Descobri o texto abaixo na rede e
repasso para conheceres como vivem sérios senhores do mundo em país sério. Aí,
então, tentei comparar com o Brasil e ... bem, deixa prá lá!
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Como vive um primeiro-ministro num país
escandinavo
A
jornalista brasileira Claudia Wallin entrevistou o primeiro-ministro da Suécia,
Fredrik Reinfeldt. A entrevista é parte do recém-lançado livro de Claudia sobre
a peculiar cultura igualitária sueca: Um País sem Excelências e sem Mordomias.
Abaixo, a entrevista.
Reinfeldt leva a vida de um cidadão
comum
Fredrik Reinfeldt entra no saguão do
Parlamento sueco com os passos determinados de um gladiador a caminho da arena
de leões esfomeados. Vai enfrentar a sabatina mensal do Frågestund (”Hora das
Perguntas”), quando o primeiro-ministro se expõe a quarenta minutos de fogo
inimigo para responder a questões dos parlamentares sobre os rumos da Suécia
sob a sua liderança.
Aumenta o vaivém discreto de deputados
e jornalistas a caminho do plenário. Estamos todos teoricamente ilhados. O
Parlamento sueco ocupa toda a minúscula ilha de Helgeandsholmen, cercada de um
lado pelas águas do Mar Báltico, de outro pelo lago Mälaren. No horizonte que
se abre através dos painés de vidro curvilíneos do saguão, brilha a cúpula
dourada da Stadshuset, a sede da Prefeitura. Na margem oposta, diante de
Rosenbad, a sede do Governo, pescadores lançam seus anzóis à espera de arenques
e salmões.
”Você tem dez minutos”, me avisa no
saguão a assessora do primeiro-ministro, Roberta Alenius, dando o sinal para a
entrevista com Reinfeldt.
Líder do Partido Moderado (Moderata
Samlingspartiet), Fredrik Reinfeldt tornou-se primeiro-ministro da Suécia aos
41 anos de idade, em 2006, quando uma aliança de quatro partidos de
centro-direita desalojou do poder a coalizão comandada pelos social-democratas.
De pé na ante-sala do plenário do
Parlamento, com fisionomia austera, Reinfeldt falou deste reino onde os
políticos ocupam o poder antes exercido pela monarquia, mas não levam vida de
príncipe.
A vida dos políticos suecos,
sem luxo nem privilégios, obedece a algum tipo de código de conduta moral?
FREDRIK REINFELDT: Eu diria que sim. A
Suécia é um país onde não existe o alto grau de desigualdade social que se vê
em outros lugares, e este é um aspecto que valorizamos enormemente em nossa
sociedade. Por esta razão, buscamos líderes políticos dos quais se possa dizer
que são ”um de nós”, e não ”acima de nós”. Este é um ponto básico do pensamento
social sueco, que a mim também agrada. Quero ser um indivíduo entre outros
indivíduos, e não alguém tratado como uma pessoa extraordinária. O senso de
igualdade entre as pessoas se reflete na alma sueca, no sentimento sueco de
identidade nacional, e naquilo que desejamos que a Suécia seja como nação. Eu
seria duramente criticado, assim como qualquer outro político, se houvesse a
percepção de que vivo uma vida de luxo, inteiramente diferente da vida dos
cidadãos comuns.”
Qual é a origem deste sistema
de valores sueco?
FREDRIK REINFELDT: A democracia tem
raízes profundas na Suécia. Os políticos compreendem que não estão aqui para se
tornarem ricos ou enriquecer suas famílias, nem para criar condições de vida
favoráveis para alguns. Estou aqui para realizar reformas e fazer deste um país
melhor, de tal maneira que as pessoas digam ”ele está me ouvindo, está
resolvendo meus problemas”. Do contrário, os eleitores darão seu voto a outra
pessoa. Não vejo isso como um problema. Também acho bom poder continuar a
cuidar das coisas cotidianas que costumava fazer antes de ocupar o posto de
primeiro-ministro. A diferença é que hoje em dia tenho, é claro, um aparato de
segurança em torno de mim. Mas continuo a cuidar da rotina das atividades
pessoais do dia a dia, como qualquer cidadão.
É verdade que o senhor passa as
próprias camisas pela manhã, como faz a maioria dos suecos?
FREDRIK REINFELDT: Sim. Não todas as
manhãs, porque geralmente passo de uma só vez uma quantidade de camisas
suficiente para toda a semana. Mas lavo e passo minhas próprias roupas.
O senhor também cozinha todas
as noites?
FREDRIK REINFELDT: Sim, cozinho para
mim e também para meus três filhos, quando estão em minha casa (Fredrik
Reinfeldt é divorciado da mulher, a também política Filippa Reinfeldt). Não há
nada de estranho nisso, é o que fazem todos os suecos quando voltam do
trabalho.
O senhor tem fama de ser
maníaco por limpeza. Ainda limpa a própria casa?
FREDRIK REINFELDT: Tenho dois filhos
que são alérgicos a poeira. A necessidade de limpar bem a casa tornou-se uma
questão de saúde para meus filhos. Tenho ocasionalmente um serviço de limpeza
básica na residência oficial, mas cuido eu mesmo da maior parte da limpeza da
casa no dia a dia. Embora não gaste mais tantas horas nessa tarefa como gastava
antes de me tornar primeiro-ministro, quando passava a maior parte do domingo
fazendo uma grande faxina.
Por que considera importante o
senhor próprio cuidar da limpeza?
FREDRIK REINFELDT: Gosto de fazer, e
além do mais é algo que todos fazem na Suécia, não apenas eu. Limpar a casa me
dá a sensação de ter controle sobre a minha própria vida e de cuidar das crianças,
o que me faz bem. É um momento relaxante, que procuro tornar agradável.
Enquanto limpo, uso fones de ouvido para ouvir música ou acompanhar partidas do
meu time de futebol, o Djurgården. A sensação de andar pela casa no fim de uma
faxina, enquanto as crianças dormem tranquilamente, é fantástica.
Qual é a sua melhor dica de
limpeza?
FREDRIK REINFELDT: A parte de trás das
camisas sociais velhas é excelente para polir espelhos e vidros de janelas.
Qual é a sua tarefa preferida?
FREDRIK REINFELDT: Lavar a roupa.
Antes, eu preferia limpar a casa. Hoje em dia, gosto mais de lavar as roupas.
Isso me dá a sensação de estar preparado.
Muitas pessoas também o vêem na
fila do supermercado.
FREDRIK REINFELDT: Faço minhas
próprias compras, como qualquer pessoa. Embora acompanhado por seguranças.
Como fazer tudo isso e ao mesmo
tempo liderar um país?
FREDRIK REINFELDT: As tarefas
domésticas não tomam tanto tempo assim. Acho que é importante estar integrado à
vida familiar, apesar de ter este tipo de trabalho na política. É uma questão
de organização. Dedico uma pequena parte do meu dia aos afazeres da casa, e em
seguida retorno à leitura de documentos ou aos telefonemas que necessito dar. É
perfeitamente possível combinar o trabalho profissional com o trabalho doméstico.
Qual é a sua opinião sobre o
sistema de países como o Brasil e outras nações, em que políticos possuem
privilégios de uma classe à parte?
FREDRIK REINFELDT: Em primeiro lugar,
é muito importante dizer que respeito o fato de que o Brasil é uma democracia e
que portanto cabe àqueles que são eleitos pelo povo responder a este tipo de
questão. Mas para dizer o óbvio, se eu fosse o ministro da Fazenda do Brasil e
tivesse que fazer um corte de gastos, eu saberia exatamente por onde começar.
Porque quando um político precisa cortar gastos, é muito importante mostrar que
ele próprio dá o exemplo. No nosso país, as pessoas estão sempre atentas aos
custos da burocracia e da classe política. É necessário que haja equilíbrio. Se
um político quer manter a confiança dos eleitores, deve estar próximo das
pessoas.
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