Relativamente à postagem anterior, abaixo trago endereço que pode ser acessado, pelo qual se poderá assistir à opinião de especialista sobre a receitação e aplicação de medicamentos perigosos para jovens. O foco da entrevista é o propalado Deficit de Atenção, tão vulgarizado atualmente, para caracterizar dificuldades de aprendizado dos jovens na escola. 
Penso, então, valer a pena situar-se no tema, assistindo ao vídeo abaixo.
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MEDICAÇÃO PERIGOSA


Está em início uma reação ao modismo terapêutico de, simples e facilmente para os profissionais da área, aplicar medicamentos extremamente fortes e transformadores do comportamento. Desses produtos, muitas vezes nem sequer é conhecida a implicação correlata na saúde física e mental dos pacientes. O processo atual e vigente é claramente  um movimento de indução da indústria farmacêutica, acompanhado de uma aceitação bovina pelos terapeutas dos pretensos benefícios preconizados nas bulas.
Trago, então, à publicação, o texto abaixo que contém entrevista bastante interessante por uma das poucas vozes dissonantes da mesmice reinante.
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Estamos dando veneno para as crianças

MÉDICA ATACA INDÚSTRIA POR ESTIMULAR USO DE REMÉDIOS PSIQUIÁTRICOS PARA PACIENTES INFANTIS

A médica americana Marcia Angell, 72, ex-editora da revista especializada "NEJM" e autora do livro "A Verdade sobre os Laboratórios Farmacêuticos" 

CLÁUDIA COLLUCCI
DE WASHINGTON

Primeira mulher a ocupar o cargo de editora-chefe no bicentenário "New England Journal of Medicine", a médica Marcia Angell já foi considerada pela revista "Time" uma das 25 personalidades mais influentes nos EUA.
Desde 2004, Angell, 72, é conhecida como a mulher que tirou o sossego da indústria farmacêutica e de muitos médicos e pesquisadores que trabalham na área.
Naquele ano, ela publicou a explosiva obra "A Verdade sobre os Laboratórios Farmacêuticos", que desnuda o mercado de medicamentos.
Usando da experiência de duas décadas de trabalho no "NEJM", ela conta, por exemplo, como os laboratórios se afastaram de sua missão original de descobrir e fabricar remédios úteis para se transformar em gigantescas máquinas de marketing.
Professora do Departamento de Medicina Social da Universidade Harvard, Angell é autora de vários artigos e livros que questionam a ética na prática e na pesquisa clínica. Tornou-se também uma crítica ferrenha do sistema de saúde americano.
Tem se dedicado a escrever artigos alertando sobre o excesso de prescrição de drogas antipsicóticas, especialmente entre crianças. "Estamos dando veneno para as pessoas mais vulneráveis da sociedade", diz ela.
Mãe de duas filhas e avó de gêmeos de oito meses, ela diz que recebe muitos convites para vir ao Brasil, mas se vê obrigada a recusá-los. "Não suporto a ideia de passar horas e horas dentro de um avião." A seguir, trechos da entrevista exclusiva que ela concedeu à Folha.
 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/images/ep.gif

Folha - Houve alguma mudança no cenário dos conflitos de interesses entre médicos e indústria farmacêutica desde a publicação do seu livro?
Marcia Angell - Não. Os fatos continuam os mesmos. Talvez as pessoas estejam mais atentas. Há mais discussão, reportagens, livros, artigos acadêmicos sobre esses conflitos, então eles parecem estar mais sutis do que eram no passado. Mas é claro que as companhias farmacêuticas sempre encontram uma forma de manter o lucro.

E os pacientes? Algumas pesquisas mostram eles parecem não se importar muito com essas questões.
Em geral, os pacientes confiam cegamente nos seus médicos. Eles não querem ver esses problemas.
Além disso, as pessoas sempre acreditam que os medicamentos sejam muito mais eficazes do que eles realmente são. Até porque somente estudos positivos são projetados e publicados.
A mídia, os pacientes e mesmo muitos médicos acreditam no que esses estudos publicam. As pessoas creem que as drogas sejam mágicas. Para todas as doenças, para toda infelicidade, existe uma droga. A pessoa vai ao médico e o médico diz: "Você precisa perder peso, fazer mais exercícios". E a pessoa diz: "Eu prefiro o remédio".
E os médicos andam tão ocupados, as consultas são tão rápidas, que ele faz a prescrição. Os pacientes acham o médico sério, confiável, quando ele faz isso.
Pacientes têm de ser educados para o fato de que não existem soluções mágicas para os seus problemas. Drogas têm efeitos colaterais que, muitas vezes, são piores do que o problema de base.

A sra. tem escrito artigos sobre o excesso de prescrições na área da psiquiatria. Essa seria hoje uma das especialidades médicas mais conflituosas? 
Penso que sim. Há hoje um evidente abuso na prescrição de drogas psiquiátricas, especialmente para crianças.
Crianças que têm problemas de comportamento ou problemas familiares vão até o médico e saem de lá com diagnóstico de transtorno bipolar, ou TDAH [transtorno de déficit de atenção e hiperatividade]. E é claro que tem o dedo da indústria estimulando os médicos a fazer mais e mais diagnósticos.
Às vezes, a criança chega a usar quatro, seis drogas diferentes porque uma dá muitos efeitos colaterais, a outra não reduz os sintomas e outras as deixam ainda mais doentes. 
Drogas antipsicóticas estão claramente associadas ao diabetes e à síndrome metabólica. Estamos dando veneno para as pessoas mais vulneráveis da sociedade.
Pessoas que acham que isso não é assim tão terrível sempre argumentam comigo que essas crianças, em geral, chegaram a um estado tão ruim que algo precisa ser feito. Mas isso não é argumento. 

Hoje, fala-se muito em medicina personalizada. Na oncologia, há uma aposta de que drogas desenvolvidas para grupos específicos de pacientes serão uma arma eficaz no combate ao câncer. A sra. acredita nessa possibilidade?
Para mim, isso é só propaganda. Não faz o menor sentido uma companhia farmacêutica desenvolver uma droga para um pequeno número de pessoas. E que sistema de saúde aguentaria pagar preços tão altos?

Algumas escolas de medicina nos EUA começaram a cortar subsídios da indústria farmacêutica e de equipamentos na educação médica continuada. No Brasil, essa dependência é ainda muito forte. É preciso eliminar por completo esse vínculo ou há uma chance de conciliar esses interesses?
Deve ser completamente eliminado. Professores pagam para fazer cursos de educação continuada, advogados fazem o mesmo, por que os médicos não podem? A diferença é que você não precisa ir a um resort no Havaí para ter educação médica continuada. É preciso pensar em modelos de capacitação mais modestos. E, com a internet, todos os países, mesmo os pobres ou em desenvolvimento, podem fazer isso. A educação médica não pode ser financiada por quem tem interesse comercial no conteúdo dessa educação.


CONTRAPONTO

Para psicólogo, remédio ajuda hiperativos

DE SÃO PAULO

Embora haja casos de "excesso de diagnóstico" de hiperatividade em crianças, não se pode negar que, muitas vezes, o medicamento é um componente importante para melhorar a situação de quem tem a doença.
É o que defende Thiago Rivero, secretário da Sociedade Brasileira de Neuro-psicologia e pesquisador da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
"É verdade que, sozinho, o medicamento melhora o desempenho acadêmico dos meninos por apenas um ano. Depois, os efeitos desaparecem. Mas ele cria o ambiente neuronal que possibilita a melhora", afirma Rivero.
Para o pesquisador, o consenso na área é que o tratamento para crianças com distúrbio de atenção deve ser "multimodal", combinando a medicação com estratégias comportamentais, que ajudem as crianças a entender seu próprio estado mental.
"Tudo é uma questão de frequência e de intensidade. Nos pacientes em que o problema é muito intenso e muito frequente, os sintomas só poderão diminuir com o tratamento farmacêutico", afirma o pesquisador da Unifesp.


RAIO-X

MARCIA ANGELL


IDADE
72 anos

OCUPAÇÃO
Professora titular do departamento de Medicina Social da Escola Médica de Harvard e membro da Associação de Médicos Americanos

FORMAÇÃO
Graduada em medicina interna e patologia na Universidade de Boston

TRAJETÓRIA
Fez parte do corpo editorial do "New England Journal of Medicine" entre 1979 e 1999; primeira mulher a ocupar o cargo de editora-chefe no "NEJM"; eleita pela "Times", em 1997, como uma das 25 personalidades mais influentes nos EUA

PUBLICAÇÕES
É autora dos livros "A Verdade sobre os Laboratórios Farmacêuticos" (editora Record) e "Science on Trial: The Clash of Medical Evidence and the Law in Breast Implant Case" (sem tradução no Brasil)


IDH E OS FALASTRÕES


Semana passada, ao ser divulgado o IDH mundial, percebi a pequena evolução do Brasil, especialmente comparando com crescimentos do índice em períodos governamentais distintos e confrontantes entre o antes do PT e durante a governação petista. Mas, agora, esse colunista, também doutor por Cambridge e professor da UFRGS, consolida a impressão que tive ao ler a notícia. Passei, daí, a entender a explosão de indignação de LULLA ao saber do dado divulgado, porque a situação brasileira mostra que, apesar deste regime petista,  outrora crítico, virou vidraça e que pouco fez para a real evolução da qualidade de vida dos brasileiros.
Boa leitura, então!
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IDH, como uma onda no mar
Flávio Comin (Folha de São Paulo, de 06/11/2011)


Nada do que foi será. O crescimento do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) brasileiro vem desacelerando. No período de 1980 a 2011, a taxa de crescimento média anual do IDH brasileiro foi de 0,87% ao ano. Já de 1990 a 2011, essa taxa caiu levemente, para 0,86% ao ano.

Mais recentemente, de 2000 a 2011, o crescimento médio anual do IDH ficou em 0,69% ao ano. O Brasil sobe a "ladeira do IDH" como uma pessoa sedentária sobe uma montanha: vem para cima, mas diminuindo cada vez mais o passo e um pouco ofegante.

Diferentemente, essa mesma ladeira é galgada por países emergentes com "o vigor da juventude". Durante os períodos acima, cabe notar que a Índia teve taxas médias de crescimento anuais do seu IDH de 1,51%, 1,38% e 1,56%, e a China, de 1,73%, 1,62% e 1,43%.

A metodologia para calcular o IDH mudou no ano passado. Agora, os máximos e mínimos usados para a normalização dos valores brutos das variáveis que compõem o IDH(expectativa de vida, anos médios de estudo, expectativa de vida escolar e renda nacional bruta) dependem anualmente do progresso dos países de melhor desempenho.

No contexto de um país que desacelera no seu crescimento no IDH, o Brasil parece estar ao sabor das ondas, isto é, refém das dinâmicas (positivas ou negativas) dos demais países. Pequenos progressos, como os vistos por Venezuela, Geórgia,Equador e Jamaica, foram suficientes para que esses países ultrapassassem o Brasilentre 2010 e 2011.

A entrada de nove outros países na frente do Brasil explica muito sua queda em 2011.

Esse desempenho lento do Brasil tem nome e sobrenome: chama-se falta de investimento na educação e saúde e baixo impacto dos mesmos. Enquanto a renda nacional bruta per capita passou de US$ 7.689 em 2000 para US$ 10.162 em 2011 (crescimento de 32%), na educação, os anos médios de estudo dos brasileiros acima de 25 anos passaram de 5,6 anos em 2000 para 7,2 anos em 2011 (crescimento de 28.6%).

Por sua vez, a expectativa de vida escolar caiu no mesmo período de 14,5 para 13,8 anos (redução de 5%). Na saúde, a expectativa de vida ao nascer passou de 70,1 em 2000 para 73,5 em 2011 (crescimento de 5%). 

Assim, pode-se dizer que o progresso nas áreas da saúde e da educação foram bem menos significativos do que os avanços na renda.

Um aspecto central desse problema é a desigualdade no Brasil, que extrapola a dimensão da renda e também encontra-se tanto na saúde como na educação.

Quando ajustamos o IDH às desigualdades que existem na distribuição de renda, educação e saúde no país, perdemos 27,7% do valor do IDH brasileiro. Ele passa de 0,718 para 0,519. Essa perda é levemente superior à perda do ano passado, que era de 27,2%.

O Brasil perde 13 posições no ranking devido à sua alta desigualdade. Enquanto o país não tiver um planejamento estratégico de longo prazo para transformar seus sistemas educacional e de saúde em prioridades efetivas do Estado brasileiro, continuaremos ao sabor das ondas, vagando a cada ano no ranking do IDH de acordo com progressos e fracassos dos demais.


HOMENAGEM A DALILA E AOS DEMAIS AMIGOS CÃES

O texto abaixo, de Umberto Eco, é escrito por quem admira ou ama cães. Sua leitura, portanto, também, é para esses, embora qualquer pessoa possa se emocionar com o conteúdo. Particularmente, trago-o à publicação em homenagem a DALILA, a cachorrinha da raça Poodle que conviveu conosco por mais de 13 anos e morreu semana passada, após muito sofrimento, nunca reclamado, apenas convivido. Na homenagem a ela, relembro outros cães que passaram pela minha vida: CHIMANGO (um Pastor Alemão), na minha primeira infância; FAMA (uma Pastora Alemã); TAFTI (uma Pastora Alemã); CALU (um Pinscher); TONY (um Boxer tigrado); e DONATELLO (um Daschund, criminosamente assassinado). Estes últimos na minha fase atual de vida. Presentemente, e vivas, bem vivas e amadas, LAIKA e RAÍSSA, ambas da raça Golden Retriver.
Bom leitura, pois!
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INTELIGÊNCIA CANINA
UMBERTO ECO
tradução MAURÍCIO SANTANA DIAS

UMA SENHORA que estava catando cogumelos com uma amiga é picada por uma vespa, tem um choque anafilático, para de respirar, a amiga telefona para a emergência, mas o socorro demora a chegar porque as duas mulheres estão em um bosque muito cerrado e é difícil localizá-las.
Então Queen, o cachorro (mas imagino que fosse uma cadela) da amiga, em vez de ficar ali, como o instinto recomendaria, ganindo e lambendo a mão da moribunda, parte feito um raio, atravessa o bosque, encontra a equipe de resgate e a conduz até o lugar certo.
Como Danilo Mainardi comenta no "Corriere della Sera" de 21 de agosto, não estamos diante de um simples comportamento instintivo: estamos diante de um comportamento "inteligente", em que o cão não responde ao comando do instinto (não se afastar do ferido), mas elabora "um plano complexo, que abrange até a coparticipação de outros indivíduos".
RACIOCÍNIO O caso -e os comentários de Mainardi- evocam uma literatura antiquíssima e vasta sobre as capacidades de raciocínio dos cães. Um dos textos que mais influenciaram essa tradição é a "História Natural" (77 d.C.) de Plínio, que trata da fala dos peixes e dos pássaros e discorre amplamente sobre a inteligência canina, cita um cachorro que reconhecera entre a multidão o assassino de seu dono e, com seus latidos e mordidas, o forçou a confessar o crime, ou ainda o cachorro de um condenado à morte que uivava dolorosamente e, quando um espectador lhe jogou uma comida, ele a levou até a boca do morto; quando o cadáver foi atirado no Tibre, ele também se jogou e nadou, tentando sustentá-lo.
Mas a discussão filosoficamente mais interessante já tinha ocorrido pelo menos três séculos antes, em um debate entre estoicos, acadêmicos e epicuristas. No âmbito da discussão estoica desponta um argumento atribuído a Crisipo, que será retomado e popularizado quase cinco séculos depois por Sexto Empírico.
Sexto considerava que os cães fossem capazes de raciocínio lógico, e a prova disso era que um cão, após chegar a um trívio e reconhecer pelo faro que a presa não tinha seguido por duas das estradas, imediatamente envereda pela terceira sem nem farejar. Com efeito, o cão teria formulado de algum modo o seguinte raciocínio: "A presa seguiu por esta estrada, ou por essa, ou por aquela; ora, a estrada não é esta nem essa; então só pode ser aquela" (o que seria um exemplo de raciocínio conhecido como "quinto indemonstrável").
Além disso, Sexto lembrava que os cães possuem um "logos" porque sabem arrancar espinhos do corpo e limpar as feridas, porque mantêm imóvel a pata doente e identificam as plantas que podem aliviar a dor.
Quanto a uma linguagem animal, é verdade que não compreendemos os sons emitidos por eles, mas tampouco entendemos os sons emitidos por bárbaros, os quais no entanto falam; e os cães certamente emitem sons diversos em situações diferentes.
PLUTARCO Poderíamos continuar citando o "De Sollertia Animalium" (sobre a astúcia dos animais), de Plutarco, no qual se diz que, de fato, a racionalidade animal é imperfeita se comparada à humana, mas que essas diferenças também ocorrem entre seres humanos; e em outro diálogo, "Bruta Animalia Ratione Uti" (os animais usam a razão), a quem contestasse que seria demasiado atribuir a razão a seres que não têm uma noção inata da divindade, Plutarco responderia recordando que entre os seres humanos também existem os ateus.
Em "A Natureza dos Animais", de Eliano, além dos argumentos já vistos, são citados exemplos de cães que se apaixonam por seres humanos. No "De Abstinentia" (da abstinência), de Porfírio, os argumentos em favor da inteligência animal servem para sustentar uma tese "vegetariana". Todos esses temas serão retomados de várias maneiras na era moderna, até nossos dias.
Mas paremos por aqui: ainda que não se consiga definir bem a inteligência canina, deveríamos ser mais sensíveis a esse mistério. E, se for muito difícil virar vegetariano, pelo menos que donos menos inteligentes que eles não abandonem seus cães nas estradas. 

BALANÇO INEFICAZ

Em 07/10 o Jornal do Comércio, de Porto Alegre, publicou o editorial abaixo. Dei atenção ao texto, pois, constantemente, reclamamos da carga tributária. E ela é, sem dúvida, exagerada, extorsiva, podendo, até,  ser classificada de injusta. Mas, e o porquê disto? Eis, então, uma breve  análise no texto abaixo. 
Além disto, devo lembrar que a dívida interna da última década, segundo dados obtidos, cresceu de 60 bilhões de reais, em 2000, para mais de 2 trilhões de reais em 2011.Levando em conta, também, que no período o pagamento de juros da dívida aumentou em cerca de três vezes, enquanto algumas informações oficiais indicam queda dos investimentos, pode-se chegar à conclusão de que as despesas governamentais aumentaram. Adicionalmente, tendo um quadro em que a arrecadação aumentou em torno de quatro vezes, mas a dívida em cerca de 16 vezes, podemos concluir que há um desvão gigantesco para onde é direcionado o dinheiro nacional.
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Ineficiência oficial é mais grave que carga tributária
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelaram que havia 5.883.433 servidores públicos no final de 2010, sendo 5.300.760 estatutários e 582.673 regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A maior expansão do número de funcionários, ou 39,3%, deu-se no setor municipal, seguido pela esfera federal, com 30,3%, governos estaduais, com 19,1%, e empresas estatais, com 11,5%. Contudo, o movimento de recomposição de pessoal apenas repôs o estoque de servidores ativos existentes em 1995, ou seja, 5.751.710. De lá para cá ocorreu um crescimento gradativo do número de servidores estatutários, que representavam 78,5% do total em 1995, evoluindo para 83,5% em 2002 e, no final de 2010, equivaliam a 90% dos servidores públicos. Em sentido contrário, o número de celetistas foi reduzido em mais da metade no mesmo período, de 1.235.540 para 582.673.
É verdade, foi conferida maior capacidade burocrática ao Estado com o reforço de carreiras de áreas estratégicas, como advocacia pública, arrecadação e finanças, controle administrativo, planejamento e regulação. O número de militares e servidores civis no final de 2010 era menor que em 1991. Dos 992 mil funcionários que o País tinha naquele ano, 662 mil eram civis e 330 mil militares. Em dezembro de 2010, dos 970,6 mil funcionários públicos, 630,5 mil eram civis e 340 mil militares. Notou-se melhora no nível educacional dos servidores públicos a partir da obrigatoriedade de contratações mediante concurso público. Foi verificado também que as mulheres constituem minoria na administração federal, mas são maioria nos estados e nos municípios. É que elas atuam mais nas áreas de saúde, assistência social e educação, assumidas em boa parte por estados e municípios.
E a corrupção - que tanto nos irrita - é uma questão de Estado, não de governo, uma vez que caráter não tem ideologia. A premissa para descortinar saídas é compreender que o direito penal não é uma panaceia nem faz milagres. A experiência nos ensinou que aumento de pena não reduz crimes. O direito penal vem sendo largamente usado como uma cortina de fumaça para ocultar omissões. Ficar criando “crimes hediondos” pode até ser uma rima, mas não será uma solução. Em paralelo, todos reclamam da grotesca carga tributária que pesa sobre os assalariados e empresários. Da mesma forma, dos serviços públicos, de A a Z, com nichos corporativos onde ninguém toca, ninguém fiscaliza e as reclamações são respondidas por programas computadorizados assépticos e sem solução. “Ah, mas temos contato direto com o cidadão.” Esse contato direto com os cidadãos, mais assembleias até para discutir a remoção de lixo, o pavimento de uma rua, a conclusão de uma escola ou rodovia não tem sido a solução. Temos obras pleiteadas desde o ano 2000 e que até hoje esperam por realização. O Brasil cresceu um bom tempo a 7,5% ao ano, com carga tributária de 24%, sendo que o governo investia 5%. Hoje, o Estado toma 36% do setor privado em carga tributária, mais 3% de déficit nominal, e investe 1,5%. Não adianta insistirmos em reduzir a carga tributária, o problema é a eficiência do gasto, o que é tomado da sociedade e o que é devolvido. É possível melhorar a eficiência do uso e permitir que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 5% ao ano.  

AMAZÔNIA

Abaixo, trago um assunto preocupante e para o qual devemos manter voltada a atenção, pois a predação sobre a Amazônia vem ocorrendo de forma acelerada. Predação, porque na ânsia do desenvolvimento econômico do país e dos interesses privados nacionais e internacionais, os mais elementares princípios conservacionistas não têm sido respeitados. Nem menciono a preocupação com a preservação, já que esse movimento predatório tem os olhos voltados especialmente para onde a Natureza ainda está intocada e, nisso, envolve a questão da navegação indiscriminada, da exclusão de matas para o comércio da madeira, da exploração dos recursos minerais, da extração de material, e de amostras dele, para a indústria farmacêutica, da implantação de vastos reservatórios para usinas hidrelétricas e da implantação da agropecuária, especialmente a criação de gado.

Tapajós: recursos naturais da Amazônia valem quatrilhões de dólares
TELMA MONTEIRO, para o Correio da Cidadania


A bacia hidrográfica do rio Tapajós é uma das principais sub-bacias da bacia amazônica e tem cerca de 493.000 quilômetros quadrados, onde vivem 820.000 (1) pessoas (Censo Demográfico 2000, IBGE (2)). O rio Tapajós é formado a partir do encontro dos rios Juruena e Teles Pires, na divisa dos estados de Mato Grosso, Amazonas e Pará, e desse ponto ele avança 825 quilômetros para desaguar na margem direita do rio Amazonas. Os rios Jamanxim e Arapiuns, ambos totalmente no estado do Pará, são os maiores tributários do rio Tapajós.
Um estudo do coordenador de sustentabilidade ambiental do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José Aroldo Mota, divulgado no último dia 13, aponta que os recursos naturais da Amazônia valem alguns quatrilhões de dólares. O governo brasileiro pretende usar esses recursos naturais para transformar o Brasil na quinta maior economia do mundo. Para chegar lá, o modal hidroviário, baseado na experiência holandesa, é considerado o principal meio. 
Seminário em Brasília, organizado pelo DNIT, apresentou um conjunto de propostas com a finalidade de orientar políticas públicas de aplicação de tecnologias e de métodos de planejamento. O governo federal quer aproveitar o modelo que levou a Holanda a desenvolver uma estratégia logística para manter seu poder comercial na Europa. Quem estudou história sabe que os holandeses são mercadores por tradição.
O seminário também teve como objetivo trazer para o Brasil uma leitura moderna – como se isso fosse possível - dos 450 anos de transporte hidroviário holandês para aplicá-lo como modelo a ser seguido na Amazônia. O primeiro Termo de Cooperação entre Brasil e Holanda é de 2008, assinado em Haia; depois, em 2009, foi assinado um Protocolo de Cooperação em Brasília; e finalmente em abril de 2010 foi assinado um Plano de Trabalho que levaria os representantes das instituições brasileiras à Holanda, visando o acompanhamento do Plano Hidroviário Estratégico (PHE) e o Curso de Capacitação em Navegação Interior na Holanda.
Veja-se que a pretensão vai muito além de aumentar a nossa capacidade logística emperrada há anos pela corrupção no Ministério dos Transportes. Na verdade esses planos mirabolantes para transformar a Amazônia num grande corpo de artérias navegáveis, à semelhança de países como Holanda e Bélgica, estão centrados em um modelo medieval que levou à ocupação industrial das margens dos rios junto com a destruição da vida que havia neles.  
A Holanda enxerga o Brasil em números: 5ª maior superfície mundial (205 vezes a Holanda); 4ª maior população mundial e, portanto, importante mercado interno (Brasil, 190 milhões; Mercosul, 300 milhões); principal mercado emergente na América do Sul; diversas oportunidades regionais; diversas oportunidades setoriais (3).
Contrastes: a Holanda tem 41.864 km² e 16 milhões de habitantes. A bacia Amazônica abrange uma área de 7 milhões de km², dos quais 3,8 milhões de km² encontram-se no Brasil. Com o potencial logístico esgotado na Holanda, as grandes empresas holandesas estão buscando a alternativa de expansão no emaranhado de rios brasileiros na Amazônia. O planejamento das cidades holandesas se deu exclusivamente com a implantação de atividades industriais nas margens dos rios e canais. É exatamente isso que estão querendo fazer com a Amazônia!
Como é o Complexo Tapajós?
Na esteira dos planos para construção de mega-empreendimentos hidrelétricos na Amazônia, foi elaborado o “Estudo de Inventário Hidrelétrico do rio Tapajós e Jamanxim”, que identificou o potencial de sete aproveitamentos hidrelétricos com potencial de 14.245 megawatts (MW) de capacidade instalada (4).
Os estudos indicaram um conjunto de aproveitamentos em cascata, no rio Tapajós e no seu principal tributário, o rio Jamanxim. O Ministério de Minas e Energia (MME) considerou que é estratégico para o Brasil explorar esse potencial de energia. Mas não explicou o porquê. O projeto hidrelétrico de São Luiz de Tapajós, o maior aproveitamento da bacia do Tapajós, está previsto no Plano Decenal de Energia (PDE) 2020.  
Em 2010, depois de realizado o inventário para identificar os aproveitamentos hidrelétricos na bacia hidrográfica do Tapajós, foram apresentados também os estudos da Avaliação Ambiental Integrada (AAI) do rio Teles Pires e do rio Juruena, os dois rios que se juntam e formam o Tapajós. Esse parece ser apenas o início de um grande processo de apropriação e privatização dos recursos da Amazônia, incentivado pelo governo, em parceria com grandes empresas nacionais e internacionais e financiamento do BNDES. Projetos de lei estão tramitando (5) céleres no Congresso para viabilizar a construção de eclusas – para transposição de desníveis - simultaneamente à construção de barragens em rios navegáveis e não-navegáveis. Entre os projetos que estão sendo priorizados está o da Hidrovia Tapajós-Juruena-Teles Pires (6).
O governo brasileiro anunciou que o Complexo Tapajós, que está no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), seria leiloado em 2010; o leilão foi transferido para 2011. E já há previsão de que a primeira usina comece a operar em 2016. Os estudos de inventário foram entregues à Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) deverá emitir em breve o Termo de Referência relativo à primeira usina, São Luiz do Tapajós, para a elaboração dos Estudos de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA).
Uma medida provisória editada em julho promoveu a redução do Parque Nacional da Amazônia e das florestas nacionais de Itaituba 1 e 2, para evitar conflitos no processo de licenciamento ambiental das usinas do Tapajós. Duas das usinas do complexo afetarão diretamente as unidades de conservação. Pelas notícias essa redução está se dando a pedido da Eletronorte e sem os estudos necessários. Mais uma vez o Ibama sofre as pressões políticas impostas pelas necessidades inexplicáveis das empresas estatais. Eletrobras, uma Petrobrás da energia? Ridículo.
Com a hidrovia Tapajós-Teles Pires-Juruena, o governo brasileiro quer criar uma nova estrutura organizacional calcada em modelo internacional, em especial no holandês, para viabilizar a implantação de cerca de 20 mil quilômetros de malha hidroviária navegável só na Amazônia. As hidrovias passaram a ocupar um papel importante nas diretrizes do governo brasileiro, do Ministério dos Transportes em especial, com a desculpa de reduzir os custos internos de transporte de commodities e dar competitividade às exportações. Custos internos?
Enquanto isso as estradas que tanto mal causaram e que já rasgaram a Amazônia, induziram à ocupação predatória, grilagem, pressionaram o desmatamento e o comércio de madeira ilegal, continuam se desmanchando sem os recursos que sabidamente escoaram para o ralo da corrupção.





FÁBULA ADEQUADA

O antológico livro "A Revolução dos Bichos", de George Orwell, trata da questão do totalitarismo e, nesta visão, de como os interesses mudam de lado. Primeiramente, a classe opressora atua sobre determinada camada social menos influente. Posteriormente, os membros desta última passam a oprimir os da primeira, utilizando os mesmos padrões comportamentais daquela. A história soa, então, com um viés de absurdo, pois se houve uma luta físico-ideológica para superar a exploração, o que leva a que esses construtores da resistência passem a adotar os mesmos métodos opressores e exploratórios dos primeiros senhores? 
Pois bem, circula uma outra fábula de mesmo tom e, por esta razão, trago-a à leitura abaixo.

O comunismo é bom enquanto se faz sopa com a galinha do vizinho.

A  galinha vermelha achou alguns grãos de trigo e disse a seus vizinhos:
- Se plantarmos trigo, teremos pão para comer. Alguém quer me ajudar a plantá-lo?

- Eu não. - disse a vaca.
- Nem eu. - emendou o pato.
- Eu também não. - falou o porco.
- Eu muito menos! - completou o ganso.

- Então eu mesma planto. - disse a galinha vermelha.

E assim o fez. O trigo cresceu alto e amadureceu em grãos dourados.
- Quem vai me ajudar a colher o trigo? - quís saber a galinha.

- Eu não. - disse o pato.
- Não faz parte de minhas funções. - disse o porco.
- Não depois de tantos anos de serviço. - exclamou a vaca.
- Eu me arriscaria a perder o seguro-desemprego. - disse o ganso.

- Então eu mesma colho. - falou a galinha.

E colheu o trigo ela mesma. Finalmente, chegou a hora de preparar o pão.
- Quem vai me ajudar a assar o pão? - indagou a galinha vermelha.

- Só se me pagarem hora extra. - falou a vaca.
- Eu não posso por em risco meu auxílio-doença. - emendou o pato.
- Eu fugi da escola e nunca aprendi a fazer pão. - disse o porco.
- Caso só eu ajude, é discriminação. - resmungou o ganso.

-Então eu mesma faço. - exclamou a pequena galinha vermelha.

Ela assou cinco pães e pôs todos numa cesta para que os vizinhos pudessem ver.

De repente, todo mundo queria pão e exigiu um pedaço. Mas a galinha simplesmente disse:
- Não, eu vou comer os cinco pães sozinha!

- Lucros excessivos! - gritou a vaca.
- Sanguessuga capitalista! - exclamou o pato.
- Eu exijo direitos iguais! - bradou o ganso.
O porco, esse só grunhiu.

Eles pintaram faixas e cartazes dizendo "Injustiça!!!" e marcharam em protesto contra a galinha, gritando obscenidades.

Quando um agente do governo chegou, disse à galinhazinha vermelha:
- Você não pode ser assim egoísta.
- Mas eu ganhei esse pão com meu próprio suor! - defendeu-se a galinha.
- Exatamente. - disse o funcionário do governo - Essa é a beleza da livre iniciativa: qualquer um aqui na fazenda pode ganhar o quanto quiser, mas sob nossas modernas regulamentações governamentais, os trabalhadores mais produtivos têm que dividir o produto de seu trabalho com os que não fazem nada!

E todos viveram felizes para sempre, inclusive a pequena galinha vermelha, que sorriu e cacarejou:
- Eu estou grata, eu estou grata.

Mas os vizinhos sempre se perguntavam por que é que a galinha, desde então, nunca mais fez nada, nenhuma iniciativa, nenhuma ação para produzir... nem mesmo um pão!

Meu Comentário:
A fabuleira é útil para qualquer situação. Neste caso, por exemplo, correlaciona muito bem a esquerda ideológica de ontem, mas, vê-se hoje, apenas oportunista, com o mesmo grupelho de antes que agora  se enrola em lençóis de linho egípcio; que gasta, ou fatura em proveito próprio, com cartões corporativos, cujos gastos são definidos como sigilosos, porquê de segurança nacional; que aparelha o Estado com o meu, o teu, o nosso dinheiro; que contrata consultorias para empresas públicas, que contratam outras consultorias para consultar as primeiras, que contratam outras mais para consultar as primeiras e as segundas; e...por aí vai (isso te lembra algo, em algum momento recente, de alguma empresa governamental?). Assim, enfim, todos (eles) ficam ricos e satisfeitos, enquanto os impostos aumentam, enquanto as pessoas morrem, a cada vez mais na fila da Saúde, por que não há atendimento adequado e suficiente, e, nós, os babacas, nos calamos. Calamo-nos!, pois nos calaram os meios outrora ardentes na defesa de princípios e fundamentos, como os sindicatos, por exemplo, pois, estes, estão comprados. As esquerdas ? Ora as esquerdas! Não as há mais, ainda bem! Ou será que deveria dizer: “que pena!” Afinal, representavam o contraditório que hoje não mais existe. E a oposição?  Onde está que não a vejo; que não a sinto; que não consegue pensar; que não consegue desempenhar esse papel contraditório, mas agora construtivo? Está comprada por valores dados em troca, ou pelo medo de expor idéias, de criar novas lideranças. Esfacela-se em debates inúteis e canibalísticos internos.

Enquanto isso, só resta repetir: “eu estou grata, eu estou grata.”


"BABY BOOMER", COM ORGULHO!

  ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Sim, ...