O PODER E A VERDADE

No movimento de manter a continuidade do Poder de comando de um Estado, os governantes tendem à utilização de métodos muito conhecidos, criticados e renovados, campanha após campanha eleitoral, sem que eles próprios se envergonhem desses procedimentos escusos e, mais grave, sem que os eleitores percebam o engodo em que são envolvidos pelo palavreado sem sentido, no contexto de estratégias intencionalmente enganosas. Essa prática é perniciosa ao longo do tempo, pois esgarça a cidadania ao invés de fortalecê-la, desacredita aqueles que se habilitam a reivindicar o voto do eleitor e reduz o valor do humanismo no âmbito nacional e na relação entre os povos, pois os fundamentos éticos e morais deixam de ter importância.

Karl Jaspers, filósofo alemão da primeira metade do século passado, em seu livro "Introdução ao Pensamento Filosófico", fala que "Até agora, a insinceridade, a desonestidade e a mentira têm sido meios de utilização normal em política. A desonestidade, entretanto, só pode ser vantajosa por breves instantes e a expensas do futuro. A longo alcance, ela se faz inconveniente para a própria vida. A verdade é mais viável que a mentira. Estados construídos sobre a mentira decaem por adotarem procedimentos que se alimentam da tradição de mentir".

Por tudo isso, reproduzo abaixo artigo de Contardo Calligaris, focado, e adequado, ao momento político brasileiro:

Para que serve a psicanálise?


A quem luta para se manter adulto, o paternalismo dá calafrios, ou mesmo vontade de sair atirando



A ASSOCIAÇÃO Internacional de Psicanálise (IPA) foi fundada em 1910. Presente em 33 países, com mais de 12 mil membros, ela festeja seu centésimo aniversário. Aos colegas da IPA (embora eu tenha me formado numa de suas dissidências), meus sinceros parabéns.

A festa é uma boa ocasião para perguntar: para que serve, hoje, a psicanálise? A campanha eleitoral em curso me ajuda a escolher uma resposta.

Repetidamente, o presidente Lula e Dilma Rousseff se apresentam como pai e mãe dos brasileiros. Em 17/8, Lula declarou: "A palavra não é governar, a palavra é cuidar: quero ganhar as eleições para cuidar do meu povo, como a mãe cuida de seu filho".

No dia seguinte, Marina Silva comentou: "Querem infantilizar o Brasil com essa história de pai e mãe". Várias vozes (por exemplo, o editorial da Folha de 19/8) manifestaram um mal-estar; Gilberto Dimenstein resumiu perfeitamente: "Trazer a lógica familiar para a política significa colocar a criança recebendo a proteção de um pai em vez de um governante atendendo a um cidadão que paga imposto".

Entendo que um presidente ou uma candidata se apresentem como pai ou mãe do povo. Embora haja precedentes péssimos (de Vargas a Stálin, ao ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-il), estou mais que disposto a acreditar que Lula e Dilma se expressem dessa forma com as melhores intenções.

O que me choca é que eleitores possam ser seduzidos pela ideia de serem cuidados como crianças e preferi-la à de serem governados como adultos.

Se o governo for paternal ou maternal, o que o cidadão espera nunca será exigível, mas sempre outorgado como um presente concedido por generosidade amorosa; o vínculo entre cidadão e governo se parecerá com o tragipastelão afetivo da vida de família: dívidas impagáveis, culpas, ciúme passional etc. Alguém gosta disso?

Numa psicanálise, descobre-se que a vida adulta é sempre menos adulta do que parece: ela é pilotada por restos e rastos da infância. Ao longo da cura, espera-se que essa descoberta nos liberte e nos permita, por exemplo, renunciar à tutela dos pais e ao prazer (duvidoso) de encarnarmos para sempre a criança "maravilhosa" com a qual eles sonhavam e talvez ainda sonhem.

Tornar-se adulto (por uma psicanálise ou não) é um processo árduo e sempre inacabado. Por isso mesmo, a quem luta para se manter adulto, qualquer paternalismo dá calafrios -ou vontade de sair atirando, como Roberto Zucco.

Roberto Succo (com "s"), veneziano, em 1981, matou a mãe e o pai; logo, fugiu do manicômio onde fora internado e, durante anos, matou, estuprou e sequestrou pela Europa afora. Em 1989, Bernard-Marie Koltès inspirou-se na história de Succo para escrever "Roberto Zucco", peça admiravelmente encenada, hoje, em São Paulo, na praça Roosevelt, pelos Satyros.

Na peça, Zucco perpetra realmente aqueles crimes que todos perpetramos simbolicamente, para nos tornarmos adultos: "matar" o pai, a mãe e, dentro de nós, a criança que devemos deixar de ser.

O diretor da peça, Rodolfo García Vázquez, disse que Zucco é um Hamlet moderno. Claro, para Hamlet, como para Zucco, o parricídio é uma espécie de provação no caminho que leva à "maioridade". Além disso, pai, padrasto e mãe de Hamlet eram reis, e o pai de Succo era policial. Para ambos, o Estado se confundia com a família.

Se o Estado é um pai ou uma mãe para mim, eu não tenho deveres, só dívidas amorosas, e, se esse Estado me desrespeita, é que ele me rejeita, que ele trai meu amor. Por esse caminho, amado ou traído pelo Estado, nunca me considerarei como um entre outros (o que é uma condição básica da vida em sociedade), mas sempre como a menina dos olhos do poder.

Agora, se eu me sentir traído, não me contentarei em mudar meu voto, mas procurarei vingança no corpo a corpo, quem sabe arma na mão; pois essa é a linguagem da paixão e de suas decepções. O paternalismo, em suma, semeia violência.

Enfim, se é verdade que muitos prefeririam ser objeto de cuidados maternos ou paternos a serem "friamente" governados, pois bem, nesse caso, a psicanálise ainda tem várias boas décadas de utilidade pública entre nós.

É uma boa notícia para a psicanálise. Não é uma boa notícia para o mundo fora dos consultórios.



Meu comentário:

Por ser oportuno, retorno a Karl Jaspers: "Num povo livre, a opinião pública é o fórum da política. O grau de informação de que a opinião pública disponha é o critério de liberdade desse povo. O que determina o destino de todos, deve, por exigência da liberdade política, passar-se em público. A reflexão deve ser pública e preparada em público a decisão. A concordância brotará dessa base e não de confiança cega. .......Numa nação livre, o êxito do homem político depende do povo. Surge a partir de pequenos grupos profissionais, dos grupos de vizinhança, de grupos de livre debate político. Junto a esses grupos deve o político provar que é digno de confiança, que será orientador competente e capaz. Os políticos iniciam sua ascensão a partir desses grupos e não pelo recurso a uma burocracia partidária que elege, a priori, políticos profissionais. ..... Um povo livre sabe que é responsável pelos atos de seu governo. Pertencer a uma nação livre torna livre o homem e torna-o cidadão. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas."

É isso, pois! Nós somos a Nação e não podemos admitir "pai" de um lado e "mãe" de outro. Nós somos os que definem quem nos governa, e temos o direito e a obrigação de cobrar a correção, mas queremos e não podemos nos curvar a quem nos afaga. Enquanto isso, sonhemos com as propostas de Platão que, dentre elas, sobressai a que diz que "os senhores perfeitos deveriam ser chamados a governar".

SEXUALIZAÇÃO PRECOCE INSTITUCIONALIZADA?

Sharon Slater é uma ativista originária dos Estados Unidos, mas com atuação no mundo todo, centrada nas questões da família e que trabalha em estreita vinculação com os programas relativos da ONU. Sua preocupação maior é a qualidade da formação das crianças de hoje, jovens e adultos de amanhã, situados num contexto de liberação sexual, de atuação descuidada e de doenças consequentes, especialmente a SIDA. Vinculada à Family Watch International, luta por estabelecer um ambiente de boa formação para o amadurecimento do jovem.
Procurei situá-la e contextualizá-la rapidamente, para possibilitar o entendimento do porquê do seu pronunciamento indicado abaixo. O tema é para boa discussão num ambiente sério e maduro, pois é preocupante como os entornos da maturação pessoal vêm sendo tratados no mundo.


SHARON SLATER | 22 ABRIL 2010

Usando conceitos como "educação sexual abrangente", a ONU quer desestruturar a família. Leia o discurso de Sharon Slater, presidente da Family Watch International, proferido no encontro da Comissão de População de Desenvolvimento da ONU, no dia 15 de abril.

Sr. Presidente, Ilustres Delegados, gostaria de chamar a vossa atenção para alguns assuntos sérios relacionados com as deliberações que ocorrem na Comissão sobre População e Desenvolvimento. Para colocar isto em um contexto, preciso falar sobre o que aconteceu em deliberações da CPD no ano passado. No ano passado, no final das deliberações, uma frase foi proposta para o projeto de resolução do CPD convidando os governos a fornecerem "educação abrangente sobre sexualidade humana".

Nós estávamos muito preocupados porque este era um novo termo indefinido e um afastamento da linguagem tradicional da "educação sexual" utilizada nos últimos documentos de consenso da ONU. Nossas preocupações foram confirmadas, quando apenas alguns meses depois, a UNESCO, em colaboração com a UNICEF, o FNUAP, OMS e ONUSIDA, lançou uma cópia de esboço de seu novo Diretrizes Internacionais sobre Educação Sexual Abrangente.

Estas diretrizes extremamente controversas foram criadas para levar a educação sexual para todo o mundo e promover um tema de prazer sexual que temos encontrado em um número de guias de educação sexual publicados pela ONU. Estas Diretrizes da UNESCO originais sugerem ensinar crianças de cinco anos que eles podem tocar partes de seu corpo para obter prazer sexual e ensinar a crianças de nove anos a definição e função do orgasmo, e encorajar educadores sexuais a ensinar às crianças que "Tanto homens como mulheres podem dar e receber prazer sexual com um parceiro do... mesmo sexo".

Desde então, a UNESCO revisou suas diretrizes de sexualidade originais, moderando-as um pouco. No entanto, ao ler sua versão original, vocês podem ver que cinco agências da ONU estavam originalmente planejando promovê-las às crianças sob à guisa de "educação abrangente sobre a sexualidade humana", antes de um certo número de Estados Membros da ONU reclamar.

Em 2002, na Cúpula Mundial para as Crianças, nós expusemos um manual publicado pela ONU para crianças, distribuído no México, que tinha uma página sobre como obter prazer sexual, incluindo com uma pessoa do mesmo sexo, com um animal, com um objeto inanimado ou com uma pessoa sem o seu consentimento.

E se vocês não estão preocupados ainda, deixe-me dizer a vocês o que aconteceu na 54º sessão da Comissão sobre o Status da Mulher deste ano. Em um evento paralelo colocado pela Girl Scouts em parceria com a UNICEF, eu peguei este livreto, publicado pela International Planned Parenthood Federation, que é dirigido para jovens e que afirmam ensinar-lhes sobre os seus "direitos sexuais e reprodutivos". O livreto afirma que estes "direitos" são reconhecidos pelo mundo como "direitos humanos". Afirma que o livreto está "aqui para apoiar o seu prazer sexual". Ele diz que jovens podem fazer sexo em várias maneiras demasiadas gráficas para repetir em um fórum como este. É todo sobre prazer sexual através da masturbação, com pessoas do mesmo sexo e até mesmo embriagados com álcool.

Mas pior que isso, este livreto diz realmente a jovens infectados pelo HIV que leis que os obrigam a revelar o seu status com seus parceiros sexuais violam seus direitos humanos.

Isso não deve ser tolerado na ONU ou em qualquer outro lugar! Agora não. Nem nunca mais.

Em dezembro do ano passado, minha família adotou três irmãos órfãos com SIDA em Moçambique. Ambos seus pais tinham morrido de SIDA. Eu cuidei de seu irmão mais velho, enquanto ele sofria de uma forma horrível durante os últimos estágios da AIDS. Mesmo assim, materiais estão sendo distribuídos na ONU, incentivando os mesmos comportamentos que colocam o HIV pandêmico.

É ultrajante que este livreto "Saudável, Feliz e Hot" também foi distribuído para os jovens que participaram do evento paralelo à Organização das Nações Unidas, patrocinado por aqueles que a criaram.

É revoltante que as agências da ONU estão a promover programas de educação sexual que encorajam jovens a engajar prematuramente na atividade sexual para obter prazer sexual, mas é inconcebível que jovens infectados pelo HIV estão sendo incentivados a ter relações sexuais com qualquer um que eles quiserem, do jeito que quiserem, sem revelar o seu status.

O que estamos fazendo aqui?

Por que é que o projeto de documento a ser negociado agora tem inúmeras referências à sexualidade e direitos sexuais?

Por que é que os países em desenvolvimento estão sendo pressionados agora pelas nações desenvolvidas no mesmo documento a ser negociado nesta conferência para aceitar este tipo de "educação abrangente da sexualidade humana", que irá sexualizar prematuramente suas crianças e colocá-las em risco de morte, entre outras coisas, tudo sob o disfarce de educação sobre o HIV/AIDS e do empoderamento de mulheres e meninas?

Por que é que o mundo desenvolvido está tentando importar suas ideologias sexuais radicais sob a bandeira enganosa de "direitos sexuais" ou "saúde e direitos sexuais" ou "informações relativas à saúde sexual e direitos" ou "serviços e informações sobre saúde e direitos reprodutivos" ou qualquer uma das muitas e múltiplas referências carregadas no documento em um esforço deliberado para pressionar os países a aceitarem estas referências, às vezes até tarde da noite, sem interpretação em sua própria línguagem?

Por que é que a comunidade internacional não está respeitando os direitos soberanos e valores culturais e religiosos preconizados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e inúmeros outros documentos consensuais das Nações Unidas, para manter seus valores que sustentam a instituição da família?

Como é que a ONU se extraviou de sua finalidade original, e agora as deliberações em conferências como esta são obcecadas com discussões sobre sexualidade e direitos sexuais, questões que deveriam ser deixadas para as nações decidirem por si?

Por que é que a questão do aborto, também disfarçada sob vários termos eufemísticos, está sendo forçada nas nações em desenvolvimento contra a sua vontade? Como é que o termo "saúde reprodutiva" ou "serviços de saúde reprodutiva" ou "direitos reprodutivos" está sendo usado agora pelos governos com grandes bolsos para promover a legalização do aborto nos países que se opõem ao aborto, porque eles acreditam que este está tomando as vida de um ser humano?

Palavras relacionadas à reprodução e à saúde reprodutiva significam reprodução, ou seja, ter filhos, mas o termo tem sido deliberadamente manipulado por relatórios obscuros apresentados à ONU, materiais criados por agências da ONU e ONGs de mentalidade abortista (muitas que têm a lucrar com o aborto) e os governos de mente abortista que procuram reinterpretar ou desvirtuar qualquer linguagem relacionada à saúde reprodutiva para agora incluir o aborto, embora muitos dos Estados Membros da ONU negociando os documentos que contêm tais termos rejeitaram a inclusão do aborto como parte da saúde reprodutiva, quando estes documentos foram negociados.

Esta manipulação de agências da ONU, negociações da ONU e documentos finais, comitês da ONU interpretando os tratados das Nações Unidas, e linguagem comum nos documentos anteriores das Nações Unidas para promover direitos sexuais radicais e aborto contra a vontade ou, por vezes, sem o conhecimento ou compreensão completa ou consentimento dos estados membros da ONU, não devem ser tolerados e têm que parar.

Essa manipulação do sistema das Nações Unidas por indivíduos e organizações promovendo sua própria agenda sexual e não a agenda coletiva e unificada de todos os estados membros da ONU deve cessar. Toda essa investida por direitos sexuais mina a instituição da família, que a Declaração Universal dos Direitos Humanos claramente declara ser "o núcleo natural e fundamental da sociedade" que é "intitulada à proteção pela sociedade e pelo Estado".

Apelamos aos Estados-Membros das Nações Unidas, agências da ONU, ONGs e todas as entidades dentro do sistema das Nações Unidas a respeitar os direitos, valores culturais e religiosos de todos os Estados Membros da ONU em seu trabalho nas Nações Unidas e cessar a promoção do aborto e dos direitos sexuais através das Nações Unidas.

Obrigada.

ENGANAÇÕES QUE NOS SÃO IMPOSTAS

O desabafo de quem imagino ser um taxista carioca, manifesta a indignação de todos os brasileiros, cansados da enganação e de falsas promessas, estas, sempre em momentos de campanhas políticas. O problema é que nós somos os culpados pois os colocamos nos cargos, eleição após eleição, mesmo que sejamos constantemente ludibriados.
Sugiro, então, assistir o vídeo indicado abaixo:

DESCASO COM A VIDA

A termos como parâmetro esse descaso na relação entre o grave acidente da costa dos Estados Unidos e o planejamento de novas prospecções semelhantes, pela mesma empresa, em outros locais do planeta, só nos cabe ver que vivemos num mundo irreal e num momento de faz-de-conta. Nada está definitivamente resolvido no primeiro caso e nem sequer o mundo conhece as causas reais do acidente, mas já se focam novas explorações. Sugiro a leitura da reportagem abaixo:


Apesar de vazamento nos EUA, BP planeja iniciar prospecção em águas profundas na Líbia

do UOL Notícias -25/07/2010
Financial Times

Guy Dinmore e Eleonora de Sabata
Em Roma (Itália)
George El Khouri Andolfato

A British Petroleum (BP) começará daqui semanas a perfurar em águas profundas, além da costa da Líbia, apesar das preocupações em torno do retrospecto ambiental e de segurança do grupo britânico após o desastre de vazamento de petróleo no Golfo do México.

Cresce o escrutínio da aquisição pela BP de direitos a um grande campo de petróleo e gás além da costa africana há três anos, um assunto que ofuscou a visita de David Cameron, o primeiro-ministro britânico, a Washington nesta semana.

A 1.700 metros abaixo do nível do mar no Golfo de Sirte, na Líbia, o poço exploratório será 200 metros mais profundo do que o poço Macondo no Golfo do México, que provocou o pior desastre de vazamento de petróleo em alto-mar dos Estados Unidos, quando a plataforma Deepwater Horizon explodiu em 20 de abril, matando 11 pessoas.

“A perfuração iniciará em semanas”, confirmou a BP.

Tony Hayward, o presidente-executivo da BP, assinou um acordo de exploração de US$ 900 milhões com a Líbia em 2007, o chamando de o maior acordo individual da BP. A empresa revelou desde então que fez lobby junto ao governo britânico naquele ano, em prol de um acordo de transferência de prisioneiros entre o Reino Unido e a Líbia.

Hayward está considerando um pedido para aparecer perante o comitê de relações exteriores do Senado americano na quinta-feira, para responder perguntas sobre a soltura de Abdel Basset al Megrahi, o responsável pelo atentado a bomba de Lockerbie, libertado no ano passado pelas autoridades escocesas por motivos humanitários.

A BP disse que “não esteve envolvida em qualquer discussão com o governo britânico ou com o governo escocês a respeito da soltura de Al Megrahi”.

O local onde a BP perfurará seu primeiro poço exploratório fica dentro da “Linha da Morte” proclamada por Muammar Gaddafi nos anos 80, quando reivindicou os direitos totais da Líbia sobre o Golfo de Sirte. É a área para a qual, em 1986, Ronald Reagan, o então presidente dos Estados Unidos, enviou forças navais para desafiar as reivindicações do líder líbio, afundando dois navios da Líbia e matando mais de 30 líbios.

Nenhum governo contestou os direitos minerais da Líbia na área, do tamanho da Bélgica, que a BP está explorando, mas ambientalistas estão consternados pela perfuração ter início antes da conclusão das investigações do desastre da empresa no Golfo do México.

A BP disse que procederá com “grande cautela”, acrescentando que fará uso das lições aprendidas com as investigações da Deepwater Horizon em todas as suas operações em alto-mar.

A imposição por Barack Obama de uma moratória na prospecção em águas profundas no Golfo do México aumentou a importância de nova exploração no Mediterrâneo.

A Diamond Offshore, uma perfuradora americana em águas profundas, está deslocando uma plataforma do Golfo do México para o Egito, enquanto a APX da Austrália começou a perfurar na semana passada, entre a Tunísia e a Itália. A Shell planeja começar a explorar em breve, além da costa oeste da Sicília.

A Itália acelerou seus procedimentos e concedeu 21 novas licenças de exploração. Novos limites impostos à prospecção próxima da costa, em resposta ao vazamento no Golfo do México, se aplicarão apenas a futuras operações e pouco afetam as áreas mais promissoras além da costa da Sicília.

Com governos sem dinheiro cortejando o fundo soberano alimentado pelo petróleo da Líbia, países como Itália, Grécia e Malta –todos dentro de um raio de 500 km do Golfo de Sirte– evitaram comentar os planos da Líbia.

Mas ambientalistas e políticos expressaram preocupações. Uma proposta de Günther Oettinger, o comissário europeu de energia, de uma moratória na prospecção em águas profundas nas águas da União Europeia, não obteve resposta dos países mediterrâneos.

“Você não para de voar por causa de um acidente aéreo”, disse Shokri Ghanem, o presidente da empresa estatal de petróleo da Líbia.

Antonio D’Alì, presidente da comissão ambiental do Senado italiano, disse estar “muito preocupado” com os planos da BP. Ele pediu por uma abordagem unida por parte dos governos, não decisões baseadas em interesses nacionais.

“O problema não é a BP ou a Líbia. O mar não tem fronteiras e quando acidentes acontecem, em águas nacionais ou internacionais, os efeitos são sentidos em todo o Mediterrâneo”, disse D’Ali.

“Considerando que ele é um dos mares mais poluídos de petróleo do mundo, o impacto de um grande vazamento de petróleo poderia ser irreversível.”

O Golfo de Sirte é área de reprodução do ameaçado atum-rabilho, enquanto as raras tartarugas-comuns fazem ninhos nas costas da Líbia. Mas um desastre poderia ter um impacto muito mais amplo.

Nadia Pinardi, da Rede de Oceanografia Operacional Mediterrânea, disse: “Grande parte do efeito seria sentido nas profundezas ao redor do golfo à medida que, com o tempo, o petróleo se transforma em bolas de alcatrão e afundam. Mas as correntes na área são muito complexas”.

As águas fluem principalmente para o leste, na direção do Egito, mas os ventos e remoinhos poderiam levar a mancha de óleo para o norte, para importantes áreas de pesca de anchova, atum e peixe-espada.

Ezio Amato, ex-presidente da unidade de resposta a poluição por petróleo da Organização Marítima Internacional, disse que o Mediterrâneo já sofreu o equivalente a um desastre da Deepwater Horizon por ano, decorrente de milhares de pequenos vazamentos.

Mais de 1 milhão de toneladas de petróleo são transportadas diariamente pelo mar, um quarto do tráfego de transporte de petróleo do mundo. Descargas são ilegais, mas uma corrente de petróleo e derivados de petróleo –estimada em 150 mil a 600 mil toneladas por ano– escapa dos navios, refinarias, portos e oleodutos para o mar.

Uma área rica em biodiversidade marinha, o Mediterrâneo é extremamente sensível à poluição. Quase um lago, suas águas levam até 90 anos para se misturarem ao Atlântico pelo Estreito de Gibraltar.

Os efeitos da poluição por petróleo são sentidos em toda a cadeia alimentar. Baleias e golfinhos apresentavam altas concentrações de compostos derivados de petróleo em sua gordura dois anos após a explosão do petroleiro Haven, além da costa da Itália em 1991, despejando 140 mil toneladas de petróleo. Peixes pegos próximos do naufrágio, uma década depois, apresentavam um número significativo de tumores no fígado.

O poço mais profundo no Mediterrâneo, a 2.400 metros, se encontra em águas egípcias. Seu Ministério do Petróleo está sob ataque por ter revelado um vazamento de uma plataforma, que poluiu 160 quilômetros da costa do Mar Vermelho no mês passado, apenas após a informação ter chegado à mídia.

Apesar da Líbia não ser conhecida por sua liberdade de imprensa, o retrospecto de transparência da BP tem sido atacado nos Estados Unidos. O deputado Ed Markey disse que não se pode confiar na BP e que ela “perdeu toda sua credibilidade”.

No caso de um desastre além da costa da Líbia, a BP disse contar com “planos de contingência detalhados e múltipla resposta preparada”.

O ACIDENTE DO POÇO PETROLÍFERO

O autor deste texto, tem formação em engenharia e economia e tornou-se um estudioso das questões do petróleo, tendo escrito livros e artigos sobre o assunto. Além disso, é conferencista acerca de questões técnicas e políticas do tema. Por essa razão, penso que a opinião dele, expressa abaixo, deve ser levada em conta ao se analisar o problema do vazamento do poço submarino na costa dos Estados Unidos. Sugiro a leitura.




A fuga de petróleo no Golfo “pode perdurar anos” se não for travada

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A administração Obama e responsáveis superiores da BP estão a trabalhar freneticamente não para travar o pior desastre petrolífero do mundo, mas sim para esconder a verdadeira extensão da catástrofe ecológica real. Investigadores experientes contam-nos que o furo da BP atingiu um dos canais de migração do petróleo e que a fuga poderia continuar durante anos a menos que passos decisivos sejam tomados, algo que parece longe da estratégia actual.

Numa discussão recente, Vladimir Kutcherov, professor do Instituto Real de Tecnologia da Suécia e da Universidade Estatal Russa do Petróleo e do Gás, previu que a actual fuga de petróleo que inunda as praias da Costa do Golfo dos EUA “poderia perdurar durante anos e anos … muitos anos”.

Segundo Kutcherov, um importante especialista na teoria da origem abiogénica do petróleo, “O que a BP furou foi o que chamamos um ’canal de migração’, uma falha profunda na qual hidrocarbonetos gerados nas profundidades do nosso planeta migram para a crosta e são acumulados em rochas, algo como Ghawar na Arábia Saudita” Ghawar, o campo petrolífero mais prolífico do mundo, tem estado a produzir milhões de barris de petróleo por dia durante quase 70 anos sem nenhum término à vista. Segundo a ciência abiótica, Ghawar tal como todos os depósitos gigantes de petróleo e gás do mundo, está localizado sobre um canal de migração semelhante àquele no Golfo do México rico em petróleo.

Como escrevi já em Janeiro de 2010 no momento do desastroso terramoto do Haiti, este país foi identificado como tendo potencialmente enormes reservas de hidrocarbonetos, assim como a vizinha Cuba. Kutcherov estima que todo o Golfo do México é um dos mais acessíveis locais do planeta para extrair petróleo e gás abundante, pelo menos antes do acidente do Deepwater Horizon no mês de Abril.

“Na minha visão, os chefes da BP reagiram com o pânico face à escala do petróleo expelido para fora do furo”, acrescenta Kutcherov. “O que é inexplicável nesta altura é porque eles tentam uma coisa, fracassam, então tentam uma segunda, fracassam, então uma terceira. Dada a escala do desastre eles deveriam tentar toda a opção concebível, mesmo se a décima, tudo ao mesmo tempo na esperança de que uma funcione. Caso contrário, esta fonte de petróleo poderia vomitar óleo durante anos dados os volumes que já vieram à superfície”.

Ele enfatiza: “É difícil estimar quão grande é esta fuga. Não há informação objectiva disponível”. Mas tendo em consideração a informação acerca da última descoberta ’gigante’ da BP no Golfo do México, o campo Tiber, a umas seis milhas [9,66 km] de profundidade, Kutcherov concorda com Ira Leifer, um investigador do Instituto de Ciência Marinha da Universidade da Califórnia, Santa Bárbara, o qual diz que o petróleo pode estar a ser expelido a uma taxa de mais de 100 mil barris por dia.

Tal enormidade da fuga de petróleo vem mais uma vez desacreditar claramente o mito das companhias petrolíferas do “peak oil” [NR] , o qual afirma que o mundo já está ou está próximo do “pico” da extracção económica de petróleo. Este mito, o qual tem sido propagandeado nos últimos anos por círculos próximos ao antigo homem do petróleo e vice-presidente de Bush, Dick Cheney, foi efectivamente utilizado pelas principais companhias gigantes do petróleo para justificar preços mais elevados do petróleo que de outra forma seriam politicamente impossíveis, com a afirmação de uma escassez de petróleo não existente.

Obama & BP tentam esconder

Segundo uma reportagem do jornalista de investigação de Washington Wayne Madsen, “a Casa Branca e a British Petroleum estão a encobrir a magnitude do desastre petrolífero de nível vulcânico no Golfo do México e a trabalhar em conjunto para limitar a responsabilidade da BP pelos danos causados pelo que pode ser chamado um mega-desastre”. Madsen cita fontes dentro do US Army Corps of Engineers, FEMA e Departamento de Protecção Ambiental da Florida para corroborar a sua afirmação.

Manchas de óleo à superfície. Obama e a sua equipe senior da Casa Branca, bem como o secretário do Interior Salazar, estão a trabalhar com o executivo chefe da BP, Tony Hayward, sobre legislação que elevaria o limite superior de responsabilidade por reclamações de danos daqueles afectados pelo desastre petrolífero de US$75 milhões para US$10 mil milhões. Contudo, segundo estimativas informadas citadas por Madsen, o desastre tem um custo potencial real de pelo menos US$1000 mil milhões (um milhão de milhões de dólares). Esta estimativa apoiaria a avaliação pessimista de Kutcherov de que a fuga, se não for rapidamente controlada, “destruirá toda a linha costeira dos Estados Unidos”.

Segundo a reportagem de Madsen, as declarações da BP de que uma das fugas fora contida são “pura desinformação de relações públicas destinadas a evitar o pânico e exigências de maior acção por parte da administração Obama, segundo fontes do FEMA e do Corps of Engineers”.

A Casa Branca tem resistido a divulgar qualquer “informação danosa” acerca do desastre petrolífero. Peritos da Guarda Costeira e do Corps of Engineers estimam que se o geyser oceânico de petróleo não for travado dentro de 90 dias haverá danos irreversíveis para os eco-sistemas marinhas do Golfo do México, Oceano Atlântico Norte e mais além. Na melhor das hipóteses, dizem alguns peritos do Corps of Engineers, levaria dois anos para cimentar a fenda no fundo do Golfo do México.

Só depois de a magnitude do desastre tornar-se evidente é que Obama ordenou ao secretário de Segurança Interna, Napolitano, declarar o mesmo como uma “questão de segurança nacional”. Embora a Guarda Costeira e o FEMA seja parte do seu departamento, a razão real de Napolitano para invocar a segurança nacional, segundo Madsen, foi simplesmente para impedir a cobertura pelos media da imensidão do desastre que está a desdobrar-se para o Golfo do México, o Oceano Atlântico e suas linhas costeiras.

A administração Obama também conspirou com a BP para esconder a extensão da fuga de petróleo, segundo o repórter citado e fontes estatais. Depois de a plataforma petrolífera ter explodido e afundado, o governo declarou que 42 mil galões [158.987 litros] por dia estavam a jorrar da fenda no leito do mar. Contudo, submersíveis que monitoram a fuga de óleo no leito do Golfo estão a ver figuras no écran do que descrevem como uma erupção de petróleo “tipo vulcânica”.

Quando o Army Corps of Engineers tentou pela primeira vez obter da NASA imagens da mancha de petróleo no Golfo, a qual é maior do que está a ser relatada pelos media, foi-lhe segundo consta negado o acesso. Por acaso, o National Geographic conseguiu obter imagens de satélite da extensão do desastre e publicou-as no seu sítio web. Outras imagens de satélite que consta estarem a ser retidas pela administração Obama mostram que o que jaz sob a fenda escancarada vomitando petróleo a uma taxa sempre alarmante é uma caverna que se estima ser da dimensão do Monte Everest. A esta informação foi dada uma classificação quase ao nível de segurança nacional para mantê-la afastada do público, segundo fontes de Madsen.

O Corps of Engineers e o FEMA são considerados serem altamente críticos da falta de apoio para acção rápida após o desastre petrolífero por parte da Casa Branca de Obama e da Guarda Costeira dos EUA. Só agora a Guarda Costeira entendeu a magnitude do desastre, despachando aproximadamente 70 navios para a área afectada. Sob as frouxas medidas regulamentares implementadas pela administração Bush-Cheney, o Minerals Management Service (MMS) do Departamento do Interior dos EUA tornou-se um simples “carimbador”, aprovando tudo o que as companhias petrolíferas quisessem em termos de precauções de segurança que poderia ter impedido tal desastre. Madsen descreve um estado de “colusão criminal” entre a antiga firma de Cheney, Halliburton, e o MMS do Departamento do Interior, e que o potencial para desastres semelhantes existe com as outras 30 mil plataformas (rigs) offshore que utilizam as mesmas válvulas de bloqueio (shut-off valves).

Silêncio dos grupos ecologistas?… Siga o dinheiro

Pelicano coberto de óleo. Sem dúvida neste ponto estamos em meio do que poderia ser a maior catástrofe ecológica da história. A explosão da plataforma petrolífera teve lugar quase dentro do actual circuito (loop) onde se origina a Corrente do Golfo. Isto tem consequências ecológicas e climatológicas enormes.

Um olhar superficial de um mapa da Corrente do Golfo mostra que o petróleo não está apenas em vias de cobrir as praias do Golfo, ele propagar-se-á para as costas do Atlântico até a Carolina do Norte e então para o Mar do Norte e a Islândia. E além do dano para as praias, a vida marinha e abastecimentos de água, a corrente do Golfo tem uma química, composição (organismos marinhos), densidade e temperatura muito característica. O que acontece se o petróleo e os dispersantes e todos os compostos tóxicos que eles criam realmente mudarem a natureza da Corrente do Golfo? Ninguém pode descartar mudanças potenciais incluindo mudança no caminho da Corrente do Golfo, e mesmo pequenas mudanças poderiam ter enormes impactos. A Europa, incluindo a Inglaterra, não é um deserto gelado devido ao aquecimento da Corrente do Golfo.

Contudo, há um silêncio ensurdecedor por parte destas muito ambientais organizações que deveriam estar nas barricadas a exigir que a BP, o governo dos EUA e outros actuem decisivamente.

Este silêncio ensurdecedor das principais organizações verdes ou ecologistas tais como Greenpeace, Nature Conservancy, Sierra Club e outras pode muito bem ser ligado a um rastro de dinheiro que leva directamente à indústria petrolífera, nomeadamente a BP. Organizações ambientalistas importantes tiveram significativos subornos financeiros nos últimos anos da BP a fim de que a companhia petrolífera pudesse refazer-se a si própria com uma “cara ambientalmente amistosa”, como na nova marca da companhia “para além do petróleo” (“beyond petroleum”).

A Nature Conservancy, descrita como “o mais poderoso grupo ambiental do mundo” concedeu à BP um assento no seu Conselho Internacional de Liderança depois de a companhia petrolífera dar à organização mais de US$10 milhões nos últimos anos.

Até recentemente, a Nature Conservancy e outros grupos ambientais trabalhavam com a BP numa coligação que fazia lobby junto ao Congresso sobre questões de mudança climática. Um empregado da BP Exploration serve como administrador (trustee) não pago da Conservancy no Alasca. Além disso, segundo um relatório recente publicado pelo Washington Post, a Conservation International, outro grupo ambiental, aceitou US$2 milhões em donativos da BP e trabalhou com a companhia num certo número de projectos, incluindo um que examinava métodos de extracção de petróleo. De 2000 a 200 6, John Brown, então executivo chefe da BP, sentou-se na administração da CI.

Além disso, The Environmental Defense Fund, outra influente organização ecologista, juntou-se à BP, Shell e outras grandes corporações para formarem um Partenariado para a Acção Climática, a fim de promover “mecanismos baseados no mercado” (sic) para reduzir emissões de gases com efeito de estufa.

Grupos ambientais não lucrativos que aceitaram donativos ou aderiram a projectos com a BP incluem Nature Conservancy, Conservation International, Environmental Defense Fund, Sierra Club e Audubon. Isto podia explicar porque o clamor político até à data por acção decisiva no Golfo tem sido tão em surdina.

Naturalmente estas organizações por si sós não vão resolver esta catástrofe. O ponto central nesta altura é quem está preparado para colocar os recursos científicos federal e internacionais urgentemente necessários para a resolução desta crise. Acções ulteriores do género daquelas da Casa Branca de Obama até à data ou da BP só podem levar à conclusão de que algumas pessoas muito poderosas querem que esta derrocada continue. As próximas semanas serão críticas para esta avaliação.

por F. William Engdahl

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Meu comentário:

No começo dos 80, Fritjof Capra trouxe à discussão essas questões relacionadas ao consumismo excessivo e ao destrutivismo consequente, situados no "lado sombrio do crescimento". Mencionava ele, no livro "O Ponto de Mutação", a preocupação com o consumo exorbitante do petróleo , e a intensificação do tráfego do produto, especialmente pelos mares, gerando riscos e fatos de contaminação do ambiente natural por acidentes previsíveis, o quê, realmente, vem ocorrendo. Este acidente, vinculado à prospecção, também era previsível no ambiente tecnológico, pois muitas questões não estavam respondidas pela segurança do processo, mas, mesmo assim, a ganância humana deu sequência à produção. Afinal, o crescimento e a competição comercial não podem parar. Esta é visão que temos. Esquecemos que é tempo de resolver problemas que afetam e afetarão ainda mais a vida sobre a terra, mudando valores, atitudes e estilo de vida.

OS HOMENS SEM PERSONALIDADE

Conhecemos o fato recente, ocorrido pouco antes da Páscoa deste ano, quando futebolistas do Santos foram levados em ônibus do clube a instituições de caridade e de atendimento especial, para uma ação aproximante entre ídolos populares e crianças com necessidades específicas. Pois bem, ao chegar numa delas, uma instituição espírita que dá atendimento a crianças com paralisia cerebral, os jogadores Robinho, Neymar, Ganso, Fábio Costa, Durval, Léo, Marquinhos e André, se recusaram a, sequer, descer do ônibus. Caracterizaram, assim, a sua pequena visão do mundo espiritual, a sua ausência de entendimento do âmbito do sentimento, a sua falta de formação humanista, pois, se interagem com multidões deveriam tê-la, e, finalmente, exacerbaram uma manifestação preconceituosa. Em favor dos demais colegas do time, é necessário lembrar que Felipe, Edu Dracena, Arouca, Pará e Wesley, mantiveram contato de forma natural e carinhosa com as crianças, distribuindo presentes típicos da festividade.
Pois, sobre isso, o Pastor da Igreja Batista Ed René Kivitz, escreveu artigo situacional analisando a questão dos confrontos religiosos e de que há algo maior do que apenas vinculação a uma religião. Pode ser lido a seguir:

No Brasil, futebol é religião

Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa. Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso, cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.
A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé.
Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno; ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualismo; ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião. Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.
O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.
Mas, quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz.
Os valores espirituais agregam pessoas, aproxima os diferentes, faz com que os discordantes no mundo das crenças se deem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.
Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental.

Ed René Kivitz, cristão, pastor evangélico, e santista desde pequenininho.


Meu comentário:

Normalmente as religiões e suas seitas, e é importante diferenciá-las nesta classificação, desenvolvem suas ações a partir do proselitismo e mantêm suas convicções no âmbito do fundamentalismo, estabelecendo uma definição de Fé que nada tem de espiritualidade. Assim, tornam-se meros conjuntos de rituais, espaços e rezas voltados a amarrar os fieis a medos de uma divindade terrível e castigadora constante a quem denominam Deus. Esse Deus não é nada disso! É muito mais abrangente, magnânimo e participativo nas nossas vidas do que a vã filosofia desses obscuros pode definir.
Por isso tudo, é surpreendente o artigo desse representante da Igreja Batista, pelo qual é possível visualizar uma mente aberta, num entendimento do que seja religião, seja ela qual for e que, acima disso, está a aceitação de todas as correntes espiritualistas, pois são elas todas que formam a Humanidade e o correspondente aperfeiçoamento das relações entre as pessoas e os povos. Diminuídos restaram aqueles nomes famosos do esporte que mais atrai os brasileiros e que não souberam compreender o significado de uma ação social simples, mas dignificante para quem a faz e confortadora para quem a recebe. É bem verdade que, depois, eles retornaram ao local e participaram da ação. Mas, somente depois de um puxão de orelhas que a sociedade lhes aplicou. Podiam ter passado por essa, engrandecidos de primeira e não de segunda mão.
José Ingenieros, em seu livro "O Homem Medíocre", ressalta que "o poder que se maneja, os favores que se mendigam, o dinheiro que se acumula, as dignidades que se conseguem, têm certo valor efêmero, que pode satisfazer os apetites daquele que não leva em si mesmo, em suas virtudes intrínsecas, as forças morais que embelezam e qualificam a vida: a afirmação própria da personalidade e a quantidade de ombridade postas na dignificação de nosso eu. Viver é aprender, para ignorar menos; é amar, para nos vincularmos a uma parte maior da humanidade; é admirar, para compartilhar as excelências da natureza, bem como dos homens; é um esforço para melhorar, um afã incessante de elevação em direção a ideais definidos." Em função deste texto, pois, o título da postagem.

PEGADAS HUMANAS

A edição atual da revista PLANETA, trata com ênfase a questão ambiental da Terra, em reportagem com o título "Ascensão e Queda do Consumismo". Na análise da matéria jornalística, nosso planeta necessita de um tempo de 18 meses para repor o que a humanidade retira em um ano. Finda o texto alertando de que é necessário mudar substancialmente nossos padrões de consumo. A íntegra pode ser acessada no sítio:

Meu comentário:
As imagens e as informações correspondentes que conhecemos e que mostram os volumes e os destinos dos resíduos, assustam. O que a humanidade produz de restos descartáveis é algo que gera impactos incalculáveis no ambiente, especialmente os produtos não degradáveis e, pior de tudo, os que contaminam o solo, os alimentos, as águas superficial e subterrânea, o ar e, no final do ciclo perverso, as pessoas. Tudo, evidentemente, produzido pela miopia mental que nos leva consumir desenfreadamente, motivados pela indução propagandística dos que produzem. Nada contra a modernidade, a tecnologia e o conforto pessoal que as novidades nos trazem, mas tudo contra a ganância dos dois lados, de quem produz para venda e de quem compra irresponsavelmente. De um lado, a exploração da falta de discernimento do comprador por meio de técnicas avançadas de estimulação dos desejos potenciais das pessoas e, do outro, a mediocridade da competição social que não admite que alguém utilize equipamento que era moderno ontem, mas já obsoleto hoje.
Para completar o ciclo mortal, ao terminar o uso de um produto ou bem, ele é descartado de forma irregular, contribuindo para o absurdo das imagens e dos índices que vemos a todo instante à nossa frente.


O CONTEXTO DO TEMPO E NÓS

O tempo, ah, o tempo! Nada somos no contexto do tempo e nada deixaremos a não ser lembranças, também estas, morredouras. ___________________...