DESIGUALDADE SOCIAL É CONDIÇÃO PARA O CRIME?

Quando falamos da criminalidade, especialmente a que ocorre entre os jovens, imediatamente nos vem à retórica a causa da desigualdade social como componente principal, e muitas vezes único, do problema. Discordo desta tese e concordo com Gullar, embora ele não tenha se estendido em analisar outros elementos da questão.
A visão, sempre mencionada e, interesseiramente, sempre jogada no ambiente de debates pelo governo e pelos movimentos sociais que dominam a discussão, é a desigualdade social, pois isso primariamente justifica expor a hipotética e desgastada tese da luta entre pobres e ricos. Falta, sim, do governo, responsabilidade maior pela honradez que deve transmitir por seus atos governamentais, pelo respeito às instituições, pela valorização da moral e da ética, pela promoção da educação e da qualidade do atendimento à saúde e, finalmente, por muitos outros argumentos que poderiam ser mencionados e que fazem a base administrativa de países sérios e, por isso mesmo, com menor índice de criminalidade.
Enquanto isso, é mantido o tal de bolsa-família, programa claramente instituído para compra de votos, pois não vemos a chamada porta de saída para o programa. Interessa aos governantes populistas que aí estão manter a turba assanhada pelo dinheiro fácil e garantido todo o mês.
E aí, então, unindo isto com aquilo, estreitamos os limites do curral, domesticamos melhor os que não têm acesso a à Educação, restringimos a Economia, não geramos emprego, inventamos e estimulamos novos caminhos de corrupção (como nunca antes foram imaginados e vistos "nestepaiz", ôôôô, mentes!) e continuamos comprando eleições. No outro lado, as estrutura sociais ficam desmanteladas, a criminalidade aumenta e ... culpamos a DESIGUALDADE SOCIAL, claro!

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Pobre é ladrão? (Ferreira Gullar, para o jornal Folha de São Paulo, de 04/10/2015)
Vamos admitir que basta ser pobre para ser bandido? Seria uma ignomínia contra aqueles que trabalham duro.

Logo após o fim de semana, quando a zona sul do Rio foi tomada pelos arrastões, assisti a um programa de televisão em que se debatia o assunto. De fato, foram dois dias –um sábado e um domingo– que deixaram as pessoas apavoradas, sem falar daquelas que sofreram diretamente a ação dos pivetes.
Eles agiram em grupos de dez, quinze assaltantes que, nas praias, tomavam dos banhistas celulares, bolsas, cordões de ouro, relógios, enfim, tudo o que pudessem levar.
Em meio a tanta gente, corriam e sumiam, sem que nem mesmo os policiais conseguissem pegá-los. Alguns foram presos, mas, como disse um delegado, logo seriam soltos para voltar a assaltar. É que são menores.
Pois bem, durante o debate, a opinião dos participantes era de que a razão dessa crescente ação dos pivetes está na maneira como agem as autoridades, usando apenas a repressão policial, quando o problema é social. Ou seja, de nada adianta reprimir a ação dos pivetes, uma vez que a causa está na desigualdade: esses assaltantes são jovens de classe baixa, filhos de famílias pobres, que muitas vezes não têm nem mesmo o que comer.
Isso, sem dúvida alguma, é verdade. Mas, partindo dessa constatação, o que fazer para evitar que eles continuem a assaltar? Na opinião dos debatedores, naquele programa, o governo deveria oferecer a esses jovens atendimento capaz de reintegrá-los à vida social. Noutras palavras, é a desigualdade social que os leva a roubar.
Vamos examinar essa tese. Quantos menores pobres existem na cidade do Rio de Janeiro? Não sei ao certo, mas acredito que cheguem a muitos milhares, a centenas de milhares. Se aqueles jovens assaltam por serem pobres, por que não há muitos milhares de assaltantes em vez de algumas dezenas? Os que agiram naquele fim de semana não chegavam a cem.
Diante disso, concluo que não é apenas por ser pobre que o cara se torna assaltante. Ou vamos admitir que basta ser pobre para ser bandido? Seria uma ignomínia contra os pobres que, pelo contrário, em sua absoluta maioria trabalham para ganhar o pão de cada dia. Na verdade, a maioria dos que pegam no pesado são os pobres. E o pessoal do Petrolão, rouba por quê? Por não ter o que comer certamente não é. Será por vocação?
Citei, certa vez, numa de minhas crônicas, o que disse uma senhora favelada: "Tenho cinco filhos, duas meninas e três meninos. Quatro deles estão estudando. Só um deles não quis estudar e virou assaltante". Vejam bem; todos eles foram criados na mesma casa, na mesma favela, pela mesma mãe, enfrentando as mesmas dificuldades. Por que só um deles optou pelo crime? Semana passada, um desses garotos declarou que rouba por prazer e não estuda porque não quer.
A desigualdade social existe e, no Brasil, chega a um nível vergonhoso. E há desigualdade, maior ou menor, em todos os países, até naqueles de alto desenvolvimento econômico, como os Estados Unidos. Deve-se observar também que, durante séculos, a humanidade enfrenta esse problema e luta para livrar-se dele. Admito que talvez nunca cheguemos à sociedade justa, mas ela pode ser menos injusta, sem dúvida alguma. Só que isso vai demorar –e muito.
Voltemos, então, à tese daquele pessoal do tal programa. Se é verdade que os pivetes assaltam porque nasceram numa sociedade desigual, significa que, enquanto a desigualdade se mantiver, haverá assaltantes, os quais não devem ser punidos, pois são vítimas da sociedade desigual. Puni-los seria cometer uma dupla injustiça, certo? No fundo, é mais ou menos essa visão do problema que levou à benevolência das leis brasileiras contra os criminosos, tenham a idade que tiver.
Mas como fica a mocinha inglesa que teve sua bolsa levada pelos pivetes com todo o seu dinheiro e todos os seus documentos? Chorando, ela prometeu nunca mais voltar ao Brasil. Como fica o assassinato daquele senhor, morto pelo pivete que queria roubar sua bicicleta?
Se a causa dos crimes é a desigualdade social, e ela vai custar muito a ser superada, vamos ter de viver o resto da vida trancados em casa ou andar apavorados pelas ruas da cidade. Será que está certo?

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O CONTEXTO DO TEMPO E NÓS

O tempo, ah, o tempo! Nada somos no contexto do tempo e nada deixaremos a não ser lembranças, também estas, morredouras. ___________________...