INCOERÊNCIAS DA REGÊNCIA

Todos os dias somos abordados por representantes, ou por telefonemas, de instituições de caridade que atendem idosos, dependentes químicos, deficientes mentais ou físicos. E, todas essas vezes, colaboramos financeiramente. Todos os dias sabemos de notícias que nos informam que gente do povo está à beira da morte, ou que morreu, aguardando o atendimento precário do sistema de saúde público. Todos os dias vemos e ouvimos o quê os noticiosos nos trazem, dando conta da precariedade das estradas e das conseqüências disso, com acidentes que geram despesas aos motoristas, ferimentos graves nas pessoas e mortes, muitas mortes humanas. Também, quase todos os dias, acompanhamos informes que nos dão conta que o Governo pensa em instituir novo tributo, ou que a arrecadação atingiu recorde. Todos os dias acompanhamos notícias de que os políticos, se é que os podemos denominar assim, já que de Política, a verdadeira, pouco há no Brasil, são favorecidos por novos favores do cargo, ou se valem de subterfúgios para aumentar seu rendimento. Agora, vivemos um tempo em que as Câmaras Municipais tentam aumentar o número dos seus componentes, não por vontade popular, mas pela deles, por interesses eleitorais. E todos nós pagamos os impostos exigidos, pois se não o fizermos somos severamente repreendidos e penalizados pelo Poder Público.
Mas, na contramão da sabedoria, da decência e da moral nacionais, caminhamos para o derrame desses nossos impostos pagos, a serem utilizados, primeiro, em uma ação duvidosa e que só servirá para orgulhar determinada elite recém chegada. Segundo, em sendo aceitável a realização de uma competição que eleve o orgulho nacional, focando no seu principal esporte, que isto fosse realizado de forma mais simples, sem arroubos de grandiosidade chinesa, estadunidense ou russa. E, em terceiro lugar, que isso fosse planejado com boa antecedência, de forma aberta e clara ao povo, e acessível e sujeita aos sistemas controladores populares. Além disso, o ideal era que tudo fosse  desenvolvido sem participação de recursos públicos. Mas, não é assim! Por isso, sugiro a leitura do artigo abaixo.
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Por CARLOS ALBERTO SARDENBERG/Instituto Millenium
Copa do Mundo sai muito caro para o país organizador. A maior parte do dinheiro sai do governo, ou seja, do bolso do contribuinte. Por isso mesmo, a decisão de pleitear a sede da Copa é política e vai além dos órgãos esportivos.
Que vai muito dinheiro público para a Copa de 2014 no Brasil — estamos verificando a cada dia. Também constatamos que foi praticamente inexistente o debate sobre a disposição de realizar (ou não) os jogos. O então presidente Lula carregou a candidatura brasileira como um esforço e, depois, uma conquista pessoal, sem enfrentar resistências. Quem podia ser contra a chance de recuperar o título numa final no Maracanã? Logo, hoje, não se pode reclamar dos custos cada vez mais elevados, não é mesmo? Verdade que algumas autoridades haviam garantido que não haveria doação de dinheiro público para os estádios da Copa. Mas essa tese não resistiria a dois minutos de conversa. Havia o precedente do Pan e, além do mais, autoridades sempre recorrem a um sofisma. Dizem que conceder financiamentos, empréstimos especiais e isenções de impostos não é doar dinheiro, mas fazer investimentos que resultarão em benefícios sociais e fiscais mais à frente.
Essa tese faz sentido. Com ou sem Copa, o país precisa de aeroportos maiores e melhores. A Copa faz dessa necessidade uma urgência. Depois dos jogos, permanecem os equipamentos urbanos à disposição do público. O tal legado.Cabe discussão. Um superaeroporto na cidade de Natal será uma adequada prioridade de gasto público? Um estádio na Zona Leste da cidade de São Paulo, o do Corinthians, é a melhor maneira de desenvolver aquela região? Ou seja, é possível que, por causa da Copa ou a pretexto dela, obras desnecessárias no momento tornem-se prioritárias e urgentes. São aquelas que se transformam em elefantes brancos.Tudo considerado, a verdadeira questão não é saber se e quanto dinheiro público vai para a Copa, mas se a coisa toda está sendo bem ou mal feita. Isso pode e deve ser discutido.
Estamos atrasados, é verdade. Mas vale a pena mesmo, ainda que seja como aprendizado. Não se pode esquecer que ainda temos as Olimpíadas pela frente. Por exemplo, está em tempo de reduzir o número de cidades que receberão jogos. Aquelas que estão muito atrasadas na preparação poderiam simplesmente ser eliminadas. É muito mais econômico concentrar mais jogos em menos estádios. E fazer menos arenas, claro.
A reforma do Maracanã, para ser no mínimo o palco da finalíssima, é muito cara, mas passou assim como absolutamente natural. Caberia um debate sobre o que se poderia fazer com o dinheiro da reforma? Quantas UPPs, por exemplo? E a própria reforma? Não seria mais barato um estádio novo em algum outro lugar ou no lugar do atual? Mas não. Parece que há um consenso nacional: vamos ganhar a Copa no mesmo Maracanã, reformado mas o mesmo de 1950. Se acontecer isso mesmo, será o modo mais caro do mundo de lavar a alma. Se perder…. Em São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab e o governador Geraldo Alckmin sustentam que a capital paulista não pode ficar sem a abertura da Copa e que isso exige investimentos públicos. Ora, por que não pode? Qual o prejuízo para os paulistanos? Orgulho ferido se a abertura (o jogo da Espanha, atual campeã, contra um time menor) fosse em Belo Horizonte? O outro argumento diz que a realização da abertura traz negócios para a cidade. Mas a que custo?
Tal como está montada a engenharia financeira até o momento, o estádio do Corinthians, para ser também o da abertura, tem dinheiro dos três níveis de governo. O federal, via BNDES, vai emprestar R$ 400 milhões, a juros subsidiados. A prefeitura oferece R$ 420 milhões em incentivos. O prefeito dizia que era apenas isenção para o estádio. Mas não será simples assim. A prefeitura emitirá Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento para o Fundo de Investimento Imobiliário responsável pela construção da arena. O Fundo poderá vender esses certificados para empresas que tenham IPTU e ISS a pagar. Assim, contribuintes que pagariam em dinheiro para a prefeitura vão entregar Certificados comprados do Fundo. A prefeitura deixa de receber os R$ 420 milhões, dinheiro que fica como financiamento para o Fundo aplicar no estádio. E, finalmente, o governo paulista vai colocar algo entre R$ 60 milhões e R$ 70 milhões para instalar na arena corintiana 20 mil lugares provisórios e assim chegar aos 68 mil necessários para um “estádio de abertura de Copa”. Como dizem diretores do Corinthians: o timão precisa de um estádio de 48 mil lugares; se a prefeitura e o governo estadual querem a abertura, têm de pagar por isso.
É mais um dinheiro do contribuinte. Haverá muito mais país afora. E tudo na conta do “agora não tem mais jeito”. Não queriam ganhar a Copa aqui? E o pior de tudo é que o mais importante, a seleção, não vai lá das pernas. Sempre com dinheiro público, há Copas e Olimpíadas benfeitas e outras que deixam um rastro de desperdício.
Ainda daria para salvar as Olimpíadas?

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