extraordinário” de importação de carros, está em curso “uma tentativa de
canibalização” do mercado brasileiro.
Não explicou o que entende por “canibalização”, mas ela mesma
dá um exemplo de como e por que ocorrem as importações. A presidente circula em
um Omega blindado, produzido pela General Motors na Austrália e importado pela
GM brasileira.
Também se incluem na frota presidencial carros Ford
Fusion, fabricados no México e importados pela mesma montadora. Entre os Fords,
aliás, há um híbrido – movido a dois motores, um convencional, a gasolina, e
outro elétrico. Trata-se da aposta da companhia para a era dos veículos mais
amigáveis com o meio ambiente.
Daí, duas perguntas: 1) por que o Ômega? E, 2) por que
não um veículo movido a etanol, a aposta ambiental brasileira?
Para a primeira questão, explica o Gabinete de
Segurança Institucional (GSI): “(esse carro) atende, em melhores condições, os
requisitos técnicos estabelecidos para garantir a segurança presidencial”.
Acrescenta: “Tais requisitos não são preenchidos por nenhum produto de
fabricação nacional.”
Ora, por que as montadoras aqui instaladas – que formam
a indústria nacional protegida pelas medidas do governo – não fabricam esses
carros de maior qualidade e conteúdo tecnológico?
Elas produzem aqui os modelos populares, básicos e
alguns médios. Na Argentina, os médios, já de maior valor agregado. Os carrões
são fabricados em diversos outros países, desenvolvidos, como Austrália e
Alemanha, e mesmo emergentes, como o México, por exemplo, de onde podem ser
importados para o Brasil livres de impostos, conforme o acordo firmado entre os
dois países há dez anos.
A
indústria local continua, pois, superprotegida. E o consumidor paga a conta.
Esse foi o arranjo que as multinacionais organizaram
para sua produção global. Vai daí que as grandes importadoras de carros (e
peças) são também as grandes produtoras nacionais.
Estariam essas montadoras canibalizando seu próprio
mercado interno? Não faria lógica, não é mesmo? Elas importam os carros que não
querem ou não conseguem produzir aqui com qualidade e preço internacional.
Resumindo, a Ford mexicana é mais eficiente que a brasileira. Idem para a GM
australiana em relação à local.
Cresceu no último ano a importação de carros chineses e
coreanos de marcas sem fábricas no Brasil. Esses veículos impuseram forte
concorrência em algumas faixas ocupadas pelas montadoras locais. Mas o volume
dessas importações nem chega a arranhar o mercado brasileiro – 3,5 milhões de
veículos/ano, o quarto ou quinto no mundo – muito menos canibalizar.
Do ponto de vista macro, não há como atender um mercado
de 3,5 milhões preferencialmente com importações. As montadoras precisam se
estabelecer e produzir aqui, o que estão fazendo. A questão é: o que vão
fabricar? A que preço?
O regime automotivo anunciado nesta terça pela
presidente exige que os carros aqui produzidos tenham mais conteúdo nacional, que
as empresas gastem mais com engenharia e pesquisa, mas não exige que se
fabriquem aqui os “carrões”. As montadoras (e o governo) sabem que, nas
condições estruturais da economia brasileira, não haveria como cumprir essa
regra.
A indústria local continua, pois, superprotegida. E o
consumidor paga a conta. O imposto bem mais elevado cobrado sobre chineses e
coreanos eleva seus preços e alivia a concorrência que faziam com básicos
nacionais. As quotas sobre os importados do México reduzem a oferta e, pois,
aumentam os preços.
Resultado: o carro local, que já é mais caro do que em
qualquer outro lugar do mundo, tende a ficar mais caro ainda. E continuamos a
importar os carrões, inclusive os coreanos, também mais caros.
Assim, quando a Presidência renovar sua frota de
importados, também pagará mais caro – a menos, claro, que as montadoras façam
algum tipo de gentileza, o que, aliás, não seria ético.
Mas, se o espírito é genuinamente nacionalista, se
estamos sendo atacados por práticas predatórias estrangeiras, como Dilma e
Mantega repetem todos os dias, por que a Presidência não nacionaliza sua frota?
O último pacote reforçou a regra pela qual o governo, nas suas compras, deve
dar preferência ao nacional mesmo quando este for até 25% mais caro que o
importado.
Logo, vendam os Ômegas e Fusions e comprem os modelos
com mais conteúdo nacional, todos movidos a etanol.
Não é provocação. Trata-se apenas de ilustrar o
equívoco da política industrial. Suponha que o governo nacionalize mesmo toda
sua frota, o que aconteceria? As autoridades, incluindo a presidente,
circulariam em carros, digamos, mais modestos e menos seguros, e a indústria
nacional continuaria produzindo… as mesmas carroças de sempre, quer dizer, os
tais carros sem “os requisitos técnicos estabelecidos para garantir a segurança
presidencial”. E, acrescentaríamos, sem o conforto que merecem as autoridades.
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