PANEM ET CIRCENSES

Boa, muito boa essa pegada do Josias. Também eu fiquei indignado com a aprovação da louvação ao roubo de praticado por um contexto dito esportivo. Roubo, porque sabemos como funciona o mundo do futebol, eivado de interesses financeiros de alguns; negociatas; valorização de jogadores que não são atletas, mas apenas elementos de troca e de ganhos, deles e de outros; corrupção de árbitros; e, agora, a constatação da corrupção na CBF. No outro lado,a economia brasileira em crise, levando à diminuição dos direitos trabalhistas (não pretendo discutir se as medidas são oportunas ou não, apenas menciono o fato), a população enfrentando o aumento dos preços de produtos básicos, o aumento dos impostos para pagar os rombos nas contas públicas, causados pela má administração de incompetentes, oportunistas e ladrões, além, claro!, de enganadores, aqueles que dizem uma coisa na campanha eleitoral e, depois, praticam outra.
Então, o momento deveria ser de seriedade, mas, não!, é de pão e circo, como sugere o Perrela (aquele, do helicóptero com cocaína). Resumindo o circo já está garantido, mas o pão, talvez falte para a festa do povo.


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(por JOSIAS DE SOUZA, 14/076/2015)

Em tempos de inflação sufocante e desemprego florescente, surgiu uma saída para os agrupamentos de brasileiros encalacrados. Todas as famílias em dificuldades devem dissolver-se como famílias e reagruparem-se como clubes de futebol. As famílias não têm a quem recorrer. Os clubes dispõem da simpatia do governo e do apoio da bancada da bola no Congresso. Para as famílias, nada. Para os clubes, parcelamento camarada das dívidas, perdão de encargos e a renda de loterias novas para reforçar o caixa.
Sem fazer muitos questionamentos, os senadores aprovaram na noite desta segunda-feira a medida provisória que cria o Profut, Programa de Modernização do Futebol Brasileiro. Sob atmosfera de ‘vamos lá minha gente’, parcelaram-se em 240 meses as bilionárias dívidas fiscais, previdenciárias e trabalhistas dos clubes. Para abastecer-lhes as arcas, criaram-se duas novas loterias. Como os mimos já haviam passado pela Câmara, seguiram para a sanção presidencial.
O futebol brasileiro é feito de dívidas e nostalgia. Suas glórias só existem no replay esmaecido dos lances de um passado remoto.Embora geridos por homens de bens, os clubes nacionais se esqueceram de dar lucro. Deus, como se sabe, é brasileiro. Mas o diabo é europeu. E aproveita-se da penúria dos clubes para levar embora craques mal apartados da mamadeira. Sobre os gramados nacionais, ermos de talento, brotam apenas ideias exóticas —como mais esse Probola.
A proposta aprovada no Congresso impõe um lote de exigências de gestão e responsabilidade financeira. Que serão desrespeitadas ao longo do tempo. Até o lançamento de um novo plano de socorro. Sob Lula, criou-se a Timemania, uma loteria cuja renda foi destinada prioritariamente aos clubes. Dizia-se à época que a grana serviria para liquidar-lhes as dívidas. A nova operação-resgate é a mais eloquente evidência de que não funcionou.
Pois agora, além de rolar os débitos dos clubes, o Estado deu à luz mais duas loterias: uma raspadinha chamada Lotex e uma bolsa de apostas sobre os resultados de competições esportivas. São escândalos esperando para acontecer. A exploração não ficará com a Caixa Econômica Federal. A proposta enviada para a sanção de Dilma autoriza a privatização.
Sete em cada dez brasileiros que testam a sorte nos jogos de azar oficiais têm renda inferior a três salários mínimos. Além da Timemania, o cassino estatal já administra os seguintes jogos: Loteria Federal, Loteria Esportiva, Loteria Instantânea, Mega-Sena, Lotomania, Quina, Dupla Sena, Lotofácil e Lotogol. Na prática, todos esses jogos são uma forma disfarçada de tributar o pedaço mais pobre da arquibancada.
Juntos, os clubes de futebol conseguem muito mais do que as famílias brasilerias. Injusto, muito injusto, injustíssimo. Não resta a você senão correr para fundar o Fulano Futebol Clube, que se juntará ao Beltrano Clube de Regatas. Ex-cartola, o senador Zezé Perrela (PDT-MG) celebrou o novo Probola: “Não há nenhum tipo de privilégio. Houve, sim, um bom senso do governo de entender que, salvando o futebol está salvando a alegria do povo''. Reagrupado como clube, você pode requerer do governo a troca da sua alegria por algo mais palpável.

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"BABY BOOMER", COM ORGULHO!

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