HOSPITALISTA

Eis, finalmente, um fato que indica o retorno de algo parecido ao antigo médico da família. Claro que não com as mesmas características, pois, hoje, isso não mais seria possível, em face das condições psicossociais e do tamanho geográfico das cidades, do número de pessoas que habitam um espaço urbano, da multiplicidade e da variação de diagnósticos médicos, em função dos avanços da  ciência e da tecnologia, dentre outros aspectos.

Ao lado dos especialistas médicos, estes também, médicos, serão especialistas do acompanhamento pessoal, contextualizados na tecnologia paralela que diagnostica um mal, situados num ambiente hospitalar que eles deverão conhecer muito bem e junto da equipe de enfermagem. Ou seja, ninguém perde o seu espaço e o doente incorpora, de forma permanente, um profissional pleno junto de si. Certamente a empresa hospitalar ganhará com a redução de custos operacionais e todos serão beneficiados com a redução de erros médico-hospitalares. Aparentemente, pelo menos, esta deverá a ser a nova realidade.

Sugiro, pois, a leitura da reportagem abaixo:
_______________________________________________

 

Mercado Para Novos Médicos

ORIENTAÇÃO VOCACIONAL


Por: Zero Hora
Gaúchos lideram movimento para a formação do hospitalista, médico que tem o hospital como foco. É a especialidade que mais cresce nos Estados Unidos


Pensou em pediatra, cardiologista, psiquiatra? Pois pode começar a incluir na sua lista de opções a medicina hospitalar. Os futuros médicos hospitalistas, que se dedicam integralmente ao cuidado de pacientes internados em hospitais, ainda estão sendo formados no Exterior, mas prometem ascensão de um novo perfil profissional no Brasil.

Por iniciativa de médicos gaúchos, que criaram no ano passado a Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar (Sobramh), jovens residentes e recém-formados em Medicina estão fazendo estágios e imersões em hospitais americanos, onde a especialidade foi criada há 15 anos e já é a que mais cresce no país. O convênio entre as sociedades brasileira e americana de Medicina Hospitalar está sendo estudado, mas os contatos iniciais já abriram caminho para seis profissionais gaúchos que estão nos EUA ou embarcam nos próximos meses para a especialização ainda não-regulamentada no país.
- A medicina hospitalar reconhece que o hospital por si determina riscos à saúde. Trabalhamos para promover o uso adequado a quem precisa. O médico atende no consultório, interna o paciente e o visita uma ou duas vez por dia. Esse é um modelo que não serve mais - diz Guilherme Brauner Barcellos, presidente da Sobramh e preceptor de Medicina Interna do Hospital Conceição.
Para Guilherme, o hospital está abrindo mercado também a um outro tipo de médico cuja atuação se parece muito com a do hospitalista. São os que integram os chamados Times de Resposta Rápida, grupos que atuam para solucionar problemas dos pacientes quando o médico responsável não está presente.
- O hospitalista se diferencia porque acompanha o paciente o tempo todo. Ele se destaca em áreas como tecnologia da informação, pesquisa médica e, sobretudo, na organização de diagnósticos e atendimentos para reduzir o tempo de internação e aumentar a segurança - explica Guilherme.
Para investir na medicina hospitalar ainda é preciso sair do Brasil. Foi o que fez a porto-alegrense Michelle Biehl, 28 anos, pela segunda vez. Depois de um estágio durante a faculdade, ela cursa hoje a residência no Jackson Memorial Hospital (JMH), da Universidade de Miami, nos EUA. Familiarizada com os novos conceitos, Michelle garante que a clínica do paciente enfermo e internado está em grande crescimento.
- No JMH, temos o Serviço de Medicina Hospitalar, com ótima estrutura, e os Times de Resposta Rápida. O hospitalista melhora o desfecho dos pacientes internados e a qualidade do atendimento - diz Michelle, formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Michelle alerta que os hospitalistas cursam a residência em medicina interna ao sair da faculdade. Por isso, podem atender a qualquer tipo de problema que possa ocorrer com o paciente internado, como faz a equipe de resposta rápida. Mas não baseiam nisso a sua atuação. Estão preocupados com o funcionamento do atendimento e com a segurança do paciente. Buscam um novo perfil profissional que está bem longe do modelo tradicional, no qual o médico se contenta com uma ou duas visitas diárias ao paciente internado.

Para boa parte dos médicos, o hospital significa ambulatório ou sala de cirurgia. O dia-a-dia da internação faz parte da rotina da enfermagem de médicos plantonistas, que atendem emergências. Mas uma mudança começou em 2005 no Estado, quando o Hospital Mãe de Deus, na Capital, criou a primeira equipe médica de resposta rápida para solucionar problemas na ausência do médico assistente. O sucesso do serviço, hoje já implantado no Complexo Hospitalar Santa Casa, é o embrião do novo médico.

- As equipes de resposta rápida já mostraram muitos benefícios. O hospitalista ampliará esse trabalho. Ele não tira o lugar de ninguém - diz a médica Alice Gallo de Moraes, 27 anos, com viagem marcada para os EUA, a fim de estagiar na área em Miami.
Conforme a Society of Hospital Medicine (SHM), entidade que se dedica a promover o cuidado ao paciente hospitalizado, o novo médico diminui despesas hospitalares, em média, em 13%. Mas, conforme o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) há estudos indicando mais de 30%.
- Contratamos hospitalistas porque precisamos implantar um sistema de proteção para a sociedade. Quanto mais complexo é o hospital, mas distante ele fica do modelo atual de atendimento que ainda se baseia no médico que está fora do hospital - diz Alberto Kaemmerer, diretor médico-científico do Sistema de Saúde Mãe de Deus.
A formação do hospitalista

No Brasil, a especialização ainda não foi criada. Os interessados buscam estágios e residência nos EUA, por meio da recém-criada Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar. Jackson Memorial Hospital (JMH), da Universidade de Miami, Mayo Clinic, em Rochester, e Brigham and Womens Hospital, da Harvard Medical School, em Boston, recebem brasileiros.

O mercado no Brasil
O Hospital Mãe de Deus, na Capital, criou em 2005 a primeira equipe de médicos contratada pelo hospital para atender a intercorrências de pacientes internados. A iniciativa existe também no Complexo da Santa Casa e se assemelha ao trabalho do hospitalista, que teria maior carga horária e atuação mais ampla.

Há projetos embrionários em outras instituições que se baseiam em benefícios já comprovados pelos pioneiros como redução de mortalidade, custos e tempo de internação.

O perfil nos EUA
82% dos hospitalistas são clínicos, com idade média de 37 anos, especialização em medicina interna e pelo menos um ano em medicina hospitalar
Está apto a reconhecer, diagnosticar e tratar doenças prevalentes
É capaz de antecipar problemas e, rapidamente, responder a crises ou mudanças no estado do paciente
Assume a liderança nas iniciativas relacionadas à segurança do paciente, como as de elaboração de protocolos

A especialidade
A Medicina Hospitalar surgiu na metade da década de 90, nos Estados Unidos. Hoje reúne mais de 20 mil médicos. A expectativa é de que, até 2012, somem 30 mil, um número maior do que o de cardiologistas no país.

Saiba mais
O 1º Congresso Brasileiro de Medicina Hospitalar ocorre de 1º a 3 de maio, em Gramado. Médicos americanos trarão a história de como a especialidade surgiu há 15 anos e já desponta como a segunda em número de profissionais. Haverá workshops gratuitos e exclusivos para estudantes.
Informações: www.medicinahospitalar.com.br

__________________________________________________________________________________________________________________________


De Porto Alegre para Boston
Entrevista: Gabriel Dalla Costa, Médico


Gabriel Dalla Costa, 25 anos, formou-se pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em dezembro de 2006. É residente em Medicina Interna no Hospital Conceição, em Porto Alegre, e tornou-se estagiário no Brigham and Women´s Hospital, da Harvard Medical School, em Boston, nos Estados Unidos. A oportunidade surgiu por meio da Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar. Ela incentiva residentes e jovens médicos a cumprirem estágios e imersões em hospitais americanos que desenvolvem a especialidade que pretendem criar no Brasil. Por e-mail, Gabriel concedeu entrevista ao caderno Vestibular. Confira:
Vestibular - O mais lhe atrai na medicina hospitalar?
Gabriel - É o fato de trabalhar com a constante preocupação de estratégias para uma hospitalização mais segura e breve, garantindo satisfação sem desperdiçar recursos terapêuticos e diagnósticos.
Vestibular - Como é o trabalho nos EUA?
Gabriel - No hospital, cumprimos rotinas pré-estabelecidas que se baseiam em informações exaustivamente pesquisadas, de acordo com os mais recentes avanços publicados no meio científico. Também trabalhamos gerenciando banco de dados e a interação entre as equipes (enfermagem, nutrição, fonoaudiologia, fisioterapia, farmácia, psicologia etc).
Vestibular - Seria uma volta do médico na administração hospitalar?
Gabriel - Não, o modelo hospitalista coloca o médico no papel central do atendimento hospitalar. Isso traz valorização para a medicina e evita a descontinuidade de informações sobre o paciente. Na maioria das vezes, não é o mesmo médico que realiza os dois atendimentos (ambulatório/hospital). Além da descontinuidade que ocorre pela troca de médico, não há um mecanismo de comunicação adequada entre os profissionais, tanto na baixa quanto na alta do paciente. Faltam informação adequada e comunicação entre médicos e diferentes equipes de saúde, e o paciente recebe a carga pela falta de organização.
Vestibular - Como ocorre essa falta de organização?
Gabriel - Vamos imaginar o clínico que tem 10 pacientes internados e precisa atender no consultório. Como dar atendimento adequado com uma ou duas visitas diárias ao paciente internado e ainda atender o consultório com qualidade? A solução proposta é imaginar uma equipe de hospitalistas responsáveis por gerenciar a internação do início ao fim, entregando o paciente ao seu médico de origem após o término da internação. Não se discute a importância de especialistas competentes. Discute-se sim, o uso abusivo e desnecessário do sistema de consultorias, que fragmenta e encarece o atendimento, sem claro benefício documentado.
Vestibular - Quais os planos ao voltar para o Brasil?
Gabriel - Procurar difundir ao máximo os aspectos positivos da medicina hospitalar e ajudar nosso país a oferecer um atendimento mais qualificado. Temos ótimos médicos, mas falta organização. A medicina hospitalar pode modificar nosso sistema de saúde. Em dados reais, em um grande hospital da capital gaúcha que atende pelo SUS, a média de internação em leito de medicina interna é de 12 a 13 dias. Em um grande hospital de Boston (EUA), que mantém serviço de medicina hospitalar, a média é de três a quatro dias. A aplicação desse modelo no país poderia ser fonte imensa de recursos e qualidade.
Vestibular - Qual o futuro dessa especialidade no país?
Gabriel - Requer uma ampla discussão e transformação. Pode ser encarada como um grande desafio. A expectativa é imensa, embora ainda estejamos em estágio embrionário de implementação. Há um esforço formidável de jovens médicos gaúchos. Nos EUA, é a especialidade que apresentou o maior crescimento da história.
Vestibular - Qual a tua dica para quem está se formando e já se interessa pela área?
Gabriel - A medicina é fascinante em todos os seus aspectos. É preciso estudar com afinco e buscar aprimoramento dia após dia. O dinheiro vem, mas certamente é algo secundário quando comparado a satisfação de realizar uma ciência em sua plenitude e excelência. Dedicação ao paciente - e também à vida pessoal - é um bom caminho. É preciso ser técnico brilhante, mas antes de tudo, um caloroso ser humano. Isso é ser médico de verdade, em qualquer área de atuação.

Nenhum comentário:

"BABY BOOMER", COM ORGULHO!

  ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Sim, ...