Autismo (não o transtorno), isolacionismo, individualismo, idiotismo, enfim! Parece ser esse o nosso futuro. Parece, apenas, porque devemos acreditar na evolução e na assimilação das novas formas de conduta psicossocial, em que estas colaborem para a condução da progressão da Humanidade. Em novos termos, claro!
Durante a semana, li que na Finlândia, modelo mundial em educação, as escolas aboliram o aprendizado caligráfico, valorizando a rapidez no teclado dos equipamentos, pois, segundo eles, o futuro assim o exigirá.
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Não é Autismo, é Ipad
(Forum
Notícias Naturais)
A fonoaudióloga Maria Lúcia Novaes Menezes está preocupada com
um fenômeno que tem percebido nos últimos tempos: o aumento do número de
crianças muito novas – de dois ou três anos – usando tablets.
Profissional com mais de
30 anos de experiência, a doutora tem atendido, em seu consultório no Rio de
Janeiro, inúmeros casos em que os pais chegam a suspeitar que os filhos são
autistas, sem perceber que o uso prolongado de tablets, joguinhos eletrônicos e
celulares é que está dificultando o desenvolvimento da comunicação das
crianças.
Esta é uma breve
entrevista com a doutora Maria Lúcia Novaes Menezes.
A senhora disse estar
assustada com o número de pais que deixam filhos pequenos - crianças de dois ou
três anos - usarem tablets. Isso tem aumentado nos últimos tempos?
A cada ano percebe-se que
aumenta o número de crianças com menos de três anos de idade fazendo uso de
tablets. Podemos observar, nos shoppings, bebês com tablets pendurados nos
carrinhos. Isso tem prejudicado o desenvolvimento da linguagem e,
principalmente, da socialização.
Quais as consequências que
a senhora tem percebido nas crianças?
Se considerarmos que, nos primeiros três anos de vida da criança o desenvolvimento da cognição social se dá através do desenvolvimento da intersubjetividade, ou seja, que as diferentes fases da interação da criança com seus pais e cuidadores se dão através de compartilhar experiências e do olhar da criança para o outro, a utilização do tablet impede estas ações.
O tablet, utilizado por
longo tempo, retira do contexto da criança esse contato fundamental para a
socialização, causando um prejuízo no desenvolvimento das habilidades humanas
que dependem da socialização, do envolvimento com o outro, prejudicando o
desenvolvimento da socialização e do aprendizado que depende de experiências
com o mundo à sua volta.
A senhora mencionou que
alguns pais a procuram para tratar de supostos problemas de comunicação das
crianças, sem perceber que o uso do tablet é uma das principais razões para
isso.
O que tenho observado, principalmente no último ano de clínica, é que o uso do tablet e outros eletrônicos está cada vez mais tomando o lugar da interação entre as crianças e seus pais e o brincar no contexto familiar. Os pais passam muito tempo no trabalho, chegam em casa cansados e, quando os filhos querem assistir desenhos e joguinhos no tablet, eles liberam, em vez de tentar conversar ou brincar.
Como conseqüência, se a
criança tem alguma dificuldade para adquirir a linguagem e a socialização, essa
pouca comunicação com os pais poderá desencadear esse déficit. Talvez, em um
contexto familiar onde fosse mais estimulado a se comunicar e brincar, essa
dificuldade não aparecesse de forma tão acentuada. Essa hipótese surgiu da
minha prática clínica, onde na entrevista com os pais eles relatam o uso de
tablets, jogos no celular e DVD. Tem acontecido com freqüência que a observação
dos pais da forma que interagimos e brincamos com a criança no set terapêutico
e como, aos poucos, seu filho vai começando ou expandindo a sua comunicação e o
interesse em brincar, eles mudam a dinâmica com seus filhos no contexto
familiar, a comunicação verbal e social da criança começa a expandir, os pais
ficam mais tranqüilos e mais próximos dos filhos, e a criança, tendo a
companhia do pai ou da mãe, passa a se interessar mais pelos brinquedos e em
brincar e diminui o interesse pelo tablet, DVDs e joguinhos nos celular.
A senhora mencionou casos
em que os pais suspeitavam ter um filho autista, mas o problema da criança se
resumia a uso prolongado de novas tecnologias.
No ano de 2014 atendi crianças com idade em torno de dois anos, trazidas com queixa de comunicação social e desenvolvimento da fala, os pais suspeitando de autismo. Mas, ao mudar a dinâmica familiar, essas crianças apresentaram uma mudança muito grande na sua comunicação social e verbal.
O que os pais devem fazer
para evitar problemas desse tipo, numa época em que os tablets estão em todos
os lugares?
Sei que é difícil ir contra o sistema e penso que a criança deve ser cobrada pelos amiguinhos para ter e usar um tablet. O que talvez auxiliasse a romper com o hábito dos joguinhos eletrônicos e tablets seria restringir ao máximo possível o uso do tablet. Talvez a melhor forma de se conseguir é dando mais atenção ao filho através de conversas, do brincar, e utilizar mais jogos não eletrônicos e mais interativos.
Maria Lúcia Novaes Menezes
Fonoaudióloga
formada em 1984 pela Faculdades Integradas Estácio de Sá, mestre em Distúrbios
da Comunicação, em 1993, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
com cursos na New York University reconhecidos e creditados neste mestrado e
doutora em Saúde da Criança e da Mulher pela Fundação Oswaldo Cruz (2003).
Aposentada da FIOCRUZ em 2014, mas ainda permanecendo como orientadora do
projeto de pesquisa do Ambulatório de Fonoaudiologia Especializado em Linguagem
/ AFEL. Atua como fonoaudióloga na clínica em avaliação e diagnóstico dos
distúrbios da linguagem e orientação aos pais. Autora da escala de Avaliação do
Desenvolvimento da Linguagem, idealizado, padronizado e validado no Brasil para
avaliar o desenvolvimento da linguagem da criança brasileira.
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