Surpreendeu-me a
informação de Drauzio Varella acerca da origem do uso dos componentes naturais que
formam a aspirina. Nunca havia prestado atenção a esse detalhe, tão importante
na nossa saúde diária. Novamente, a sabedoria ancestral em evidência.
Compartilho uma leitura que penso ser importante conhecer o seu
conteúdo, não apenas pela informação do medicamento de per si, mas,
especialmente, pela valorização que devemos dar aos ensinamentos e
conhecimentos que vêm das tumbas, se me for permitido o trocadilho.
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A descoberta da aspirina
Drauzio Varella, para o jornal Folha
de São Paulo, de 14/01/2012
Em
1763, o reverendo inglês Edward Stone descreveu os efeitos medicinais da casca
do salgueiro no alívio dos sintomas da malária.
Foi o primeiro ensaio
clínico da história da medicina, passo essencial para o desenvolvimento da
aspirina, remédio conhecido há milhares de anos, como descobriria seu
conterrâneo, Edwin Smith, passeando pelas ruas de Luxor, em 1862.
Nesse passeio, Smith,
especialista em Egito Antigo, atravessava um mercado de rua quando encontrou
uma banca com papiros à venda. Um deles, de autoria desconhecida, descrevia em
110 páginas a prática da medicina no tempo dos faraós. Custou 12,2 libras.
Batizado como Papiro de
Ebers, esse livro-texto escrito em 1534 antes de Cristo, é considerado o
documento mais completo da medicina egípcia. Descreve diversas condições
médicas e cerca de 700 preparações de ervas medicinais. Entre elas, um tônico
obtido a partir da casca de uma árvore que crescia na maior parte do mundo
pré-histórico: salix ou tjeret, conhecida entre nós como salgueiro.
O tônico da salix era
uma panaceia receitada especialmente para aliviar dores nas juntas e em outras
partes do corpo. A partir dos anos 200 DC, por meio do comércio e das
expedições militares, seu uso se espalhou pelo mundo civilizado. Essa
trajetória levou-o até o reverendo Stone, que teve a ideia do referido estudo
depois de testar seu efeito no controle das dores articulares que o afligiam.
A prosperidade
econômica e as inovações tecnológicas do início do século 19, deram origem à
competição para sintetizar o princípio ativo presente no salgueiro.
Em extratos da casca, pesquisadores alemães, franceses e italianos
conseguiram refinar cristais amarelos dotados de atividade e aprimorar seu
processo de extração, de tal forma que ao redor de 1850 tornou-se popular o uso
de medicações com os nomes de salicilina, ácido salicílico e salicilato de
sódio, para tratamento de dores, febre e inflamações.
Como a irritação
gástrica causada por essas preparações impuras limitava seu uso, o desafio
passou a ser a síntese química de um derivado que não fosse tão tóxico para o
estômago humano.
Esse processo de desenvolvimento ganhou
ímpeto com os trabalhos de Hermann Kolbe, da Universidade de Marburg, em 1859.
Até então, as descobertas nesse campo aconteciam em laboratórios pequenos, uma
vez que a colaboração entre ciência, medicina e companhias farmacêuticas, só
surgiu quando Friederich Bayer e Johann Wescott, fundaram a Friederich
& Bayer Company.
Em 1894, Felix Hoffman,
um jovem químico que se juntou à Bayer com o encargo de modificar a estrutura
do ácido salicílico, conseguiu sintetizar o ácido acetilsalicílico, finalmente
registrado com o nome de aspirina no dia 1 de fevereiro de 1899.
Cinco anos mais tarde,
a aspirina já estava disponível na forma de comprimidos. No mundo, são
produzidas 40 mil toneladas de ácido acetilsalicílico por ano, droga sobre a
qual já foram publicados mais de 26 mil trabalhos científicos.
Embora aceito
universalmente como antitérmico e anti-inflamatório, seu mecanismo de ação só
se tornou conhecido a partir dos anos 1970, época em que foi identificada outra
de suas propriedades: a de inibir a agregação das plaquetas. Graças a essa
atividade surpreendente, passou a ser indicado na prevenção de doenças
cardiovasculares.
Dezenas de ensaios com
milhares de pacientes comprovaram que administrar doses baixas de ácido
acetilsalicílico depois de um derrame cerebral ou ataque cardíaco, reduz o
risco de um segundo episódio (prevenção secundária).
Já a administração para
evitar doenças cardiovasculares em pessoas saudáveis (prevenção primária),
apresenta resultados incertos, devendo ser decidida de acordo com a análise dos
benefícios preventivos e dos riscos de sangramento associados à droga.
Agora, o que todos
devem saber: 162 mg a 325 mg de ácido acetilsalicílico administrados nas
primeiras 24 horas depois de um infarto do miocárdio, reduzem pela metade o
risco de morte ou de ocorrer um segundo infarto.
Em caso de não haver
médico por perto de alguém com dor sugestiva de ataque cardíaco, não esqueça: 2
a 3 comprimidos de 100 mg de ácido acetilsalicílico. Mal não fará.
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