A matéria jornalística abaixo, de outubro do ano passado, extraí do SPOTNIKS. Depois dela, há uma outra matéria, bem curta, do jornal VALOR, de hoje, sobre o Magazine Luiza. Vale a pena perceber o trajeto de ladeira abaixo, que vem ocorrendo no curto prazo. Será que esses grandes empresários cometeram erros de avaliação, assim como a autoconfissão da Dilma, semana passada? Ou será que foram açodados e oportunistas, todos eles, inclusiva Dilma, em negar o óbvio que era possível ver no horizonte?
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5 empresários
que apostaram no governo para crescer e quebraram a cara
Dos mais conhecidos, como
Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas, aos mais desconhecidos, como Washington
Luis, inúmeros presidentes brasileiros se preocuparam em reforçar o mito de que
o desenvolvimento do país é uma consequência direta das suas ações. Aprendemos
desde a escola que nossos melhores presidentes agiram para criar indústrias,
grandes obras e feitos, sem dar relevância aos que criaram leis e bases de
estabilidade do país.
Aprendemos que o
crescimento econômico surge da construção de hidrelétricas e pontes, não
com políticas que reduziram a inflação, ampliaram a responsabilidade fiscal ou
tornaram crimes fraudar as contas públicas.
No Brasil entretanto, até
mesmo nossos capitalistas parecem mais empolgados com esta ideia do que com a
ideia de desenvolvimento pelo mercado. Temos empresários que dizem “ver com
bons olhos a mistura entre empresas e o Estado” e outros que pedem por 3 bancos
como o BNDES (o banco que transfere anualmente R$ 24
bilhões em
subsídios para grandes empresas). Foi com esta crença de que as políticas do
governo conduziriam a um crescimento inequívoco que inúmeros empresários
entraram de cabeça em empreendimentos hoje mal sucedidos. Abaixo, listamos 5
deles que servem de exemplo para mostrar que deixar-se enganar por promessas de
políticos não é exclusividade dos eleitores comuns.
1)
LUPATECH – NESTOR PERINI
Fundada ainda nos anos 80,
a metalúrgica gaúcha com sede em Caxias do Sul, Lupatech, atuou durante décadas
em setores tão distintos como automobilístico e de alimentos. A anunciada
auto-suficiência do país na produção de petróleo e da descoberta do pré-sal em
2007, levaram a empresa a realizar uma série de aquisições que a consolidaram
como um fornecedor apto a grandes contratos no setor de óleo e gás. Foram mais
de 16 aquisições entre 2006 e 2008 que levaram a empresa a faturar mais de R$ 550
milhões em 2010.
No mesmo ano, a empresa
garantiu aquilo que poderia lhe fazer mudar de patamar, entrando para o clube
de grandes fornecedores mundiais da cadeia de petróleo e gás. A conquista de
contratos no valor de R$ 1,7
bilhão junto à
Petrobras levou a Lupatech e seus acionistas a projetarem um crescimento
vertiginoso nos anos seguintes.
Assim como a estatal,
porém, as ações da Lupatech encararam ladeira abaixo. De 2010 a 2014, quando a
companhia entrou com pedido de recuperação judicial, suas ações caíram mais de 99%. Em 2015 não é diferente:
a companhia encara uma queda de 92,89%. Segundo seu plano de recuperação
judicial, a empresa foi
vítima da má conjuntura do setor de petróleo, cujo barril caiu para US$ 45
dólares, ante mais de US$ 130 quando da assinatura dos contratos, além da
conjuntura da própria Petrobras, envolta em escândalos que a levaram a declarar
uma baixa de ativos no valor de R$ 88 bilhões, fruto de má gestão e corrupção,
segundo a própria empresa.
Para além de culpar fatores
externos, analistas citam ainda que o elevado nível de endividamento somado ao
não recebimento de valores da Petrobras levaram a empresa à atual situação. A
aposta excessiva no setor
de petróleo e gás culminou com a quebra da empresa e a demissão de milhares de
funcionários em suas mais de 20 unidades no Brasil e no exterior.
2)
EBX – EIKE BATISTA
Diz-se no mercado
financeiro que nem mesmo Bill Gates, o fundador da Microsoft, ganhou tanto
dinheiro com o PowerPoint, a ferramenta do office utilizada para fazer
apresentações, com as quais Eike Batista conquistou a atenção de milhares de
investidores no mundo inteiro, sedentos de oportunidades para investir no
Brasil.
Um dos filhos de um famoso
ex-presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Eike Batista apareceu para o
mercado nacional após realizar uma grande tacada justamente no setor que tornou
seu pai conhecido. Eike conseguiu empurrar para a mineradora britânica Anglo-American, parte do projeto
“Minas-Rio”, que visava produzir minério de ferro em Minas Gerais, exportando-o
pelo Rio de Janeiro, onde o empresário ergueria o complexo do Açu, o maior
porto privado do hemisfério sul. A mineradora de Eike levou na ocasião US$ 5,5
bilhões, fazendo com que seus investidores embolsassem uma quantia próxima a
US$ 2 bilhões, menos de 1 ano antes de terem comprado as ações da MMX em sua
abertura de capital.
Complexo de grandeza e
poucos resultados práticos tornaram o mercado mais cético em relação a Eike.
Seu porto consumia recursos sem perspectiva de ganhos, sua mineradora produzia
toneladas de prejuízo (e sem minério), seu estaleiro drenava recursos e sua
petrolífera, que pretendia ser uma “mini Petrobras” se viu frustrando os
investidores sem encontrar petróleo em seus
poços.
Acusando os investidores e
recusando-se a admitir os erros, Eike encontrou no ex-presidente Lula uma
figura de apoio a seus planos. Como conta em seu
livro à jornalista Malu Gaspar, a aproximação com Lula foi
pretendida desde 2002 quando o empresário doou recursos para campanha que
elegeu o sindicalista. Em outra época, Eike chegou a contratar o amigo de Lula,
José Dirceu, como consultor para resolver uma crise com o governo boliviano. A
amizade com o ex-presidente, porém, só se concretizou após encontros para uma
formalização de proposta pela qual a mineradora de Eike assumiria o controle da
toda poderosa Vale. A proposta foi rejeitada pelo Bradesco, grande acionista da
mineradora, e Eike recuou do
plano.
Durante os anos que se
seguiram a este episódio, Eike e o BNDES se tornaram amigos próximos (o banco
despejou R$ 10
bilhões em
projetos do empresário), enquanto ex-ministros do presidente Lula, como Guido Mantega e Fernando
Pimentel (atual governador de Minas), atuaram para favorecer investimentos
de empresas estrangeiras no porto de Açu, segundo denúncias (o resgate ao grupo
X porém travou com o aumento da pressão sobre o governo vinda dos protestos de
junho de 2013). A boa relação com o governo, que fez Eike ser chamado de ‘empresário
modelo’ pela
presidente Dilma, não bastou para salvar o “ex-midas”, que viu seu patrimônio
ser dividido entre empresas estrangeiras, como o fundo
Mubadala do Oriente Médio. Do apogeu à queda,
estima-se que Eike, que chegou a ser o sétimo mais rico do mundo, tenha perdido
R$ 60 bilhões.
3)
OI – CARLOS JEREISSATI
Criada em 2009 com a fusão
da Brasil Telecom (controlada pelos fundos de pensão), e a Telemar, controlada
pelo empresário Carlos Jereissati e o grupo Andrade Gutierrez, a Oi foi
possivelmente o primeiro, e por coincidência o mais mal sucedido, dos projetos
de fusões e aquisições financiadas pelo BNDES – que viria a ser conhecido como
“política de campeões nacionais”.
Com o mercado nacional
dividido entre os mexicanos da Claro/Embratel, os espanhóis da Telefônica/Vivo
e os italianos da TIM, a ideia de criar uma super empresa de telecomunicações
com capital nacional atraiu as atenções do governo. Por meio da pressão de
fundos de pensão como o dos funcionários do Banco do Brasil, a PREVI, e seu
presidente, a Brasil Telecom foi conduzida ao altar para celebrar a criação de
uma gigante nacional.
Nos anos que se seguiram, o
projeto da Super Tele, como ficou conhecido, ganhou ainda mais espaço com uma
fusão entre Oi e Portugal Telecom, internacionalizando o negócio, que passou a
estar presente em 2 continentes e contar com mais de 100
milhões de clientes.
Uma gestão precária e uma
conduta controversa de pagamento de dividendos elevados pra abater dívidas de
seus controladores, porém, levaram o projeto a ganhar outros rumos. Atualmente
a Oi é uma gigante se desfazendo. Desde o ínicio da sua crise de endividamento,
a empresa já vendeu
operações de cabos submarinos, torres de telefonia, prédios e a própria
Portugal Telecom. Seu valor de mercado já caiu mais de 90% e sua dívida atinge
hoje R$ 54 bilhões, contra R$ 1,7 bilhão de valor de mercado da empresa, um
valor menor do que aquele obtido com a privatização em 1997 das duas companhias
que formaram a atual Oi.
Nem os mais de R$ 10
bilhões em empréstimos subsidiados concedidos pelo BNDES parecem afetar a
empresa positivamente, que com todo o susbídio mantêm-se apresentando prejuízo
e queda no seu valor de mercado – que só em 2015 já caiu 77,35%.
4)
MAGAZINE LUIZA – LUIZA HELENA TRAJANO
Empresária modelo, a bem
sucedida herdeira da rede Magazine Luiza, Luiza Trajano foi por muito tempo
reconhecida como um raro caso de sucesso dentre os herdeiros que conseguem
levar suas empresas a níveis muito mais elevados do que aqueles imaginados por
seus fundadores. Luiza herdou a rede fundada por sua tia e o marido, em 1957,
na cidade de Franca, interior de São Paulo, e desde 1991 levou a companhia a
ser uma das maiores do país.
Sua relação com o governo,
porém, é bastante recente, atingindo um ápice em 2014, quando, numa
resposta ao apresentador do programa Manhattan Connection, Diogo Mainardi,
recusou a ideia de que existisse uma crise no varejo. De lá para cá a
empresária foi abraçada como um modelo de positividade por parte do
empresariado, que chancela as políticas do governo.
Não são poucas as políticas
do governo que se relacionam com as atividades da empresária. No início de
2014, por exemplo, o governo decidiu criar o programa “Minha Casa Melhor”, que
garantia R$ 5 mil em financiamento aos compradores de moradias do programa
“Minha Casa Minha Vida”, favorecendo enormemente redes populares como o
Magazine Luiza.
A própria expansão
desenfreada do crédito, que cresceu cerca de 2 vezes mais nos bancos públicos
do que nos privados, está entre as razões que levaram a expansão de redes como as
lojas de Luiza. Em determinado momento em 2013, por exemplo, os bancos
públicos como o BNDES, a CEF e o Banco do Brasil, chegaram a deter mais de 50% do crédito total disponível
no país.
Tal expansão, entretanto,
foi fortemente freada com a crise e a recessão na economia. Com o desemprego e
a inflação em alta e a renda em baixa, as vendas do varejo caíram em 7 dos 8
primeiros meses do ano, levando redes como o Magazine Luiza a fecharem lojas.
Desde que abriu seu capital em 2011, suas ações já despencaram mais de 90%, sua
dívida mais do
que dobrou e as vendas estagnaram.
5 –
SETOR EDUCACIONAL – TODOS OS GRANDES GRUPOS
Comparar discussões
travadas na campanha eleitoral de 2014 com a realidade de 2015 pode ser algo
perigoso para a maioria das pessoas – muitas das quais se viram iludidas ou até
mesmo traídas naquilo que contavam ao apoiar o atual governo. Para muitos
adolescentes, sonhos como uma vaga na universidade ou uma viagem para
Europa patrocinada pelo governo, eram uma realidade líquida e certa, que
dependia única e exclusivamente da fidelidade na hora do voto.
Não deve ser espanto para
ninguém acreditar que jovens possam apostar na ideia do FIES para todos, mas
deveria ser para empresários do setor, acostumados a acompanhar esta realidade
minuciosamente. Não foi o que ocorreu. Ao longo dos últimos 4 anos, a concessão
de bolsas pelo FIES para alunos de universidades privadas saltou inacreditáveis
451%, contra um aumento de meros 12% no total de
alunos das universidades privadas.
Com cerca de 70% do total
de alunos em universidades, o setor de ensino se tornou uma verdadeira mina de
ouro. Suas margens de lucro chegam a 24%, acima até mesmo das margens de lucro
em bancos ou na Petrobras (antes de a empresa ser destruída). Com a forte
expansão do FIES, que garante a oferta de vagas e uma demanda bastante elevada
(dado que universidades públicas são restritos a uma minoria), a educação se
tornou um negócio sério no Brasil. Chegamos a ter a maior empresa de educação
do mundo, a Kroton, cujo valor de mercado atingiu R$ 21 bilhões em 2014.
Por se tratar de um fundo,
porém, os recursos do FIES não são ilimitados. O dinheiro que compõem o fundo
vem principalmente de empréstimos antigos, além de aportes de recursos pagos
pela Caixa Econômica Federal (parte da arrecadação das loterias). Com o
descontrole, em especial no ano eleitoral, os recursos chegaram a 2015 quase
zerados, a ponto de o governo anunciar uma redução superior a 50% no total de
bolsas.
O efeito nas empresas do
setor não poderia ser mais devastados. A Ser Educacional, que controla a
Universidade Maurício de Nassau, chegou a variar entre R$ 30,60 e R$ 7,35 por
ação nos
últimos 12 meses, enquanto a Kroton, líder do setor, atingiu a mínima de R$ 7,41, contra
uma máxima de R$ 17,85 por ação.
Seja você um adolescente ou
um empresário calejado, cair na conversa de um político pode invariavelmente
custar parte importante do seu futuro. Acreditar que economias sempre crescem é
um dos erros mais constantes da política, mas possuem pouca relação com a
realidade, que está mais para a soma do custo de decisões certas e erradas –
sejam elas da política, de uma grande empresa ou mesmo do seu cotidiano.
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12/01/2016 às 08h56 S&P
rebaixa classificação do Magazine Luiza Por Juliana Machado | Valor SÃO
PAULO -
A agência de classificação
de risco Standard & Poor’s (S&P) rebaixou o rating da varejista
Magazine Luiza de ‘brAA-’ para ‘brA+’ — que representam a nota em escala nacional
— e alterou a perspectiva de estável para negativa. Segundo relatório
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