CHEGA DE "SIFUDÊNCIA"

Gostei do texto de Daudt  uma vez que o conteúdo coincide com o meu sentimento, pois chega de sifudência, como o autor diz. Resta-nos, a mim e a todos, reagir ordenadamente influenciando o ambiente onde podemos agir, mesmo que seja apenas pelo esclarecimento dos fatos. Melhores resultados serão alcançados se pudermos lançar ideias como corolário da nossa raiva contida. Rui Barbosa está certo ao sugerir que a indignação faz parte da virtude.
_________________________________________________________________________

Raiva contida (Francisco Daudt, para o jornal Folha de São Paulo de 10/06/2015)

Sem indignação não se conserta o erro, não se pune o malfeitor, não se exila o tirano
Um psicanalista carioca escreveu que, se o Brasil fosse uma pessoa, ele lhe receitaria antidepressivos e exercícios físicos. Certo, o país anda abatido, mas ele estaria tratando apenas os efeitos da depressão, não suas causas.
O estado depressivo é um mecanismo de defesa que faz a pessoa se encolher diante de uma ameaça prolongada. Se fizermos uma engenharia reversa nele, veremos que sua causa imediata é o estresse. Este, apesar de popular, é mal compreendido. É fácil se dizer estressado. Não é tão fácil explicar o que é.
Estresse é a condição de se estar com uma angústia prolongada. Angústia vem do latim "angustus", apertado, o mesmo sentimento de aperto no peito que ela produz. Já os alemães são mais simples: "angst" significa medo. Aí temos a linha de montagem completa: medo; angústia; estresse; depressão.
Mas que medos são esses capazes de levar à depressão? Os medos prolongados possíveis são os de: ameaça física; abandono e solidão (perda do amor de pessoas queridas); desonra; sifudência (não carece de explicação); sentimento de culpa e raiva contida.
Cuidar da depressão é cuidar para que suas angústias de origem sejam resolvidas o mais possível. Como sempre, o primeiro passo é o diagnóstico: nosso paciente, o Brasil, sofre de três das angústias prolongadas acima, e logo aquelas últimas. Tememos ir para o brejo, fomos catequizados pelo governo, nós que ainda não estamos no brejo, a nos sentir culpados pela miséria alheia.
Por fim, temos a raiva contida: vivemos contendo nossa raiva impotente diante de predadores do nosso trabalho via impostos sem contrapartida, predadores do Estado para se eternizar no poder através da corrupção e da desconstrução da democracia, e, como se não bastasse, predadores do país por péssima gestão.
É só ver agora, quando foram chamar alguém competente --e de "direita"-- para consertar a, digamos, obra que o voluntarismo de Madame fez na economia. E o acerto de contas só atinge a quem trabalha: os 39 ministérios, os milhares de cargos de "confiança" que aparelham o governo e as estatais seguem intocados.
De vez em quando, o excesso de vapor acumulado pela raiva apita em panelaços e em manifestações de rua. Porém, como não resultam em grande coisa, a raiva volta a se acumular.
A raiva tem má fama, injustamente. "Os cristãos só devem ter amor no coração", diz o senso comum. Ainda bem que o fundador deles teve um ataque de raiva e expulsou os vendilhões do templo. Já imaginou a festa que ele faria no governo e no Congresso?
Uma vez que não podemos contar com um "deus ex maquina", resta-nos contar com nossa raiva. A raiva é a mãe da justiça: sem indignação não se conserta o erro, não se pune o malfeitor, não se exila o tirano. Rui Barbosa, o jurista, sabia disso: "Diante do escândalo, não somente não peca o que se irar, mas pecará não se irando". Ele era um homem de visão, parecia estar falando dos nossos dias, mas estava falando de todos os dias de sempre.
Nossa raiva, nossa capacidade de nos indignar, é um bem precioso para erguer, da Justiça, a clava forte!

Nenhum comentário:

"BABY BOOMER", COM ORGULHO!

  ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Sim, ...