OS HOMENS SEM PERSONALIDADE

Conhecemos o fato recente, ocorrido pouco antes da Páscoa deste ano, quando futebolistas do Santos foram levados em ônibus do clube a instituições de caridade e de atendimento especial, para uma ação aproximante entre ídolos populares e crianças com necessidades específicas. Pois bem, ao chegar numa delas, uma instituição espírita que dá atendimento a crianças com paralisia cerebral, os jogadores Robinho, Neymar, Ganso, Fábio Costa, Durval, Léo, Marquinhos e André, se recusaram a, sequer, descer do ônibus. Caracterizaram, assim, a sua pequena visão do mundo espiritual, a sua ausência de entendimento do âmbito do sentimento, a sua falta de formação humanista, pois, se interagem com multidões deveriam tê-la, e, finalmente, exacerbaram uma manifestação preconceituosa. Em favor dos demais colegas do time, é necessário lembrar que Felipe, Edu Dracena, Arouca, Pará e Wesley, mantiveram contato de forma natural e carinhosa com as crianças, distribuindo presentes típicos da festividade.
Pois, sobre isso, o Pastor da Igreja Batista Ed René Kivitz, escreveu artigo situacional analisando a questão dos confrontos religiosos e de que há algo maior do que apenas vinculação a uma religião. Pode ser lido a seguir:

No Brasil, futebol é religião

Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa. Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso, cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.
A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé.
Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno; ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualismo; ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião. Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.
O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.
Mas, quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz.
Os valores espirituais agregam pessoas, aproxima os diferentes, faz com que os discordantes no mundo das crenças se deem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.
Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental.

Ed René Kivitz, cristão, pastor evangélico, e santista desde pequenininho.


Meu comentário:

Normalmente as religiões e suas seitas, e é importante diferenciá-las nesta classificação, desenvolvem suas ações a partir do proselitismo e mantêm suas convicções no âmbito do fundamentalismo, estabelecendo uma definição de Fé que nada tem de espiritualidade. Assim, tornam-se meros conjuntos de rituais, espaços e rezas voltados a amarrar os fieis a medos de uma divindade terrível e castigadora constante a quem denominam Deus. Esse Deus não é nada disso! É muito mais abrangente, magnânimo e participativo nas nossas vidas do que a vã filosofia desses obscuros pode definir.
Por isso tudo, é surpreendente o artigo desse representante da Igreja Batista, pelo qual é possível visualizar uma mente aberta, num entendimento do que seja religião, seja ela qual for e que, acima disso, está a aceitação de todas as correntes espiritualistas, pois são elas todas que formam a Humanidade e o correspondente aperfeiçoamento das relações entre as pessoas e os povos. Diminuídos restaram aqueles nomes famosos do esporte que mais atrai os brasileiros e que não souberam compreender o significado de uma ação social simples, mas dignificante para quem a faz e confortadora para quem a recebe. É bem verdade que, depois, eles retornaram ao local e participaram da ação. Mas, somente depois de um puxão de orelhas que a sociedade lhes aplicou. Podiam ter passado por essa, engrandecidos de primeira e não de segunda mão.
José Ingenieros, em seu livro "O Homem Medíocre", ressalta que "o poder que se maneja, os favores que se mendigam, o dinheiro que se acumula, as dignidades que se conseguem, têm certo valor efêmero, que pode satisfazer os apetites daquele que não leva em si mesmo, em suas virtudes intrínsecas, as forças morais que embelezam e qualificam a vida: a afirmação própria da personalidade e a quantidade de ombridade postas na dignificação de nosso eu. Viver é aprender, para ignorar menos; é amar, para nos vincularmos a uma parte maior da humanidade; é admirar, para compartilhar as excelências da natureza, bem como dos homens; é um esforço para melhorar, um afã incessante de elevação em direção a ideais definidos." Em função deste texto, pois, o título da postagem.

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O CONTEXTO DO TEMPO E NÓS

O tempo, ah, o tempo! Nada somos no contexto do tempo e nada deixaremos a não ser lembranças, também estas, morredouras. ___________________...