O artigo de Ferreira Gullar, escrito
para o jornal Folha de São Paulo, deste domingo, expõe o lamaçal sobre o qual
se constrói a retórica petista. Não importam os princípios democráticos, nem os
republicanos, nem os da decência pessoal e social e, muito menos, os da ética e
da moral. Para obter, ou, agora, para manter-se no Poder, tudo vale. Então, no
caso, a mentira é a forma de combater fatos e verdades, repetindo-as tantas
vezes quantas a memória das pessoas exigir para que se consolidem como
realidades. Aliás, depois tentam desqualificar comentários e seus autores, que
indicam estar o petismo a resgatar métodos que a História quer esquecer.
Vela pena ler.
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A mentira como
método (por Ferreira Gullar)
Eles sabem que estão mentindo e, sem
qualquer respeito próprio, repetem a mentira por décadas
Tenho com frequência criticado o
governo do PT, particularmente o que Lula fez, faz e o que afirma, bem como o
desempenho da presidente Dilma, seja como governante, seja agora como candidata
à reeleição.
Esclareço que não o faço movido por
impulso emocional e, sim, na medida do possível, a partir de uma avaliação
objetiva.
Por isso mesmo, não posso evitar de
comentar a maneira como conduzem a campanha eleitoral à Presidência da
República. Se é verdade que os candidatos petistas nunca se caracterizaram por
um comportamento aceitável nas campanhas eleitorais, tenho de admitir que, na
campanha atual, a falta de escrúpulos ultrapassou os limites.
Lembro-me, como tanta gente lembrará
também, da falta de compromisso com a verdade que tem caracterizado as
campanhas eleitorais do PT, particularmente para a Presidência da República.
Nesse particular, a Petrobras tem
sido o trunfo de que o PT lança mão para apresentar-se como defensor dos
interesses nacionais e seus adversários como traidores desses interesses. Como
conseguir que esse truque dê resultado?
Mentindo, claro, inventando que o
candidato adversário tem por objetivo privatizar a Petrobras. Por exemplo,
Fernando Henrique, candidato em 1994, foi objeto dessa calúnia, sem que nunca
tenha dito nada que justificasse tal acusação.
Em 2006, quem disputou com Lula foi
Geraldo Alckmin e a mesma mentira foi usada contra ele. Na eleição seguinte,
quando a candidata era Dilma Rousseff, essa farsa se repetiu: ela, se eleita,
defenderia a Petrobras, enquanto José Serra, se ganhasse a eleição, acabaria
com a empresa.
É realmente inacreditável. Eles sabem
que estão mentindo e, sem qualquer respeito próprio, repetem a mesma mentira.
Mas não só os dirigentes e o candidato sabem que estão caluniando o adversário,
muitos eleitores também o sabem, mas se deixam enganar. Por isso, tendo a crer
que a mentira é uma qualidade inerente ao lulopetismo.
Quando foi introduzido, pelo governo
do PSDB, o remédio genérico --vendido por menos da metade do preço do mercado--
o PT espalhou a mentira de que aquilo não era remédio de verdade. E os
eleitores petistas acreditaram: preferiram pagar o triplo pelo mesmo remédio
para seguir fielmente a mentira petista.
Pois é, na atual campanha, não apenas
a mesma falta de escrúpulo orienta a propaganda de Dilma, como, por incrível
que pareça, conseguem superar a desfaçatez das campanhas anteriores.
Mas essa exacerbação da mentira tem
uma explicação: é que, desta vez, a derrota do lulopetismo é uma possibilidade
tangível.
Faltando pouco para o dia da votação,
Marina tem menos rejeição que Dilma e está empatada com ela no segundo turno
--e o segundo turno, ao que tudo indica, é inevitável.
Assim foi que, quando Aécio parecia
ameaçar a vitória da Dilma, era ele quem ia privatizar a Petrobras e acabar com
o Bolsa Família.
Agora, como quem a ameaça é Marina,
esta passou a ser acusada da mesma coisa: quer privatizar a Petrobras,
abandonar a exploração do pré-sal e acabar com os programas assistenciais. Logo
Marina, que passou fome na infância.
E não é que o Lula veio para o Rio e
aqui montou uma manifestação em defesa da Petrobras e do pré-sal? Não dá para
acreditar: o cara inventa a mentira e promove uma manifestação contra a mentira
que ele mesmo inventou! Mas desta vez ele exagerou na farsa e a tal
manifestação pifou.
Confesso que não sei qual a farsa
maior, se essa, do Lula, ou a de Dilma quando afirmou que, se ela perder a
eleição, a corrupção voltará ao governo. Parece piada, não parece? De mensalão
em mensalão os governos petistas tornaram-se exemplo de corrupção, a tal ponto
que altos dirigentes do partido foram parar na cadeia, condenados por decisão
do Supremo Tribunal Federal.
Agora são os escândalos da Petrobras,
saqueada por eles e por seus sócios na falcatrua: a compra da refinaria de
Pasadena por valor absurdo, a fortuna despendida na refinaria de Pernambuco, as
propinas divididas entre o PT e os partidos aliados, conforme a denúncia feita
por Paulo Roberto Costa, à Justiça do Paraná.
Foi o Lula que declarou que não se
deve dizer o que pensa, mas o que o eleitor quer ouvir. Ou seja, o certo é
mentir.
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