Recomendo a leitura desta boa análise do momento, escrita por Paulo
Brossard.
No país da Copa
Autor: Paulo Brossard, 24/12/2013
Se há um dado que se tem expandido
entre nós é o protagonizado pela violência. As manifestações populares, grandes
ou pequenas, tradicionalmente, terminam em passeatas ou coisa parecida. Agora,
parece que devam ser concluídas com atos concretos de agressão ou dano; uma
vitrina quebrada é uma conclusão digna de um tipo, como o incêndio de um
veículo compõe excentricidade apropriada ao desfecho de outro. A partir daí,
tudo pode acontecer. Mas, se me ocupo deste fato é porque vi com meus olhos o
termo de um jogo de futebol, quando número apreciável de pessoas ocupavam as bancadas
da assistência e se convertia com convulsão de alta belicosidade; as cenas que
a televisão perpetuou e veio a mostrar com rigorosa objetividade; cabeças
humanas pisoteadas com requintes de selvageria. Ora, quem vai assistir a uma
disputa sabe de antemão que o seu clube pode ganhar, empatar ou perder. Sempre
ouvi falar em espírito esportivo, mas nunca em conflito rude e isso tem
acontecido, foi documentado e divulgado pela televisão. Mas são esportistas ou
torcedores, são grupos de marginais ocultos sob a camisa de times. O fenômeno
não é apenas extremamente nocivo, mas até perigoso, porque envolve multidões e
se sabe do que são capazes as multidões.
Este o fato que, se não estou em erro
tende a generalizar-se, talvez por preparo de grupos para este fim. E isso me
parece perigoso porque a violência tolerada não cessa de propagar-se, de
concessão em concessão, pode chegar ao insuportável. De mais a mais, as sanções
adotadas tem sido ineptas. Em um caso o agressor foi condenado a pagar uma
cesta básica e em outra situação, um agente do Ministério Público proibiu (sic)
que a polícia entrasse nos estádios…
De concessão em concessão chegou-se a
uma legislação ineficaz que resultou no triunfo da impunidade
Outrossim, proibir o acesso dos
agressores é praticamente inviável, dado que a massa humana que sai de casa
para assistir o espetáculo esportivo, não há como se identificar pessoa por
pessoa, que comparece com sua carteira ou entrada.
As cenas degradantes que assistimos
no estádio de futebol são uma forma de reprodução do que vemos fora dele.
Autores de furtos e agressões raramente são detidos e quando o são, logo ganham
as ruas e ficam liberados. As penas de pagar cestas básicas são cômodas para
quem as aplicam, mas tornam-se um convite a delinquir. A reincidência dos
delitos é a prova da ineficiência do aparato repressor do Estado, que
transforma os cidadãos em vítimas potenciais, vivendo acuados em casas
gradeadas. A população está encarcerada, enquanto os infratores estão à solta.
De concessão em concessão chegou-se a
uma legislação ineficaz que resultou no triunfo da impunidade. A barbárie vista
em Joinville é irmã do que assistimos nas ruas. Isso não é bom, e para não
ficar pior, é preciso enfrentar o flagelo.
Lamento que as vésperas do Natal, em
vez de inspirar-me nele, tenha tido de escrever sobre temas tão ingratos, mas
isso revela quanto me feriram os sucessos mencionados. Espero sinceramente não
tenha que desculpar-me outra vez pelos temas escolhidos nas vésperas do Natal e
também de outras datas santificadas.
Para encerrar, eu me pergunto qual a
impressão que eles despertam naqueles que em todo o mundo, procuram propagar as
excelências dos esportes, quando na sede geográfica da próxima Copa do Mundo se
assista cenas sub-humanas, exatamente no mais popular e enraizado esporte
brasileiro.
Fonte: Zero Hora, 23/12/2013
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