COMO SE FAZ UMA REAÇÃO

Anexo um trecho da coluna do César Maia, com a sugestão para assistir o vídeo indicado abaixo. É uma boa lição de ontem que serve para hoje, especialmente nesses momentos grotescos de uma ditadura silenciosa, patrocinada pelo nosso governo atual.


TRECHO DE UM FILME (1931/32) IMPERDÍVEL COM TEXTO DE BERTOLT BRETCH!

1. "Kuhle Wampe" é um filme realizado em 1931 e lançado em 1932. Trata do enorme desemprego na Alemanha, da tragédia entre trabalhadores desempregados e de sua reação. O título trata de um acampamento próximo a Berlim, onde muitos moravam.

2. O texto é de Bertolt Bretch (que em 1933 se exila na Áustria com a ascensão de Hitler), criador, na época, do Teatro Épico.

3. O extraordinário são os últimos oito minutos, quando os trabalhadores tomam um trem. Um deles lê as notícias do jornal em voz alta: "Onze milhões de quilos de café foram queimados no Brasil". E então se estabelece uma discussão: para que? Para manter os preços? Que absurdo! Etc.

4.
Oito minutos finais imperdíveis, pelas imagens de um filme feito em 1931, interpretações e pelo texto político de Bertolt Bretch.

ENTUSIASMO COM O BRASIL?

No começo de fevereiro deste ano, o jornal Valor Econômico publicou o artigo abaixo, mas, ainda, analisando apenas a conjuntura com base nos reflexos da crise econômica mundial, iniciada em 2008 e ocasionando alguns impactos em 2010. Pois bem, agora o Wall Street Journal, em matéria recente, cuja representação de capa está lá no final deste texto, alerta para o vazio na economia, representado pela estrutura econômica deficiente, com origem num governo LUL(L)A de "nada", segundo o jornal. Isso gera um impacto forte nos investidores internacionais que mantêm os olhares para as potencialidades dos países emergentes.
Estou feliz com isso? Que nada! Estou é muito preocupado com as deficiências do meu País que se deitou na verborragia de um proselitismo nefasto e anacrônico para a época moderna, no contexto do sectarismo partidário promovido pelo PT.
Enquanto vivenciamos um momento econômico aparentemente favorável no país, poderíamos tê-lo usufruído muito mais se houvéssemos acompanhado os índices de crescimento dos demais. E não o fizemos porque tivemos um governo de "NADA".





Entusiasmo com o Brasil é apenas nuvem passageira
William Eid Junior

De uma hora para a outra o Brasil virou a bola da vez para os investidores internacionais. Segundo o noticiário, somos invejados em todo o mundo. Passamos pela crise incólumes, e melhor, com perspectivas excelentes. Há até futurólogos que voltam a falar que o Brasil será uma das grandes potências globais num futuro não muito distante.

Mas o que é que aconteceu para sermos tão adulados? Quais foram as grandes mudanças que fizemos para merecer tal destaque? Infelizmente, nada. Nada mesmo. É só observarmos os rankings mundiais feitos por diferentes instituições como Banco Mundial, Nações Unidas, Jornalistas sem Fronteiras, Transparência Internacional, Heritage Foudation e Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), dentre outras.

Mas temos que olhar esses rankings como eles devem ser olhados. Não podemos nos comparar com países minúsculos e sem ex pressão nenhuma no globo. Somos uma das maiores economias e um dos países mais populosos do mundo. Assim, só é válida uma comparação com países grandes e com economias representativas.

Talvez possamos incluir nesse grupo uns 40 países. Num estudo recente conduzido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) foram elencados 42 países e a posição do Brasil em diferentes aspectos. O resultado é assustador. Corrupção? Segundo a Transparência Internacional somos o mais corrupto entre os 42. Dificuldade para abrir um negócio? Idem, estamos na 42ª posição. Liberdade de imprensa, nível de educação e outros indicadores também mostram que o Brasil está muito longe de se tornar uma potência.

A Unesco acaba de divulgar seu ranking de educação. Nossa 88ª posição é no mínimo vergonhosa. É até engraçado: insistimos no ensino do espanhol nas escolas quando nem sabemos inglês e, em alguns países europeus, o chinês é ensinado para cria nças. Claro, é com a China que essa geração vai ter que se entender.

O mais interessante é que muitos veem nesses rankings melhoras do país. Passamos da 125ª posição para a 120ª e muitos comemoram. Mas não há o que comemorar. Em outros aspectos continuamos também na lanterna do mundo mais desenvolvido.

Infraestrutura é um dos aspectos no qual quase nada foi feito nos últimos anos. É só compararmos estradas e ferrovias com as de outros países. Sem comentar os portos. Pior que tudo: não temos um plano de longo prazo para o país. O que queremos para 2040? 2050? Andamos hoje, como sempre, a reboque dos acontecimentos mundiais. Isso sem falar na violência, que é manchete constante na imprensa internacional.

E voltamos aqui à questão inicial: porque nos tornamos a bola da vez? O motivo é simples: nosso sistema financeiro não estava exposto a riscos como o de outros países. Bancos no Brasil nunca precisaram se expor a r iscos excessivos para auferir ganhos. As operações são relativamente simples e os níveis de alavancagem são minúsculos quando comparados aos de outros países.

Assim, não tivemos nenhum susto na área financeira, que pode continuar concedendo crédito como nunca vimos antes para uma população sedenta por bens de consumo. Pudemos manter, ao menos em parte, o nível de atividades da indústria, combalida pela queda nas exportações. Aliás, falando em exportações, na lista de 42 nações somos a 40ª em volume de exportações. Isto é, nossa penetração no mundo é pífia.

Mas essa onda de boa vontade com o Brasil se manterá? Provavelmente não. É como se durante uma enchente só o nosso campo de futebol tenha se mantido acima das águas. Não temos arquibancada nem iluminação, nosso gramado é malcuidado. Mas como é o único campo utilizável, todos vieram aqui jogar.

Assim que as águas baixarem, todos voltarão aos seus estádios. Alguns com pequenos estragos, mas nada que em pouco tempo não esteja recuperado. Aí vamos entender que o afluxo de torcedores e jogadores ao nosso campo foi apenas uma nuvem passageira. É hora de olharmos o Brasil como ele é. Um diagnóstico realista pode nos levar a tomar decisões com impacto positivo no futuro.

Mas acreditarmos que nos tornamos o paraíso em poucos meses só nos prejudica. É mais do que tempo de olharmos o longo prazo sob pena de mais e mais nos distanciarmos dos países realmente desenvolvidos.

William Eid Junior é professor titular e coordenador do GV CEF (Centro de Estudos em Finanças da FGV/EAESP)



‘Freie seu entusiasmo com o Brasil’

wall_street_journal_wsj_opiniao_05042010.jpg
Página do WSJ.

POLÍTICA, A VERDADEIRA (3)

Levo à análise os dois registros que estão a seguir, pelo quais, tanto Bresser Pereira, quanto Rossi, enfocam o assunto das transações políticas praticadas no cenário nacional, e o dilema vinculado, em face da necessidade de tudo ser repensado e retomado, segundo os verdadeiros pressupostos políticos, estes sim, formando o arcabouço da verdadeira Política. Boa leitura, pois, e profundas reflexões que levem a sociedade a reformar a massa crítica de um modelo acomodatício e bovino, hoje, para um de ação proativa e reformista, amanhã.

LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
Resgate da política


Não temos alternativa senão pensar a política em termos republicanos de virtude cívica e busca do bem comum

SEMPRE AFIRMO que a política é a mais nobre e a mais importante das profissões. É a mais nobre porque apenas homens e mulheres dotados da capacidade de tomar decisões e de qualidade moral são capazes de exercê-la bem. É a mais importante porque a política influencia nossas vidas para o bem ou para o mal, porque é por meio dela que somos governados.
Essa afirmação sobre a nobreza da política sempre causa surpresa em meus interlocutores, porque leem todos os dias notícias sobre a corrupção dos políticos. Assim, a política não estaria associada à virtude da nobreza, e sim ao vício da corrupção.
Foi, portanto, com alegria que li no "Estado de S. Paulo" (14/3) uma entrevista de José Serra a Dora Kramer na qual ele defende "uma prática transformadora na política brasileira, começando pelo repúdio ao mote fatalista e reacionário de que a desonestidade é inerente à vida pública, que o poder necessariamente corrompe o homem".
Terá razão o governador paulista ao rejeitar a visão reacionária da política? Estarei eu correto quando defendo a política apesar dos constantes deslizes dos políticos? Para responder a essas questões, devemos considerar dois conceitos básicos.
O Estado é o sistema constitucional-legal e o aparelho público que o garante; é o instrumento por excelência de ação coletiva da nação; é a lei e a administração pública; é a expressão maior da nossa racionalidade coletiva.
A política, por sua vez, é a prática de argumentar e fazer concessões mútuas para alcançar o poder político e é a arte de governar o Estado moderno que foi inicialmente liberal e depois se tornou democrático. É por meio da política que reformamos permanentemente a sociedade e o Estado para que esse cumpra seu papel contribuindo de forma efetiva para os grandes objetivos políticos das sociedades modernas: segurança, autonomia nacional, desenvolvimento econômico, liberdade, justiça social e proteção do ambiente. Podemos obter algum sucesso na busca individual de nossa felicidade e segurança econômica. Entretanto, os demais objetivos políticos, e mesmo esses dois que acabei de citar, somente poderão ser atingidos por meio da construção política do Estado.
Não podemos esquecer que, conforme ensinou Max Weber, a ética na política é diferente da ética pessoal: é uma ética da responsabilidade, não da convicção. Para governar e promover o bem público, o político deve buscar a maioria e, para isso, é obrigado a fazer acordos ou compromissos que um indivíduo não precisa fazer. Não devemos, porém, confundir com a corrupção essa ética baseada na responsabilidade do político em alcançar bons resultados para a sociedade que governa.
Não se justifica, portanto, a tese do caráter intrinsecamente corrupto da política. A política é o grande instrumento de que dispõe a sociedade para reformar seu Estado. Só por meio da lei e da administração pública que a garante progrediremos na busca da segurança, da liberdade e da justiça. A identificação da política com busca exclusiva do poder pessoal e da riqueza é uma tese neoliberal e autoritária que desmoraliza a política para, assim, legitimar o governo das elites.
Precisamos ser implacáveis em relação à corrupção, mas não é por meio do moralismo negativista que lograremos atingir nossos grandes objetivos políticos. Para isso, não temos alternativa senão pensar a política em termos republicanos de virtude cívica e busca do bem comum.
Só assim estaremos fortalecendo nosso grande instrumento de ação coletiva que é o Estado.



CLÓVIS ROSSI
Um apelo, bobo e talvez inútil

PARIS - Se pudesse, colocaria no "teleprompter" do horário gratuito, para todos os candidatos, duas frases do presidente Barack Obama, pronunciadas em reunião com a bancada democrata de representantes, na véspera da votação do projeto de saúde, afinal aprovado no domingo.
As frases: "Não estamos obrigados a ganhar, mas a ser sinceros.
Não estamos obrigados a triunfar, mas a fazer com que brilhe a luz que tenhamos, por pouca que seja".
Agora, uma pausa para as vaias, os gritos de tolinho, ingênuo, velho babão, petista, tucano, "marinista", "cirista", enfim o rosário habitual do MSA, o pequeno mais ruidoso Movimento dos Sem Argumentos, que, por isso, prefere o alarido e o xingamento.
Fim da pausa, voltemos ao leitor que pensa e não grita. Explico o valor das frases: é o caminho para resgatar a política, esse instrumento tão vital e tão desmoralizado nos últimos muitos anos, no Brasil e no resto do mundo. Quem quiser ler mais sobre o valor da política, remeto ao texto de Luiz Carlos Bresser Pereira na segunda-feira, nesta mesma Folha.
O desencanto com a política manifestou-se, aqui na França, com vigor inédito, nas eleições regionais, por meio de uma abstenção de 53% no primeiro turno e um pouco menor, mas intolerável (49%), no segundo turno. O dado mais inquietante, no entanto, foi a abstenção nos subúrbios problemáticos: em alguns deles chegou perto de 80%. Preciso dizer que é justamente nessas áreas que a política se torna mais necessária e mais vital?
O Brasil, de certa forma, é um imenso subúrbio problemático se se levar em conta que 75% dos eleitores ganham, no máximo, dois salários mínimos. Logo, a política, com pê maiúsculo, obviamente, é ainda mais necessária se os candidatos quiserem ser sinceros em vez de apenas ganhar.


Meu comentário:

Fico muito à vontade em efetuar esta postagem, com as duas escritas acima, pois os conteúdos coincidem com minhas críticas ao sistema operante que dá prioridade à negociata fácil, realizada longe do conhecimento dos donos nacionais, o povo. Não é por acaso que nomes significativos do cenário político nacional, e com reeleição garantida, já abandonaram a atividade, ou propõem sair dela a partir das próximas eleições. É muito importante, então, que tenhamos consciência na visualiação dos nomes que se colocam como candidatos, a análise de cada um deles e, por fim, a escolha mais adequada, com base no passado pessoal e público, na coerência das ações em sua vida, na sua integridade moral e, fundamentalmente, observando o que se discute hoje, que não tenha ações judiciais contra si. Outro aspecto não menos importante, é desenvolver um esforço e procurar situar o candidato que nos pede o voto, num contexto em que possamos identificar o seu arcabouço moral, ético, intelectual e o seu grau de integridade. Neste último aspecto é saliente a pessoa que faz o que sempre defendeu, ou aquela que informa de si o que realmente é. José Ingenieros, em seu livro O Homem Medíocre diz: "As pessoas medíocres admiram o utilitarismo egoísta, imediato, mesquinho. Obrigados a eleger, nunca seguirão o caminho que a sua própria inclinação lhes indica e, sim, aquele que o cálculo dos seus iguais lhes marca. Ignoram que toda grandeza de espírito exige a cumplicidade do coração. Os ideais irradiam sempre um grande calor; seus prejuízos, em compensação, são frios, porque são alheios. '...' A baixeza do propósito rebaixa o mérito de todo esforço e aniquila as coisas elevadas. Excluindo o ideal, fica suprimida a possibilidade do sublime. "..." A vulgaridade transforma "..." a prudência em covardia, o orgulho em vaidade, "...". Conduz à ostentação, à avareza, à falsidade, à avidez, à simulação. Por trás do homem medíocre, assoma o antepassado selvagem que conspira no seu interior, acossado pela fome de atávicos instintos, sem outra inspiração além da saciedade."

Pois é! Sugiro pensar e correlacionar com o presente e com o futuro!


CONTRASTES

Circula na rede telemática a carta do ZÉ AGRICULTOR para LUÍS DA CIDADE, pela qual se procura mostrar o paradoxo de tratamento dos mesmos problemas ambientais, com rigores, ou a ausência deles, diferentes. Faze a leitura do texto e obtém tuas conclusões:

"Carta do Zé Agricultor para Luís da Cidade


Luís, quanto tempo!
Eu sou o Zé, teu colega de ginásio noturno, que chegava atrasado, porque o transporte escolar do sítio sempre atrasava, lembra, né? O Zé do sapato sujo! Tinha professor e colega que nunca entenderam que eu tinha de andar a pé mais de meia légua para pegar o caminhão por isso o sapato sujava.
Se não lembrou ainda eu te ajudo. Lembra do Zé Cochilo?... hehehe, era eu. Quando eu descia do caminhão de volta pra casa, já era onze e meia da noite, e com a caminhada até em casa, quando eu ia dormi já era mais de meia-noite.
De madrugada o pai precisava de ajuda pra tirar leite das vacas. Por isso eu só vivia com sono. Do Zé Cochilo você lembra né Luís?
Pois é! Estou pensando em mudar para viver aí na cidade que nem vocês Não que seja ruim o sítio, aqui é bom. Muito mato, passarinho, ar puro... Só que acho que estou estragando muito a tua vida e a de teus amigos aí da cidade.
To vendo todo mundo falar que nós da agricultura familiar estamos destruindo o meio ambiente.
Veja só. O sítio do pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que parar de estudar), fica só a uma hora de distância da cidade. Todos os matutos daqui já têm luz em casa, mas eu continuo sem ter porque não se pode fincar os postes por dentro uma tal de APPA que criaram aqui na vizinhança.
Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos, uma maravilha, mas um homem do governo veio aqui e falou que tenho que fazer uma outorga da água e pagar uma taxa de uso, porque a água vai se acabar. Se ele falou deve ser verdade, né Luís?
Pra ajudar com as vacas de leite (o pai se foi, né ...) contratei Juca, filho de um vizinho muito pobre, aqui do lado. Carteira assinada, salário mínimo, tudo direitinho como o contador mandou. Ele morava aqui com nós num quarto dos fundos de casa. Comia com a gente, que nem da família. Mas vieram umas pessoas aqui, do sindicato e da Delegacia do Trabalho, e elas falaram que se o Juca fosse tirar leite das vacas às 5 horas tinha que receber hora extra noturna, e que não podia trabalhar nem sábado nem domingo, mas as vacas daqui não sabem os dias da semana e aí não param de fazer leite. Ô, bichos aí da cidade sabem se guiar pelo calendário?
Essas pessoas ainda foram ver o quarto de Juca, e disseram que o beliche tava 2 cm menor do que devia. Nossa! Eu não sei como encumpridar uma cama, só comprando outra né Luis? O candeeiro eles disseram que não podia acender, no quarto, que tem que ser luz elétrica, que eu tenho que ter um gerador pra ter luz boa no quarto do Juca.
Disseram ainda que a comida que a gente fazia e comia juntos tinha que fazer parte do salário dele. Bom Luís, tive que pedir ao Juca pra voltar pra casa, desempregado, mas muito bem protegido pelos sindicatos, pelo fiscais e pelas leis. Mas eu acho que não deu muito certo. Semana passada me disseram que ele foi preso na cidade porque botou um chocolate no bolso no supermercado. Levaram ele pra delegacia, bateram nele e não apareceu nem sindicato nem fiscal do trabalho para acudi-lo.
Depois que o Juca saiu eu e Marina (lembra dela, né? casei) tiramos o leite às 5 e meia, aí eu levo o leite de carroça até a beira da estrada onde o carro da cooperativa pega todo dia,isso se não chover. Se chover, perco o leite e dou aos porcos, ou melhor, eu dava, hoje eu jogo fora.
Os porcos eu não tenho mais, pois veio outro homem e disse que a distância do chiqueiro para o riacho não podia ser só 20 metros. Disse que eu tinha que derrubar tudo e só fazer chiqueiro depois dos 30 metros de distância do rio, e ainda tinha que fazer umas coisas pra proteger o rio, um tal de digestor. Achei que ele tava certo e disse que ia fazer, mas só que eu sozinho ia demorar uns trinta dia pra fazer, mesmo assim ele ainda me multou, e pra poder pagar eu tive que vender os porcos as madeiras e as telhas do chiqueiro, fiquei só com as vacas. O promotor disse que desta vez, por esse crime, ele não ai mandar me prender, mas me obrigou a dar 6 cestas básicas pro orfanato da cidade. Ô Luís, aí quando vocês sujam o rio também pagam multa grande né?
Agora pela água do meu poço eu até posso pagar, mas tô preocupado com a água do rio. Aqui agora o rio todo deve ser como o rio da capital, todo protegido, com mata ciliar dos dois lados. As vacas agora não podem chegar no rio pra não sujar, nem fazer erosão. Tudo vai ficar limpinho como os rios aí da cidade. A pocilga já acabou as vacas não podem chegar perto do rio. Só que alguma coisa tá errada, quando vou na capital nem vejo mata ciliar, nem rio limpo. Só vejo água fedida e lixo boiando pra todo lado.
Mas não é o povo da cidade que suja o rio, né Luís? Quem será? Aqui no mato agora quem sujar tem multa grande, e dá até prisão. Cortar árvore então, Nossa Senhora!. Tinha uma árvore grande ao lado de casa que murchou e tava morrendo, então resolvi derrubá-la para aproveitar a madeira antes dela cair por cima da casa.
Fui no escritório daqui pedir autorização, como não tinha ninguém, fui no Ibama da capital, preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal vim fazer um laudo, para ver se depois podia autorizar. Passaram 8 meses e ninguém apareceu pra fazer o tal laudo, aí eu vi que o pau ia cair em cima da casa e derrubei. Pronto! No outro dia chegou o fiscal e me multou. Já recebi uma intimação do Promotor porque virei criminoso reincidente. Primeiro foi os porcos, e agora foi o pau. Acho que desta vez vou ficar preso.
Tô preocupado Luís, pois no rádio deu que a nova lei vai dá multa de 500 a 20 mil reais por hectare e por dia. Calculei que se eu for multado eu perco o sítio numa semana. Então é melhor vender, e ir morar onde todo mundo cuida da ecologia.. Vou para a cidade, aí tem luz, carro, comida, rio limpo. Olha, não quero fazer nada errado, só falei dessas coisas porque tenho certeza que a lei é pra todos.
Eu vou morar aí com vocês, Luís. Mais fique tranqüilo, vou usar o dinheiro da venda do sítio primeiro pra comprar essa tal de geladeira. Aqui no sítio eu tenho que pegar tudo na roça. Primeiro a gente planta, cultiva, limpa e só depois colhe pra levar pra casa. Ai é bom que vocês e só abrir a geladeira que tem tudo. Nem dá trabalho, nem planta, nem cuida de galinha, nem porco, nem vaca é só abri a geladeira que a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nós, os criminosos aqui da roça.
Até mais Luís.
Ah, desculpe Luís, não pude mandar a carta em papel reciclado pois não existe por aqui, mas aguarde até eu vender o sítio."

Observação:Todos os fatos e situações de multas e exigências são baseados em dados verdadeiros. A sátira não visa atenuar responsabilidades, mas alertar o quanto o tratamento ambiental é desigual e discricionário entre o meio rural e o meio urbano. Na prática, a teoria é outra.


Meu Comentário:

O texto jocoso, tem um tom levemente sarcástico e sem agressividade. Mas, ao lê-lo, sou tomado de uma ânsia raivosa e impotente contra o sistema que vê, e penaliza, algumas coisas e não quer ver outras. É o descompasso na dualidade em que vivemos, sempre forçando para que o perfil mais confortável, seja valorizado por ser mais conveniente, a determinado indivíduo, a certo grupo, ou à sociedade dominante. E assim vamos enfatizando o conforto desconfortável das cidades; a acumulação de pessoas em cima de outras pessoas; a enervação das ruas saturadas de veículos; as filas de pessoas neuróticas em cada ponto de abastecimento de alimentos, de dinheiro e de bens, de lazer; a comida prática e artificial; e, afinal, o comportamento bovino, aquele que faz todos seguir o destino tomado pelo primeiro boi, passo a passo, um atrás do outro, formando o carreiro da mediocridade coletiva.
Faz parte desse processo a miopia mental dos aplicadores da Lei, o Executivo e o Judiciário, e o Legislativo por não saber, ou não querer, dar contornos aplicáveis às normas e a fiscalizar a sua aplicação, todos num constante movimento de fazer que não viu, que não sabia, que não é comigo, é com o outro, que não cumpre prazos estabelecidos, mas fá-los cumprir do cidadão.
Na outra ponta, no campo, predominam as grandes monoculturas, úteis para a alimentação do povo e para os lucros da exportação nacional, é verdade, mas desumana por pressionar cada vez mais a população rural na busca do falso abrigo da cidade, porque a tecnologia das máquinas substitui a mão-de-obra nas tarefas rurais. Mas, pior do que tudo isso, é o abandono dos procedimentos tradicionais de viver e que valorizam o culto à família, composta, esta, dela mesma, mais os amigos, a comunidade, a vila.
O resultado é o crescimento da população periférica das cidades, mal acomodadas, sem infraestrutura adequada para as suas necessidades básicas e...sem emprego, aumentando a criminalidade necessária para sobreviver. Na cidade, pois, os impactos no ambiente passam a ser inevitáveis e os rios, aqueles que ocasionaram a penalização do Zé Agricultor, lá no campo,ficam cada vez mais próximos à morte, na cidade, sem que ninguém surja de culpado.
E a ocupação continua nos morros que desmoronam e que matam pessoas. E os rios urbanos ficam cada vez mais assoreados, gerando enchentes com facilidade.




OS GIGOLÔS DE TERREMOTO NA HORA TRÁGICA

Gigolôs da bonomia e da mansidão do povo brasileiro. Mais, proxenetas do movimento para ungir LULLA como o grande nome nacional e internacional, messias daqueles países aos quais foram perdoadas dívidas imperdoáveis, onerando o nosso País com a ausência de elementos básicos para viver melhor. Aliás, onde estão as medidas imediatas, necessárias para a recuperação das comunidades nacionais vitimadas pelas enchentes e pelos desmoronamentos, ocasionados pelas chuvas? Onde está a atenção necessária do governo para os nossos casos? Ah, claro! Esses casos não garantem a projeção internacional!
A esse LULLA falante que pretende representar o sul, e a essa esquerda anacrônica que perdeu o tom e o caminho da modernidade, não deve ser dado mais espaço. Devemos vencê-los com a boa retórica e a fundamental dialética, campos em que não têm a devida capacidade de confronto.
Abaixo, há um texto de Augusto Nunes, dissecando essas atitudes esdrúxulas do governo brasileiro.
Logo a seguir há um outro texto de Jânio de Freitas, pelo qual ele analisa alguns aspectos humilhantes para o cidadão brasileiro, minimamente esclarecido e preocupado com a situação do Brasil do mundo, com essa pantomima dos nossos governantes (!!!???), no Haiti.
Sugiro as leituras abaixo.


Os gigolôs de terremoto - Augusto Nunes


Até terremoto tem seu lado bom, imaginaram os alquimistas do Planalto no dia em que o Haiti acabou. Desde 2004 no comando da força de paz da ONU, ferido pela morte de Zilda Arns, de um diplomata e de 17 soldados, o Brasil conseguira com a tragédia o trunfo que faltava para assumir, livre de concorrentes, a condução das operações internacionais destinadas a ressuscitar o país em frangalhos. E então tomou forma a má ideia: que tal aproveitar a favorável conjunção dos astros para fazer do Haiti um protetorado da potência regional que Lula criou?

Eufóricos com a própria inventividade, os estrategistas federais transformaram o velório de Zilda Arns em comício e escalaram Gilberto Carvalho para o lançamento, à beira do caixão, do novo projeto nacional. A frase de abertura surpreendeu os parceiros de roda de conversa: ”O Brasil perdeu uma grande militante e ganhou uma grande padroeira”. Alheio ao espanto provocado pela demissão de Nossa Senhora Aparecida, substituída sem anestesia pela fundadora da Pastoral da Criança, o secretário particular do presidente foi ao que interessava: “Devemos adotar o Haiti a partir de agora. Temos até uma mártir lá”.
”Vou me empenhar para que Zilda Arns ganhe o Prêmio Nobel da Paz”, emendou Lula na roda ao lado.

Expressamente proibida pelos organizadores do Nobel, a premiação póstuma foi autorizada uma única vez, para atender a circunstâncias excepcionais. Em 1961, o estadista sueco Dag Hammarskjöld, secretário-geral da ONU por muitos anos, já estava escolhido quando, às vésperas do anúncio formal, morreu num acidente aéreo.

Enquanto Lula lançava candidaturas sem chances em cerimônias fúnebres, Nelson Jobim e Celso Amorim articulavam o movimento de resistência à invasão do Haiti por soldados e médicos americanos, armados de remédios, alimentos e equipamentos de socorro. A coleção de fiascos começou com a tentativa de retomar o controle do aeroporto da capital. Quando preparava a contra-ofensiva, Jobim soube que os ianques estavam lá a pedido do governo haitiano.

Se fosse menos primitivo, o Brasil teria aproveitado a vigorosa entrada em cena dos EUA para associar-se à única superpotência do planeta e aprender o que não sabe. No pós-guerra, por exemplo, os americanos organizaram a reconstrução do Japão e da Alemanha. O Brasil não consegue lidar sequer com enchentes de médio porte e é um país ainda em construção. Mas Lula acha que está pronto. E o governo desoladoramente jeca preferiu disputar com os americanos o papel de protagonista.

Passada uma semana, só conseguiu ficar ainda mais longe da vaga no Conselho de Segurança da ONU. É o que atesta o resumo da ópera publicado neste 19 de janeiro pelo jornal espanhol Vanguardia, editado em Barcelona. “O terremoto ocorrido há uma semana desnudou a incapacidade da Organização das Nações Unidas para fazer frente a um desastre de tais dimensões. A onerosa missão dos 8.300 capacetes azuis não serviu para nada no momento de enfrentar a emergência e organizar a ajuda aos haitianos. O Brasil, que tem aspirações ao status de potência regional latino-americana, mostrou-se, como coordenador das forças da ONU, incapacidade e falta de liderança”.< /p>

Nesta terça-feira, enquanto os haitianos imploravam pela salvação que teima em demorar, Celso Amorim continuava implorando por conversas com Hillary Clinton. Enquanto soldados brasileiros lutavam pelos flagelados, Nelson Jobim lutava para prolongar por cinco anos a permanência no Haiti das tropas que visita quando lhe convém.

Tanto os brasileiros que morreram em combate quanto os que continuam no Haiti merecem admiração e respeito. São heróis. Políticos que ignoram o pesadelo inverossímil para concentrar-se em disputas mesquinhas merecem desprezo. São gigolôs de terremoto.


Na hora trágica - Jânio de Freitas

Visão do governo Lula sobre a presença brasileira na tragédia do Haiti é menos humanitária do que política


NEM 24 HORAS foram necessárias para que o governo Lula se desmentisse e, com fatos claros, confirmasse que sua visão da presença brasileira na tragédia do Haiti é muito menos humanitária do que política, na sua concepção de Brasil potência. Concepção, aliás, bem semelhante à de Brasil Grande criada pela ditadura, há 30 e tal anos atrás (por acaso ou não, também naquela altura foi feito com a fábrica Dassault um negócio caríssimo de compra de aviões de caça).

Por ora, o resultado de tal política é apenas o ridículo. Sem promessa de que o resultado final seja outro, senão pior, caso o governo não perceba que seu "enfrentamento" com os Estados Unidos está fora do lugar, da hora e das possibilidades mais concretas.

Na quinta-feira, por exemplo, Lula tomou a iniciativa de cobrar ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que a distribuição de alimentos e água no Haiti seja feita só por civis. Na sexta, os soldados brasileiros montaram um posto de distribuição, no qual entregaram "22 mil garrafas de água e 10 toneladas de alimentos". Nada de mais, só um pequeno vexame de falta de orientação e organização.

Pior foi que, no desejo de impedir que os EUA façam o papel simpático de distribuir gêneros, os nossos estrategistas concentrados na sede provisória do governo (o Planalto está em obras) puseram Lula na contramão. As distribuições, em circunstâncias de desespero como as do Haiti, devem ser feitas por militares ou com forte presença militar, para evitar o tumulto e a violência dos famintos na distribuição civil e desarmada. Espera-se que a proposta de Lula tenha ficado, na ONU, só como um vexame telefônico.

A terceira impropriedade em 24 horas sobe de nível: é a explicitude da disputa com um toque de adesão ao estilo Chávez de política externa. O posto de distribuição foi montado ostensivamente diante do que resta do palácio presidencial, porque a área foi ocupada por soldados dos EUA. O que os responsáveis pela atitude brasileira pensariam estar provando ou provocando? Nada mais inteligente, apropriado e adulto do que o cutucão no colega em fila na escola. A não ser que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, ainda que vestido à paisana, tenha explicação mais elevada, não relativa ao nível primário, mas já ao secundário.

Por falar nele, outro exemplo, entre vários possíveis, foi a resposta política brasileira ao envio de 7.000 soldados dos EUA para o Haiti. Lula e Jobim: "o Brasil vai duplicar sua presença". Mais 1.750 soldados, portanto. Deu manchetes, TV, entrevistas. Mas, de fato, a soma dos que vão substituir os recém-retornados e dos acréscimos anunciados é de 900, que são os já treinados para as atividades lá. Previsto recurso a soldados que já estiveram no Haiti. A Casa Branca deve ter-se impressionado com a "duplicação da presença brasileira".

Os EUA estão retirando parte do seu pessoal, mas decidiram mandar mais 10 mil pessoas, com a finalidade declarada de servirem à reconstrução. Aguardemos, ansiosos, a réplica do governo brasileiro. Sem perguntar o que imagina obter da disputa prioritária, que tudo indica ser unilateral, com os norte-americanos nesta hora trágica do Haiti.



MEDIOCRACIA

Há os filósofos, os escritores, enfim os pensadores, que fazem dos seus escritos ou de sua fala o chicote dos medíocres. Aquilo que escrevem, ou escreveram, em épocas passadas sobre condutas sociais dos tempos em que vivem, ou viveram, muitas vezes surge como se o houvesse sido para situações atuais. Esses princípios e essas constatações escritas podem, em um momento ou em outro, serem aplicados na comparação com fatos presentes. No momento, vivemos instantes desoladores das condutas públicas dos nossos governantes e representantes democráticos no sistema republicano. Muito há com que nos preocuparmos, os brasileiros conscientes, pois estamos construindo uma Nação, madura na sua idade de cinco séculos, mas ainda adolescente na sua estrutura nacional e cidadã.

Agora, vejamos o que José Ingenieros, que nasceu na Itália, mas que viveu e morreu na Argentina, escreveu sobre isso, há um século:

MEDIOCRACIA

“Em raros momentos, a paixão caldeia a história e se exaltam os idealismos; quando as nações se constituem e quando elas se renovam. Antes é secreta ânsia de liberdade, luta pela independência; mais tarde, crise de consolidação institucional a seguir e, depois, veemência de expansão, ou pujança de energias. Os gênios pronunciam palavras definitivas; os estadistas plasmam os seus planos visionários; os herois põem o seu coração na balança do destino.

(...)

Em certos períodos, a nação adormece dentro do país. O organismo vegeta; o espírito se amodorra. Os apetites acossam os ideais, tornando-os dominadores e agressivos. Não há astros no horizonte, nem auriflamas nos campanários. Não se percebe clamor algum do povo; não ressoa o eco de grandes vozes animadoras. Todos se apinham em torno dos mantos oficiais, para conseguir alguma migalha da merenda. É o clima da mediocridade.

(...)

O culto da verdade entra na penumbra, bem como o afã de admiração, a fé em crenças firmes, a exaltação de ideais, o desinteresse, a abnegação – tudo o que está no caminho da virtude e da dignididade. Todos os espíritos se temperam pelo mesmo diapasão utilitário. (...) Tudo o que é vulgar encontra fervorosos adeptos (...). Os seus mais altos porta-vozes são escravos do seu clima. São atores aos quais foi proibido improvisar, pois de outra forma, romperiam o molde a que se ajustam.

Platão, sem pretender fazê-lo, definiu a democracia: “é o pior dos bons governos, mas é o melhor entre os maus”. Transcorreram séculos e a sentença conserva a sua verdade.

(...) Em cada comarca, uma facção de parasitas detém as engrenagens do mecanismo oficial, excluindo do seu seio todos quantos recusam altivamente a própria cumplicidade em seus empreendimentos.

(...)

Quando o ignorante se julga igualado ao estudioso, o velhaco ao apóstolo, o falador ao eloquente e o mau ao digno, a escala do mérito desaparece numa vergonhosa nivelação de vilania. A mediocridade é isso: os que nada sabem, julgam dizer o que pensam, embora cada um só consiga repetir dogmas, ou auspiciar voracidades.

(...)

Convenciona-se denominar urbanidade à hipocrisia, tolerância à cumplicidade, pois a mentira proporciona estas denominações equívocas (...). A obsessão de acumular tesouros materiais, ou o seu desfrute, apaga o espírito coletivo, os países deixam de ser pátria e qualquer ideal parece suspeito. As coisas do espírito e do sentimento são desprezadas. Já os medíocres sempre os há, pois eles são perenes e o que varia é o seu prestígio e a sua influência. Nas épocas de exaltação renovadora, eles se mostram humildes e ninguém os nota. Quando se enfraquecem os ideais e se substitui o qualitativo pelo quantitativo, começa-se a contar com eles que reunem-se em grupos e arrebanham-se em partidos, condensando a mediocridade, convertendo-se em sistema e tornando-se incontrastável.

(...)

Quando as nações dão em baixios, alguma facção se apodera da engrenagem constituída e florescem legisladores, pululam arquivistas, os funcionários são contatados por legiões, as leis se multiplicam sem eficácia. As ciências convertem-se em mecanismos oficiais de onde jamais brota o gênio e onde se impede que o talento brilhe. As artes tornam-se indústrias patrocinadas pelo Estado.

(...)

Uma apatia conservadora caracteriza esses períodos e enfraquece-se a ansiedade das coisas elevadas.

(...)

As mediocracias são escoradas pelos apetites dos que esperam nelas viver e no medo dos que temem perder o seu espaço.

A indignidade civil é lei nesses climas. Todo homem declina de sua personalidade, ao converter-se em funcionário: a cadeia não é visível no seu pé, como nos dos escravos, mas ele a arrasta, ocultamente, amarrada ao seu intestino. A mediocracia cultiva o incapaz de viver pelo seu esforço, sem o vínculo oficial. Quando tudo de pessoal é sacrificado a esse sistema, sobrepondo-se os apetites às aspirações, o sentido moral se degrada e a decadência se aproxima. Para despertar dessa fadiga, o único caminho da nação é semear o futuro.”

Meu Comentário:

Nada mais atual do que esse texto, situado no modo de ser das nações e dos povos do século XXI. Mas, especialmente, de aplicação total no Brasil, onde tivemos uma retórica política voltada à reconstrução nacional, depois de um período democrático anômalo. Porém, logo após a tomada do poder, pelo processo democrático, esse mesmo grupo que antes liderava a discussão, dita de esquerda, desvirtua o conteúdo, domina a cena dos bastidores menos recomendáveis, pulula o país de leis atalhadas, promove a arte que lhe convém, comprando-a, e ameaça liberdades básicas com movimentos coercitivos e pretensamente divinos, parecendo por meios livres, claro!

POLÍTICA, A VERDADEIRA (2)

Num lúcido artigo, escrito semana passada, o senador Buarque levantou questões fundamentais, às quais não vem sendo dada a devida atenção. Costumamos limitar nossa ação, a dos candidatos a cargos e a do eleitor, ao período futuro próximo dos mandatos politiqueiros, pois assim nos conformamos aos padrões institucionais, legais, é verdade, mas perniciosos porque delimitam o programa, quando existe, ao interesse de determinado eleito pelo povo. Da mesma forma, está a se consolidar o pensamento de grupos politiqueiros em manter-se no poder por três, quatro mandatos, como caminho para implantar suas vontades, ideias e interesses. Está esquecido por completo que a verdadeira Política é feita de planejamento de longo prazo, de ideias possíveis de aceitação pelas várias tendências nacionais, e de implantação das ações correspondentes, tendo em vista a consolidação da cidadania e o bem-estar da população.

Sugiro, pois, a leitura do tema abaixo.

Atraso Político

Nesta semana, o mundo se reuniu em Copenhague para pensar os problemas do século XXI.

Mas os políticos presentes estavam presos aos problemas do século XX, e até mais atrás.

A ideia era pensar soluções para a vida no planeta nos próximos cem anos, mas cada político representava seus eleitores, não as gerações futuras, e pensava somente nas próximas eleições.

As catástrofes que ameaçam a humanidade adiante não cabem dentro de país nenhum, nem se manifestarão antes das próximas eleições.

Prisioneiros de cada país e do horizonte da próxima eleição, a política e nós, políticos, estamos despreparados para enfrentarmos as tragédias adiante.

Os problemas ficaram globais, mas a política ficou provinciana. O horizonte de tempo ficou centenário, mas a política continua limitada aos quatro anos à frente.

Lamentavelmente, a globalização apequenou os políticos.

Há até algumas décadas, eles faziam discursos internacionais – pelo socialismo, capitalismo, independência, desenvolvimento –, falavam para o mundo defendendo suas ideias.

Agora, falam apenas para seus eleitores, conforme a orientação dos marqueteiros, baseados nas pesquisas de opinião.

Na verdade, a globalização transformou os líderes mundiais do passado em gerentes comerciais de seus respectivos países.

Para encontrarmos caminhos para cada país, precisaremos encontrar caminhos para o mundo inteiro. E, para tanto, precisaremos de um tipo de político que ainda não temos.

Pelo menos cinco desafios deverão ser enfrentados pela política e pelos políticos nos próximos anos e décadas, para que eles estejam em condições de conduzir os destinos de seus países e da humanidade.

O primeiro desafio é espacial: ser nacional e global, ser capaz de atender às aspirações locais de seus eleitores, sem perder de vista a necessidade de sacrifícios locais em benefício de um planeta equilibrado no futuro.

Esse é um desafio para o qual a geração sentada em Copenhague não parece preparada.

O segundo desafio é temporal: ganhar votos de eleitores imediatistas e ao mesmo tempo olhar para o longo prazo.

Combinar o horizonte de décadas adiante, com o horizonte dos meses até as eleições seguintes.

O terceiro desafio é atravessar a fronteira civilizatória: ir além do debate entre o social e o econômico, e formular uma proposta alternativa para a próxima civilização.

Em vez de apenas propor como produzir mais e distribuir melhor, pensar no que produzir e em como produzir.

Formular novos propósitos: mais tempo livre, mais produtos públicos, nova composição do produto, nova matriz de energia.

Isso vai exigir trocar a busca pelo crescimento pela busca de outro tipo de objetivo, que pode implicar inclusive um decrescimento econômico que traga aumento na qualidade de vida.

O quarto desafio é implícito à atividade política: como se relacionar com o eleitor.

O político das próximas décadas não deve ser apenas o boneco ventrículo dos marqueteiros e da opinião pública.

Terá de se arriscar a propor o novo, mesmo sabendo que diminuem suas chances de ganhar eleições.

Voltou o tempo do Estadista, mas desta vez com sentimento planetário. Além disso, o político não pode se dar ao luxo de ouvir os eleitores apenas por meio da mídia.

A comunicação tem que ser a cada minuto, pelos novos meios de comunicação instantânea.

Finalmente, o quinto desafio é de mentalidade.

O político do futuro deve ser um construtor da mentalidade que permitirá um salto: da atual civilização do consumo depredador privado para a mentalidade do equilíbrio ecológico, da satisfação com o uso de bens públicos; da substituição da divindade do consumo pelo reino do bem-estar.

E o caminho para mudar a mentalidade é uma revolução educacional em escala global.

Todos na escola, mas em uma nova escola.

Pena que não haja muitas chances de que esses e outros desafios sejam enfrentados, diante da mediocridade ideológica provocada pela globalização atual.

Por isso, não dá para sermos otimistas em Copenhague. Nossos líderes ainda não entenderam o que lá estava em jogo.

Cristovam Buarque


Meu comentário:

Primordialmente, é necessário que se repense o fundamento filosófico de Política, estabelecendo uma base conceitual para a ação dos representantes populares, porque, hoje, mesmo bons Congressistas, são levados a atuar confusamente segundo o momento e o procedimento usuais. A partir daí, o rito congressual passaria a ocorrer baseado em bons fundamentos para a sociedade. Mesmo cada um dos parlamentares teria sua ação engrandecida, pois participaria de debates mais consistentes e com visão nacional. Cada projeto deve ser analisado pela qualidade e pelo seu alcance no desenvolvimento nacional ou da cidadania. É verdade que isso se torna difícil e relativo, já que envolve os bons, de um lado, e o baixo-clero, do outro, além das disputas internas entre situação e oposição, mais os interesses, ou não, do Governo, dentre tantas outras variáveis. Mas, há que se ter noção que os verdadeiros representantes populares devem, além dos projetos elaborados, ter a capacidade de influir nas negociações legais, republicanas e cidadãs que signifiquem melhorias para o país e para o povo. A defesa dos interesses da sua região, contextualizada na nação, a proposição de projetos e de idéias que correspondam a ideais partidários e nacionais, extratemporais, com visão de médio e de longo prazos, independentes do tempo do seu mandato e baseados na boa gramática, na retórica e na dialética, definida com o eleitores e com os seus pares, estes são os fundamentos do bom mandato parlamentar. Reconheço que são parâmetros de difícil adoção, em razão da obtusidade imperante há décadas, mas, afinal, por que temos a imprensa, a internete, a mídia em geral, trazendo-nos informação de qualidade e atemporal, com isso possibilitando a interação e a pressão sobre os verdadeiros políticos? É para que possamos acompanhar e avaliar os nossos representantes e emitir opinião quando podemos fazê-lo, cumprindo nossa obrigação de conduzir os destinos da sociedade. Afinal, nós, os eleitores, somos os donos do Poder! Do contrário, seremos aquele Homem Medíocre, de José Ingenieros, que "é imitativo e está perfeitamente adaptado para viver em rebanho, refletindo rotinas, preconceitos e dogmatismos, reconhecidamente úteis para a domesticidade". Utopia? Mas, alguém tem que começar!

O CONTEXTO DO TEMPO E NÓS

O tempo, ah, o tempo! Nada somos no contexto do tempo e nada deixaremos a não ser lembranças, também estas, morredouras. ___________________...