FRAGILIDADES


Sabe-se que os mercados oscilam segundo o comando de especuladores. Já foi assim no passado próximo, tanto no Brasil, quanto no mundo. Agora, com a questão do Pinheirinho, em São Paulo, relembramos o tal de Naji Nahas, que orientou caminhos dos mercados financeiros nacionais e, com isso, faturou, ele e os seus, carradas de dinheiro, em detrimento de milhares ou de milhões de brasileiros.
No mundo, os grandes especuladores, um deles preso nos Estados Unidos, moveram bilhões e trilhões em moedas internacionais ou locais, quebrando pessoas, empresas e países. Mas, como as Nações começaram a perceber a malandragem individual dos especuladores, foi sendo maturada pelos espertalhões a criação de agências e de bancos “respeitáveis”. Aí, então, as crises começaram a se mover no mundo e foram amplificadas de forma geométrica por uma delas, que soube criar no seu entorno uma auréola de respeitabilidade à qual a humanidade se curvou. Mas, o problema financeiro mundial foi se tornando agudo e, apesar de medidas bem estruturadas, algumas economias ameaçavam afundar porque a S&P dizia a todos que determinado país tinha sua avaliação rebaixada, quando a realidade era outra. E, assim, as altas e as baixas foram sendo manipuladas como interessava a alguns.
É aí, pois, que penso estar o problema mundial. A superficialidade do tratamento da macroeconomia, tanto dos países quanto do mundo, e que permitem a intervenção mais superficial ainda de agências que avaliam desempenhos. Mas, avaliam com que base?  A partir de quais parâmetros? Quais os interesses que estão por trás delas quando manifestam uma avaliação?
Há duas semanas, alguns países finalmente começaram a questionar isso, o que penso ser bom para todos. Como diz Kátia Abreu “...os mercados não são inteiramente insensatos como as agências de classificação de risco...”. É o momento, então de reverter essa anomia internacional e países tradicionalmente líderes, como a Alemanha está agindo, tomarem o comando da crise e agir, não necessariamente por blocos geográficos, mas, sim, econômicos.
Efetuou postagem do artigo dela por vê-lo como adequado ao tempo de crise.
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Europa, a hora da política

Kátia Abreu*, Folha de São Paulo, 21/01/2012


Ninguém pode ficar indiferente ao que se passa com a economia da zona do
euro. Se o bloco não reencontrar com certa urgência o caminho da
estabilidade financeira e do crescimento econômico, os efeitos da crise se
farão sentir em todo o mundo.

A recuperação americana será prejudicada e as exportações da China vão
declinar. Desses dois centros, os efeitos recessivos se espalharão para
todas as economias relevantes, o Brasil entre elas.
Depois de um período de perplexidade e hesitação, os governos europeus
estão buscando com dificuldades mecanismos capazes de lidar com a crise
das dívidas soberanas dos países mais vulneráveis e com a debilidade de
todo o sistema bancário europeu.
Há muita gente que sabe das coisas que diz que os remédios estão vindo
sempre tarde e em doses insuficientes. O que parece haver é uma dualidade
de tempos, uma falta irremediável de sincronia, pois os mercados querem
soluções instantâneas, já que seu mundo é o do curto prazo e sua medida
são os índices diários.
Do outro lado estão os governos, representando sociedades complexas e
informadas e lidando com questões que afetam a própria existência humana.
E, mais complicado ainda, governos operando para além das fronteiras do
Estado-nação, num espaço institucional e em formação.
De qualquer modo, a economia é sempre algo mais simples que a sociedade. O
mundo já viveu outras crises e aprendeu um pouco com elas. O avanço
técnico no processamento das informações torna o diagnóstico das situações
mais preciso e a própria ciência econômica, com todas as suas
imperfeições, está hoje muita mais apta que antes a prescrever soluções
relativamente eficazes.
Por tudo isso, eu, que não sou especialista nessas altas questões, tenho
grande confiança em que a economia da crise será, mais cedo ou mais tarde,
bem resolvida.
Mesmo porque os mercados não são inteiramente insensatos, como as agências
de classificação de riscos, e sabem que num confronto final eles perderão
muito -e, nesse caso, talvez não encontrem Estados suficientemente fortes
para resgatar seus prejuízos.A questão que me preocupa é a política da crise.
Por trás de qualquer política econômica há inevitavelmente perdedores e
ganhadores. E há políticas em que quase todos perdem, pelo menos nos
primeiros momentos.
Na Europa, ao lado de instrumentos financeiros para garantir a rolagem das
dívidas fiscais e a liquidez do sistema bancário, estão em fase de
implantação rigorosos programas de ajuste fiscal cuja consequência será
necessariamente menos serviços públicos, mais desemprego e menos
crescimento econômico.
Ou seja, a vida das pessoas comuns vai piorar e suas expectativas se
tornarão cada vez mais sombrias. Como elas reagirão a tudo isso?
A maioria das sociedades europeias é democrática há muito tempo e dispõe
de todos os meios para expressar suas opiniões e sua vontade. Uma crise
econômica não é uma guerra, em que uma nação esquece suas diferenças para
enfrentar um inimigo comum. Essa crise é sempre percebida como algo que
foi provocado pelos outros bancos, financistas, outros países, ou mesmo o
próprio governo.
Nas crises econômicas, as diferenças se acentuam e as sociedades perdem,
mesmo que momentaneamente, o cimento que as congrega.
Há especialistas de renome que declaram abertamente que ajuste fiscal no
meio de uma recessão é medida equivocada, por razões estritamente
econômicas. Se considerada de um ponto de vista político, ou seja, da sua
legitimação, chega a ser quase uma coisa insana.
Todos nós que não apenas somos influenciados pela economia da Europa, mas,
principalmente, nos sentimos herdeiros de sua cultura e da maioria dos
seus valores, o que mais podemos desejar é que os líderes europeus não
assistam passivamente ao esgarçamento dos laços sociais europeus e que
aproveitem as duras realidades da crise para levar mais longe o sonho de
uma Europa unida por laços do consentimento e das formalidades
institucionais.
Mantenham as pessoas confortáveis, enquanto o barco é reparado.
*Kátia Abreu, 49, senadora (PSD-TO) e presidente da CNA (Confederação da

Agricultura e Pecuária do Brasil).





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