Embora não pareça, este é um assunto
extremamente relevante para sociedade brasileira, especialmente neste momento,
o de eleições. Relevante porque mostra de forma clara o defeito do
gerenciamento nacional, caracterizado por seus vários desvios operacionais,
conceituais e ideológicos, todos contidos num mesmo fato.
Não é concebível que, para atender à
demanda de um parlamentar, se pratique o proselitismo governamental, em nome de
conceitos ideológicos distorcidos.
Em uma comunidade de 16.000 habitantes,
caracterizada pela pobreza e sem time de futebol, é construído um estádio capaz
de abrigar 20.000 espectadores, a um custo de 1.300.000 reais de dinheiro
público. Para manter a grama plantada, em região de seca extrema e histórica,
rega-se o solo duas vezes por dia, todos os dias. Sabemos que no contexto regional,
além da falta de água, há carência de dinheiro, também público, para abastecer
as pessoas com ... água!, visando atender suas necessidade mínimas. Também
sabemos que quando há dinheiro liberado para obras com esse fim, ele é todo
desviado pelos canais da corrupção dominados pelo governo e pelos
representantes parlamentares.
Na mesma região, sabe-se agora, a
nascente do rio São Francisco, aquele, onde se faz a transposição que nunca
acaba, mas consome recursos financeiros, secou.
Tudo isto entrelaçado, dá um sentimento
de descrença, de desânimo e uma visão do caos, pois mostra que os eleitores
escolhemos governantes medíocres e mal-intencionados e somos governados por
eles, que se fartam ricamente na pobreza de princípios que têm.
Enfim,
parece vivermos numa autocracia e menos na democracia.
Observação: abaixo está reportagem do jornal Folha de São Paulo e, logo a seguir, o
endereço da página, onde poderá ser vista a ridícula imagem frontal do estádio.
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Governo federal
financia metade de 'Coliseu' no sertão cearense
Capacidade de
estádio de Alto Santo, que custou R$ 1,3 mi, supera total de habitantes do
município
Sob seca, cidade
vive estado de emergência; sem time na 1ª divisão, prefeitura negocia com
equipe de Quixadá
ANDRÉ UZÊDAENVIADO ESPECIAL A ALTO SANTO (CE)
O governo da presidente Dilma
Rousseff (PT) financiou metade da construção, no sertão cearense, de um estádio
de futebol com fachada inspirada no Coliseu romano.
A arena, em Alto Santo (a 230 km da
capital, Fortaleza), terá capacidade (20 mil) superior ao número de habitantes
do município (16 mil).
Após cinco anos em obras, o Coliseu
do Sertão deve ser inaugurado em janeiro do ano que vem. O custo de R$ 1,3
milhão foi dividido entre governo federal e prefeitura.
O Ministério do Esporte repassou R$
619 mil, por emendas parlamentares --quando o deputado indica a obra e o
governo libera o recurso.
Alto Santo não tem time na primeira
divisão do Estado --o Alto Santo Futebol Clube, fundado em 2007, não joga em
nenhuma divisão do futebol local. Para evitar que a obra faraônica logo se
torne um elefante branco, a prefeitura negocia para receber os jogos do time de
Quixadá, cidade a 160 km de distância.
Para o ex-prefeito Adelmo Aquino
(SD), idealizador do Coliseu, o estádio ampliará o potencial turístico e trará
receitas para o comércio local.
"O projeto é a longo prazo e
será finalizado gradativamente daqui a dez anos. Daqui a uma década, Alto Santo
terá uma população maior, e queremos que o estádio continue atual",
afirmou.
A primeira fase da obra será entregue
com 6.000 lugares. As demais 14 mil cadeiras, que estão no projeto, viriam numa
segunda etapa.
Questionado sobre os critérios
adotados pelo governo federal para financiar o estádio, o Ministério do Esporte
informou que as emendas já vieram definidas pelo Congresso e que o projeto foi
aceito pelos técnicos da pasta.
O governo não disse quantas pequenas
cidades do interior do país receberam repasses similares para construir
equipamentos esportivos.
IRRIGAÇÃO
O interior do Ceará sofre com a falta
de chuvas regulares há quatro anos, e Alto Santo é um dos 175 municípios do
Estado (95% do total) que decretaram situação de emergência devido à seca.
Mesmo assim, o gramado é irrigado
regularmente, meses antes de sua inauguração.
Para Aquino, água não falta.
"Estamos, possivelmente, em um dos locais de maior volume de água de todo
o Ceará. Temos aqui dois grandes açudes que nos abastecem em grande volume, o
Castanhão e a barragem do Figueiredo", disse à Folha.
Procurado, o atual prefeito da
cidade, José Iran Paulino (PRB), não foi localizado.
O município aposta na negociação com
o Quixadá Futebol Clube, da primeira divisão cearense. O gramado já foi
aprovado pela federação estadual, mas o clube hesita em bancar a taxa relativa
ao aluguel do estádio --10% do arrecadado na bilheteria.
Nadoth de Castro, presidente do
Quixadá, diz que o clube aceitará jogar no Coliseu se a prefeitura abrir mão
dessa receita. "Só é vantajoso se tivermos esse percentual da renda. Caso
contrário, fica muito oneroso."
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