SAUDOSISMO?

É assim que penso, como o Ruy Castro! O passado é referência para o nosso presente, quando planejamos o futuro. Apenas isso!  Nossa vida é nossa vivência atual. O saudosismo pode, até, ser doentio.




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RUY CASTRO (PARA O JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO, DE 12/09/2015)

Saudade das fraldas

Um simpático programa de TV me convidou a dar uma entrevista sobre "saudosismo". A explicação era a de que, pelos livros que escrevo, estaria abalizado a falar a respeito. Agradeci e disse que, ao contrário, ninguém menos abalizado do que eu. Não sou saudosista, nunca fui e, pior, tenho levado a vida combatendo esse saudosismo estéril segundo o qual o passado é sempre melhor que o presente.
O fato de ter publicado livros sobre Nelson Rodrigues, Garrincha, Carmen Miranda, a bossa nova, a Ipanema de 1950 e, de modo geral, meus textos fazerem referências à metade do século 20, não tem a ver com saudosismo. Tem a ver com um momento importante da história do Brasil que, na minha opinião, merece ser estudado. Orgulho-me de uma memória razoavelmente boa, mas, em 1950, eu tinha dois anos. Pelas fotos do período, estava de fraldas, babador e camisinha-de-pagão. É possível ter saudade de uma indumentária tão desprimorosa?
O cenário de um de meus livros, "Carnaval no Fogo", é o Rio de 1502. Meus romances "Era no Tempo do Rei" e "Bilac Vê Estrelas" se passam, respectivamente, em 1810 e 1903. Posso ter boa memória, mas ela não alcança esses primórdios. E como me lembrar de épocas que não vivi? Na verdade, não vivi em quase nenhum dos cenários que descrevo em livros e artigos. Para isto, sou obrigado a fazer o trabalho sujo: mergulhar em documentos e conversar com quem os viveu.
Minhas amigas Lilia Schwarcz, Isabel Lustosa e Mary del Priore são historiadoras de verdade, e seu assunto é o Brasil a partir de 1500. Duvido que fossem convidadas a falar sobre "saudosismo". Gibson, Toynbee e William Shirer, também não.
Assim como eles, não acredito em saudosismo. Acredito no conhecimento. O passado existe e deve ser visitado, até para que aprendamos a não repetir suas besteiras no presente.

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